segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Pés para que te quero...









Qual a primeira coisa que faz quando chega a casa? Costuma descalçar-se? Sabe porquê? Porque talvez se sinta mais confortável e com um alívio da pressão nos pés. Os nossos pés têm muitos recetores propriocetivos e tal como as mãos ficam limitadas na sensibilidade quando usamos luvas ou pegas, o mesmo acontece com os nossos pés.

Quando andamos descalços, a tendência natural do pé é expandir metatarsos e falanges, quando estamos calçados a maioria do calçado impede que isso aconteça. O calçado serve para proteger e em teoria minimizar o impacto nas articulações, mas acaba por alterar muitas vezes o padrão de locomoção e por conseguinte limitar a propriocetividade dos pés. Em termos biomecânicos, é importante referir que a maneira como apoiamos o pé ou como a força é distribuída na passada, se irá refletir nas articulações seguintes (tornozelo, joelho, anca e coluna).

Como opção nos seus treinos, experimente fazer algumas caminhadas ou pequenas corridas descalço (ex: passadeira ou relva). Procure também executar alguns exercícios de força descalço, tais como: agachamento ou peso morto. Os seus pés sentirão a diferença.
Aconselhe-se primeiro com o seu professor ou profissional de exercício e saúde.


Bons treinos.


Hugo Silva 
Instagram: hugo_silva_coach
Linkedin: http://linkedin.com/in/hugo-silva-1b8295132
-Licenciatura Educação Física/Especialização Treino Personalizado
-Pós-Graduação em Marketing do Fitness 
-Pós-Graduando em Strength and Conditioning
-Director Técnico ginásio Lisboa Racket Centre 




sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Só tenho medo das ideias no escuro...








O medo é uma emoção básica e universal, que acompanha e decalca o ser humano desde os primórdios da sua existência. Foi, certamente, através desta ferramenta que sobrevivemos enquanto espécie, possuíndo, por isso, uma dimensão protectora e organizadora da vida. 

Desde os primeiros meses de vida que a criança sente medo, o qual vai evoluindo ao longo do seu crescimento. Assim, os medos mudam, efectivamente, com a idade, bem como de criança para criança, ainda que possamos falar de "medos típicos" em determinados estádios do desenvolvimento.

Entre os mais frequentes nesta etapa, sobressai o medo da separação, reavivado no momento em que a criança é deixada no infantário/escola ou na forma como se agarra aos pais quando os reencontra, como forma de garantir de que não terá que separar-se novamente. Em continuidade com isto mesmo está, igualmente, o medo da noite - outro momento que a reactiva as separações e que se veste de verdadeiras doses de (im)paciência para conseguir que os mais novos fiquem no seu espaço a enfrentar as criaturas fantásticas que preenchem o seu imaginário!

Dragões, bruxas ou elefantes debaixo da cama são produtos comuns da criatividade infantil, que, até aproximadamente aos 6/7 anos (momento em que ocorre a entrada para a escola e, com ela, o confronto com medos mais reais), vê nesta possibilidade um perigo palpável!

Mas, surpreenda-se? É neste processo de enfrentar o seu mundo interno e as produções fictícias que nele vai tecendo, que a criança ganha simultaneamente a capacidade de criar ferramentas capazes de a auxiliar nas batalhas que enfrentará pela vida. Frequentemente, encontramos adultos amedrontados que foram, de facto, crianças ás quais não foi permitido superar os seus próprios terrores - perante pais demasiado protectores ou, no extremo oposto, pais pouco capazes de se sintonizar com a dor dos filhos, desvalorizando-a.

Neste sentido, lembre-se: ter medo, não é assim tão mau! Pelo contrário, permite criar, por dentro, uma capa protectora de super-herói, capaz de sentir coisas reais, ora de olhos esbugalhados, ora de olhos fechados, mas sempre seguros de que, por si mesmo, será capaz de enfrentá-los.



Drª Joana Alves Ferreira

O Canto da Psicologia





quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Agora sou eu o pai...








