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quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

O Natal num turbilhão de emoções...

 



Podia escolher, exclusivamente, escrever sobre a beleza do Natal, as luzes, as canções, a alegria da partilha, a gratidão e o amor que, sem dúvida, caracterizam esta época festiva. Mas o fim do ano carrega nele, igualmente, uma série de balanços, sendo que podem ser vividos por uns tranquilamente, mas por outros, gera ansiedade consoante, a estrutura de personalidade, assim como, os acontecimentos, experiências que foram ou estão a ser vividas.

Nem sempre o Natal é um conto de fadas, o natal pode enaltecer a solidão mais do que o sentimento de união, partilha. As saudades, de quem já não está, do que foi, as lembranças e a nostalgia, traduzem e identificam estas épocas.  Reflexões sobre o que concretizamos emergem. O que desejamos para o ano que está a terminar, foi realizado? Conseguimos avançar, evoluir? Parece que há uma certa exigência, mais do que nunca, para fazer mais e melhor e ter “obrigatoriamente “de atingir resultados, ter sucesso, vencer, mas a vida, por vezes, não é só feita de celebrações permanentes, existem alturas em que somos colocados, em situações delicadas e, geralmente, não estamos à espera do que nos pode acontecer, neste momento, instalasse a frustração e a desilusão. Esta pressão que, de certa forma, foi incutida pela sociedade, de estarmos sempre bem, no nosso melhor, é impossível e, até doentio estarmos “sempre bem”, há alturas difíceis, desafiantes, existem momentos duros, nem sempre tudo é um mar de rosas. Viver é uma soma de desafios, superações, algumas conquistas e bons momentos.  De facto, como encaramos esses períodos difíceis, que às vezes, duram meses e anos, vai fazer toda a diferença.

 Assim sendo qual é a chave? Como devemos superar os momentos duros, como lidar com essas emoções de ansiedade, medo, tristeza, quando estas se tornam avassaladoras? Só existe uma forma é aceitar, porém essa aceitação não vai ser imediata, uma vez que a fase do luto assim obriga, a processar no seu devido tempo, mas sem dúvida que ignorar, negar, as nossas emoções, não é de todo o caminho certo e, apenas leva a mais dificuldades. Ter consciência e distinguir, o principio da realidade, da fantasia, compreender pensamentos não são verdades, pode ajudar no processo. A psicoterapia tem aqui um papel fundamental para poder catalisar, todo este caminho de orientação e de auto-regulação.

É muito comum socialmente ouvirmos: “não chores, controla-te, não tenhas medo, não fiques assim”, mas isto só acontece uma vez que, a maioria das pessoas aprende, desde cedo a rejeitar as emoções mais intensas e, esse ignorar, só piora a situação. Temos de aceitar que somos humanos, vulneráveis, sim, por vezes caímos, estamos tristes, zangados, frustrados, faz parte do nosso constante processo de crescimento. Embora na altura, em que vivemos os momentos difíceis, seja difícil de aceitar, vamos acabar por aprender e ganhar maior sabedoria sobre o que nos rodeia.

 A vida irá nos colocar à prova, qual é o tamanho do seu amor próprio? Qual é o seu auto diálogo, amoroso ou critico? O nosso lado mais sombrio, deve ser integrado e amado, igualmente, tal como todas as nossas outras facetas, não está errado sentir zanga, tristeza, ansiedade, faz parte, é natural, não diz nada sobre o que somos, as emoções não são boas nem más. As emoções, na realidade, são todas boas, necessárias e fundamentais para o osso equilíbrio, homeostático, psíquico, somente a intensidade com que são alimentadas, pelos nossos pensamentos é que pode gerar perturbações. Assim sendo até felicidade a mais, pode ser negativa, uma vez que leva à ingenuidade, ausência de prudência.

Deste modo permita-se, a ser o que tiver de ser hoje, sem ter de refletir no que podia ter atingido mais, às vezes, só estar presente e conseguir desfrutar do agora, é já extraordinário, conseguir, apenas, aproveitar os pequenos momentos, pequenas coisas do dia a dia, já é fazer imenso. Até só estar agora, a ultrapassar o momento desafiante, já é um ato de coragem que deve ter orgulho, é válido, é importante, mesmo que não esteja sempre a fazer “coisas” que a sociedade impõe.

Numa era cada vez mais narcísica, há uma ditadura da perfeição instaurada, como se fosse tudo contabilizado, cronometrado sobre o que ter, o que fazer? Nesta azafama, agora também, do natal esquecemos de estar apenas de corpo e alma no presente, com quem amamos, em família, termos foco, somente, no que nos rodeia agora. Podemos atingir mais? Penso que estar aqui é viver este desafio, mas não esquecer do mais importante, que é ter tempo para divertir, brincar e não levar tudo com tanta seriedade, que lhe escape o que realmente importa. 

 

Mafalda Leite Borges - Alcochete

Canto da Psicologia



sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Um Conto de Natal...

 



“Um Conto de Natal” talvez seja um dos clássicos que mais fazem parte do imaginário cultural do ocidente europeu nesta época. Quando uma obra de 1853 atravessa dois séculos e se mantém viva na nossa história é caso para perguntarmos em que é que ela nos toca, na nossa humanidade, que transcende períodos sociológicos tão distintos. Em muitos aspetos, estamos longe do ambiente de Londres do século XIX.  

No conto de Charles Dickens, o personagem principal, Mr. Scrooge, um homem caracterizado como ávaro, egocêntrico, e rude com os outros, um homem só, é visitado, durante a noite, por três fantasmas, o do passado, o do presente e o do futuro.

