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quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

O Natal num turbilhão de emoções...

 



Podia escolher, exclusivamente, escrever sobre a beleza do Natal, as luzes, as canções, a alegria da partilha, a gratidão e o amor que, sem dúvida, caracterizam esta época festiva. Mas o fim do ano carrega nele, igualmente, uma série de balanços, sendo que podem ser vividos por uns tranquilamente, mas por outros, gera ansiedade consoante, a estrutura de personalidade, assim como, os acontecimentos, experiências que foram ou estão a ser vividas.

Nem sempre o Natal é um conto de fadas, o natal pode enaltecer a solidão mais do que o sentimento de união, partilha. As saudades, de quem já não está, do que foi, as lembranças e a nostalgia, traduzem e identificam estas épocas.  Reflexões sobre o que concretizamos emergem. O que desejamos para o ano que está a terminar, foi realizado? Conseguimos avançar, evoluir? Parece que há uma certa exigência, mais do que nunca, para fazer mais e melhor e ter “obrigatoriamente “de atingir resultados, ter sucesso, vencer, mas a vida, por vezes, não é só feita de celebrações permanentes, existem alturas em que somos colocados, em situações delicadas e, geralmente, não estamos à espera do que nos pode acontecer, neste momento, instalasse a frustração e a desilusão. Esta pressão que, de certa forma, foi incutida pela sociedade, de estarmos sempre bem, no nosso melhor, é impossível e, até doentio estarmos “sempre bem”, há alturas difíceis, desafiantes, existem momentos duros, nem sempre tudo é um mar de rosas. Viver é uma soma de desafios, superações, algumas conquistas e bons momentos.  De facto, como encaramos esses períodos difíceis, que às vezes, duram meses e anos, vai fazer toda a diferença.

 Assim sendo qual é a chave? Como devemos superar os momentos duros, como lidar com essas emoções de ansiedade, medo, tristeza, quando estas se tornam avassaladoras? Só existe uma forma é aceitar, porém essa aceitação não vai ser imediata, uma vez que a fase do luto assim obriga, a processar no seu devido tempo, mas sem dúvida que ignorar, negar, as nossas emoções, não é de todo o caminho certo e, apenas leva a mais dificuldades. Ter consciência e distinguir, o principio da realidade, da fantasia, compreender pensamentos não são verdades, pode ajudar no processo. A psicoterapia tem aqui um papel fundamental para poder catalisar, todo este caminho de orientação e de auto-regulação.

É muito comum socialmente ouvirmos: “não chores, controla-te, não tenhas medo, não fiques assim”, mas isto só acontece uma vez que, a maioria das pessoas aprende, desde cedo a rejeitar as emoções mais intensas e, esse ignorar, só piora a situação. Temos de aceitar que somos humanos, vulneráveis, sim, por vezes caímos, estamos tristes, zangados, frustrados, faz parte do nosso constante processo de crescimento. Embora na altura, em que vivemos os momentos difíceis, seja difícil de aceitar, vamos acabar por aprender e ganhar maior sabedoria sobre o que nos rodeia.

 A vida irá nos colocar à prova, qual é o tamanho do seu amor próprio? Qual é o seu auto diálogo, amoroso ou critico? O nosso lado mais sombrio, deve ser integrado e amado, igualmente, tal como todas as nossas outras facetas, não está errado sentir zanga, tristeza, ansiedade, faz parte, é natural, não diz nada sobre o que somos, as emoções não são boas nem más. As emoções, na realidade, são todas boas, necessárias e fundamentais para o osso equilíbrio, homeostático, psíquico, somente a intensidade com que são alimentadas, pelos nossos pensamentos é que pode gerar perturbações. Assim sendo até felicidade a mais, pode ser negativa, uma vez que leva à ingenuidade, ausência de prudência.

