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quinta-feira, 22 de julho de 2021

Sofrimento no trabalho...

 


Chegam-nos vários pedidos de ajuda com esta queixa como pano de fundo, muitas vezes com um grande impacto na saúde física e mental das pessoas. Os motivos são diversos: trabalhar demasiadas horas; desequilíbrio entre vida profissional e vida pessoal; falta de reconhecimento pelo trabalho desenvolvido; ausência de comunicação; avaliação sistemática e maioritariamente quantitativa; ambiente nocivo e por vezes até agressivo, entre outros.

 Creio que existe atualmente uma obsessão pelo desempenho mensurável. Os indicadores de desempenho são hoje em dia maioritariamente quantitativos e destacam o valor gerado por um trabalhador muitas vezes com base em métricas que deixam o subjetivo completamente de fora da equação. O objetivo parece ser o de estandardizar e otimizar as tarefas tanto quanto possível, como se deixasse de importar a pessoa que as desempenha, as suas características individuais e a sua experiência pessoal. E isto pode levar a pessoa a alienar-se, a perder a motivação e a entrar em quadros de ansiedade que podem chegar ao burnout.

 Em 2019 a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou que passou a incluir na lista de doenças o burnout”, ou síndrome de esgotamento profissional, o que evidentemente representa um passo importante. No entanto, não posso deixar de notar que até na forma em que este aparece descrito pela OMS há uma avaliação de desempenho, um julgamento que de certa forma culpa a pessoa que sofre de burnout: “uma síndrome resultante de 'stress' crónico no trabalho que não foi gerido com êxito.”

 Como consequência, no consultório ouvimos relatos de pessoas que sofrem porque trabalham demasiadas horas e ainda assim não dão conta do recado, não são apreciadas nem reconhecidas no contexto profissional, não conseguem estar com os filhos em dias de trabalho, passar tempo com os amigos e família, praticar desporto, fazer uma atividade que lhes dá prazer, ou simplesmente não fazer nada sem culpabilidade. Assiste-se a uma grande dificuldade em colocar limites a esta pressão constante para produzir e também em dizer não ao outro, em prol das suas próprias necessidades e desejos. E esta tendência começa a notar-se desde cedo, logo na infância.

 Existem muitos obstáculos à mudança, alguns são externos, ligados à realidade e portanto mais difíceis de transformar (hierarquia inflexível, sobrecarga de tarefas, etc), mas outros são internos e passíveis de serem trabalhados em contexto terapêutico (dificuldade em delegar ou em dizer não ao outro, auto-exigência extrema, perfeccionismo desadaptativo).

 O trabalho psicoterapêutico incide sobre a importância de descobrir onde reside a motivação e desejo de cada um, e também de aprender a colocar limites e construir defesas contra estes imperativos muitas vezes irrazoáveis. Para isso é fundamental perceber porque é que nos sujeitamos a determinadas situações para, na medida do possível, transformar a nossa posição subjectiva e dessa forma dar início a uma mudança nas várias esferas das nossas vidas.

 

Rafaela Lima

O Canto da Psicologia - Braga

 

(fotografia de Sydney Sims on Unsplash)


quinta-feira, 15 de julho de 2021

Era uma vez um bebé...

 



Quase toda a gente gosta de bebés, suscitam ternura e não é por acaso, foram “desenhados” com aquelas formas redondas para  atrair, para que possam ser cuidados, visto a sua enorme dependência de outra pessoa para a sua sobrevivência. Dizia o pediatra e psicanalista Donald Winnicott “there's not such a thing as a baby” (“o bebé não existe”), referindo-se exactamente à impossibilidade de um bebé viver sozinho, existindo sim a díade mãe-bebé (ou cuidador-bebé). Contudo este olhar para o bebé, este conhecimento que fomos adquirindo acerca da pessoa humana na sua natureza mais precoce é muito, muito recente e ainda existem muitos mitos e falta de conhecimento. Ainda há poucos anos atrás se faziam intervenções médicas, e algumas cirurgias, a bebés sem qualquer tipo de anestesia porque se acreditava que os bebés recém-nascidos não sentiam dor...  Mesmo a palavra “bebé” é relativamente recente na história da humanidade, segundo Delassus[1] é um vocábulo retirado da lingua inglesa (baby) e pode ser datado de meados do século XIX, mais precisamente de 1842. A palavra infância já existe há mais tempo, oriunda do latim infans que significa aquele que não fala, que não teve acesso à linguagem, embora possamos ver também aqui uma certa conotação negativa no sentido em que é excluido da comunidade humana dos seres que falam.

