quinta-feira, 3 de junho de 2021

“Ele/a ainda não percebe, é muito novo/a...”

 


 

Há já muito tempo que se sabe que a criança é dotada desde cedo com mecanismos mentais que a capacitam de sentir qualquer experiência que se passe em torno dela, mesmo ainda dentro do ventre materno.

Contudo, mesmo nos dias de hoje, ainda me apercebo que muitos de nós temos a crença de que, por ser criança, não compreende determinados estímulos em que participa ou observa, nomeadamente, determinadas situações entre adultos.

Acontece que é precisamente o oposto! Todas as experiências em que a criança está envolvida, particularmente até aos 4 anos de idade, são determinantes para o seu desenvolvimento ao longo da vida. Muito provavelmente, a criança não será capaz de recordar e falar concretamente sobre uma memória que ocorra antes desta idade, contudo, a experiência fica retida a um nível inconsciente e irá ter um impacto no desenvolvimento das suas capacidades emocional e intelectual.

A forma saudável ou não pela qual a criança irá integrar determinadas experiências depende da sua valência emocional, ou seja, quanto maior a intensidade emocional, positiva ou negativa, irá ter uma consequência direta na sua mente. Por exemplo, a intensidade emocional negativa de um acontecimento poderá constituir-se como um trauma, pelo que poderá colocar a criança em risco de desenvolver determinada psicopatologia, que se poderá manifestar imediatamente ou mesmo passado muito tempo da sua ocorrência.

No fundo, é como se permanecesse um carimbo marcado no cérebro o qual, mesmo que não se consiga ler o que lá está escrito, influencia o processamento de outras aprendizagens importantes para o desenvolvimento mental saudável da criança.

(Outra questão será o número de estímulos que, por mais que se avaliem como positivos, a criança está a captar tudo pela primeira vez, pelo que necessita de tempo em cada uma das experiências para as integrar completamente, antes de se passar à seguinte).

Todas as interações sociais levam a alterações do sistema nervoso central e todas contribuem para a organização ou desorganização do sistema emocional e intelectual da criança e, portanto, influenciam a forma como vão utilizar este sistema individual e socialmente, de forma saudável ou não.

 

 

Dra. Filipa Noronha

O Canto da Psicologia


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