É bom estarmos ativos e, sem dúvida, que constitui um
motivo de orgulho, mas é preciso tempo para parar tanto quanto ser produtivo e
orgulharmo-nos disso na mesma medida. Não falo só em dormir, férias, diversão,
lazer, que são fundamentais, mas falo principalmente de tempo para não fazer
nada. Nada mesmo (e não vale olhar para o telemóvel)!
Quando paramos estamos a permitir que as nossas emoções
enviem mensagens ao nosso cérebro sobre o nosso estado e, assim, conceder uma
oportunidade para avaliar como me estou a sentir; sobre o que me fez feliz
durante o dia ou o que me perturbou. Quais as minhas necessidades e como posso
satisfazê-las. O que está bem ou mal na minha vida. O que é preciso manter e o
que é preciso mudar.
“E porque é que eu tenho de parar para que isto
aconteça?”
Precisamente porque quando estamos envolvidos nas nossas
rotinas estamos, na maioria do tempo, a responder a exigências externas (sejam
profissionais, sociais ou de outras pessoas que nos são mais ou menos próximas)
e que, por mais que possam fazer parte da nossa vivência em sociedade e nos
tragam benefícios diretos ou indiretos, podem desviar-nos (mesmo sem nos
apercebermos) das nossas próprias necessidades.
Há uma diferença entre produzir algo em função da
satisfação do outro e produzir algo em função da nossa própria satisfação e é
preciso parar para a distinguirmos de forma clara.
“Quando é que sei que estou a precisar de parar?”
Parar deve fazer parte da nossa rotina, tal como o é
beber água, alimentarmo-nos, etc. Quando isso não acontece, vou começar a
sentir-me cansado, stressado, irritado, entre outros. Ou ainda, o nosso corpo
irá obrigar-nos a baixar o ritmo através de uma doença, uma gripe por exemplo.
“Eu não consigo estar muito tempo sem fazer nada!”
Para além do sentimento de culpa associado aos períodos
de inércia porque a sociedade assim o exige, tendemos a evitar esse tempo
principalmente porque estar a sós connosco pode gerar desconforto.
“Mas se me vou sentir desconfortável porque razão tenho
de parar?”
De facto, quando nos permitimos parar, surge por vezes a
sensação de nos sentirmos perdidos, desesperados ou um sentimento de vazio (que
serão tão mais intensos quanto maior o tempo que passo sem me permitir este
espaço) e isto não é fácil de se enfrentar, mas uma vez este estado
ultrapassado vão começando a emergir sentimentos mais positivos, mais energia,
maior capacidade para criar, mas agora de uma forma mais concordante com os
nossos desejos e valores.
Se, por outro lado, tanto o desconforto persistir no
tempo, devemos procurar ajuda especializada que nos ajude a amparar esses
sentimentos, a reorganizar e a reconstruir ou procurar um novo sentido.
O processo terapêutico é, entre muitos outros elementos,
um espaço onde nos é concedido tempo para nós mesmos porque é o que se passa nele
(nesse tempo) que nos permite mudar.
Filipa Noronha - Lisboa
O Canto da Psicologia