            Felizmente, os bebés em particular e a infância no geral, começaram a despertar o interesse dos investigadores e o bebé começou a ter um lugar próprio e as suas capacidades poderam ser vistas. O estudo dos bebés atravessa várias disciplinas entre elas, a biologia, a medicina, a antropologia, a pedagogia e a  psicologia teve (e tem tido) também um grande contributo, tendo alguns cientistas começado por observar sistematicamente os seus próprios filhos, abrindo assim portas para novas observações. Pode então surgir uma cultura da infância, muito embora este conhecimento fique muitas vezes fechado em livros e circuitos académicos, dando azo a que persistam alguns mitos e não prevaleça uma verdadeira cultura da infância. A título de curiosidade colocarei aqui algumas perguntas e respostas, que por vezes surgem:

 

-        Quanto vêem os bebés?

            Poucos dias após o nascimento, o recém-nascido é capaz de ver de forma nítida e focada qualquer objecto a uma distância entre os 20 e os 50cm de distância. Quando olha para longe vê uma mancha difusa, uma vez que ainda não tem um controlo bi-ocular e é por isso que por vezes entortam os olhos. Contudo, a partir das 6 semanas já começam a conseguir concentrar-se em distâncias mais longas. E isto não é por acaso, é um “mecanismo anti-stress”! Foca-se no que se encontra perto, e que pode ser muito importante, a mãe, o alimento, etc, e evita o que está longe do seu corpo, que não tem importância para ele e que pode ser ainda muito confuso. Sabe-se ainda que os bebés preferem formas curvas, são sensíveis a padrões e gostam de objectos grandes e iluminados.

 

-        Os bebés sonham?

            Sim, sonham só não sabemos com o quê! Têm até surgido investigações que sugerem que sonham já desde a vida uterina, na barriga da mãe. Sabe-se que sonham através do tipo de sono, o REM,  onde os olhos se movem por detrás das pálpebras fechadas; este é um sono mais leve e os bebés fazem-no em cerca do dobro do tempo dos adultos.

 

-        Os bebés têm consciência de si próprios?

            Esta questão é mais difícil de responder mas tudo leva a crer que o bebé sabe diferenciar-se: sente os limites do seu próprio corpo, situa-se nas relações com os outros (eu social) e tem um elementar conhecimento de si. Alguns estudos que utilizam a interação e imitação precoce, o reflexo em espelhos ou a visualização de vídeos, têm vindo a demonstrar formas elementares de consciência de si, contudo o conhecimento acerca de si próprio pressupõe a interação com o meio ambiente e é um processo longo que acompanha o desenvolvimento. É então um conhecimento que nos acompanha a vida toda e será, aliás, um dos propósitos da psicoterapia: conhece-te a ti mesmo.

 


Drª Maria Portugal - Lisboa

O Canto da Psicologia

 



[1]             - Delassus (1998)  “A natureza do bebé”. Edições Cetop


quinta-feira, 24 de junho de 2021

Sonhos de uma noite de verão...

 



Marcamos a 21 de junho o início do Verão. Que mais?

21 de junho é o dia mais longo do ano, o dia em que o hemisfério norte fica inclinado cerca de 23,5º na direção do Sol. É o solstício do verão, solstitium, que significa qualquer coisa como “paragem do sol”, pelo menos na perspetiva dos habitantes deste hemisfério.

A nossa experiência vivida é de que o Sol circunda a Terra. Foi com espanto e hesitação que os nossos antepassados receberam este dado tão contra-intuitivo de que é a Terra que gira à volta do Sol. Pois se o vemos caminhar no horizonte, o vemos nascer e pôr-se, todos os dias da nossa vida...

É uma ideia, uma convicção, como muitas outras, que se instala sem nos apercebermos e que, subtilmente, tendemos a confirmar e desenvolver. Os observatórios astronómicos proporcionaram-nos novas lentes, também novas perspetivas, um pouco como na psicoterapia. Não propriamente tão diametralmente novo ou diferente como deixarmos de ser o centro do Universo, mas simplesmente uma leitura mais completa, com mais tonalidades e vertentes.

Desta particular relação entre a Terra e o Sol resulta que é neste preciso dia do ano que a Terra recebe mais raios solares. As relações entre a luz, o calor e a Natureza, e por consequência, o alimento, a saúde e a prosperidade, são evidentes. Talvez por isso, desde tempos remotos, que Incas, Maias, Gregos, Romanos, Celtas, festejavam este dia, em rituais diversos de celebração da Vida, mais pagãos ou, religiosos, como a de São João Batista.

