sábado, 22 de novembro de 2014

Do Bebé Prematuro ao Método Canguru




Numa gravidez, espera-se que o período de gestação ocorra tranquilamente ao longo de nove meses. Este é, de facto, um marcador carregado de simbolismo: é um limite organizador que baliza este aguardar pela chegada de um bebé idealizado, imaginado e criado por estes pais, que, embalados pelo relógio gestacional, contam “os ponteiros” até ao nove para desvendarem um dos momentos seguramente mais marcantes das suas vidas.
Contudo, este relógio é, para alguns, interrompido subitamente, por uma vontade precoce de vir ao mundo. Aqui, o inesperado desarma expectativas, carrega o medo do desconhecido e traz um novo limite, muitas vezes assinalado pela questão da sobrevivência.

Numa semana em que assinala o Dia Mundial da Prematuridade, importa consciencializar sobre o crescente número de partos prematuros, alertando para o impacto que as suas consequências têm para o bebé e para a família. Apesar do estudo e da enorme pesquisa sobre o tema, reconhece-se que apenas 30% dos casos de nascimentos prematuros têm uma explicação médica. Sabe-se, por exemplo, que estão em maior risco para trabalho de parto prematuro as mulheres que já passaram por um parto desta natureza, que estão grávidas de gémeos ou com história de problemas uterinos
Do ponto de vista emocional, sabe-se que esta vivência tem uma função desorganizadora para pais e família, que se vêm confrontados com um falir de expecativas, bem como com um risco que representa a antítese do nascimento – o da perda do bebé que idealizaram e da fragilidade de um bebé que foi imaginado saudável, capaz de gritar para dar as boas-vindas à vida, mas que, ao invés, nasce pequenino, frágil, indefeso.

Com efeito, todo o processo após o parto prematuro é desencadeador de um enorme sofrimento psiquíco para o casal parental, que se vêm confrontados com uma realidade hospitalar que assusta, que não era a suposta. A esta, associam-se todos os fantasmas vivenciados neste processo de incerteza e de angústia, onde o relógio continuam a existir, mas num compasso mais lento e pesaroso.
O cruzamento de disciplinas como a psicologia nos cuidados de saúde tem permitido introduzir métodos e técnicas capazes de minimizar o impacto emocional da prematuridade, promovendo, assim, a saúde do bebé e a relação precoce na díade mãe-filho. É paradigmtico disso mesmo métodos como o “Cuidado Mãe Canguru” ou “Contato Pele a Pele”, que tem sido proposto como uma alternativa ao cuidado neonatal convencional para bebés de baixo peso ao nascer. Foi implementado em 1979 e ganhou esta designação devido à maneira pela qual as mães carregavam os filhos após o nascimento, de forma semelhante aos marsupiais.

Neste método de assistência neonatal, preconiza-se o contacto pele-a-pele precoce entre a mãe e o recém-nascido de baixo peso, de forma crescente e pelo tempo que ambos entenderem ser prazeroso e suficiente, permitindo, assim, uma maior participação dos pais no cuidado ao bebé. Sabe-se que é este amor precoce que funciona enquanto motor de vida, pelo que, também aqui, é dele que se parece inspirar intervenções como esta.

Espera-se, pois, que intervenções como o Método Canguru continuem a inspirar e humanizar os serviços de saúde, relembrando e parafraseando António Coimbra de Matos: “mais amor, (para) menos doença”.

O Canto da Psicologia,


Dr.ª Joana Alves Ferreira






sábado, 15 de novembro de 2014

Saber dizer Não!

Sabe dizer Não?

Na caixa de perguntas desta semana, falamos-lhe da importância de saber dizer não. Três pequenas letras que têm uma força profunda no nosso psiquismo, mas que, tantas vezes, nos esquecemos de dizer.

Verdade seja dita: quantos são os dias em que chega a casa, depois do trabalho, irritado(a) com o chefe ou com a educadora dos seus filhos, porque gostaria de ter dito o que não disse, imposto o que não impôs, impedido o que permitiu? Quantos são os dias em que se "vinga" nas pequenas irritações quotidianas - excelentes escapes para as doses de agressividade que não emergem, comedidamente, no momento certo?

O trânsito é um excelente exemplo disso mesmo: como se a fúria de inúmeros condutores pudesse ser representada pelos "Não's" que ficam por dizer todos os dias e que se acumulam nas buzinas, nos acenos ou noutros comportamentos menos abonatórios. Mas, porque é tão difícil dizer não?

A explicação não é simples. Contudo, díriamos que, fundamentalmente, é porque vivemos numa sociedade que, cada vez mais, premeia a falta de limites, a ausência de regra ou de respeito pela individualidade, pelo outro. Neste egocentrismo generalizado, vive-se o espaço individual, ultrapassando a fronteira do espaço do outro, num movimento onde se diluem valores, onde se desvaloriza a empatia e o próprio crescimento. É também por isto que assistimos a um número crescente de pequenos tiranos, capazes de monopolizar o território familiar, transformando a saga dos pais numa luta constante pela satisfação imediata das suas vontades. Pais à beira de um ataque de nervos, que, adotando com a melhor das intenções um modelo educativo liberal e permissivo, vêem-se fechados num ciclo vicioso onde não imperam as contrariedades.

As consequências destes "não ditos" são, por isso, muitas. Sem eles, a criança não desenvolve a capacidade de esperar, de tolerar e de encontrar em si ferramentas alternativas para enfrentar os desafios que lhe vão surgindo. O "não" é, na verdade, um "sim" ao crescer!

O Canto da Psicologia,

Dr.ª Joana Alves Ferreira
 

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Mobbing ou Violência no Trabalho


Na Caixa de Perguntas desta semana, falamos-lhe do Mobbing - uma realidade crescente nos dias de hoje, sobretudo num contexto de crise económica e social, onde impera a competitividade e a procura, muitas vezes, desesperada por assegurar um lugar (escasso) de trabalho.
Mas, o que é o Mobbing? Trata-se de uma forma de violência moral ou psíquica no trabalho: actos, atitudes ou comportamentos de violência moral ou psíquica em situação laboral, repetidos ao longo do tempo de maneira sistemática ou habitual, que levam à degradação das condições de trabalho idóneo, comprometendo a saúde, o profissionalismo ou, ainda, a dignidade.
O Mobbing diz respeito a um desejo de libertar-se da pessoa incómoda, através do afastamento ou da demissão, sendo a conduta do agressor mobiliza por este mesmo desejo. Afecta hierarquias e ocorre, em algumas circunstâncias, na vertical (de um patrão para um funcionário), mas é cada vez mais comum acontecer entre pares, isto é, colegas que se encontram numa mesma posição.
Naturalmente, tratando-se de uma forma de violência repetida, coloca um conjunto de dificuldades à vítima, que se traduzem num sofrimento tremendo. Entre os danos, destacamos: ansiedade, insónia, depressão, podendo mesmo chegar ao aparecimento de distúrbios emocionais.
Esteja atento!
O Canto da Psicologia,
Dr.ª Joana Alves Ferreira