sexta-feira, 22 de outubro de 2021

A série de todas as séries...

 



Nos últimos dias tornou-se inevitável abordar este tema, pelos mais diversos motivos e não pelos melhores motivos… o tema envolve a série Squid Game e, por consequência, o tema envolve igualmente várias outras séries, filmes e jogos que são vistos e jogados por crianças e adolescentes antes da idade indicada para tal, devido à violência a que são expostos.

Comecemos então pela série em questão, que está a ter um enorme foco por toda a comunicação social, em diversos países do mundo. Trata-se de uma série que foi lançada há pouco tempo e que atingiu rapidamente um número de visualizações muito elevado, infelizmente visualizações estas realizadas, na grande maioria, por crianças e adolescentes com idade muito menor à recomendada. Referimo-nos a algo com um conteúdo extremamente agressivo, violento, tanto física como psicologicamente, claramente com uma mensagem implícita por trás, que para adultos essa mensagem poderá ser interessante e até importante, mas que para adolescentes não será compreendido dessa forma e muito menos o será por crianças.

As “provas” de que estamos perante um perigo a nível comportamental, para quem vê esta série, são as notícias que têm surgido, que em nada surpreendem, sobre crianças a replicar nos recreios das escolas o que viram na série. O que nos remete para brincadeiras extremamente violentas e, consequentemente, perigosas a vários níveis.

Tudo isto pode levar-nos a alguns pontos para discussão. Podemos começar pela idade indicada como referência para se ver uma série/filme ou jogar determinados jogos. Esta referência não é colocada aleatoriamente, esta referência é colocada com base em critérios específicos e, por isso mesmo, não deve ser ignorada. Este é o principal problema observado atualmente, o ignorar desta referência, o ignorar da parte da maioria dos pais… Se pode ser difícil o dizer “não” quando o argumento é “mas todos os meus colegas viram”? Pode! Mas também pode ter consequências ceder a este argumento? Pode!

Esta nova série é apenas mais um exemplo, do quanto os jovens atualmente estão a ser expostos a algo totalmente desadequado às suas idades. A problemática aqui foca-se na agressividade excessiva que está presente nos conteúdos apresentados e que, inevitavelmente, se refletem no comportamento.

Neste texto o objetivo é alertar para o que estamos nós, enquanto sociedade, a permitir que os nossos jovens tenham acesso, sem que ainda tenham as devidas capacidades desenvolvidas para assimilar a informação que consomem. Existem diversas fases do desenvolvimento, pelas quais todos passamos e cada uma delas vem com a aquisição de capacidades e conhecimentos. E quais são as consequências de dar informações aos jovens antes dessas capacidades estarem totalmente sedimentadas? Assimilar de forma errada, percecionar o que veem de forma errada e adquirirem comportamentos com base no que assimilaram, que muitas das vezes se reflete em comportamentos agressivos, por ainda estar a ser construída a capacidade de lidar com o emocional. Quais poderão ser os impactos a nível social e emocional? Incapacidade de lidar com a frustração sem aceder à violência e incapacidade de estabelecer ligações emocionais contentoras e coesas, são apenas exemplos.

Importa assim respeitar o caminho das etapas de desenvolvimento das crianças e adolescentes, não lhes oferendo ferramentas que ainda não conseguem utilizar da melhor forma e para as quais ainda não têm competências emocionais de gerir e aplicar.

 

Drª Rita Rana

O Canto da Psicologia – Lisboa


sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Crianças violentas...

 


 

A morte de um jovem de 23 anos à porta de uma discoteca no Porto provocada por outro jovem de 21 anos fez-me pensar neste titulo, escolhido há 2 anos atrás para a 5ª Jornada de estudos do Instituto Psicanalítico da Criança em Paris.

 A agressividade na criança e no jovem pode ser uma chamada de atenção ou uma tentativa de afirmar a sua singularidade, a sua vontade, face às regras e limites impostos pelos adultos (pais, professores, etc). Neste caso estaríamos no registo do simbólico e falaríamos de acting-out, um ato inconsciente que se realiza para um Outro, para poder passar uma mensagem que não se consegue exprimir de outra forma, através da palavra.