Há qualquer coisa de mágico nestes rituais de fogo. Celebra-se, agradece-se, mas também se deseja, renovação, vitalidade. Todos dançam mas cada espírito imagina e deseja à sua maneira. Cada pessoa tem os seus sonhos. Por vezes é importante encontrar um lugar, de calor e aceitação, onde caibam estes sonhos, também os pesadelos, para, em segurança, poder vê-los, ouvi-los, senti-los, de um e de outro olhar, apropriá-los e usá-los em benefício próprio em cada dia do ano.

“Há quem diga que todas as noites são de sonhos.
Mas há também quem diga nem todas, só as de verão.
Mas no fundo isso não tem muita importância.
O que interessa mesmo não são as noites em si, são os sonhos.
Sonhos que o homem sonha sempre.
Em todos os lugares, em todas as épocas do ano,
dormindo ou acordado.”

Sonhos de Uma noite de Verão
William Shakespeare

É também um ritual, um encontro, sempre no mesmo dia, à mesma hora, no mesmo lugar. As duas mesmas pessoas. Mas é tudo menos repetição. É uma jornada pelos sonhos, pesadelos, desejos e angústias, mas devagarinho, com cuidado, visando o enriquecimento e a transformação, conhecendo novos alinhamentos para os planetas e estrelas conhecidos, quiçá explorando fora do sistema solar.


Drª Ludmila Carapinha - Lisboa

O Canto da Psicologia


terça-feira, 22 de junho de 2021

Cancro e exercício físico...

 



Investigadores na área do tratamento do cancro, estudou durante vários anos alguns milhares de pacientes com a doença. O que estes investigadores fizeram, foi perceber o impacto que o exercício físico teve antes e após os casos positivos de cancro. As conclusões foram claras: mostraram que os doentes que treinavam regularmente antes e após a doença, tiveram um risco de morte mais baixo do que doentes que não treinavam. Doentes que treinavam mais de três vezes por semana, tinham uma esperança de sobrevida até 40% superior a doentes sedentários. A maior associação entre o exercício e a redução do risco de morte foi comprovado em vários tipos de cancro: mama, ovários, próstata, cólon, pele.

Já em 2021, saiu um novo estudo com mais de 600 pacientes com vários tipos de cancro e em que se procurou encontrar alguma associação entre o cancro e a inclusão de sessões de exercício durante os tratamentos. Os resultados demonstraram novamente que a inclusão de rotinas de exercício em doentes com cancro se mostra benéfica em doses moderadas.

Estes resultados continuam a mostrar-nos a importância do exercício físico como um dos pilares fundamentais para a qualidade de vida e longevidade no ser humano.

Bons treinos

Hugo Silva

Instagram: hugo_silva_coach

-Licenciatura Educação Física/Especialização Treino Personalizado
-Pós-Graduação em Marketing do Fitness 
-Pós-Graduando em Strength and Conditioning
-Director Técnico ginásio Lisboa Racket Centre


quinta-feira, 20 de maio de 2021

Avó, quanto tempo o tempo tem?

 



 

E por vezes as noites duram meses

E por vezes os meses oceanos

E por vezes os braços que apertamos

nunca mais são os mesmos    E por vezes

 

encontramos de nós em poucos meses

o que a noite nos fez em muitos anos

E por vezes fingimos que lembramos

E por vezes lembramos que por vezes

 

ao tomarmos o gosto aos oceanos

só o sarro das noites      não dos meses

lá no fundo dos copos encontramos

 

E por vezes sorrimos ou choramos

E por vezes por vezes ah por vezes

num segundo se evolam tantos anos

 

David Mourão-Ferreira, in 'Matura Idade'

 

 