Deste modo permita-se, a ser o que tiver de ser hoje, sem ter de refletir no que podia ter atingido mais, às vezes, só estar presente e conseguir desfrutar do agora, é já extraordinário, conseguir, apenas, aproveitar os pequenos momentos, pequenas coisas do dia a dia, já é fazer imenso. Até só estar agora, a ultrapassar o momento desafiante, já é um ato de coragem que deve ter orgulho, é válido, é importante, mesmo que não esteja sempre a fazer “coisas” que a sociedade impõe.

Numa era cada vez mais narcísica, há uma ditadura da perfeição instaurada, como se fosse tudo contabilizado, cronometrado sobre o que ter, o que fazer? Nesta azafama, agora também, do natal esquecemos de estar apenas de corpo e alma no presente, com quem amamos, em família, termos foco, somente, no que nos rodeia agora. Podemos atingir mais? Penso que estar aqui é viver este desafio, mas não esquecer do mais importante, que é ter tempo para divertir, brincar e não levar tudo com tanta seriedade, que lhe escape o que realmente importa. 

 

Mafalda Leite Borges - Alcochete

Canto da Psicologia



segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Desmistificando a Saúde Mental...

 


Cada vez mais aceitamos como importante a Saúde Mental e cada vez mais ganhamos tempo e (auto)conhecimento ao pensarmo-nos. Felizmente aumenta o número de pessoas que procura ajuda quando assim o acha e sente importante. A procura não poderá e nem deverá ser apenas baseada nos mitos que, ainda hoje, se fazem acompanhar em alguns pensamentos.

 Procuramos dar a conhecer a (verdadeira) realidade e combater a descriminação que ainda existe na Doença Mental.

 MITO : A doença mental só surge em pessoas com menos capacidades!

Como sabemos as doenças mentais resultam de um conjunto de vários factores como os ambientais, sociais, biológicos e psicológicos. Podemos todos estar sujeitos a uma combinação da doença mental.

 -  MITO: As pessoas com doença mental são violentas!

Na maioria das situações são as pessoas que não são afectadas por psicopatologias que tendem a ter receio das outras que têm a saúde mental comprometida. Contudo, a maioria das pessoas que sofrem de doença mental não são mais violentas do que a restante população.

 MITO A doença mental não afecta qualquer um.

A doença mental poderá afectar qualquer um de nós. É sabido que existem factores de maior ou menor risco, contudo não são exclusivos ao desenvolvimento da psicopatologia.

 MITONão há tratamento para as pessoas com doença mental.

Algumas das psicopatologias podem não ter cura, uma vez que, são de cariz estrutural, contudo podem existir tratamentos. Um dos maiores e mais importante será o acompanhamento psicológico.

 MITO: A psicoterapia é uma perda de tempo.

A psicoterapia é o caminho para o ser humano alcançar maiores níveis de autoconhecimento, autocontrolo, gestão afectiva. Não existe qualquer contraindicação na Psicoterapia.

 



É tempo de pensarmos numa sociedade integrativa para todas as pessoas. Nem sempre compreendemos o Outro e, muitas vezes, por desconhecimento das psicopatologias existentes, rapidamente caímos em rótulos. As pessoas não são categorias e são precisas ser pensadas na sua totalidade e livres de mitos e preconceitos.




Drª Inês Almeida - Alcochete

O Canto da Psicologia



sexta-feira, 12 de novembro de 2021

A escuta… n(d)o silêncio

 


 

“É em silêncio que melhor se ouve o que vem de fora e o que nos vai por dentro; é de silêncio a reflexão sobre o que já se aprendeu; é o silêncio que se interpõe entre as palavras que lhe empresta o valor mais significativo do discurso.”

(João dos Santos)

 

A escuta terapêutica, pode dizer-se, vai para além da escuta das palavras. Quando alguém faz “um pedido de ajuda” transmite normalmente com as suas palavras a urgência de uma compreensão. Não raras as vezes após uma primeira consulta, o paciente se questiona sobre a necessidade dessa mesma compreensão, quase como se um possível alívio sentido num primeiro encontro (terapêutico) o fizesse questionar sobre a veracidade dessa mesma compreensão – será que vou ser verdadeiramente compreendido? como poderá esta pessoa ajudar-me se já lhe disse tudo o que me preocupa?

