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quinta-feira, 3 de junho de 2021

“Ele/a ainda não percebe, é muito novo/a...”

 


 

Há já muito tempo que se sabe que a criança é dotada desde cedo com mecanismos mentais que a capacitam de sentir qualquer experiência que se passe em torno dela, mesmo ainda dentro do ventre materno.

Contudo, mesmo nos dias de hoje, ainda me apercebo que muitos de nós temos a crença de que, por ser criança, não compreende determinados estímulos em que participa ou observa, nomeadamente, determinadas situações entre adultos.

Acontece que é precisamente o oposto! Todas as experiências em que a criança está envolvida, particularmente até aos 4 anos de idade, são determinantes para o seu desenvolvimento ao longo da vida. Muito provavelmente, a criança não será capaz de recordar e falar concretamente sobre uma memória que ocorra antes desta idade, contudo, a experiência fica retida a um nível inconsciente e irá ter um impacto no desenvolvimento das suas capacidades emocional e intelectual.

A forma saudável ou não pela qual a criança irá integrar determinadas experiências depende da sua valência emocional, ou seja, quanto maior a intensidade emocional, positiva ou negativa, irá ter uma consequência direta na sua mente. Por exemplo, a intensidade emocional negativa de um acontecimento poderá constituir-se como um trauma, pelo que poderá colocar a criança em risco de desenvolver determinada psicopatologia, que se poderá manifestar imediatamente ou mesmo passado muito tempo da sua ocorrência.

No fundo, é como se permanecesse um carimbo marcado no cérebro o qual, mesmo que não se consiga ler o que lá está escrito, influencia o processamento de outras aprendizagens importantes para o desenvolvimento mental saudável da criança.

(Outra questão será o número de estímulos que, por mais que se avaliem como positivos, a criança está a captar tudo pela primeira vez, pelo que necessita de tempo em cada uma das experiências para as integrar completamente, antes de se passar à seguinte).

Todas as interações sociais levam a alterações do sistema nervoso central e todas contribuem para a organização ou desorganização do sistema emocional e intelectual da criança e, portanto, influenciam a forma como vão utilizar este sistema individual e socialmente, de forma saudável ou não.

 

 

Dra. Filipa Noronha

O Canto da Psicologia


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Começar o desconfinamento dentro de cada um de nós...

 



“Os flagelos, com efeito, são uma coisa comum, mas acredita-se dificilmente neles quando nos caem sobre a cabeça. Houve no mundo tantas pestes como guerras. E, contudo, as pestes, como as guerras, encontram sempre as pessoas igualmente desprevenidas.”

Albert Camus, 1947


A humanidade sente o impacto da pandemia covid 19 desde março de 2020. O já longo período pandémico que atravessamos será tema basilar da narração histórica do ano 2020, 2021 e seguintes. Diariamente ouvimos, lemos e/ou pensamos no impacto social, económico, cultural e político trazido pela pandemia. Por cá, no consultório ou online, a par deste impacto, olhamos a nu para o embate interno que a pandemia gera em cada um de nós. Pois, apesar do seu carácter coletivo e universal, não temos todos os mesmos recursos de resposta. No entanto, parece inegável que a nova realidade veio colocar, democraticamente, a saúde mental da humanidade à prova.

O medo, a tristeza, a ansiedade, a solidão, a angústia, o desamparo, têm sido os panos de fundo das sessões de psicoterapia. De repente, a realidade social há muito instituída dá lugar a uma realidade desconhecida, onde nos vemos privados das relações familiares e sociais como as conhecíamos antes. Mergulhados na incerteza, confrontados com a impossibilidade de controlar integralmente a vida, é esperado e natural que não saibamos como reagir e dentro de nós cresçam sentimentos angustiantes e ansiogénicos.

A vida parece estar em suspenso e os dias, aparentemente todos iguais, já se prolongam há demasiado tempo. Imergidos em incertezas e medos, pensamos se chegará o dia em que iremos recuperar a “normalidade” de antes.