"...Este problema é algo que tem de ser resolvido por mim, ninguém me pode ajudar”, “Ele já é velhote, já é normal ter problemas de memória”, “Tenho de me habituar à ideia, ela tem Alzheimer e já não há nada que possamos fazer”, “Só quem passa por isto é que entende, amo o meu pai, mas tive de abdicar da minha vida para cuidar dele”…

Esta são algumas das frases que poderiam ser contadas pelas paredes do meu consultório. Tantas e tantas vezes me é partilhado pelos que tomam a heróica decisão de nos procurar, que outras inúmeras vezes e durante demasiado tempo, hesitaram em aceitar o desafio que a Psicologia lhes lança para procurar um novo caminho, em que sempre há uma solução para si.
Neste caso mais específico falamos daqueles, em que sei que tantos de vós se revêem, que embutidos na nova geração sandwich se encarregam de cuidar dos seus pais idosos. Geração esta, herança destes novos tempos, em que temos de ser cuidadores dos nossos filhos cada vez até mais tarde, cruzando-nos no meio desse trilho com a estrada que nos leva a já termos de cuidar dos nossos pais…e nós? Como vamos rechear essa sandwich? De preocupações, de sonhos quebrados, de angústias de fim de linha, de inevitabilidades que não podemos contornar e apenas aceitar?...

É um facto, infelizmente não temos a cura para o Alzheimer, para o Cancro, para os problemas que a velhice acarreta, para os podermos ter cá para sempre… mas uma coisa lhe podemos dizer: não tem de caminhar sozinho, não tem de se esquecer totalmente de si, não tem de pensar que ao seu pai ou à sua mãe, também mais ninguém poderá ajudar…

Para si, temos para lhe devolver o tempo de qualidade que, com tanto carinho, dispensa ao seu pai ou à sua mãe, temos a palavra que acolhe, temos a mente que ampara, temos a luz que o ajudará a ir iluminando, aos poucos, esse túnel para o qual não vê o fim. Não tem de passar por tudo sozinho, e se os ama, permita-se cuidar de si, carregar connosco as suas baterias, ajudar-se a encontrar estratégias que lhe permitam chegar a casa cada dia com o sorriso que os seus pais recordam desde criança.

Para eles, temos o caminho que ainda pode ser percorrido! Procure-nos para que, com base em sessões de Estimulação e Reabilitação Cognitiva, possa evitar estados demenciais que não estejam instalados (a velhice não tem, de todo, de estar associada ao Alzheimer), possa devolver-lhe alguma qualidade de vida, possa ainda desacelerar a progressão de algumas demências, possa, acima de tudo, fazê-los sentir-se úteis, estimulados, esperançosos…amados!

Como já tem sido hábito, estamos cá para que conte connosco qualquer que seja a sua história, quaisquer que sejam as personagens, qualquer que seja o enredo e o desfecho…se sentirmos que não o conseguimos ajudar, nunca o deixaremos sem resposta! 




Drª Cláudia Ribeiro
O Canto da Psicologia



sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Quem nunca...







Depois de várias semanas em modo mais intimista e pessoal, apeteceu-me mudar um pouco o registo e aligeirar o espírito. Sempre com sinceridade e sem pudores, hoje partilho convosco coisas que já fiz e faço aqui e acolá, outras que apenas penso numa versão “Quem Nunca”, sobre filhos, maridos, chefes, vizinhos … 

Quem Nunca…
Vizinhos:

-Abriu a caixa do correio, viu que estava cheia de publicidade e pôs ou na caixa do vizinho ou no depósito comum do prédio para o efeito.
-Ouviu os vizinhos a fazer “aquela” grande discussão e mandou calar os miúdos e baixou o som da televisão para ouvir melhor.
-Sentiu aquela invejazinha dos parvos dos vizinhos de baixo que mudam de carro de 4 em 4 anos.
-Flirtou nos 15 dias de praia no algarve com o pai/mãe giro trintão duas palhotas abaixo da nossa.


Quem Nunca…
Cenas intimas, sexo e coisas:

-Fez sexo matrimonial, isto é, aquele sexo só mesmo para despachar, naquela posição que sabemos é a mais rápida para chegar ao climax e naqueles breves minutos ainda fez uma lista mental das coisas que tinha para fazer naquele dia.
-Fingiu orgasmos.
-Fez karaoke no carro.
-Fez vídeos com o telemóvel como se fosse um bloguer com menos 20 anos do que os que temos, e fala para o telemóvel como se estivesse a falar para várias pessoas interessadíssimas no que estamos a dizer.
-Comprou um batalhão de coisas saudáveis, gastou um terço do ordenado e depois não gostou do sabor de nada e foi comer um hambúrguer e batatas fritas bem gordurosas.
-Comprou metade da loja (parte I) e depois foi devolver no dia a seguir.
-Comprou metade da loja (parte II), deixou metade do que comprou no porta bagagens do carro e a outra metade que levou para casa estava numa grande promoção…só que não, é só mesmo para o marido/companheiro/namorado não chatear.
-Usou roupa com etiqueta, tipo test divre, chegou à conclusão que não gostou, e depois pôs a arejar e foi devolver.


