O momento em que o mundo paralisou, era março de 2020 quando, o cada vez mais falado corona vírus ou covid-19, estava em alerta máximo pela OMS, que afirmavam ser certo, que estávamos perante uma Pandemia, que o vírus era muito perigoso e altamente contagioso. Ficamos todos perplexos e a humanidade parou, o medo instalou-se de forma inevitável, o desconhecido, a associação à morte, à doença, ao sofrimento. Os telejornais e meios de comunicação, apenas davam notícias sobre o vírus e a Pandemia de forma obsessiva, dados constantes e diários sobre os números de infetados, recuperados, óbitos e em internamento, passou a ser o novo normal, assim como, falar sempre de doença e estar no meio da doença, com mascaras a evitar o contacto humano. Saiamos de casa com medo, a simples ida ao supermercado, era feita com estranheza, ate que os confinamentos se tornaram obrigatórios para todos, menos os profissionais essenciais, de bens essenciais, forças de segurança e claro, profissionais de saúde.
Só mesmo quem trabalha na saúde, sabe a dificuldade
que foi vir trabalhar, o medo de poder contagiar os familiares, quem mais
amamos, de ser fonte de contágio para os outros, uma vez que estávamos expostos
ao público e essa realidade podia acontecer. O ambiente na saúde era
intranquilo, aflito, embora o desejo de ação e de, por missão, proporcionar
todo o melhor que podíamos, para a comunidade e para os utentes, estava sempre
presente como motivação principal, apesar de tudo. A responsabilidade do nosso trabalho,
das horas a mais, dos fins de semanas perdidos, de toda a nossa dedicação para,
quer no caso de os cuidados hospitalares salvar vidas diretamente, quer no caso
dos cuidados de saúde primários salvar vidas, por via da prevenção, testagem,
vacinação e controlo da saúde pública, que evita a propagação continua e
massiva da doença, através das vigilâncias ativas, análise dos contactos
imensos, registro constante e avaliação do doente e de todos os contactos
diariamente.
Foram tempos de incertezas, angústias, os números de
mortos subiram e os profissionais de saúde, incansáveis à procura de promover
mais saúde, proteção, sempre na busca de ajudarem da melhor forma todos, mais
do que nunca foram peças essenciais, para permitir que pudéssemos sobreviver a
estes tempos difíceis, com ajuda fundamental da vacinação, outra valência da
saúde, que resulta de um esforço incalculável dos profissionais e que devemos
estar muito gratos.
A área da saúde esteve a sentir na pele todos estes desafios, os profissionais estiveram, sem dúvida, à altura de uma enorme crise sanitária global como só há 100 anos se assistiu (gripe espanhola), foram incansáveis na sua conduta, na sua luta diária, médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, técnicos de RX, técnicos superiores, técnicos de análises clinicas, fisioterapeutas, terapeutas, psicomotricistas, administrativos, assistentes operacionais, assistentes de higiene, seguranças, gestores rh, todos estiveram unidos, todos foram e são importantes no combate à Pandemia covid-19.
Os psicólogos clínicos, psicoterapeutas,
psicanalistas e psiquiatras, passaram a ser um recurso ainda mais essencial,
uma vez que a saúde mental estava a ser posta em causa, aumentaram os pedidos
de apoio psicológico, inúmeros movimentos de psicólogos, psicoterapeutas,
emergiram no sentido de proporcionar esse acompanhamento fundamental, numa
autentica onda de solidariedade e empatia
O impacto psicológico da crise sanitária, está ainda
a ser avaliado, inúmeros estudos científicos estão a decorrer, para que se
possa analisar de forma minuciosa, longitudinal, todas as consequências psicológicas,
desta pandemia, mas como psicólogos sabemos que a seguir à crise, pode surgir a
perturbação de stress pós-traumático, que muitos poderão estar a vivenciar, de
forma mais ou menos grave, consoante as patologias que preexistiam à pandemia.
Neste sentido, o cuidado psíquico, a vontade de
procurar compreender as origens das nossas emoções mais angustiantes, através
da sua aceitação, proporcionou a procura do autoconhecimento na psicoterapia,
de forma que a higiene mental pudesse estar a par com a higiene sanitária.
Este texto foi escrito no passado e não foi por
acaso, dado que constitui um desejo, que a Pandemia seja já parte da história
da humanidade e que, acima de tudo, possamos continuar a sair deste período com
mais sabedoria, cooperação, gratidão e empatia.
Canto da Psicologia