Este é um excerto de
uma entrevista à revista Visão dos cientistas David Marçal e Carlos Fiolhais
que publicaram um livro recentemente intitulado “Apanhados pelo Vírus”. A ideia
deste livro é, segundo os autores, tentar esclarecer a avalanche informativa
sobre a Covid-19 e combater a desinformação sobre a pandemia.
Apesar de estar
convencida que ninguém é detentor de toda a verdade, são de louvar iniciativas
que tentem esclarecer alguns mitos que ameaçam neste momento o bem-estar de
todos nós: as máscaras
não têm utilidade, este vírus
só é perigoso para os mais velhos, este vírus não é mais do
que uma gripe, se estiver num
espaço ao ar livre não
preciso de usar máscara, etc.
Nos últimos tempos
têm-se propagado os discursos negacionistas e escasseado as camas nos cuidados
intensivos dos hospitais de norte a sul do país. Como psicóloga e portanto agente de saúde pública, sinto que tenho o dever de aproveitar este espaço para
apelar à responsabilidade de cada um
de vós. Gostava de poder explicar o que empurra as pessoas para as teorias da
conspiração, os discursos que desvalorizam a gravidade da pandemia ou até que a
negam, mas sei que cada um terá as suas razões e a sua lógica interna singular,
não existem generalizações no que diz respeito ao inconsciente e ao
funcionamento psíquico. Mas há uma certeza que ouvimos vezes sem conta e que precisamos de interiorizar o
quanto antes: só a diminuição de contágios pode evitar o pior.
O que fazer para
diminuir os contágios e o que é o pior? O pior, a meu ver, já está a acontecer em vários hospitais.
Quando um profissional de saúde tem de escolher quem tem prioridade para aceder
aos cuidados intensivos, quem tem mais hipóteses de sobreviver e, portanto, o
direito aos cuidados que o poderão salvar, e quem não…é porque chegamos ao
pior. Estas decisões deixarão marcas naqueles que as tomam, nos que as executam
e naqueles em que são executadas, nas suas famílias e na sociedade no geral.
A questão é não
prolongar o pior e para isso todos podemos contribuir com bom senso e, é certo,
uma grande dose de sacrifício. Muitos dirão que não existe risco zero, mas
ainda assim há muito que
podemos fazer para tentar reduzi-lo:
-
As pessoas que vivem connosco estão dentro da
nossa "bolha social", são as pessoas com quem convivemos em casa, sem
cautelas. Proteja-se para as proteger e peça-lhes que façam o
mesmo.
-
Compreenda que a nossa máscara, mais do que nos
proteger, serve para proteger quem nos rodeia, assim como as máscaras de quem
nos rodeia nos protegem a nós.
O mesmo se aplica ao distanciamento social. Use
máscara por respeito aos outros e
use-a corretamente, este é um pequeno gesto que pode fazer uma grande
diferença.
-
Leia e acredite só em informação com validade
científica e com a fonte bem identificada. Verifique a veracidade de vídeos,
declarações e publicações que se dizem escritas por um médico ou
enfermeiro, mas cujas fontes são
difusas ou inexistentes.
Cuide bem de si e dos
que o rodeiam, para que em breve possamos estar novamente juntos.
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