 A humanidade precisa de acolhimento, de legenda e contenção de emoções e sentimentos. Precisa de um espaço interno seguro para sentir e elaborar a catástrofe que nos apanhou desprevenidos.

Talvez o desconfinamento deva começar dentro de cada um de nós, assumindo a inquietação que ele nos possa causar, aceitando o medo e as dúvidas, acreditando que é dentro de nós que encontraremos a quietude nos futuros dias.


Drª Soraia Almeida - Braga

O Canto da Psicologia




sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Um acerto com a saudade...

 Estamos longe... Estamos todos tão longe...


Estamos todos longe uns dos outros, e se calhar, não é só consequência desta pandemia.

Claro que, desde Março de 2020, fiquei/ “ficamos” forçados a estar longe de quem gostamos e com quem não vivemos, mas tenho pensado muito no tempo e no que sinto face a este. E cada vez mais me apercebo que sou atropelada por este. E isso tem-me consumido e entristecido. Dou por mim a pensar nas inúmeras coisas que tenho para fazer e na frustração de não dar vazão às mesmas. Isso engloba trabalho, maioritariamente trabalho, e tarefas funcionais de casa; mas depois penso: e as minhas pessoas? Para as minhas pessoas, aquelas que amo e só posso falar por telefone ,sobra tão pouco tempo. E fico num vazio e numa saudade imensa. Saudade, de ter de facto tempo para elas. Aquele tempo tranquilo e genuinamente dedicado. Saudades, muitas saudades de todos. Saudades de não só não os poder realmente ver, como saudades de ter tempo para usufruir de vocês e da vida além do trabalho. Mas já era assim antes da pandemia...

Talvez a pandemia nos obrigue a pensar mais vezes nisto, no que é estar distante, no que é estar só, e no sentir só. Talvez a pandemia possa ser  o caminho para, um dia, sabermos valorizar o que de facto importa; para mim, tudo o que envolve amor e, claro, as minhas pessoas.

Drª Margarida Espanca - Lisboa

O Canto da Psicologia

 


quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Sublimar – a arte de transformar...

 



 

“As palavras são asas que voam

Pássaros negros que não se demoram ao olhar

Escrevo porque o silêncio é uma habitação fria e descarnada

Ao abandono.

Solicitude de folhas em queda na árvore da manhã

Síntese de medo inquieto, de vento gotas.

No traçar do rosto alguma luz queima a pele condescendente.

Escrevo porque só assim sei gritar

E esse grito tem garras e gumes

Mãos que estrangulam, lábios que beijam. “

L. Rosado, Lisboa

 

Uma vez, ao caminhar pelo Chiado, cruzei-me com uma senhora que vendia os seus poemas a quem por ali passava. Folheei o dossier e escolhi este, pareceu-me ressonante do que pode ser o sofrimento do ser humano, em algum momento ou em determinados contextos relacionais, e imaginei que traduzia o que aquela senhora aparentava. Pareceu-me interessante e bem escrito, expressivo de uma experiência de sofrimento psicológico intenso, mas também da capacidade para o comunicar, de o pôr em palavras e ilustrar de uma forma que parece quase possível visitar tal experiência. E este movimento não constitui em si mesmo uma força transformadora? A solidão e o abandono sentidos não encontrarão alguma espécie de conforto quando traduzidos desta forma? Estes gritos, ao serem escritos, não ficarão de alguma forma mais contidos? Não será o suficiente para tratar essa dor, mas parece corresponder a um movimento salutar e construtivo, consiste no sublimar desta vivência que se entende tão difícil.
A sublimação é um mecanismo psicológico que consiste neste processo que enuncio, consiste em transformar impulsos e sentimentos, derivando-os para um novo objetivo e um novo objeto, socialmente valorizados.