O fantasma do passado leva-o a recordar-se de partes significativas da sua história, partes de privação e de dor, de uma vulnerabilidade que ele já não conhecia, tão distantes que nem parecia ele mesmo, e que, para o espectador, humanizam este personagem, permitindo compreendê-lo melhor e atribuindo outro tipo de significados às suas atitudes e comportamentos. O fantasma do presente mostra-lhe outras versões da realidade, a vida do funcionário que ele despediu, as agruras pelas quais a sua família passa, e as consequências da sua atitude na vida desta família. Esta é, também, caracterizada de forma bastante estilizada, a família pobre, mas recta e afetuosa. O Mr. Scrooge fica, genuinamente, surpreendido. Mesmo que pudesse ter uma noção de tais dificuldades, o fantasma trouxe-lhe um olhar diferente, a cores, um olhar já um pouco mais esclarecido, também, pelo fantasma do passado. O fantasma do futuro mostra-lhe, por sua vez, o que será o seu fim de vida se continuar no mesmo curso, um fim solitário e sem paz. Dá-se conta do que é o seu próprio presente, solitário, agora com um outro olhar, enriquecido por outras possibilidades e por outras vontades. Quando acorda desta experiência, quase por magia, muda, torna-se uma pessoa a cores, mais generosa, mais afetuosa, que abraça o espírito de Natal.

Naturalmente que há outras leituras deste conto, designadamente morais, mas não estamos interessados nelas. Interessa-nos, particularmente, a possibilidade de mudança. Neste Conto, esta é facilitada por 3 fantasmas. Serão as/os psicoterapeutas fantasmas do passado, presente e futuro? Somos, todos, potencialmente, um Mr. Scrooge ou o funcionário que ele despede? Espero que não! Mas todos temos os nossos“fantasmas” e na psicoterapia vamos conhecendo uns e outros, revisitando e reconstruindo as versões do passado, do presente e do futuro, a possibilidade de mudança está nesta análise e nesta experiência.

Na época em que nos encontramos interessa-nos, muito, esta idealização do espírito de Natal, que banha as famílias de generosidade e afecto. Uma imagem estilizada do Natal à lareira com a qual confrontamos a nossa própria experiência. A minha família não éassim...porquê?... mas eu gostava que fosse.... um dia será.... Os “fantasmas” não aparecem nos anúncios de TV e, evita-se, a todo o custo, que apareçam na festa. Mas, precisamente pela simbologia da época, precisamente nesta altura, estão bem ativos. O Natal é bom, mas também pode ser difícil. E não ajuda termos como horizonte aquele Natal estilizado. Pode ser melhor, sim, também podemos ser melhores, mas não tem de ser perfeito, mais vale ser autêntico.



Drª Ludmila Carapinha - Lisboa

O Canto da Psicologia



segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Desmistificando a Saúde Mental...

 


Cada vez mais aceitamos como importante a Saúde Mental e cada vez mais ganhamos tempo e (auto)conhecimento ao pensarmo-nos. Felizmente aumenta o número de pessoas que procura ajuda quando assim o acha e sente importante. A procura não poderá e nem deverá ser apenas baseada nos mitos que, ainda hoje, se fazem acompanhar em alguns pensamentos.

 Procuramos dar a conhecer a (verdadeira) realidade e combater a descriminação que ainda existe na Doença Mental.

 MITO : A doença mental só surge em pessoas com menos capacidades!

Como sabemos as doenças mentais resultam de um conjunto de vários factores como os ambientais, sociais, biológicos e psicológicos. Podemos todos estar sujeitos a uma combinação da doença mental.

 -  MITO: As pessoas com doença mental são violentas!

Na maioria das situações são as pessoas que não são afectadas por psicopatologias que tendem a ter receio das outras que têm a saúde mental comprometida. Contudo, a maioria das pessoas que sofrem de doença mental não são mais violentas do que a restante população.

 MITO A doença mental não afecta qualquer um.

A doença mental poderá afectar qualquer um de nós. É sabido que existem factores de maior ou menor risco, contudo não são exclusivos ao desenvolvimento da psicopatologia.

 MITONão há tratamento para as pessoas com doença mental.

Algumas das psicopatologias podem não ter cura, uma vez que, são de cariz estrutural, contudo podem existir tratamentos. Um dos maiores e mais importante será o acompanhamento psicológico.

 MITO: A psicoterapia é uma perda de tempo.

A psicoterapia é o caminho para o ser humano alcançar maiores níveis de autoconhecimento, autocontrolo, gestão afectiva. Não existe qualquer contraindicação na Psicoterapia.

 



É tempo de pensarmos numa sociedade integrativa para todas as pessoas. Nem sempre compreendemos o Outro e, muitas vezes, por desconhecimento das psicopatologias existentes, rapidamente caímos em rótulos. As pessoas não são categorias e são precisas ser pensadas na sua totalidade e livres de mitos e preconceitos.




Drª Inês Almeida - Alcochete

O Canto da Psicologia



sexta-feira, 22 de outubro de 2021

A série de todas as séries...

 



Nos últimos dias tornou-se inevitável abordar este tema, pelos mais diversos motivos e não pelos melhores motivos… o tema envolve a série Squid Game e, por consequência, o tema envolve igualmente várias outras séries, filmes e jogos que são vistos e jogados por crianças e adolescentes antes da idade indicada para tal, devido à violência a que são expostos.