Recordo-me com muita saudade de questionar a minha avó sobre a passagem do tempo. Intrigava-me a sua resposta – “quando tiveres 18 anos vais sentir que o tempo passa de uma outra maneira”. Penso que sem se aperceber a minha avó falava de dois tempos, um tempo da infância, onde “nem se dá pelo tempo a passar”, e um tempo adulto, onde “parece que o tempo nos foge das mãos”. Acho que com a sua morte, ainda antes dos meus 18 anos, consegui perceber um pouco melhor o que me queria dizer. Com a sua linguagem própria, e doce, como só os avós conseguem ter (pelo menos assim era a minha) penso ter tido um primeiro contato com o que é a memória das coisas, e a sua função no tempo atual (o inconsciente e o consciente).  Os 18 anos ou a “Matura Idade” leva-nos supostamente para uma outra visão do aqui e do agora, onde o tempo cronológico e o tempo interno nem sempre andam a par e passo. Na infância onde parece haver um relógio parado (quem não se lembra das longas férias grandes?), há também um lugar para a imaginação e criatividade. Em Alice no País das maravilhas, encontramos de uma forma simbólica o que pode ser a ingenuidade da mente infantil e como esta compreende as regras e obrigações sociais de um mundo adulto, representada pela Alice (eternamente criança, porque paralisada no tempo). Por outro lado, a personagem do Coelho Branco, sempre apressado, transporta-nos para o universo das responsabilidades adultas, onde parece nunca “haver tempo para nada”. Curiosamente, esta personagem “rápida como um coelho”, está sempre a correr para não chegar atrasado.

 


A passagem do tempo acaba por ser invariavelmente um dos temas presentes dentro do espaço psicoterapêutico. Digamos que a passagem do tempo, ou a vivência de uma continuidade e a experiência de vida (recordações) são ferramentas essenciais ao trabalho a dois desenvolvido entre paciente e terapeuta, pois o passado está presente na nossa vida atual. Questões como a duração de uma sessão de terapia e da própria terapia, fazem-me reativar a questão “quanto tempo o tempo tem”, e de uma forma mais profunda ainda, do significado do tempo (e lugar) e da permanência das relações dentro de nós. A tolerância à espera – quanto tempo vai durar a terapia? Como sei que o que aqui estamos a fazer vai ficar dentro de mim? – é tanto mais possível quanto a relação se revela de confiança e segura, e também plena de intimidade (mental). De certa forma, penso que no início de uma psicoterapia haverá quase sempre a dúvida de uma “criança”, no sentido da existência de um tempo que parece não passar, ou que parece andar muito devagar. No fim de contas, o processo de transformação interna passa também por aí, pela existência de um tempo e lugar, onde de uma forma simbólica se possa parar o tempo e fazer as ligações necessárias entre o relógio mental e o cronológico. Estar ligado ao presente e ao futuro, não significa perder de vista o tempo passado, mas possivelmente “acertar as horas” e ter um tempo e disponibilidade mental para estar consigo e com um outro de uma forma verdadeira e genuína. E assim, fazendo jus às palavras de Fernando Pessoa “Eu era feliz? Não sei, fui-o outrora agora”.


Drª Ana Cordeiro - Braga

O Canto da Psicologia


quinta-feira, 13 de maio de 2021

Descobrimentos do ser...

 



“Toda a dor pode ser suportada, se sobre ela, puder ser contada uma história”

 

Hannah Arendt



É na relação com o outro que descobrimos todas as matizes do nosso ser. Todos, sem exceção, desenvolvemo-nos em relação e através dela. Um desenvolvimento humano sadio depende fundamentalmente de uma relação íntima primária harmoniosa. E a harmonia desta relação está dependente de cuidados suficientemente satisfatórios e adequados às necessidades emocionais dos seres humanos no início da vida. O sentimento de ser amado, de ser gostado, de valor próprio e de competência é desenvolvido desde uma fase de existência muito precoce. Quando no seio destas relações primárias não existem condições favoráveis ao desenvolvimento de um amor próprio salutar, incorremos em sérios riscos de um desenvolvimento deficitário. 

Quem bate à porta da psicoterapia traz, muitas vezes, dentro de si, acumulações de relações falhadas. Ausência de sentimento de valor próprio, perda de sentido de vida, insatisfação nas relações, conflitos interpessoais. E de forma mais ou menos explícita pedem que olhemos todo o seu ser com verdadeiro interesse e entusiasmo, que identifiquemos as suas qualidades e competências e, sobretudo, acreditemos genuinamente no seu potencial de desenvolvimento e mudança.  

E será este interesse genuíno por quem nos procura, o fator elementar no favorável desenvolvimento da relação terapêutica e a possibilidade de retoma do amadurecimento da pessoa, direcionando-a para a capacidade de integrar todos os aspetos da sua vida numa unidade sintónica. 

A psicoterapia é um caminho de volta à herança do amadurecimento, onde tudo pode ser sentido e pensado, e o olhar de quem escuta permite a expansão das competências que se bloquearam algures no caminho do desenvolvimento.


Drª Soraia Almeida - Braga

O Canto da Psicologia



quinta-feira, 22 de abril de 2021

Liberdade Dentro da Cabeça...

