Há já muito tempo que se sabe que a criança é dotada desde cedo com
mecanismos mentais que a capacitam de sentir qualquer experiência que se passe
em torno dela, mesmo ainda dentro do ventre materno.
Contudo, mesmo nos dias de hoje, ainda me apercebo que muitos de nós temos
a crença de que, por ser criança, não compreende determinados estímulos em que
participa ou observa, nomeadamente, determinadas situações entre adultos.
Acontece que é precisamente o oposto! Todas as experiências em que a
criança está envolvida, particularmente até aos 4 anos de idade, são
determinantes para o seu desenvolvimento ao longo da vida. Muito provavelmente,
a criança não será capaz de recordar e falar concretamente sobre uma memória
que ocorra antes desta idade, contudo, a experiência fica retida a um nível
inconsciente e irá ter um impacto no desenvolvimento das suas capacidades
emocional e intelectual.
A forma saudável ou não pela qual a criança irá integrar determinadas
experiências depende da sua valência emocional, ou seja, quanto maior a
intensidade emocional, positiva ou negativa, irá ter uma consequência direta na
sua mente. Por exemplo, a intensidade emocional negativa de um acontecimento poderá
constituir-se como um trauma, pelo que poderá colocar a criança em risco de
desenvolver determinada psicopatologia, que se poderá manifestar imediatamente
ou mesmo passado muito tempo da sua ocorrência.
No fundo, é como se permanecesse um carimbo marcado no cérebro o qual,
mesmo que não se consiga ler o que lá está escrito, influencia o processamento
de outras aprendizagens importantes para o desenvolvimento mental saudável da
criança.
(Outra questão será o número de estímulos que, por mais que se avaliem como
positivos, a criança está a captar tudo pela primeira vez, pelo que necessita
de tempo em cada uma das experiências para as integrar completamente, antes de
se passar à seguinte).
Todas as interações sociais levam a alterações do sistema nervoso central e
todas contribuem para a organização ou desorganização do sistema emocional e
intelectual da criança e, portanto, influenciam a forma como vão utilizar este
sistema individual e socialmente, de forma saudável ou não.
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