Comecemos então pela série em questão, que está a ter um enorme foco por toda a comunicação social, em diversos países do mundo. Trata-se de uma série que foi lançada há pouco tempo e que atingiu rapidamente um número de visualizações muito elevado, infelizmente visualizações estas realizadas, na grande maioria, por crianças e adolescentes com idade muito menor à recomendada. Referimo-nos a algo com um conteúdo extremamente agressivo, violento, tanto física como psicologicamente, claramente com uma mensagem implícita por trás, que para adultos essa mensagem poderá ser interessante e até importante, mas que para adolescentes não será compreendido dessa forma e muito menos o será por crianças.

As “provas” de que estamos perante um perigo a nível comportamental, para quem vê esta série, são as notícias que têm surgido, que em nada surpreendem, sobre crianças a replicar nos recreios das escolas o que viram na série. O que nos remete para brincadeiras extremamente violentas e, consequentemente, perigosas a vários níveis.

Tudo isto pode levar-nos a alguns pontos para discussão. Podemos começar pela idade indicada como referência para se ver uma série/filme ou jogar determinados jogos. Esta referência não é colocada aleatoriamente, esta referência é colocada com base em critérios específicos e, por isso mesmo, não deve ser ignorada. Este é o principal problema observado atualmente, o ignorar desta referência, o ignorar da parte da maioria dos pais… Se pode ser difícil o dizer “não” quando o argumento é “mas todos os meus colegas viram”? Pode! Mas também pode ter consequências ceder a este argumento? Pode!

Esta nova série é apenas mais um exemplo, do quanto os jovens atualmente estão a ser expostos a algo totalmente desadequado às suas idades. A problemática aqui foca-se na agressividade excessiva que está presente nos conteúdos apresentados e que, inevitavelmente, se refletem no comportamento.

Neste texto o objetivo é alertar para o que estamos nós, enquanto sociedade, a permitir que os nossos jovens tenham acesso, sem que ainda tenham as devidas capacidades desenvolvidas para assimilar a informação que consomem. Existem diversas fases do desenvolvimento, pelas quais todos passamos e cada uma delas vem com a aquisição de capacidades e conhecimentos. E quais são as consequências de dar informações aos jovens antes dessas capacidades estarem totalmente sedimentadas? Assimilar de forma errada, percecionar o que veem de forma errada e adquirirem comportamentos com base no que assimilaram, que muitas das vezes se reflete em comportamentos agressivos, por ainda estar a ser construída a capacidade de lidar com o emocional. Quais poderão ser os impactos a nível social e emocional? Incapacidade de lidar com a frustração sem aceder à violência e incapacidade de estabelecer ligações emocionais contentoras e coesas, são apenas exemplos.

Importa assim respeitar o caminho das etapas de desenvolvimento das crianças e adolescentes, não lhes oferendo ferramentas que ainda não conseguem utilizar da melhor forma e para as quais ainda não têm competências emocionais de gerir e aplicar.

 

Drª Rita Rana

O Canto da Psicologia – Lisboa


quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Meu querido mês de agosto...

 


Lá fora nem todos os dias nos parecem que estamos em pleno verão. Por vezes quase parece necessário olhar para o calendário, pois na verdade os dias estão cada vez mais “bipolares”. Ainda assim, por enquanto os meses do ano mantém-se iguais, e sendo assim aqui estamos nós no mês, que para muitos, é de pausa.  Geralmente, nas férias de verão o clima quente e seco convida-nos a “acalmar” e abrandar o ritmo das rotinas habituais. Mas um pouco como noutras situações, onde as desculpas estão ao virar da esquina, que não nos sirvam os dias, por vezes, frios e chuvosos do verão como desculpa para não ficarmos mais “molengas” e serenar o ritmo (muitas vezes alucinante). Com isto não se quer dizer ficar molenga para a vida, mas talvez reencontrar-se com tantas coisas que ficam sempre para amanhã (sem ordem de preferência!) – descansar, brincar, dormir, abraçar… Por outro lado, também sabemos que não é apenas o facto de termos mais tempo para descansar ou estar com quem se gosta que o consigamos fazer. É precisamente quando estamos verdadeiramente em contacto com os outros (e connosco) que nos damos conta de imensas coisas que muitas vezes nos passam um pouco ao lado. No querido mês de agosto podemos também vivenciar as saudades expressas no regresso dos emigrantes ao seu país. A nostalgia daquilo que “fica para trás” quando se viaja para outro país, parece ganhar outra cor e brilho quando se pode reencontrar família e amigos. Os bailes de verão, as sardinhadas, o pôr do sol à beira mar, agora tudo isto ainda um pouco em suspenso, seriam o pano de fundo de algo que muito se sentia falta – estar em festa com a vida, melhor dizendo ter um espaço físico e mental para estar com o outro.

 


Simultaneamente, as férias representam também o parar para depois recomeçar – a escola, o trabalho, a psicoterapia – o que simbolicamente nos pode remeter para a capacidade de guardar dentro de nós as pessoas e as relações. Durante um processo psicoterapêutico a relação que se desenvolve na díade terapeuta-paciente, permite ativar e pensar uma série de sentimentos que existem também nas outras relações pessoais e profissionais. Assim, o momento das férias na terapia pode também evocar sentimentos de algum mal-estar, e eventualmente sensações de angústia e abandono. Freud (Inibição, sintoma e ansiedade, 1926) descreve a angústia como um estado de insuficiência psíquica do ego, frente a um perigo que o ameaça, despertando assim a sensação de desamparo biológico e psíquico, sentido habitualmente pelo bebé na ausência da mãe. Naturalmente que as separações, por muito pequenas que sejam podem evocar este tipo de sentimentos, mas podem também simbolizar a possibilidade do reencontro e da permanência do outro (dentro de nós). Este movimento de ir e voltar, e consequentemente do saber que por se estar separado do outro ele não desaparece é essencial para que se possa desenvolver a segurança e autonomia.