A arte, nas suas várias formas e expressões, vive muito deste mecanismo onde as vivências internas e externas dos artistas encontram uma forma de representação que ao mesmo tempo que as tornam visíveis aos olhos dos outros também lhe dão uma outra vida, tornam-se uma outra coisa. Como podemos ver, por exemplo, no teatro, no cinema, na pintura, na escultura.


No caso da escrita, mesmo que só de si para si, ou para os seus significativos, existe um valor terapêutico imenso, poderia descrever a experiência de alguns pacientes como: "escrevo porque só assim me sei encontrar, escrevo porque só assim me consigo olhar e entender, escrevo porque só assim sei comunicar…"


Em termos psicológicos este tipo de mecanismo permite integrar na personalidade aspetos fraturantes de uma forma algo adaptativa e apaziguadora, elementos de alguma forma perturbadores tornam-se assim mais toleráveis.


Será correspondente à ideia de reunir as pedras que estão no caminho e construir com elas um castelo, como nos diz Pessoa. O que causa dificuldade e dor pode ser integrado e fazer parte da construção de algo uno, sólido e rico.



Drª Filipa Rosário - Alcochete e Lisboa

O Canto da Psicologia



 


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

A fobia no pós-pandemia...

 



Pandemias, epidemias e catástrofes naturais têm tendência a propagar medos e a alterar comportamentos. Quanto maior for o evento stressante, maior será o seu impacto e as suas consequências. A saúde mental deve ser uma das preocupações centrais desta pandemia. Existem pessoas com predisposição psicológica, que se encontram mais vulneráveis, que podem desenvolver perturbações mentais, mas, na realidade, ninguém está ileso de as desenvolver.

Esta pandemia tem alterado a rotina das pessoas de uma maneira inesperada e que irá gerar consequências mesmo após esta situação estar controlada. O confinamento social, o contágio do vírus, o número de óbitos, podem gerar sequelas psicológicas, como as fobias. Destas, três são as mais frequentes:
 
Fobia de doença: é a fobia do contágio. É o medo de ficar doente e morrer, de contagiar familiares e amigos. Pode gerar sintomas físicos, mas gera principalmente crises de ansiedade e ataques de pânico.

 
Ataques de Pânico: é uma situação súbita de medo intenso associado a sintomas como palpitaçõessuores, tremores, falta de ar, dormência ou sensação de que está prestes a acontecer qualquer coisa má. Nesta pandemia, o medo mais frequente é o medo da morte e da doença, tanto da própria pessoa, como relativo a um familiar.


Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC): são crises recorrentes de compulsões que se tornam obsessivas no dia a dia das pessoas. As obsessões são pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes que provocam na pessoa ansiedade ou mal-estar. A pessoa sente a necessidade de ignorar ou suprimir a ansiedade causada por essas obsessões através de pensamentos, rotinas ou atividades repetitivas denominadas de compulsões ou rituais.

Com a pandemia, todos temos comportamentos diários repetitivos, como lavar as mãos, usar frequentemente o álcool desinfetante, desinfetar produtos que trazemos para casa, entre outros. Estes comportamentos quando associados a este evento stressante podem desenvolver uma TOC ou agravar quando já existe.

 

E a Fobia Social? Algumas pessoas com este diagnóstico sentiram os seus sintomas diminuídos aquando da quarentena obrigatória, não estando expostas ao seu maior medo, o medo da interação social, da avaliação do outro, da exposição ao outro. Mas há quem tenha desenvolvido um quadro de solidão e tristeza profunda em consequência do isolamento social e que pode tornar ainda mais dificil um regresso a esta nova realidade, com medos mais intensos e por consequência uma maior ansiedade.

 

Falar sobre os medos alivia a ansiedade e contribui para um bem-estar psicológico, necessário para superar esta pandemia. Estes medos e a consequente ansiedade podem surgir em adultos, mas também nas crianças e nos adolescentes. Não hesite em procurar a ajuda de um Psicoterapeuta de modo a evitar um sofrimento prolongado.