Quem Nunca…
Família:

-Quis que os filhos voltassem a ser pequeninos ou mesmo que a barriga se abrisse naquele momento e eles voltassem lá para dentro porque cresceram depressa demais.
-Achou que aquela miúda irritante com a mania que é boazona, e sabichona e mais tudo que as outras, não era apropriada para o filho se perder de amores (claramente são projeções).
-Teve uma imensa vontade de ir a casa do ex, bater à porta, entrar sem dizer nada e dar um belo puxão de cabelos à madrasta do nosso filho.
-Deu salsichas e esparguete aos filhos para jantar 2 dias seguidos.
-Disse aos filhos que o filme infantil que eles querem ir ver afinal ainda não estreou, quando na realidade já estreou há umas 4 semanas, e com um pouco de sorte quando eles se lembrarem outra vez, já saiu e depois só no videoclube.


Sim! Quem nunca?

Petra




quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Sonho e o baú do inconsciente...







Hoje, pela manhã e depois de uma noite de sono e sonho, falamos-lhe sobre a capacidade de sonhar e a sua representatividade na vida emocional de todos nós. Ao longos dos séculos, foi existindo um profundo interesse por esta construção inconsciente do nosso psiquismo, espelhada nas explicações que foram sendo encontradas, à luz de cada época, sobre o tema. É, contudo, em 1900, que se revoluciona a concepção dada ao mesmo, com a perspectiva introduzida por Sigmund Freud.

Na sua teoria sobre a interpretação dos sonhos, Freud enfatiza o lado simbólico desta função vital, equiparando-a a um palco onde se expressam emoções, conflitos, desejos e angústias. Assim, o que anteriormente era interpretado como meros símbolos ou premonições, passou a ser compreendido como manifestações do nosso inconsciente, que ganham no espaço do sonho uma força de expressão.

Na verdade, na agitação com que vivemos diariamente - compromissos, rotinas, actividades que fazemos de forma sistemática -, acabamos por nos defrontar consecutivamente com o cansaço e o stress da vida contemporânea. É à noite, através do período de sono, que conseguimos desligar-nos deste mundo atribulado e cheio de informações, mas é também neste espaço que se acendem os holofotes para o que verdadeiramente se passa nos batisdores da vida emocional.

Quando dormimos entramos numa espécie de “processo mágico”, pois é durante o sono que somos verdadeiramente capazes de mergulhar num universo totalmente novo e secreto: o nosso inconsciente. Com efeito, durante o sono dispomos de forças inconscientes que nos levam a sonhar - todas as pessoas sonham e os sonhos, como nos diz Freud, são sempre a realização de um desejo. Desejos esses que existem dentro de cada um, mas que devido aos hábitos, cultura, educação bem como a moral da sociedade em que nos inserimos, foram recalcados, reprimidos, ficando no mais fundo e obscuro de nosso "baú do inconsciente", só manifestando o seu poder durante os sonhos.

É exactamente por isto que os sonhos funcionam como um importante motor da compreensão de quem somos e do que nos move, funcionando como uma ferramenta ímpar no trabalho psicoterapêutico e de conhecimento da pessoa.

Por isto mesmo, não se esqueça de olhar para os seus, lembrando sempre que o sonho é “a principal estrada que leva ao conhecimento dos aspectos inconscientes de nossa vida psíquica” (Freud).



O Canto da Psicologia
Dr.ª Joana Alves Ferreira



terça-feira, 17 de outubro de 2017

Treino Intervalado, sim ou não?






Hoje em dia, quase todas as pessoas que treinam já ouviram falar do treino intervalado de alta intensidade (HIIT) para auxiliar a perda de peso. Treinos que consistem em períodos curtos de exercício à máxima intensidade, intercalados com breves pausas. As intensidades deste tipo de treino devem situar-se acima dos 80% da frequência cardíaca máxima (FCmáx), ajustando as pausas para perto dos 50% da FCmáx.

Será que é um treino ajustado a todas as pessoas que treinam?

·         Prós
-redução da massa gorda;
-diminuição da pressão arterial;
-aumento da capacidade de consumo de oxigénio;
-melhoria da sensibilidade à insulina;
-gestão do tempo de treino;
-utilização de pouco ou nenhum material;

·         Contras
-boa capacidade de tolerância à fadiga;
-necessita de níveis de força e resistência cardíaca adequados;
-a evitar em pessoas com alterações cardíacas e metabólicas crónicas;
-a evitar em pessoas com alterações a nível articular;

Concluindo, dependendo do nível físico de cada pessoa, o treino intervalado pode e deve ser ajustado. Recomenda-se sempre uma prova de esforço e uma avaliação física antes de iniciar este tipo de programas de treino. Aconselhe-se com o seu professor.