O regresso, tal como as férias, pode ter um sabor um pouco agridoce, mas permite criar uma sensação de continuidade e extensão da vida mental.

«“Não te vais esquecer de mim, pois não?” É o que perguntamos todos quando nos despedimos da pessoa amada, pois esse é o certificado de que somos amados e a garantia de que não seremos abandonados.»

(Coimbra de Matos)

Por enquanto, ainda em agosto, o convite feito é ao dolce far niente (Locução italiana que exprime o ideal da ociosidade despreocupada, dicionário Priberam), com a segurança do desejo do reencontro.

 Até já!


Drª Ana Cordeiro - Braga

O Canto da Psicologia



quinta-feira, 15 de julho de 2021

Era uma vez um bebé...

 



Quase toda a gente gosta de bebés, suscitam ternura e não é por acaso, foram “desenhados” com aquelas formas redondas para  atrair, para que possam ser cuidados, visto a sua enorme dependência de outra pessoa para a sua sobrevivência. Dizia o pediatra e psicanalista Donald Winnicott “there's not such a thing as a baby” (“o bebé não existe”), referindo-se exactamente à impossibilidade de um bebé viver sozinho, existindo sim a díade mãe-bebé (ou cuidador-bebé). Contudo este olhar para o bebé, este conhecimento que fomos adquirindo acerca da pessoa humana na sua natureza mais precoce é muito, muito recente e ainda existem muitos mitos e falta de conhecimento. Ainda há poucos anos atrás se faziam intervenções médicas, e algumas cirurgias, a bebés sem qualquer tipo de anestesia porque se acreditava que os bebés recém-nascidos não sentiam dor...  Mesmo a palavra “bebé” é relativamente recente na história da humanidade, segundo Delassus[1] é um vocábulo retirado da lingua inglesa (baby) e pode ser datado de meados do século XIX, mais precisamente de 1842. A palavra infância já existe há mais tempo, oriunda do latim infans que significa aquele que não fala, que não teve acesso à linguagem, embora possamos ver também aqui uma certa conotação negativa no sentido em que é excluido da comunidade humana dos seres que falam.

            Felizmente, os bebés em particular e a infância no geral, começaram a despertar o interesse dos investigadores e o bebé começou a ter um lugar próprio e as suas capacidades poderam ser vistas. O estudo dos bebés atravessa várias disciplinas entre elas, a biologia, a medicina, a antropologia, a pedagogia e a  psicologia teve (e tem tido) também um grande contributo, tendo alguns cientistas começado por observar sistematicamente os seus próprios filhos, abrindo assim portas para novas observações. Pode então surgir uma cultura da infância, muito embora este conhecimento fique muitas vezes fechado em livros e circuitos académicos, dando azo a que persistam alguns mitos e não prevaleça uma verdadeira cultura da infância. A título de curiosidade colocarei aqui algumas perguntas e respostas, que por vezes surgem:

 

-        Quanto vêem os bebés?

            Poucos dias após o nascimento, o recém-nascido é capaz de ver de forma nítida e focada qualquer objecto a uma distância entre os 20 e os 50cm de distância. Quando olha para longe vê uma mancha difusa, uma vez que ainda não tem um controlo bi-ocular e é por isso que por vezes entortam os olhos. Contudo, a partir das 6 semanas já começam a conseguir concentrar-se em distâncias mais longas. E isto não é por acaso, é um “mecanismo anti-stress”! Foca-se no que se encontra perto, e que pode ser muito importante, a mãe, o alimento, etc, e evita o que está longe do seu corpo, que não tem importância para ele e que pode ser ainda muito confuso. Sabe-se ainda que os bebés preferem formas curvas, são sensíveis a padrões e gostam de objectos grandes e iluminados.

 

-        Os bebés sonham?

            Sim, sonham só não sabemos com o quê! Têm até surgido investigações que sugerem que sonham já desde a vida uterina, na barriga da mãe. Sabe-se que sonham através do tipo de sono, o REM,  onde os olhos se movem por detrás das pálpebras fechadas; este é um sono mais leve e os bebés fazem-no em cerca do dobro do tempo dos adultos.

 

-        Os bebés têm consciência de si próprios?

            Esta questão é mais difícil de responder mas tudo leva a crer que o bebé sabe diferenciar-se: sente os limites do seu próprio corpo, situa-se nas relações com os outros (eu social) e tem um elementar conhecimento de si. Alguns estudos que utilizam a interação e imitação precoce, o reflexo em espelhos ou a visualização de vídeos, têm vindo a demonstrar formas elementares de consciência de si, contudo o conhecimento acerca de si próprio pressupõe a interação com o meio ambiente e é um processo longo que acompanha o desenvolvimento. É então um conhecimento que nos acompanha a vida toda e será, aliás, um dos propósitos da psicoterapia: conhece-te a ti mesmo.

 


Drª Maria Portugal - Lisboa

O Canto da Psicologia

 



[1]             - Delassus (1998)  “A natureza do bebé”. Edições Cetop


quinta-feira, 24 de junho de 2021

Sonhos de uma noite de verão...

 



Marcamos a 21 de junho o início do Verão. Que mais?

21 de junho é o dia mais longo do ano, o dia em que o hemisfério norte fica inclinado cerca de 23,5º na direção do Sol. É o solstício do verão, solstitium, que significa qualquer coisa como “paragem do sol”, pelo menos na perspetiva dos habitantes deste hemisfério.

A nossa experiência vivida é de que o Sol circunda a Terra. Foi com espanto e hesitação que os nossos antepassados receberam este dado tão contra-intuitivo de que é a Terra que gira à volta do Sol. Pois se o vemos caminhar no horizonte, o vemos nascer e pôr-se, todos os dias da nossa vida...