 


Aproxima-se o dia 25 de Abril, o dia da Liberdade.

            O conceito de Liberdade dá para discorrer acerca de muito, dá para grandes debates a vários níveis mas, remetendo para esta área, dá também para pensarmos no que significa a Liberdade a nível pessoal e interno; o que é a liberdade na vida interna.

             Para nós (...) a saúde mental não consiste no indivíduo ser sólido assim como o granito ou rígido como uma estátua. A saúde mental consiste na pessoa ser capaz de se movimentar livremente dentro de si, e os movimentos de tristeza são tão importantes como os de alegria.(João dos Santos, 1988)

             Mas será assim tão simples entrarmos em contacto connosco próprios, compreendermos a tristeza e a alegria como parte integrante das nossas vivências? Sentirmos estes polos emocionais como saudáveis? Reconhecermo-nos nestes movimentos? Talvez nem sempre… mas certamente este será um dos objectivos da psicoterapia: tornarmo-nos capazes de nos movimentarmos livremente dentro de nós próprios! E eu diria que se somos capazes de o fazer dentro de nós também seremos capazes de o fazer fora de nós!

            No dicionário de Psicologia (Roland Doro e Françoise Parot, 2001), a definição do conceito de Psicoterapia engloba a ideia de liberdade: “...os critérios de cura variam segundo o processo psicoterapêutico e a teoria que o subentende: (...) liberdade interior e capacidade de ser feliz maiores, conhecimento mais fino de si, dos seus limites, das suas possibilidades.

          O processo psicoterapêutico é então mais do que a criação de uma narrativa, é a construção activa de uma nova forma de experiênciar o Eu com o Outro.

O terapeuta deve voltar-se para fora e estar emocionalmente disponível, o que significa ter os seus problemas internos suficientemente tranquilos para que eles intervenham o mínimo possível na sua relação com o paciente. Ao paciente é pedido que aja consoante ele próprio, que seja ele próprio, e que continue comprometido com as sessões de forma a que se construa este “monólogo a dois”.

             Posto isto, neste contexto faz-nos pensar que mais do que uma revolução é necessária a  coragem para investir na (re) descoberta de si e poder fazê-lo com um outro. Haja Liberdade!

 

Drª Maria Portugal - Lisboa

O Canto da Psicologia

 




quinta-feira, 1 de abril de 2021

A esperança no futuro...

 



O ano começou com esperança, a vacinação para a COVID-19. Esperança num regresso à normalidade, esperança naquele reencontro com família e amigos, naqueles abraços e convivios. Esperança na liberdade de cada um.

Mas este processo é lento e moroso. Continuamos a deparar-nos com uma pandemia mundial que nos levou, mais do que uma vez, ao confinamento, ao teletrabalho, à escola a partir de casa. Mas mais impactante é o afastamento imposto dos nossos, família e amigos. Casais lidam com a gestão dos filhos e do próprio casal. Crianças privadas da brincadeira com os amigos e da rotina da escola. Adolescentes que não podem conviver uns com os outros.

Somos confrontados com preocupações que geram ou aumentam ansiedades e incertezas quanto ao futuro. O que nos trará o futuro?

Ninguém consegue responder com certeza a esta questão, mas há que manter a esperança num futuro melhor. E é mesmo a esperança que nos mantém positivos, que nos impulsiona a continuar, a ultrapassar as dificuldades que nos surgem. É ela que nos move e nos mantém vivos.

De acordo com Snyder, que nos trouxe a Teoria da Esperança, esta é um estado cognitivo positivo assente na expetativa de sucesso perante a determinação em alcançar objetivos e delinear planos para os conseguir.

A esperança é uma emoção positiva que ocorre geralmente quando somos deparados com circunstâncias negativas ou incertas. Como o que vivemos atualmente!

É um fator cognitivo mas tem uma qualidade afetiva única que nos dá motivação para procurar resultados futuros. É um estado que mantemos intencionalmente: decidimos ter esperança, muitas vezes, por medo das consequências reais que podem ocorrer caso não tenhamos esperança. Podemos ter esperança em relação ao que quisermos, em relação ao mundo, ao trabalho, à família e ao amor. Podemos ter esperança numa mudança em nós próprios!