Bons treinos


Hugo Silva 
Instagram: hugo_silva_coach
Linkedin: http://linkedin.com/in/hugo-silva-1b8295132
-Licenciatura Educação Física/Especialização Treino Personalizado
-Pós-Graduação em Marketing do Fitness 
-Pós-Graduando em Strength and Conditioning
-Director Técnico ginásio Lisboa Racket Centre 


quinta-feira, 12 de outubro de 2017

A dor invisível...









A dor crónica é como aquele vizinho horrível que faz imenso barulho e que não percebe (ou não quer perceber) o quanto é incomodativo. Uma pessoa fala com ele a bem, até sorri de forma especial para cair nas suas boas graças, na expectativa de que na próxima vez ele tenha mais cuidado. Mas não. Tal como este vizinho que tantas vezes roça o insuportável e que não tem qualquer intenção de mudar, a dor crónica teima em persistir para além do descanso, da medicação, da alteração dos estilos de vida, e de todas as mudanças introduzidas na esperança de que algo mude para melhor. Torna-se destrutiva, arrasadora, capaz da mais profunda e perturbadora metamorfose.
Para piorar a situação, esta dor é muitas vezes invisível. Um braço partido é engessado, uma cabeça partida é cosida, e o seu carácter público parece que valida, pelo menos em parte, as queixas que daí podem decorrer. Mas a dor crónica pode estar escondida dentro do corpo de quem a sente, rastejando mesmo por baixo da pele, qual pequena térmita que vai esburacando de forma incontrolável aquilo com que se depara. E parece que faz gala em aparecer quando menos se precisa dela. Como se alguém, alguma vez, lhe fosse sentir a falta…

Quando se sente necessidade e dificuldade em validar perante o outro o sofrimento decorrente de uma dor que não se vê mas que se sente, e se do lado de lá não houver um olhar empático, contentor e aceitante desta fragilidade, esta dor pode-se tornar tão predominante em tudo quanto se faz que passa a ser antecipada e catastrofizada; mesmo antes de ser sentida, já é arrasadora e incapacitante, e nem se consegue conceber que talvez possa não ser assim. E deixa de ser sentida só no corpo para passar a invadir, com uma força avassaladora, até aqueles recantos que nem se sabia que existiam. Para lá dos limites do aceitável, para lá da razão, entre a loucura e o desespero do que ainda não está cá mas que certamente chegará.

Existem inúmeros estudos que relacionam a dor crónica com a depressão, a ansiedade e a diminuição da qualidade de vida. Não sendo uma relação inequívoca e invariável, parecendo ser possível viver com dor crónica sem que haja sofrimento psicológico exagerado, o que é que nos protege? Concebemos que algo em nós, seguramente. É necessário que se consiga manter a integridade do self, mesmo perante esta ameaça externa que se torna tão interna como só a dor crónica o consegue fazer. Algo que funcione como guardião das portas que levam ao centro de nós, e que impeça que nos desorganizemos perante tão intensa provação. Isto vem não só do agora, dos nossos recursos atuais, mas também (e principalmente, diríamos nós) daqueles que começaram a ser erigidos há muito, muito tempo, numa altura em que não sabíamos onde terminava o outro e começávamos nós. Por outro lado, é também determinante aquele que em nós investe e que por nós é investido, e que dança com as nossas solicitações de suporte ao seu próprio ritmo. Quando esta dança é harmoniosa, o encontro é feito de passos suaves e ligeiros, mesmo que em terreno pantanoso. Mas caso haja uma desarmonia demasiado dura, cria-se um fosso onde a dor, real ou antecipada, física ou psicológica, poderá eventualmente proliferar.


Do nosso lado, nada podemos fazer para lutar contra a dor que o corpo sente. Mas contra a dor que a alma grita, nessa já podemos ajudar, lutando não por si mas consigo.  



Drª Carolina Franco
O Canto da Psicologia



terça-feira, 10 de outubro de 2017

Um homem só é grande quando se descasca...