Voltando ao pedido de ajuda e ao seu significado, será interessante pensar-se sobre o que é dito com as palavras, mas também com o tom, com a sua musicalidade. Um pouco como acontece na díade mãe-bebé, onde a voz da mãe coloca legendas no sentir do bebé, também na relação terapêutica se vai dançando ao som da música. Nesse sentido o lugar do psicoterapeuta é (também) o lugar da escuta e da espera. O silêncio, por vezes ensurdecedor, pode dar lugar e voz à escuta do espaço interno do paciente, permitindo a livre expressão do eu. A relação terapêutica, à medida que se torna um espaço seguro e de confiança, funciona como um terreno fértil, dando condições ao desenvolvimento e crescimento mental.

            Quando alguém nos narra uma história ou fala sobre um acontecimento, geralmente vai articulando o seu discurso com o som, as pausas, a linguagem que melhor descrevem (fazem compreender) o que se quer transmitir. É esta interpretação que ajuda a dar significado ao vivido. Curiosamente, é um pouco aí que reside o entendimento face à questão “será que vou ser verdadeiramente compreendido?”. Digamos que enquanto a voz do paciente não é suficientemente audível para expressar aquilo que apenas é potencialmente expressável, que o psicoterapeuta lhe empresta, com o seu silêncio, a sua voz (João Pedro Dias). São as qualidades do psicoterapeuta - calma, serenidade, vitalidade, constância, genuinidade, segurança, indestrutibilidade - (João Pedro Dias) que refletidas no silêncio permitem ouvir a voz do paciente e dar espaço à verdadeira compreensão, por parte do outro e interna. A escuta no silêncio funciona metaforicamente como um “empréstimo” de voz, como se ao ficar em silêncio, o psicoterapeuta pudesse (com as suas qualidades) complementar a voz do paciente, dando-lhe significado. Sabemos que a palavra e a interpretação são elementos essenciais na psicoterapia, mas também a qualidade do silêncio, na medida em que possibilite o encontro da díade paciente – terapeuta. E é neste sentido que a relação terapêutica é diferente das outras relação, eliminando ruídos e facilitando o acesso ao simbólico da palavra, mas também do silêncio.


Drª Ana Cordeiro - Braga

O Canto da Psicologia 

  

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Era uma vez um bebé...

 



Quase toda a gente gosta de bebés, suscitam ternura e não é por acaso, foram “desenhados” com aquelas formas redondas para  atrair, para que possam ser cuidados, visto a sua enorme dependência de outra pessoa para a sua sobrevivência. Dizia o pediatra e psicanalista Donald Winnicott “there's not such a thing as a baby” (“o bebé não existe”), referindo-se exactamente à impossibilidade de um bebé viver sozinho, existindo sim a díade mãe-bebé (ou cuidador-bebé). Contudo este olhar para o bebé, este conhecimento que fomos adquirindo acerca da pessoa humana na sua natureza mais precoce é muito, muito recente e ainda existem muitos mitos e falta de conhecimento. Ainda há poucos anos atrás se faziam intervenções médicas, e algumas cirurgias, a bebés sem qualquer tipo de anestesia porque se acreditava que os bebés recém-nascidos não sentiam dor...  Mesmo a palavra “bebé” é relativamente recente na história da humanidade, segundo Delassus[1] é um vocábulo retirado da lingua inglesa (baby) e pode ser datado de meados do século XIX, mais precisamente de 1842. A palavra infância já existe há mais tempo, oriunda do latim infans que significa aquele que não fala, que não teve acesso à linguagem, embora possamos ver também aqui uma certa conotação negativa no sentido em que é excluido da comunidade humana dos seres que falam.