 

Drª Irina Morgado - Setúbal

O Canto da Psicologia

 

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Que trará este "novo" Setembro?

 


Nunca o regresso do pós férias foi tão profundamente irresoluto quanto este que se apresenta à nossa frente.

Há dois momentos na vida em que, geralmente, usamos em  jeito de balanço: quando regressamos de férias  e, no final ou, no início de um novo ano.

No primeiro momento, regresso de férias,  relembramos os planos que se concretizaram ou, nem por isso, visualizamos os novos desafios que se apresentam  para mais um ano laboral , regozijamo-nos com as conquistas escolares dos nossos filhos ,receosos, criamos expectativas para o ano escolar que se inicia, olhamos, com respeito, o sentir preocupante  inerente a qualquer  um destes aspectos mas, sobretudo, encaramos num registo pragmático de resolução do que ficou pendente , do que virá por aí , sempre de  peito aberto às provocações vivenciais que irão surgir ao longo de mais 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 48 segundos, aproximadamente ,até às próximas férias.

No segundo momento, final ou início de um ano novo, deitamos um olhar reflexivo ao ano que passou com uma certa nostalgia ou ânsia que ele termine  e pedimos um ano novo cheio de saúde, trabalho, dinheiro e muito amor e se não puder ser melhor, que  pelo menos “  seja igual ao que termine que já não é muito mau…” ( a partir de agora, faremos mais um pedido: que não venha com o novo ano um outro vírus por aí…)

E este ano? Agora que regressamos de férias, à rotina sazonal expectável,  que fazer com este presente onde não nos é permitido, sequer, pensar um futuro, fazer planos, delinear estratégias, pendentes que estamos todos de resoluções que não nossas?

Governo prepara endurecimento das medidas de proteção - Diário de Noticias - 27/08/2020

Nos próximos 15 dias tudo vai ficar na mesma, no que toca a regras de segurança sanitária, mas a meio de setembro todo o país passará para um nível mais elevado de proteção.

“O Governo está a preparar um endurecimento das medidas de proteção sanitária para daqui a duas semanas, passando todo o país de "situação de alerta" para "situação de contingência", o mais 'grave' dos três previstos na Lei de Bases de Proteção Civil. Já Lisboa manter-se-á na situação em que atualmente está - situação de contingência -, significando isto também que o grau de risco avaliado será igual em todo o país.

Não vamos, por aqui, voltar a repetir o que temos estado a ouvir ,há meses,  sobre o que é preciso fazer, que há uma nova realidade, que tudo vai ficar bem, que vamos sair disto muito melhores pessoas. O princípio da realidade que se impõe, por agora, é de um total desconhecimento, de uma total incerteza regada de angústia, ansiedade e medo, muito medo, não há como negar. Sabemos muito  mais do vírus mas, ele sabe muito mais de nós...

Que dizer ou fazer ,nestas alturas ,quando o amanhã nos parece incerto, a segurança frágil na continuidade do posto de trabalho impera, teme-se todos os dias pela saúde, continua-se a olhar o outro como o inimigo público número um, não se convive com a família totalmente à vontade, teme-se o regresso à escola dos nossos filhos, receia-se o retorno aos postos de trabalho, espera-se, com muita expectativa , pelas  medidas que por aí vem abraçar o meio de Setembro com a segunda vaga à vista, que dizer ou fazer?

Como diz a minha mãe: “ um dia de cada vez filha”!

Como digo enquanto mãe: “ um dia de cada vez filha”!

Permita-me, a si que me lê desse lado, pegar no título de um livro do escritor Miguel Esteves Cardoso e, com todo o respeito,  rescrevê-lo: A espera é f%d!&a…

Mas é o que nos resta…

 

Drª Ana de Ornelas

Directora Geral do Projecto

O Canto da Psicologia


 

 

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Rotinas chamadas "exercício físico"...