O senhor Cunha começava por Luiz (com zê e sem acento, a todo o sabor de outros séculos) e foi um homem irrepetível. Existia das quatro da tarde até quando calhasse,  tinha cabelo a refulgir de brilhantina e era “dandy” até à ponta dos sapatos. Dizia que tinha sido casado sete ou oito vezes – ele também tinha dificuldade em lembrar-se... -, era pai de gente alta da representação e teve morada fixa no Parque Mayer, entre revistas e coristas. Bebeu pouco, fumou muito, viveu mais. A boémia de Lisboa chegou a ter o seu nome tatuado no corpo e Luiz só não entrou em palco num arroubo artístico porque as mulheres e o Sporting lhe sorviam o tempo. Nunca trabalhou e isso deu-lhe algum trabalho. Era falarmos de um ator e logo vinha uma história da maior intimidade do sr. Cunha com o ilustre que figurara na questão. Era perguntar sobre uma parte do mundo e o sr. Cunha soltava qualquer coisa que o tornava parente próximo da paragem indagada. 

Trazia consigo uma foto da Ivone Silva na carteira. Acho que a trocou pela irmã Linda Silva depois de a segunda ficar a tomar conta do “Luizinho” a pedido da primeira, que fora com uma companhia de teatro para o Brasil. Se calhar foi ao contrário, mas estou seguro que o sr. Cunha não ficou a apanhar frio e rendeu uma mana por outra no seu vale rotativo de lençóis. Não se gabava das conquistas. Contava-as e gozava com isto que é por aqui andar. Nunca se zangou com nenhuma das suas incontáveis mulheres e isso também é, em si, de artista.

O sr. Cunha encheu de histórias a minha casa, o meu mundo de menino, que mais não tinha do que 160 quilómetros (o caminho de Lisboa à terra). Quando se batia a porta a desoras lá em casa, eu ardia de esperança para que fosse o sr. Cunha a salvar-me da noite.

Lembro-me de lhe ser apresentado. Estava ele sentado num banco rotativo de balcão. Metido num fato muito acima da baiúca onde nos calhámos conhecer e com lenço na lapela, à laia de fadista esperando vez. Piscou-me o olho e antes de qualquer espécie de olá, rodopiou na direção da minha pequenez, abriu a camisa de seda - como o Clark Kent a despachar-se para ser Super-Homem – e estufou-me o peito coberto por uma interior leonina camisola listada a verde e branco. “Ó filho, um homem só é grande quando se descasca”, foi a primeira coisa que ele me disse para logo depois se abotoar e pensar no que dizer a seguir para provocar os amigos encarnados. Varámos muitos anos juntos depois a falar de futebol, das suas aventuras fora de campo com os Cinco Violinos, com o seu amigo-irmão Eusébio, com atores e atrizes, tudo a contornos indizíveis, mas falámos muito mais sobre crescer, sobre o perigo inescapável que é tentar perceber uma mulher e da nobre arte de não trabalhar, a qual miseravelmente nunca aprendi.

Luiz Cunha foi um homem irrepetível, tenho de o repetir, e estou aqui a escrever a arder de esperança que seja ele na sua indumentária “dandy” a bater-me à porta daqui nada.
Preciso de uma história para me salvar desta noite.


FILIPE ALEXANDRE DIAS 

Jornalista



sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Em perda...do presente ao futuro!








Em fases como esta que vivo agora, em que as fragilidades estão todas à flor da pele, tenho uma forte tendência para pensar em situações que ainda não aconteceram, e trazê-las para esta espiral de inquietação.
Sou um íman de dor. Uma masoquista de futurologia dolorosa.

Numa fase digamos normal, não penso nelas, ou se penso rapidamente afasto esses pensamentos de mim. Agora, faço exatamente o contrario.
Nestes últimos dias penso imenso na perda.
Em concreto na perda que é inevitável, naquela que sabemos que está no caminho.
Penso na perda dos meus pais. Como vai ser? Como me vou sentir?
Agora, só de pensar nisso, sinto uma náusea imensa. Um aperto no coração que não se explica.
A falta que me vão fazer.
Depois penso que não quero que sofram. Que quando forem que sejam com dignidade, a mesma com que viveram sempre, merecem isso.
Penso também qual irá à frente. Como eles próprios vão lidar com a perda do outro.
É horrível pensar nisto.

Falo todos os dias com a minha mãe. Todos.
Damos o bom dia. Falamos de como vai ser o dia, de tudo e de nada. Sei que ela está ali e me ouve. E consigo até imaginar que quando lhe ligo, ela pára de fazer o que está a fazer, senta-se confortavelmente no sofá, e está só ali, a falar comigo.
Gosto desse mimo em forma de atenção e de escuta ativa.
Gosto quando nas primeiras frases da chamada, ela percebe o meu estado de espirito como ninguém e pergunta o que tenho.
Gosto de ouvir o “Tou filha” meigo e doce dela. E ouvir o pai, ao fundo a perguntar “é a menina?”.