Quem tem esperança, tem também o desejo e a determinação de que os seus objetivos serão alcançados, e tem ainda uma série de estratégias (e a capacidade para as procurar e encontrar) para atingir esses objetivos. A esperança permite-nos olhar os obstáculos com a confiança de quem vai conseguir ultrapassá-los e, por isso, estamos mais dispostos a olhar à volta, a procurar formas, caminhos, ferramentas, para o conseguirmos. Ou seja, a esperança não corresponde apenas à vontade ou desejo de se chegar a determinado lugar, mas também às diferentes formas para lá chegar.

Para além de nos permitir evoluir, a esperança ajuda-nos a sobreviver. O instinto de sobrevivência no ser humano é de uma força quase inesgotável. No entanto, em oposição à esperança existem pessoas que perderam a vontade de viver. Várias pesquisas nesta área mostram que a desesperança está mais associada ao suicídio do que a depressão.

Na área da saúde, estudos demonstram que a esperança tem influência na eliminação ou redução de problemas físicos e psicológicos. As pesquisas de Snyder comprovam que a esperança ajuda a pessoa a reagir positivamente no caso de doenças e lesões. Também toleram melhor a dor. Têm maior capacidade e habilidade adaptativa para resolver problemas.

A esperança é a última a morrer… e se precisar de uma ajuda profissional para voltar a acreditar e a ter esperança no futuro, não hesite em contactar O Canto da Psicologia. Estamos cá para lhe dar Esperança!

 

Dra. Irina Morgado

O Canto da Psicologia


quinta-feira, 11 de março de 2021

Ontem não fiz nada de jeito... ou será que fiz, não fazendo?

 


É bom estarmos ativos e, sem dúvida, que constitui um motivo de orgulho, mas é preciso tempo para parar tanto quanto ser produtivo e orgulharmo-nos disso na mesma medida. Não falo só em dormir, férias, diversão, lazer, que são fundamentais, mas falo principalmente de tempo para não fazer nada. Nada mesmo (e não vale olhar para o telemóvel)!

Quando paramos estamos a permitir que as nossas emoções enviem mensagens ao nosso cérebro sobre o nosso estado e, assim, conceder uma oportunidade para avaliar como me estou a sentir; sobre o que me fez feliz durante o dia ou o que me perturbou. Quais as minhas necessidades e como posso satisfazê-las. O que está bem ou mal na minha vida. O que é preciso manter e o que é preciso mudar.

 E porque é que eu tenho de parar para que isto aconteça?”

 Precisamente porque quando estamos envolvidos nas nossas rotinas estamos, na maioria do tempo, a responder a exigências externas (sejam profissionais, sociais ou de outras pessoas que nos são mais ou menos próximas) e que, por mais que possam fazer parte da nossa vivência em sociedade e nos tragam benefícios diretos ou indiretos, podem desviar-nos (mesmo sem nos apercebermos) das nossas próprias necessidades.

Há uma diferença entre produzir algo em função da satisfação do outro e produzir algo em função da nossa própria satisfação e é preciso parar para a distinguirmos de forma clara.

 Quando é que sei que estou a precisar de parar?”

 Parar deve fazer parte da nossa rotina, tal como o é beber água, alimentarmo-nos, etc. Quando isso não acontece, vou começar a sentir-me cansado, stressado, irritado, entre outros. Ou ainda, o nosso corpo irá obrigar-nos a baixar o ritmo através de uma doença, uma gripe por exemplo.

 Eu não consigo estar muito tempo sem fazer nada!

 Para além do sentimento de culpa associado aos períodos de inércia porque a sociedade assim o exige, tendemos a evitar esse tempo principalmente porque estar a sós connosco pode gerar desconforto.

 Mas se me vou sentir desconfortável porque razão tenho de parar?”

 De facto, quando nos permitimos parar, surge por vezes a sensação de nos sentirmos perdidos, desesperados ou um sentimento de vazio (que serão tão mais intensos quanto maior o tempo que passo sem me permitir este espaço) e isto não é fácil de se enfrentar, mas uma vez este estado ultrapassado vão começando a emergir sentimentos mais positivos, mais energia, maior capacidade para criar, mas agora de uma forma mais concordante com os nossos desejos e valores.

Se, por outro lado, tanto o desconforto persistir no tempo, devemos procurar ajuda especializada que nos ajude a amparar esses sentimentos, a reorganizar e a reconstruir ou procurar um novo sentido.

O processo terapêutico é, entre muitos outros elementos, um espaço onde nos é concedido tempo para nós mesmos porque é o que se passa nele (nesse tempo) que nos permite mudar. 

 

 Filipa Noronha - Lisboa

O Canto da Psicologia


sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Um acerto com a saudade...