 


Com o fim das férias, voltam a rotinas e por conseguinte os níveis de stress e ansiedade  aumentam. A azáfama em que somos colocados deixam-nos muitas vezes sem tempo para o que realmente importa, nós e o nosso bem-estar físico e mental.

Uma das melhores formas para começar a diminuir os níveis de ansiedade, melhorar a gestão do stress e aumentar a auto-estima, será começar a fazer exercício físico. Aqui é importante que a prática de exercício físico seja prazerosa e vá de encontro também ao gosto pessoal, porque há que ter em conta o contexto, especificidades individuais, crenças, etc.

Engane-se se pensar que só o treino em contexto de ginásio será o mais adequado para si, procure algo que o motive de verdade (correr, jogar futebol, andar de bicicleta, etc) e comece gradualmente a implementar o hábito de se mexer mais e melhor. Desta forma, melhorará não só a vitalidade como reduzirá stress e ansiedade.

Bons Treinos

Hugo Silva

Instagram: hugo_silva_coach

-Licenciatura Educação Física/Especialização Treino Personalizado
-Pós-Graduação em Marketing do Fitness 
-Pós-Graduando em Strength and Conditioning
-Director Técnico ginásio Lisboa Racket Centre


quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Quando a perda invade o espaço terapêutico...



“Não tenho medo da morte. Só não quero estar presente quando ela acontecer.”

                                                                                                         Woody Allen

Drª. O meu pai partiu hoje ao início da tarde…que tristeza tão profunda…” 

Se por um lado, no desempenho da nossa profissão, vamos, com orgulho profissional, assistindo ao crescimento dos nossos pacientes, há momentos em que a empatia se instala de tal forma e, num poder descontrolado, apodera-se e embebeda-nos em momentos de sofrimento imenso onde a dor contamina e é sentida de forma intensa quase como se fosse  nossa; valha-nos a experiência, a supervisão e as nossas ferramentas de trabalho que nos permitem um distanciamento suficientemente seguro de maneira a sermos capazes de ajudar, conter e suportar o sofrimento desmedido pela perda sentida por  quem está à nossa frente, derrubada por uma tristeza imensurável. É inimaginável  este cenário; também somos humanos e trazemos connosco, às costas, a nossa própria história e também as nossas perdas mas, foi para isto e muito mais que nos fomos preparando enquanto profissionais de saúde mental  e por isso, capazes de fazer o nosso trabalho mesmo nestas circunstâncias tão, mas tão difíceis …

Ao longo dos meus anos de prática, já acompanhei dois processos lancinantes de espera da morte; um, enquadrado no percurso normal da vida,  e outro, absolutamente antinatural onde se trabalhou durante um ano e meio,   a espera inevitável da morte de um filho, na primeira infância.

Alguém me disse, um dia, de que as dores são incomparáveis e são, efectivamente; e estas, as dores da perda pela morte prematura ou tardia, são incontornáveis e tem o seu tempo para serem vividas. O Professor Coimbra de Matos, numa supervisão, dizia: “ O luto de um filho nunca se faz; vai-se aprendendo a viver de saudade” ; Rose Kennedy escreveu um dia:” Diz-se que o tempo cura todas as feridas. Eu não concordo. As feridas ficam. Com o tempo, a fim de proteger a sua sanidade, a mente cobre as feridas e a dor diminui, mas nunca desaparece”.

Também eu passei, há uns anos, pela morte do meu pai. Esperada e pela doença degenerativa da qual sofria a certa altura, até “desejada”, a despedida era feita a cada visita, tal a vontade que o seu sofrimento terminasse mas, perante a derradeira impossibilidade de o trazer novamente à vida com um simples sopro de amor, sucumbi à dor lacinante de me tornar órfã de pai; valeu-me a terapia onde houve dias em que o som era só o do meu choro, do meu lamento, da minha tristeza profunda e incapacidade de lidar com o meu novo estatuto, o de “órfã de pai”.