E no dia que eu não puder fazer isto?
No dia em que eu instintivamente vou pegar no telefone e marcar o numero dela e ela não me puder atender? Ou não ouvir o meu pai em voz de apoio.
No dia em que não tiver as mãos forte do meu pais a deter a minha cara entre elas a dizer-me “vai correr tudo bem!”?
Tremo no teclado do computador enquanto escrevo isto pela emoção fortemente angustiante que isto me provoca.

Nestas minhas negras fantasias, chego a pensar que indo um à frente, prefiro que vá um ao invés do outro.
Parece demasiado mórbido isto eu sei, mas penso neles, em qual conseguiria melhor suportar a ausência do outro e chegando até a ter alguns rasgos de egoísmos, penso em mim e em qual deles me faria mais falta e penso que esse deveria ficar por cá mais tempo, para me preparar para o dia que também vá…
Amo os dois. Amor assim em mim só existe pelo meu filho.

Redescobri esta amor parental durante a psicoterapia, e depois de um processo que não foi fácil, enamorei-me ainda mais por estes dois. Desculpei-os, desculpei-me e vivo agora com eles em paz. Uma paz que não sabia que não tinha, mas que agora não abdico e preservo.
Dou por mim, quando tenho vontade de pegar no telefone a meio do dia para falar com eles, de me contrariar, como se fizesse uma espécie de desmame, mas depois não consigo.

Tento afastar estes medos e pensamentos e espero que esse dia ainda esteja longe e eu esteja mais forte do que estou agora para conseguir lidar com este vazio que certamente irá ficar na minha vida.
Pelo caminho, aproveito os momentos que temos, ligo sempre que quero e dou-lhes cada vez mais longos abraços e uso me do sentido do olfato para guardar o cheiro “de pais” nas minhas memorias.



Petra



quinta-feira, 5 de outubro de 2017

A gente se acostuma...





Em dia de texto aqui pel' O Canto da Psicologia mas igualmente em dia de comemorar a implantação da república, a Equipa deseja-lhe um excelente feriado!

Afinal de contas se algures no passado se tivessem acostumado, em 05 de Outubro de 1910, a revolução organizada que destituiu a monarquia e implantou o regime republicano em Portugal, jamais teria acontecido...

Todos os dias por aqui nós continuamos a acreditar e a trabalhar no potencial de cada um em não se deixar "acostumar".

" A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e que gasta de tanto se acostumar e se perde de si mesma"







O Canto da Psicologia



terça-feira, 3 de outubro de 2017

Treino de força, para que te quero?







Ainda acredita que o treino cardiovascular de longa duração é a melhor forma de perder massa gorda? Corre sem parar, e mesmo assim a sua composição corporal teima em não mudar? Talvez esteja na hora de mudar de exercício para auxiliar a sua perda de massa gorda e consequente melhoria do perfil corporal.

Na hora de ver resultados, a literatura diz-nos que a melhor forma de perder gordura e modelar o corpo de forma mais eficaz e eficiente é através do treino de força ou vulgar musculação, mas para notar efeitos, esse treino deverá ser feito com:

- alta intensidade;
- pausas incompletas entre séries;
- cargas moderadas a pesadas;
- baixo volume de treino;
- exercícios multiarticulares (Agachamentos, Peso Morto, Supino, Press, Elevações,              Remadas, etc);
- número reduzido de exercícios;

Um treino de musculação de alta intensidade, pode acelerar o metabolismo por mais de 20h após o término da sessão, enquanto que, um treino aeróbio de longa duração e baixa intensidade tem um impacto muito reduzido no metabolismo.

Para promover uma perda de peso sustentável, é fundamental aliar também um bom plano alimentar, sem nunca esquecer as horas de descanso.

Procure sempre um profissional na área do exercício e saúde que o(a) possa ajudar a melhorar a qualidade de vida.

 Bons treinos




Hugo Silva 
Instagram: hugo_silva_coach
Linkedin: http://linkedin.com/in/hugo-silva-1b8295132
-Licenciatura Educação Física/Especialização Treino Personalizado
-Pós-Graduação em Marketing do Fitness 
-Pós-Graduando em Strength and Conditioning
-Director Técnico ginásio Lisboa Racket Centre