            Felizmente, os bebés em particular e a infância no geral, começaram a despertar o interesse dos investigadores e o bebé começou a ter um lugar próprio e as suas capacidades poderam ser vistas. O estudo dos bebés atravessa várias disciplinas entre elas, a biologia, a medicina, a antropologia, a pedagogia e a  psicologia teve (e tem tido) também um grande contributo, tendo alguns cientistas começado por observar sistematicamente os seus próprios filhos, abrindo assim portas para novas observações. Pode então surgir uma cultura da infância, muito embora este conhecimento fique muitas vezes fechado em livros e circuitos académicos, dando azo a que persistam alguns mitos e não prevaleça uma verdadeira cultura da infância. A título de curiosidade colocarei aqui algumas perguntas e respostas, que por vezes surgem:

 

-        Quanto vêem os bebés?

            Poucos dias após o nascimento, o recém-nascido é capaz de ver de forma nítida e focada qualquer objecto a uma distância entre os 20 e os 50cm de distância. Quando olha para longe vê uma mancha difusa, uma vez que ainda não tem um controlo bi-ocular e é por isso que por vezes entortam os olhos. Contudo, a partir das 6 semanas já começam a conseguir concentrar-se em distâncias mais longas. E isto não é por acaso, é um “mecanismo anti-stress”! Foca-se no que se encontra perto, e que pode ser muito importante, a mãe, o alimento, etc, e evita o que está longe do seu corpo, que não tem importância para ele e que pode ser ainda muito confuso. Sabe-se ainda que os bebés preferem formas curvas, são sensíveis a padrões e gostam de objectos grandes e iluminados.

 

-        Os bebés sonham?

            Sim, sonham só não sabemos com o quê! Têm até surgido investigações que sugerem que sonham já desde a vida uterina, na barriga da mãe. Sabe-se que sonham através do tipo de sono, o REM,  onde os olhos se movem por detrás das pálpebras fechadas; este é um sono mais leve e os bebés fazem-no em cerca do dobro do tempo dos adultos.

 

-        Os bebés têm consciência de si próprios?

            Esta questão é mais difícil de responder mas tudo leva a crer que o bebé sabe diferenciar-se: sente os limites do seu próprio corpo, situa-se nas relações com os outros (eu social) e tem um elementar conhecimento de si. Alguns estudos que utilizam a interação e imitação precoce, o reflexo em espelhos ou a visualização de vídeos, têm vindo a demonstrar formas elementares de consciência de si, contudo o conhecimento acerca de si próprio pressupõe a interação com o meio ambiente e é um processo longo que acompanha o desenvolvimento. É então um conhecimento que nos acompanha a vida toda e será, aliás, um dos propósitos da psicoterapia: conhece-te a ti mesmo.

 


Drª Maria Portugal - Lisboa

O Canto da Psicologia

 



[1]             - Delassus (1998)  “A natureza do bebé”. Edições Cetop


quinta-feira, 24 de junho de 2021

Sonhos de uma noite de verão...

 



Marcamos a 21 de junho o início do Verão. Que mais?

21 de junho é o dia mais longo do ano, o dia em que o hemisfério norte fica inclinado cerca de 23,5º na direção do Sol. É o solstício do verão, solstitium, que significa qualquer coisa como “paragem do sol”, pelo menos na perspetiva dos habitantes deste hemisfério.

A nossa experiência vivida é de que o Sol circunda a Terra. Foi com espanto e hesitação que os nossos antepassados receberam este dado tão contra-intuitivo de que é a Terra que gira à volta do Sol. Pois se o vemos caminhar no horizonte, o vemos nascer e pôr-se, todos os dias da nossa vida...

É uma ideia, uma convicção, como muitas outras, que se instala sem nos apercebermos e que, subtilmente, tendemos a confirmar e desenvolver. Os observatórios astronómicos proporcionaram-nos novas lentes, também novas perspetivas, um pouco como na psicoterapia. Não propriamente tão diametralmente novo ou diferente como deixarmos de ser o centro do Universo, mas simplesmente uma leitura mais completa, com mais tonalidades e vertentes.

