A base de quase tudo, no que
concerne à vida mental, está nas relações, no ambiente relacional, pois é neste ambiente
que crescemos, enquanto crianças, e que nos desenvolvemos e nos construímos
enquanto futuros adultos - na forma como experienciamos e como vivemos as
relações. O desenvolvimento da criança está inevitavelmente dependente da
qualidade da relação estabelecida com os pais ou com os seus cuidadores. Têm
sido vários os autores a referirem isto ao longo dos anos, entre vários, Coimbra de
Matos (2001), o “pai da psicanálise em Portugal”, refere que “O Homem é
essencialmente um animal narcísico – que se admira e precisa de ser admirado”.
Isto mostra-nos que precisamos de uma relação em que sentimos que recebemos
afecto, valor, reconhecimento, empatia, compreensão, amor, limites (etc) por
parte do outro, e é isto que faz com que a criança, internamente, se vá
desenvolvendo como alguém importante para o outro.
Consequentemente, quando não
estamos perante vivências, experiências ou figuras (parentais, neste caso)
suficientemente boas, deixamos de estar equilibrados psicologicamente,
começamos a ter comportamentos vistos como desadequados e desenvolvemos
sintomas. É, muitas vezes, neste ciclo de desenvolvimento relacional que
desenvolvemos também a patologia que se manifesta enquanto adultos.
Ficamos muitas vezes presos nas
regras, nos limites, no bom comportamento, nas boas notas e esquecemo-nos que as crianças, muitas vezes, são apenas isso, crianças! Muitas vezes elas não
querem tomar banho, não querem lavar os dentes, é aborrecido fazer os trabalhos
de casa (quando é muito mais divertido brincar!), temos regras (internas) de
que não podemos dar colo, não podemos dar afecto ou ficamos contaminados com a
nossa sensação de zanga e frustração e não conseguimos tolerar a “insolência”
de não se fazer os trabalhos de casa ou lavar os dentes. Ou até, já dissemos 10
vezes! Valorizamos as crianças bem comportadas, autónomas, responsáveis mas não
nos questionamos sobre o que poderá também não estar a ser comunicado nestes
pequenos quase adultos?
Com isto, não dizemos ou pensamos
que os pais são o agente criador de “culpa”, convidamos apenas a pensar... os
limites e as regras são fundamentais mas será que há limites para o afecto?
Para a valorização? Para a compreensão? Para a empatia? Ou será que os limites
podem ser limites dados com afecto? Com compreensão?
Drª Inês Lamares - Alcochete e Lisboa
O Canto da Psicologia
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