Apesar de ter tido tempo para me ir preparando ( será que alguém consegue estar verdadeiramente preparado para tal?) assistiram-me as cinco fases de luto: negação, revolta, negociação , depressão e aceitação; retirei-me temporariamente da presença dos meus pacientes e mais tarde, quando regressei , cuidei para que, enquanto eu não tivesse este meu luto resolvido, não recebesse ninguém em consulta que estivesse igualmente a passar por um processo de luto: eu não estaria ainda  preparada para o ou, a acompanhar. A vida, entretanto, quando achou que assim o devia e que eu aguentaria,  foi-me pondo à prova pelos casos que fui abraçando e dei por mim, serena,  a trabalhar lutos com a saudade por companhia e com a empatia  em absoluta sintonia.

 E ontem, recebi esta mensagem! Já esperávamos! Trabalhámos ao longo destes últimos dois meses esta realidade possível mas tão impossível ao mesmo tempo de ser pensada! Com momentos difíceis e terrivelmente dolorosos, a inevitabilidade deste fecho de vida foi-nos colocando a ambas e em cada uma de maneira diferente, face a face com a morte;

Entre estes factos da vida, a morte é o mais evidente, o mais intuitivamente palpável. Desde cedo, bem mais cedo do que muitas vezes se julga, compreendemos que a morte há-de chegar e que não há escapatória (…)

(…) Há medida que envelhecemos, aprendemos a não pensar na morte ; distraímo-nos; transformamo-la em algo positivo; negamo-la com mitos que nos sustentam; esforçamo-nos por alcançar a imortalidade através de obras imperecíveis (…)

(… Contudo, existe outra via – uma tradição antiga, que se aplica à psicoterapia- , que nos ensina que a perfeita consciência da morte amadurece o nosso pensamento e enriquece a nossa vida”

A Psicologia do Amor

Irvin D. Yalom

Respondi à mensagem da mesma forma que me ouvi, quando a li e que achei importante fazê-lo : “ Só me resta relembrar-lhe o que ao longo deste tempo temos tantas vezes dito em sessão: só morre quem é esquecido e o seu pai tem um lugar perene no seu coração”

Agarro-me à frase inicial de Woddy Allen e transformo-a segundo a minha existência:

“Não tenho medo de trabalhar a inevitabilidade da morte. Só não quero estar presente quando ela acontecer.”


Drª Ana de Ornelas

Directora Geral do Projecto 

O Canto da Psicologia




quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Exercício físico e depressão...








Considerada já uma epidemia silenciosa, a depressão segundo dados de uma pesquisa australiana, afeta nos dias de hoje, cerca de 350 milhões de pessoas em todo o mundo. Em alguns casos, a depressão é já avaliada como uma doença crónica, sendo que o consumo de medicamentos antidepressivos, aumentaram cerca de 40% em todo o mundo nos últimos anos.

Uma solução simples, barata, eficaz e principalmente saudável pode diminuir e combater os sintomas desta doença, chama-se EXERCÍCIO FÍSICO.

O exercício físico enquanto terapêutica pode ajudar a combater os sintomas de ansiedade, tristeza, angústia, stress e falta de energia. A libertação de hormonas, como a endorfina, provocam uma sensação de prazer e bem-estar, fazendo com que as pessoas atingidas por esta doença possam percecionar sentimentos de maior segurança, autoestima, qualidade de vida, confiança e felicidade. Além de que, o exercício é capaz de promover o contacto social, melhorando a psicossocialização.
Se sofre desta doença ou tem alguém perto de si que sofre em silêncio com este flagelo, procure junto de um médico especializado e de um profissional de Exercício Físico a lutar e a ultrapassar esta barreira.


Bons treinos



Instagram: hugo_silva_coach
-Licenciatura Educação Física/Especialização Treino Personalizado
-Pós-Graduação em Marketing do Fitness 
-Pós-Graduando em Strength and Conditioning
-Director Técnico ginásio Lisboa Racket Centre