É uma ideia, uma convicção, como muitas outras, que se instala sem nos apercebermos e que, subtilmente, tendemos a confirmar e desenvolver. Os observatórios astronómicos proporcionaram-nos novas lentes, também novas perspetivas, um pouco como na psicoterapia. Não propriamente tão diametralmente novo ou diferente como deixarmos de ser o centro do Universo, mas simplesmente uma leitura mais completa, com mais tonalidades e vertentes.

Desta particular relação entre a Terra e o Sol resulta que é neste preciso dia do ano que a Terra recebe mais raios solares. As relações entre a luz, o calor e a Natureza, e por consequência, o alimento, a saúde e a prosperidade, são evidentes. Talvez por isso, desde tempos remotos, que Incas, Maias, Gregos, Romanos, Celtas, festejavam este dia, em rituais diversos de celebração da Vida, mais pagãos ou, religiosos, como a de São João Batista.

Há qualquer coisa de mágico nestes rituais de fogo. Celebra-se, agradece-se, mas também se deseja, renovação, vitalidade. Todos dançam mas cada espírito imagina e deseja à sua maneira. Cada pessoa tem os seus sonhos. Por vezes é importante encontrar um lugar, de calor e aceitação, onde caibam estes sonhos, também os pesadelos, para, em segurança, poder vê-los, ouvi-los, senti-los, de um e de outro olhar, apropriá-los e usá-los em benefício próprio em cada dia do ano.

“Há quem diga que todas as noites são de sonhos.
Mas há também quem diga nem todas, só as de verão.
Mas no fundo isso não tem muita importância.
O que interessa mesmo não são as noites em si, são os sonhos.
Sonhos que o homem sonha sempre.
Em todos os lugares, em todas as épocas do ano,
dormindo ou acordado.”

Sonhos de Uma noite de Verão
William Shakespeare

É também um ritual, um encontro, sempre no mesmo dia, à mesma hora, no mesmo lugar. As duas mesmas pessoas. Mas é tudo menos repetição. É uma jornada pelos sonhos, pesadelos, desejos e angústias, mas devagarinho, com cuidado, visando o enriquecimento e a transformação, conhecendo novos alinhamentos para os planetas e estrelas conhecidos, quiçá explorando fora do sistema solar.


Drª Ludmila Carapinha - Lisboa

O Canto da Psicologia


quinta-feira, 3 de junho de 2021

“Ele/a ainda não percebe, é muito novo/a...”

 


 

Há já muito tempo que se sabe que a criança é dotada desde cedo com mecanismos mentais que a capacitam de sentir qualquer experiência que se passe em torno dela, mesmo ainda dentro do ventre materno.

Contudo, mesmo nos dias de hoje, ainda me apercebo que muitos de nós temos a crença de que, por ser criança, não compreende determinados estímulos em que participa ou observa, nomeadamente, determinadas situações entre adultos.

Acontece que é precisamente o oposto! Todas as experiências em que a criança está envolvida, particularmente até aos 4 anos de idade, são determinantes para o seu desenvolvimento ao longo da vida. Muito provavelmente, a criança não será capaz de recordar e falar concretamente sobre uma memória que ocorra antes desta idade, contudo, a experiência fica retida a um nível inconsciente e irá ter um impacto no desenvolvimento das suas capacidades emocional e intelectual.

A forma saudável ou não pela qual a criança irá integrar determinadas experiências depende da sua valência emocional, ou seja, quanto maior a intensidade emocional, positiva ou negativa, irá ter uma consequência direta na sua mente. Por exemplo, a intensidade emocional negativa de um acontecimento poderá constituir-se como um trauma, pelo que poderá colocar a criança em risco de desenvolver determinada psicopatologia, que se poderá manifestar imediatamente ou mesmo passado muito tempo da sua ocorrência.

No fundo, é como se permanecesse um carimbo marcado no cérebro o qual, mesmo que não se consiga ler o que lá está escrito, influencia o processamento de outras aprendizagens importantes para o desenvolvimento mental saudável da criança.

(Outra questão será o número de estímulos que, por mais que se avaliem como positivos, a criança está a captar tudo pela primeira vez, pelo que necessita de tempo em cada uma das experiências para as integrar completamente, antes de se passar à seguinte).

Todas as interações sociais levam a alterações do sistema nervoso central e todas contribuem para a organização ou desorganização do sistema emocional e intelectual da criança e, portanto, influenciam a forma como vão utilizar este sistema individual e socialmente, de forma saudável ou não.

 

 

Dra. Filipa Noronha

O Canto da Psicologia


quinta-feira, 22 de abril de 2021

Liberdade Dentro da Cabeça...

 


Aproxima-se o dia 25 de Abril, o dia da Liberdade.

            O conceito de Liberdade dá para discorrer acerca de muito, dá para grandes debates a vários níveis mas, remetendo para esta área, dá também para pensarmos no que significa a Liberdade a nível pessoal e interno; o que é a liberdade na vida interna.

             Para nós (...) a saúde mental não consiste no indivíduo ser sólido assim como o granito ou rígido como uma estátua. A saúde mental consiste na pessoa ser capaz de se movimentar livremente dentro de si, e os movimentos de tristeza são tão importantes como os de alegria.(João dos Santos, 1988)

             Mas será assim tão simples entrarmos em contacto connosco próprios, compreendermos a tristeza e a alegria como parte integrante das nossas vivências? Sentirmos estes polos emocionais como saudáveis? Reconhecermo-nos nestes movimentos? Talvez nem sempre… mas certamente este será um dos objectivos da psicoterapia: tornarmo-nos capazes de nos movimentarmos livremente dentro de nós próprios! E eu diria que se somos capazes de o fazer dentro de nós também seremos capazes de o fazer fora de nós!