Desta particular relação entre a Terra e o Sol resulta que é neste preciso dia do ano que a Terra recebe mais raios solares. As relações entre a luz, o calor e a Natureza, e por consequência, o alimento, a saúde e a prosperidade, são evidentes. Talvez por isso, desde tempos remotos, que Incas, Maias, Gregos, Romanos, Celtas, festejavam este dia, em rituais diversos de celebração da Vida, mais pagãos ou, religiosos, como a de São João Batista.

Há qualquer coisa de mágico nestes rituais de fogo. Celebra-se, agradece-se, mas também se deseja, renovação, vitalidade. Todos dançam mas cada espírito imagina e deseja à sua maneira. Cada pessoa tem os seus sonhos. Por vezes é importante encontrar um lugar, de calor e aceitação, onde caibam estes sonhos, também os pesadelos, para, em segurança, poder vê-los, ouvi-los, senti-los, de um e de outro olhar, apropriá-los e usá-los em benefício próprio em cada dia do ano.

“Há quem diga que todas as noites são de sonhos.
Mas há também quem diga nem todas, só as de verão.
Mas no fundo isso não tem muita importância.
O que interessa mesmo não são as noites em si, são os sonhos.
Sonhos que o homem sonha sempre.
Em todos os lugares, em todas as épocas do ano,
dormindo ou acordado.”

Sonhos de Uma noite de Verão
William Shakespeare

É também um ritual, um encontro, sempre no mesmo dia, à mesma hora, no mesmo lugar. As duas mesmas pessoas. Mas é tudo menos repetição. É uma jornada pelos sonhos, pesadelos, desejos e angústias, mas devagarinho, com cuidado, visando o enriquecimento e a transformação, conhecendo novos alinhamentos para os planetas e estrelas conhecidos, quiçá explorando fora do sistema solar.


Drª Ludmila Carapinha - Lisboa

O Canto da Psicologia


quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Notas soltas de clínica. ...

 



“Dr.ª, não sei como lhe explicar o que sinto, acho que nem sinto, é um vazio que não acaba. Se me pedir para desenhar, desenho um buraco negro”.

Não raras vezes estreámos assim. Aquela tarde abriu profundamente triste. Como se olhasse um quadro de cores escuras de angústia e de uma desorganização desconcertante. Oiço a confusão espácio-temporal. Vejo um corpo sem alma, um mundo interno pobre e povoado de fantasmas. À medida que fala sinto o seu medo de poder estar perante um novo fantasma. A sua vida tem sido uma vastidão de dor. Não há movimento nos gestos, não há coordenação, há rigidez e desconfiança. Faltaram os braços da mãe. É a imagem que me ocorre. A ausência de um ambiente confiável e sustentador. Faltou brincar, explorar, experimentar e integrar.

E perante este terramoto interno de pedaços estilhaçados, escuto e amparo, permito-me compreender a realidade das suas singularidades. No horizonte – retomar o processo de constituição do Ego que ficou suspenso, através de uma Nova Relação. “É esta nova relação expansiva e sanígena que determina a mudança curativa – a construção e consolidação de uma outra e mais satisfatória e mais produtiva relação interpessoal.” (António Coimbra de Matos, 2016).

Vamos ainda no início do caminho. Por vezes longo para quem se sente vazio há uma vida inteira. “Não sinto nada, não sei se há melhoras. O buraco negro continua dentro de mim, mas sinto segurança aqui”. Progressivamente o espaço terapêutico torna-se acolhedor como os braços de uma mãe. Há espaço para narrar a sua história. Há confiança para abrir o seu mundo interno, permitir que surjam imagens e emoções. Na tela parece prevalecer o caos, o medo, a angústia. Percebe-se uma história infantil onde o ambiente familiar não foi facilitador dos processos de maturação. Abrimos caminho à ressignificação da sua história, construindo uma simbolização. “(...) os pensamentos começaram a soltar-se e a encadear-se, num movimento de maior compreensão da realidade externa e interna, através duma abertura, que possibilita a passagem do real para o imaginário e do imaginário para o simbólico.” (Ferreira, 1999).