 Estamos longe... Estamos todos tão longe...


Estamos todos longe uns dos outros, e se calhar, não é só consequência desta pandemia.

Claro que, desde Março de 2020, fiquei/ “ficamos” forçados a estar longe de quem gostamos e com quem não vivemos, mas tenho pensado muito no tempo e no que sinto face a este. E cada vez mais me apercebo que sou atropelada por este. E isso tem-me consumido e entristecido. Dou por mim a pensar nas inúmeras coisas que tenho para fazer e na frustração de não dar vazão às mesmas. Isso engloba trabalho, maioritariamente trabalho, e tarefas funcionais de casa; mas depois penso: e as minhas pessoas? Para as minhas pessoas, aquelas que amo e só posso falar por telefone ,sobra tão pouco tempo. E fico num vazio e numa saudade imensa. Saudade, de ter de facto tempo para elas. Aquele tempo tranquilo e genuinamente dedicado. Saudades, muitas saudades de todos. Saudades de não só não os poder realmente ver, como saudades de ter tempo para usufruir de vocês e da vida além do trabalho. Mas já era assim antes da pandemia...

Talvez a pandemia nos obrigue a pensar mais vezes nisto, no que é estar distante, no que é estar só, e no sentir só. Talvez a pandemia possa ser  o caminho para, um dia, sabermos valorizar o que de facto importa; para mim, tudo o que envolve amor e, claro, as minhas pessoas.

Drª Margarida Espanca - Lisboa

O Canto da Psicologia

 


quinta-feira, 19 de novembro de 2020

"A infodemia pode causar um dano tão grande ou maior que a pandemia”

 



Este é um excerto de uma entrevista à revista Visão dos cientistas David Marçal e Carlos Fiolhais que publicaram um livro recentemente intitulado “Apanhados pelo Vírus”. A ideia deste livro é, segundo os autores, tentar esclarecer a avalanche informativa sobre a Covid-19 e combater a desinformação sobre a pandemia.

Apesar de estar convencida que ninguém é detentor de toda a verdade, são de louvar iniciativas que tentem esclarecer alguns mitos que ameaçam neste momento o bem-estar de todos nós: as máscaras não têm utilidade, este vírus só é perigoso para os mais velhos, este vírus não é mais do que uma gripe, se estiver num espaço ao ar livre não preciso de usar máscara, etc.

Nos últimos tempos têm-se propagado os discursos negacionistas e escasseado as camas nos cuidados intensivos dos hospitais de norte a sul do país. Como psicóloga e portanto agente de saúde pública, sinto que tenho o dever de aproveitar este espaço para apelar à responsabilidade de cada um de vós. Gostava de poder explicar o que empurra as pessoas para as teorias da conspiração, os discursos que desvalorizam a gravidade da pandemia ou até que a negam, mas sei que cada um terá as suas razões e a sua lógica interna singular, não existem generalizações no que diz respeito ao inconsciente e ao funcionamento psíquico. Mas há uma certeza que ouvimos vezes sem conta e que precisamos de interiorizar o quanto antes: só a diminuição de contágios pode evitar o pior.

O que fazer para diminuir os contágios e o que é o pior? O pior, a meu ver, já está a acontecer em vários hospitais. Quando um profissional de saúde tem de escolher quem tem prioridade para aceder aos cuidados intensivos, quem tem mais hipóteses de sobreviver e, portanto, o direito aos cuidados que o poderão salvar, e quem não…é porque chegamos ao pior. Estas decisões deixarão marcas naqueles que as tomam, nos que as executam e naqueles em que são executadas, nas suas famílias e na sociedade no geral.

A questão é não prolongar o pior e para isso todos podemos contribuir com bom senso e, é certo, uma grande dose de sacrifício. Muitos dirão que não existe risco zero, mas ainda assim há muito que podemos fazer para tentar reduzi-lo:

-    As pessoas que vivem connosco estão dentro da nossa "bolha social", são as pessoas com quem convivemos em casa, sem cautelas. Proteja-se para as proteger e peça-lhes que façam o mesmo.

-    Compreenda que a nossa máscara, mais do que nos proteger, serve para proteger quem nos rodeia, assim como as máscaras de quem nos rodeia nos protegem a nós. O mesmo se aplica ao distanciamento social. Use máscara por respeito aos outros e use-a corretamente, este é um pequeno gesto que pode fazer uma grande diferença.