            No dicionário de Psicologia (Roland Doro e Françoise Parot, 2001), a definição do conceito de Psicoterapia engloba a ideia de liberdade: “...os critérios de cura variam segundo o processo psicoterapêutico e a teoria que o subentende: (...) liberdade interior e capacidade de ser feliz maiores, conhecimento mais fino de si, dos seus limites, das suas possibilidades.

          O processo psicoterapêutico é então mais do que a criação de uma narrativa, é a construção activa de uma nova forma de experiênciar o Eu com o Outro.

O terapeuta deve voltar-se para fora e estar emocionalmente disponível, o que significa ter os seus problemas internos suficientemente tranquilos para que eles intervenham o mínimo possível na sua relação com o paciente. Ao paciente é pedido que aja consoante ele próprio, que seja ele próprio, e que continue comprometido com as sessões de forma a que se construa este “monólogo a dois”.

             Posto isto, neste contexto faz-nos pensar que mais do que uma revolução é necessária a  coragem para investir na (re) descoberta de si e poder fazê-lo com um outro. Haja Liberdade!

 

Drª Maria Portugal - Lisboa

O Canto da Psicologia

 




quinta-feira, 8 de abril de 2021

Desconfinar a mente e as emoções...

 



“Desconfinar” é a palavra do dia.

Há um ano que acompanhamos, mais ou menos atentamente, mas transversalmente, a evolução das tendências nos múltiplos diagramas, gráficos, números e índices que nos apresentam, pendurados das comunicações oficiais sobre as implicações na Vida. Tornámo-nos especialistas em epidemiologia. Como quebra gelo, não falamos do tempo, falamos da pandemia, deste céu que nos caiu em cima, e do desconhecido, “para o que estaremos ainda guardados” diz a expressão popular.

Para nos protegermos, fomos forçados a confinarmo-nos. Sentimo-lo como uma imposição externa mas também construímos nós próprios barreiras, alicerçadas no medo, na auto-proteção, no dever filial ou cívico. Defendemo-nos. Com os recursos que temos, pessoais, familiares, sociais ou materiais, procuramos reagir, cada um ao seu estilo.

Sentimo-nos, contudo, limitados, constrangidos. Nem sempre temos uma narrativa para este conflito entre querer viver, protegendo-se do contágio, e querer viver, sem estes limites criados para nos defender. Por vezes é um discurso mudo que sentimos e que se desenrola dentro de nós, uma sensação de incompletude ou mesmo de mal-estar. Uma falta de ânimo ou ansiedade miudinha. Por vezes externalizamos, discutimos com quem está à nossa volta, com o teclado do computador ou a máquina do café. E voltamos a defender-nos.

O cenário deste diálogo é o da pandemia COVID-19. No entanto, esta vivência de constrangimento, de possibilidades limitadas, é comum a muitos de nós, ainda que a localização e a intensidade da dor sejam únicas. 

O plano de desconfinamento vem-nos trazer esperança, vem-nos alargar o horizonte de possibilidades. A rua, as escolas, os parques, as esplanadas, as livrarias, os ginásios, os museus..as pessoas... Elas estão aí e somos livres para as usar. Bem a propósito, no abril que simbolicamente associamos à liberdade de um povo, o nosso.

Dizia Frederico de Brito “Julguei ser um sonho/Mas foi realidade /E às vezes suponho/ Que não foi verdade! / Mas se alguém disser / “Não há Liberdade!”/ Eu posso morrer /Mas não é verdade!”.

E, no entanto, a liberdade, essa palavra grande que nos enche a alma de expetativas, nem sempre é sentida. Na minha perspetiva, a psicoterapia é, também, um caminho de desconfinamento, da nossa mente, das nossas emoções. É um caminho especial, porque se faz a dois. Exploram-se as restrições hétero e auto impostas, umas conhecidas de longa data, outras nem tanto. Descobrem-se os gestos usados uma e outra vez, cujo uso se fez hábito já sem sentido ou benefício. Acima de tudo, descobrem-se novos caminhos, novas possibilidades, embaladas pela confiança e pelo sentido de liberdade para as percorrer. Somos inspirados, paciente e terapeuta.

Fazem parte do nosso imaginário popular várias letras do António Variações. Recordo esta:

 Quero é viver/Amanhã, espero sempre o amanhã/ E acredito que será, mais um prazer/A Vida, é sempre uma curiosidade, que me desperta com a idade, interessa-me o que está p’ra vir/E a vida, em mim é sempre uma certeza/que nasce da minha riqueza, do meu prazer em descobrir/Encontrar, renovar, vou fugir ao repetir” lindamente interpretada pelos Humanos .

Porque o potencial para sermos mais livres está em todos nós. Por vezes precisamos apenas de companhia no caminho.


Drª Ludmila Carapinha - Lisboa

O Canto da Psicologia



quinta-feira, 18 de março de 2021

Mudança de Paradigma...

 


 Gritam-nos a plenos pulmões que a solidão é a nossa salvação. Sentimos que o Luto se vestiu de preto muito mais vezes do que era suposto, que se cantaram mais marchas fúnebres do que era desejado e que perdemos mais entes queridos do que nos é permitido.