 As passagens ao ato, pelo contrário, como parece ser aquela que vitimou Paulo Correia no Porto, escapam ao simbólico, à palavra. Esta noção designa atos violentos, auto ou hetero agressivos e frequentemente impulsivos. A tentativa de encontrar uma causalidade para estes fenómenos de violência é muitas vezes infrutífera pois trata-se de uma irrupção isolada de qualquer tipo de discurso ou diálogo possível. Falamos da violência gratuita que tem como satisfação o simples ato de destruir, de sair de cena, sem causa nem mensagem dirigida a alguém.

 A questão que eu gostaria de abordar, orientada por um texto de Jacques-Alain Miller escrito para a referida jornada de estudos, é como podemos integrar esta violência num discurso simbólico.

 Miller fala de uma posição terapêutica afetuosa e de contra-violência simbólica, em que se tentaria ajudar a criança/jovem a encontrar palavras para expressar a sua agressividade, a (re)construir uma defesa contra eventuais episódios de irrupção da violência, e a reparar um eventual defeito na sua capacidade simbólica.

 Não se trata de impôr um determinado significado ou de corrigir comportamentos através de uma técnica igual para todos, mas de ouvir o que a criança/jovem tem a dizer sobre a sua violência e agressividade, sobre o que a desencadeia, sobre o sofrimento que lhe provoca. Quando esta violência encontra um lugar para ser abordada, pode revelar-se uma força frutífera para a criança.

 J-A Miller alerta-nos para o perigo de ficarmos colados a uma visão determinista da criança/jovem que muitas vezes é veiculada no ambiente familiar, escolar e social desde muito cedo - “agressivo”, “violento”, “destruidor”. Defende igualmente que nem toda a violência é errática e que é necessário respeitar e dar lugar a uma revolta que pode ser saudável, em alguns casos.

 

 

Drª Rafaela Lima

O Canto da Psicologia - Braga


sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Reinicio… Fim de férias… Início de aulas… Inocente mês de Setembro

 


Curioso o mês de Setembro, mês nove de um ano, mas de meio ou fim pouco tem. Não?! Se calhar, fim de ciclos…

Bem, para alguns, um mês de início de aulas, contemplando novo ano lectivo, logo, reajuste de horários, nova gestão familiar, o que se assemelha a um Reinício de ano, não?!

«As questões.. tão bom, as eternas questões. Tão bom existir espaço para nos questionarmos, pensarmos além da funcionalidade a que o dia a dia exige.»

Estamos a acabar Setembro, e deparo-me com a ideia de reinício, de reorganizar agendas e tempos.

Reinício, um tempo que maioritariamente adoro, pois mesmo carregado de angústias e medos do recomeço, cheira a mudança e novas oportunidades.

Já pensaram nesta relação?! Na relação criança e adulto? Como tem peso a época de inícios de anos lectivos escolares no mundo dos adultos.. Como repensamos e temos que gerir tudo, mesmo quem não tem filhos nem é professor. Curioso serem os adultos a gerir a vida dos menores e depois, se analisarmos bem…, é, é mesmo uma co-dependência. A constituição de uma sociedade, o mundo das relações. Por mais que nos sintamos e sejamos todos diferentes, existem sempre ligações, e por mais minúsculas que estas sejam, existem, e temos que cuidar dessa existência. Não por mim, mas pela sociedade, por cada um.

Por estas, e o peso de todas estas, estou eu, está esta equipa, com base no cuidar da saúde mental do outro, tendo por base o respeito e a individualidade de qualquer pessoa.

Por isso, olha em torno de ti, olha à tua volta e vê, empatiza e simpatiza, pois o recomeço tem que ter sempre lugar, e nele podes sempre ser uma melhor pessoa.

 

                    Sentir, é o princípio de um acordar,

                    Emotividade, é o que nos torna de uma beleza imensa,

                    Tempo é o que mais nos limita,    

                    Eterno é somente a saudade.

                    Belo, é cada momento vivido com prazer, e empenho.

                    Romance.. esse é o que consegues fazer com a junção do sentimento, emoção e tempo

                    Ouve, olha, observa, ama.

 

Drª Margarida Espanca - Lisboa

O Canto da Psicologia