-    Leia e acredite só em informação com validade científica e com a fonte bem identificada. Verifique a veracidade de vídeos, declarações e publicações que se dizem escritas por um médico ou enfermeiro, mas cujas fontes são difusas ou inexistentes.

 

Cuide bem de si e dos que o rodeiam, para que em breve possamos estar novamente juntos.

 

Rafaela Lima

O Canto da Psicologia - Braga


quinta-feira, 5 de novembro de 2020

A Essência...



Para alívio imediato deste curso planetário
É preciso uma dose rápida a nível diário
E eminente, num universo constantemente
Em expansão, não é uma fase dependente,

 Esta, condição crónica, que a ciência não explica
A consciência tanto complica
Mistifica, mas qual é o problema
A lógica de quem te comunica envergonha?
É verdade, mas purifica qualquer alma
Modifica a forma de como levar a vida
Fraco forte se faz com força adquirida
Aprisionado livre se vê nesta saída
A razão para tudo numa equação
A explicação da civilização
O mundo equilibra sempre esta relação
Quando no amor procura a solução

 

Refrão

É incondicional e é tudo que existe
É tudo o que conheces e o que nunca viste
Como um bálsamo pró' espírito, é regenerável
Se estou triste bebo da fonte infindável
E todas as moléculas do meu corpo vibram
Todas as células do meu ser gritam
De prazer infinito, e é isto que eu sinto
Vês no meu sorriso quando canto, quando crio

 

A única fonte de energia inesgotável no mundo
Que bom este seria, se fôssemos todos ao fundo
Extraí-la e usá-la no dia-a-dia
Gastá-la sem avareza, medo ou economia
Sem poupança, com extrema segurança
Esta patrocina a confiança e bem-aventurança
Na dança da vida, o par ideal em cada passo
Numa sinfonia inspirada, é sintonia no espaço
Numa poesia transpirada, é o ritmo no tempo
Ao mesmo tempo, objetivo, veículo e instrumento

 

Da tua fé, consciência e existência a forma
Mais sublime de descrever a sobrevivência
De todo o ser neste cosmos, animado, ou não
Que exista por si e pela sua inspiração
Falo do amor, claro, dedico este hino
À possibilidade que temos em nós de ser algo divino

 

(Refrão)


Ele envolve-me e revolve-me
Emocionalmente ele comove-me

Percorre-me culturalmente e move-me
É o combustível da vida, e o preço nunca sobe
Ele transforma-se,- eih - mas nunca morre
É inquantificável, é gigante é enorme
Não fiques parado à espera dele vai corre
Nada é comparável a este sentimento nobre

E o coração bate, bate e não é levemente
Quase rompe o peito como um cometa incandescente
Genuíno e puro, maravilhoso quando é mútuo
Cultivado e colhido como um fruto maduro
Nutrido e partilhado, sonhado em conjunto

Na realidade invisível, construída ao segundo
Eternamente no fundo é o nosso estado natural
Sem medo, o Amor é livre, essencial

 

(Refrão)

É incondicional e é tudo que existe
É tudo o que conheces e o que nunca viste
Como um bálsamo pró' espírito, é regenerável
Se estou triste bebo da fonte infindável
E todas as moléculas do meu corpo vibram
Todas as células do meu ser gritam
De prazer infinito, e é isto que eu sinto
Vês no meu sorriso quando canto, quando crio

 

Composição: A. Neves / H. Piteira / N. Carneiro / R. Sá

“A Essência”, Mind da Gap

 

A partilha desta letra pareceu essencial, passo a redundância, por retratar noções teóricas e por conter uma proposta de tornar o amor em consciência, de forma a se poder realmente amar.

Esta música acerca do amor pode ser então observada à luz da psicologia psicanalítica. Uma vez que é no amor que está mesmo a solução. A relação terapêutica é baseada nessa premissa, bem como a psicanálise.

A descoberta do inconsciente é na verdade uma aventura que se faz para o desconhecido, com o acompanhamento de um profissional. Nessa descoberta observa-se a essência e a forma de como este amor está inscrito dentro de cada um - que há de estar inscrito mesmo que de diferentes maneiras em todos nós. Existem processos resultantes deste amor que vemos, mas existem também aqueles que não vemos. O processo psicoterapêutico dá conta destes dois. Da parte consciente e inconsciente (que não pode ser vista pelo próprio) presentes em todos nós, resultante de amores e desamores.

Deixo, desta forma, a proposta de cada um se poder descobrir inconscientemente conscientemente - com a ajuda de um psicólogo.

 

Sérgio Carvalho Pereira