Por estes dias, é-nos vedado estar em grupo, conviver como sempre fizemos, agir como coletivamente sempre nos ensinaram e, por força dessa alteração do real, deixou de estar disponível a renovação de contactos que sempre nutriu as relações sociais e o bem-estar intra e inter-individual. Ficar em casa e proteger-nos é, sem dúvida, vital. No entanto, o isolamento social – pedem-nos para ignorar o Ser Gregário que há em nós – acarreta outras consequências, além do afastamento físico, que são invisíveis ao olho e à desatenção. Vivemos, actualmente, um Luto pela idealização, pelos desejos, pela relação, pelas vontades e pela fantasia. Este Luto que se veste de preto e está presente nos enterros, veste-se, também, com um manto da invisibilidade dentro de cada um de nós e ameaça, a todo o instante, aparecer novamente com a notícia, brutal: “acabámos de perder mais um desejo!”. Este desejo, o de cada um de nós, nasce da idealização da vontade e do sonho, mas acaba com um “adeus” e uma marcha fúnebre; ainda que a consciência nos diga “Calma, vêm mais desejos amanhã”; e é certo. Elaboramos mais desejos no dia seguinte mas, aquele já não volta. Tal como as pessoas que se perderam nesta luta colectiva.

Vivemos uma ameaça permanente e invisível que a qualquer momento pode atacar com maior vigor.

 Temos vindo a adaptar-nos. Quem sabe já estamos adaptados.  Somos indivíduos subjectivos quando elaboramos um pensamento, o que nos permite duas formulações: a primeira que somos seres de hábitos e, à partida, resistimos a novos que nos sejam impostos; a segunda é que, apesar de contrariados, somos capazes de nos adaptar a situações externas ameaçadoras e desenvolver mecanismos que nos permitam sobreviver. Além das questões externas, as problemáticas internas são maleáveis, certamente, pela necessidade que daí advém. A solidão será atenuada pela sensação de solidão conjunta e a invisibilidade da tristeza será amparada pela certeza de que todos desejamos sentir-nos mais felizes. O setting terapêutico enche-se da procura pelas respostas, pelas interrogações ansiosas que precisam de ser escutadas e o desejo de alguém que anseia gerir as emoções e dizer: “Desta vez estou preparado”.

Temos dois lados de uma moeda: por um lado a vontade do antigo e a saudade do que já foi; por outro a incerteza do futuro ao espelho com o desconforto do presente. Do oculto terceiro lado, sabemos que sobra o desejo comum de uma perspectiva brilhante e saudável deste Mundo Novo.



Drª Maria Inês Almeida - Alcochete

O Canto da Psicologia



quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

E agora 2021! Chegou o tempo da reconstrução, da empatia?

 


Se pudesse desejar algo para todos, para este novo ano 2021, que ainda está incipiente, seria que com esta Pandemia, pudesse surgir uma nova forma de estar em comunidade, de encarar e perspetivar a vida. Não se trata de uma visão inocente, embora em cada desejo exista, sempre, algo de ingénuo, mas seria bom que retirássemos, desta experiência, desafiante, uma aprendizagem, acima de tudo, sobre empatia. 

A empatia é a condição necessária para  amar o outro, desde cedo os pais procuram “adivinhar” o que se passa com os seus bebés, através das suas expressões faciais e das suas posturas, procuram dar-lhe conforto e amor, numa dança sincrónica que se vai estabelecendo.

Depois, já em adultos, nem sempre procuramos compreender o lado dos outros, começamos a querer, apenas, forçar um caminho, uma certeza, uma verdade, um só percurso, o meu. Assim, poucas vezes, cooperamos ou procuramos negociar com respeito e preocupação. Mesmo que o ego fique sobressaltado, inflamado e, temporariamente, queira levar a sua avante, em tom de birra. É necessário perceber que todo o comportamento humano tem na sua base, uma enorme necessidade de reconhecimento e de amor. Quando julgamos mais e criticamos ferozmente, acontece porque há um medo, enorme, de não sermos amados e celebrados. Assim sendo, em vez de criticarmos pois somos, também seres críticos, embora a crítica devesse ser equilibrada, construtiva e não uma arma de arremesso, devemos amar mais, compreender, perdoar, para podermos avançar e crescer. 

Deste modo, se existe aprendizagem que podemos retirar com está crise, é a de que precisamos, imensamente, da cooperação e interajuda de todos para ultrapassarmos os mais diversos obstáculos. Que não existem pessoas mais importantes, nem menos importantes, que todo o contributo é válido e as comparações completamente desnecessárias, em todos os contextos. Durante muito tempo, sobressaio a individualidade, a competição, o poder exclusivo, em detrimento do bem comum, neste momento o bem individual está dependente, do exterior e dos comportamentos comunitários e empáticos, para que possamos estar em segurança e, assim, continuarmos a avançar com as nossas vidas.

Se decidirmos negar e não cumprir com as recomendações, vamos aumentar os casos de Covid 19, pelo que a saúde fica devastada, com excesso de casos e não vai ser possível cuidar dos outros doentes que necessitam, entra-se num ciclo vicioso sem fim, com a economia a afundar. Todos temos direito às nossas opiniões ou divergir, porém sempre que decidirmos ignorar as recomendações apenas, vamos dificultar a vida de todos os cidadãos, independentemente de estarmos de acordo ou em desacordo. A questão é que o meu comportamento vai, efetivamente, prejudicar o outro, ou os outros, diretamente, aqui entra a empatia, a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro e procurarmos resolver, não com base nos nossas convicções pessoais mas, sim, tendo em conta o que é protetor para toda a comunidade, quer a nível da saúde, quer a nível económico.