Avançámos. O espaço terapêutico acolhe o vazio. “Já não vejo o buraco negro todos os dias, às vezes sim, mas muitos dias não”. A nova relação dá lugar a uma tela interior de cores, é possível a transformação e expansão. O buraco negro começa a desvanecer e dá lugar à esperança, à novidade, ao futuro.

O horizonte da psicoterapia - alicerçar na pessoa o seu sentido de singularidade, espontaneidade e autenticidade. Num caminho, sem pressa de chegar, de relação entre a díade – terapeuta e paciente - no qual ambos descem às paisagens do mundo interno e recuperam a possibilidade de renascimento. Renascer numa nova relação, renascer em liberdade.

Continuámos. Começo a ver a alma hasteada no corpo. Há medo de cair, mas há força e crescimento egóico capaz de enfrentar a angústia. A nova relação é internalizada e permite desfolhar novas relações, mais significativas e satisfatórias. O terapeuta – parece estar a ser suficientemente bom.

 

 Drª. Soraia Almeida

Canto da Psicologia -Braga

 

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Devias fazer psicoterapia! Do podcast ao sofá da terapia…

 

Esta frase anda a tornar-se familiar por estes tempos, não acha? 

Possivelmente por tudo o que andamos a viver ultimamente, mas por aqui, em alturas de rentrée, este eco torna-se sempre mais evidente. É nesta época do ano que muitos processos psicoterapêuticos têm início, mas também muitos outros  ficam pelo talvez. 

Quem já fez ou faz psicoterapia tem por hábito recomendá-la a amigos ou familiares e nem sempre consegue entender os motivos pelos quais existe alguma resistência a dar o primeiro passo. 

“Não vou falar com um estranho sobre mim”
“Eu consigo resolver sozinho”
“Também não é assim tão grave”
“Um conhecido meu foi e não adiantou nada”

Assim se vão expressando alguns receios, naturais e bastante pertinentes, mas a verdade é que não são mais do que o reflexo de resistências internas que todos temos. O funcionamento psicológico é muito eficiente e por isso tenta, algumas vezes com resultado inverso, consumir pouca energia emocional e garantir o menor esforço possível. Por outro lado, porque queremos ser amados e tememos a rejeição do outro, fomo-nos habituando a calar o que pensamos e sentimos, para sermos facilmente aceites e depois, amados. Ouvir o que temos a dizer sobre nós não é tarefa fácil…

Vou à psicoterapia para ouvir o que eu tenho a dizer!

Quando ouvi esta frase, fiquei indagada e ao mesmo tempo a pensar no quanto é difícil ouvir o que temos a dizer sobre nós. Mas não estamos na Era em que os podcasts assumiram o lugar de protagonista nos conteúdos digitais e que hoje nos assaltam minuto a minuto? 
Bom, é certo que os nossos conteúdos internos nem sempre são apelativos, mas se lhe dermos a atenção devida talvez se encontrem agradáveis surpresas. 
Quando ouvimos um podcast, estamos mesmo a ouvi-lo? Tenho algumas dúvidas… Na maioria das vezes, o podcast é conciliado com outras tantas tarefas em simultâneo, depois paramos, aceleramos e saltamos algumas partes do mesmo. É um conteúdo que faz parte da nossa coleção de materiais digitais, que cada vez mais vão tendo como função ajudar a suportar silêncios e se têm tornado fortes aliados no preenchimento de vazios. Ouvir os nossos silêncios não é tarefa fácil… 

No sofá da terapia criam-se podcasts?