Ainda assim, tenho fé, que perante esta fase negra da crise sanitária e económica, vamos poder, a seu tempo, sarar as feridas e evoluir. A empatia e a regulação emocional vão ser cada vez mais interiorizadas desde uma tenra idade. A transformação está aí a acontecer e 2021, irá ser um ano, de caminho para essa evolução. Caminho este lento, com passos pequenos, mas sólidos.

Vamos a isto 2021, que toda a experiência se torne numa boa aprendizagem sobre Empatia.

 

Dra. Mafalda Leite Borges - Alcochete

Canto da Psicologia



terça-feira, 10 de novembro de 2020

Exercício físico em tempos como este...

 


Numa fase novamente difícil de controlo do COVID 19, o exercício físico poderá ser um grande aliado para manter a população mais  saudável física e psicologicamente. Sabendo que ainda existem muitos receios, alguns investigadores da área do exercício em colaboração com infeciologistas elaboraram um estudo, referindo os seguintes pontos para quem pretende treinar em espaços fechados:

Segurança- É importante fazer a desinfeção de todos os materiais com álcool a 70%, peróxido de hidrogénio 0,5% ou hipoclorito a 1%; Reforçar a higiene individual (não tocar nos olhos, nariz e boca, lavagem e desinfeção regular das mãos, manutenção da máscara em espaços fechados ou sem máscara para treinar com uma distância superior a 2/3 metros de outras pessoas); Renovação regular do Ar, manter portas e/ou janelas abertas e garantir a ventilação e extração do ar caso o espaço seja totalmente fechado; Medição e controlo da temperatura será desejável em todos os espaços fechados de treino;

Imunidade- Existe uma relação entre exercício e doença que tem um a curva em J, ou seja, ser sedentário aumenta o risco de ter baixa imunidade, fazer exercício de forma regular sem excessos reduz o risco de baixa imunidade, sendo que o exercício em excesso acaba por ter o mesmo efeito que o sedentarismo. Assim, nesta altura procure atividades que não forcem demasiado a capacidade metabólica e potenciem a melhoria da força por exemplo;

Espaços de Treino- Procure fazer exercícios simples, evitar deslocações constantes dentro do espaço de treino, reduzir ao mínimo o uso de materiais; garantir a sua segurança e a dos outros;

 

Bons treinos

Hugo Silva

Instagram: hugo_silva_coach

-Licenciatura Educação Física/Especialização Treino Personalizado
-Pós-Graduação em Marketing do Fitness 
-Pós-Graduando em Strength and Conditioning
-Director Técnico ginásio Lisboa Racket Centre


 

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

A mãe, o pai e o bebé...

 


A parentalidade surge em vários contextos e sobre diferentes modalidades, sendo transversalmente o processo pelo qual os pais passam para se tornarem pais (essencialmente falamos da reestruturação, tanto em termos sociais, como afetivos, que permite aos pais poderem estar disponíveis para responder às diferentes necessidades dos seus bebés). Apesar de ao longo dos últimos tempos tanto os papeis materno, como paterno, se terem vindo a alterar e modificar, a função familiar mantém-se a mesma. É na família central e nuclear que se permite que os bebés se desenvolvem intelectual, afetiva e socialmente. É para isto necessário, existir uma “casa interna”, poder e conseguir ser contentor, um meio que facilitador e que é uma base segura para o bebé. No fundo, todo este processo acarreta um conjunto enorme de desafios, aprendizagens, medos, inseguranças, momentos de alegria e felicidade. É uma transição que poderá ter um forte impacto psicológico.

São 9 meses de descobertas, de fantasias, de idealizações, de medos, de inseguranças, de crescimento… é um caminho que se percorre com a expectativa do nascimento muito presente, o momento em que se vai conhecer, na realidade, o bebé.

Mães e pais vivem estes 9 meses de forma diferente. Enquanto as mães são naturalmente foco de maior atenção, pelas evidentes transformações hormonais, físicas, psicológicas a que vão sendo sujeitas pelo processo natural da gravidez, não nos podemos esquecer da importância determinante que os pais têm durante todo este caminho.

            Se este processo já traz consigo, inerentemente, um conjunto de medos, por vezes, inimagináveis, onde fica o espaço para a vivência deste processo em alturas como esta?

            As restrições impostas pela situação que vivemos actualmente têm condicionado, de inúmeras formas, a vivência familiar da gravidez. Tem-se visto e ouvido imensamente falar da importância da saúde mental das grávidas (sendo este um assunto pré-pandemia já de extrema importância mas, infelizmente, nem sempre considerado –tendemos a assumir que a gravidez é sempre feita de arco-íris e unicórnios), da importância de diminuir os níveis de stress e de ansiedade derivados das várias alterações no processo de acompanhamento da gravidez e do necessário distanciamento físico e social que a atualidade nos impõe e que conduz a que a grávida ou pré-mamã fique também mais só. O acompanhamento às consultas ficou mais condicionado, a presença do pai passa a ser impedida nas ecografias, nas consultas de acompanhamento e até no nascimento!

            Como podem os recém – papás integrar mais um desafio? Quais os impactos que estas alterações acarretam em termos de saúde mental (da mãe, do bebé e do pai!)? Como aceitar esta realidade que impede o normal enamoramento e nascimento da triangulação?

Ainda é muito cedo para de uma maneira concreta e estatisticamente consistente poder, a partir de estudos, ter ideia do impacto de um tempo como este no nascimento de um casal parental e, sobretudo, no universo mental de um bebé. Resta-nos o amor! E esta capacidade infinita de amar que consegue proporcionar a um recém nascido as condições ideais para se "fazer gente"...

Entretanto, vamos, enquanto O Canto da Psicologia, estando sempre por aqui se assim for necessário.


Drª Inês Lamares - Alcochete/Lisboa

O Canto da Psicologia