Voltando ao sofá da terapia, percebemos que aqui, os podcasts se desenham noutra forma e se moldam noutra ordem. Na ordem do falar, do ouvir e do sentir. Requerem atenção exclusiva! Persistência, paciência e coragem! 
Se nos sentimos ansiosos, cansados, deprimidos ou irritados, a psicoterapia é sempre uma escolha acertada, por mais difícil que seja declará-la. A investigação científica comprova a sua eficácia e os nossos pacientes também. Perante a dor e o sofrimento, a possibilidade de compreensão das emoções, permite quebrar o ciclo de repetição e a mudança ocorre naturalmente, aliviando os sintomas. O pedido de ajuda psicoterapêutica vem, na maioria das vezes, associado a angústia e esta é uma temática na qual os psicólogos se encontram atentos desde o início, dando uma resposta adequada e integrando a queixa. Eles são especialistas na arte de perceber e aceitar o outro, são empáticos e disponíveis. Quem já fez psicoterapia reconhece estes fatores e é por isso que a sugere com tanta veemência. Mas também sabe que o compromisso com a psicoterapia deve ser real para ter um resultado transformador e que não é suficiente marcar a consulta e ter um psicólogo a acompanhá-lo todas as semanas (como nos ginásios…, não basta fazer a inscrição para obter resultados).

Talvez no sofá da terapia seja possível criar um podcast mais atrativo e interessante, onde a temática principal e de fundo é a nossa história, relatada em vários episódios, uns mais emocionantes do que outros. Criar um podcast sobre nós alimenta a capacidade de estarmos connosco próprios, independentemente de estarmos sós ou acompanhados. Permite olhar o que somos, ouvir o que temos a dizer e sentir o que sentimos.

Afinal, se não nos ouvimos, o que andamos a ouvir?

 

 

 

quinta-feira, 2 de julho de 2020

A esterilização dos afectos...




Em tempos como estes, em que temos regras sobre como podemos estar e interagir é-nos solicitado, a todos, que nos readaptemos a uma realidade que já vai sendo mais conhecida, mas que continua a ser, creio eu, estranha.
No início parecia mais fácil esterilizar, desinfectar, limpar onde tocamos, por onde passamos, talvez por momentos até tenhamos esterilizado o que sentíamos e o que pensávamos, tendo pouco espaço para fazer mais do que aquilo que sentíamos efectivamente necessário e urgente no momento.
Cada vez mais fala-se no retomar a uma nova normalidade, uma nova normalidade necessária, pelo menos no que diz respeito à economia. Quando mais oiço falar na necessidade de retomar, de voltar a fazer as coisas que sempre fizemos, fico eu própria com uma sensação de ambivalência que me faz parar e pensar… claro que precisamos todos que as coisas vão voltando ao normal, que os pais regressem ao trabalho, que as crianças voltem às creches e às escolas, que tanto adultos como crianças possam voltar a praticar as suas actividades e que voltem aos seus locais de saúde, refiro-me claro aos consultórios onde são acompanhadas, nas suas diversas modalidades.
Mas como isolamos o contacto com uma criança? Como esterilizamos a necessidade do afecto, do abraço, do toque… como esterilizamos o brincar? Como podemos fazer lutas entre cowboys e soldados? Como podemos construir sem partilhar? Será possível esterilizar esta parte? Automaticamente quando penso nisto, penso em crianças e adultos ansiosos, deprimidos, doentes até! E fica em mim um grito surdo “o que a mente cala o corpo fala”, famosa frase de António Coimbra de Matos.
Como contemos uma criança seja no consultório, seja na escola, sem lhe podermos tocar? Sem elas poderem olhar e ver a nossa expressão (escondida por detrás de uma máscara)?
Falo de crianças dado os óbvios obstáculos em termos de desenvolvimento, mas penso também nos adultos, no fundo, penso em todos nós… como podemos integrar a nossa experiência, estruturar o nosso eu, organizar as nossas relações interiormente, elaborar as coisas que sentimos e pensamos sem a possibilidade da contenção de um abraço? No fundo, na ausência da experiência do afecto.
Onde, dentro de nós, colocamos o “temos de estar isolados” ou “precisamos de uma distância de segurança para existir” ou até a impossibilidade do “vem cá que eu dou-te um abraço ou um beijinho…”
Será que este retomar à “nova” normalidade está a ter em atenção a nossa saúde mental?
Como é que na escola gerem, no caso dos mais pequenos, as distâncias de segurança? O não poderem tocar-se para brincar? O não poder dar um beijinho ou um abraço quando alguém se aleija?
Penso em todas as crianças (e adultos) que acompanho e que tenho vindo a acompanhar em modalidade on-line, penso no voltar ao consultório, de máscara, talvez com algumas fantasias que não são, certamente, terapêuticas (será que aquela criança ou adulto está seguro ali? Será que eu própria estou segura?), penso na criança que corre e que procura o toque, o abraço, o beijinho, que quer por o tapete e ir brincar e rebolar no chão, fantasiar, lutar, co-construir e que eu não vou, certamente, negar…
Não será mais seguro, mais tranquilo, mais contentor, mais potenciador de crescimento e de desenvolvimento, nesta fase, em vez de agir sobre a urgência do retomar à tal nova normalidade, podermos em conjunto e passo a passo, construir uma realidade diferente por mais uns tempos em que se pode lutar, brincar, conversar, rebolar, mesmo que através de dois ecrãs (on-line)?
Os afectos não podem ser esterilizados e o brincar também não!



Drª Inês Lamares - Alcochete
O Canto da Psicologia


quinta-feira, 14 de maio de 2020

O Canto da Psicologia e a Psicologia Online...






Apesar de nesta altura este setting terapêutico virtual estar a tomar um lugar destacado, é um facto de que já há muito tem dado provas da sua eficácia perante resultados apurados a partir de estudos e pesquisas realizadas comprovando que, a efectividade da psicoterapia online traz consigo muitos benefícios aos pacientes.

Considerando as possibilidades que neste campo das terapias online se apresentam e o facto de que a demanda pelos serviços online cresce a cada dia nas mais diversas áreas, inclusive na área da saúde mental, importa que, tal como temos vindo a ser resposta na esfera do presencial, O Canto da Psicologia também seja resposta para um maior número de indivíduos que, de outra maneira, não conseguiriam ter acesso à Psicologia e a todas as valências que esta abarca nomeadamente, intervenções terapêuticas na área da Psicologia Infantil,  Adultos, Adolescentes, Séniores, Avaliações, etc., na maior parte das vezes por questões geográficas e outras por  impossibilidades físicas.

Este formato  próximo da consulta face-a-face, não tirando o lugar de destaque do atendimento presencial, tem como principal vantagem ultrapassar impedimentos de deslocação ao consultório, sejam eles geográficos ou físicos, permitindo uma comunicação em directo pela via visual e vocal-auditiva.

A Psicologia online encontra-se, internacionalmente e nacionalmente, devidamente enquadrada em termos legais ISMHO – Sociedade Internacional para a Saúde Mental Online e  pela Ordem de Psicólogos Portugueses (OPP)  bem como pela Entidade Reguladora de Saúde (ERS).

Sempre que recorrer a consultas de Psicologia online e para que o processo terapêutico ocorra de forma eficaz e tranquila só precisa de ter em atenção o seguinte:

  • Ter acesso à internet e preferência de plataforma a usar: Whatsapp; Facetime, Skype, etc)
  • Ter um espaço (se possível) confortável onde possa estar só, sem risco de interrupções e com microfone e auscultadores de maneira a preservar a sua  privacidade;
  • E saber que os  nossos Psicólogos e Psicoterapeutas garantem a confidencialidade da informação chegada até eles mas, não conseguem garantir  a confidencialidade da informação enquanto a mesma transita na Internet.
Enquanto competência e profissionalismo, continuamos a garantir que o que fazemos, fazemos muito bem feito e com afecto.

E é com imensa satisfação que abrimos, por aqui, estas janelas virtuais que permitem posicionar-nos mais perto de quem, de outra maneira, nunca conseguiria ter acesso a este tipo de oferta.


De Norte a sul do País, Ilhas e resto do mundo onde se ouve a Língua Portuguesa , saiba que estaremos por aqui à sua espera…