A linguagem dos sintomas – a mensagem que escondem
A mensagem da dor
Por detrás da dor
Por detrás do sintoma – o papel da psicoterapia, mitos e
realidade
O perigo da pressa da supressão do sintoma
“Esta semana estou
no limite, já não aguento mais este estado de ansiedade. Parece que estou
sempre no limbo, mas não percebo porquê. Parece que não estou nada melhor”
35 anos
“Sou uma
pessoa muito ansiosa. Sempre fui uma pessoa muito calma e tranquila e de um
momento para o outro comecei com crises de ansiedade. Preciso de resolver isto
rapidamente.”
42 anos
“Tinha a
expectativa de que a esta altura já estivesse melhor. Continuo a chorar quase
todos os dias. E não sei porque é que choro. Acho que não há nada que me faça
ficar assim. Gostava de voltar a ser a pessoa bem disposta e alegre que sempre
fui. Preciso de estratégias para resolver isto…”
29 anos
“O meu amigo
agora vai ao psicólogo. Está com a esperança de que vai lá uma vez e sai de lá
com tudo resolvido. Tenho de lhe explicar que estas coisas levam tempo. Os
sintomas vão aliviando à medida que o processo vai andando. Temos de colaborar
deste lado, se não… “
16 anos
“A maioria
das vezes o que aparece à superfície é o que se sente. Mas depois começam a
surgir os problemas relacionados com as questões identitárias. Muitas vezes as
coisas acontecem ao contrário”
Coimbra
de Matos, 2013
Cada vez mais as pessoas que nos procuram, procuram
porque começaram a sentir coisas que não sentiam, ou que sentiam mas
ganharam uma intensidade muito maior nos últimos tempos, ou porque têm
pensamentos que as deixam inquietas, ou comportamentalmente alguma coisa se
modificou (e não conseguem encontrar um significado para esta alteração). São
diversos os motivos que levam as pessoas a procurarem acompanhamento
psicoterapêutico, de forma mais ou menos transversal, porque surge um sintoma
(porque existe uma dor, física ou mental). A expectativa, muitas das vezes,
parece ser a de uma resolução ou transformação rápida. Existe um nível de
desconforto acentuado e a pessoa quer que ele desapareça naturalmente.
Os sintomas, sejam eles de que natureza for, surgem como
forma de traduzir algo que não tem a ver directamente com o sintoma físico ou
mental. É quase como se pudéssemos olhar para o sintoma como a erva daninha que
fica na superfície, que é visível, mas que cresceu de uma raiz (raiz esta que
tem uma outra coisa, uma história, uma experiência, uma vivência, uma emoção,
um pensamento…). Todo este processo, tem uma função, ou seja, o sintoma surge
com uma função. E, muitas vezes, provêm de um conjunto de outras coisas que não
conseguimos lidar ao longo da vida – as nossas vivências emocionais activam um
conjunto de processos em nós que geram os tais sintomas. Também estes podem
aparecer como forma de nos defendermos de determinada situação ou
acontecimento, como se fosse o recurso disponível que nos permite lidar com um
acontecimento, sentimento…Como se pudessem ser os mensageiros que trazem à
nossa consciência a realização de que alguma coisa não está bem connosco.
Recordo um paciente que vem às primeiras consultas porque
tinha um trabalho final de curso para apresentar e andava sem dormir. Tinha
imenso medo de apresentações orais e com público; ficava num estado de
ansiedade que gaguejava, transpirava, sentia que o coração lhe ia saltar pela
boca e que a qualquer momento poderia desmaiar. As noites já há dois meses que
andavam a ser complicadas, acordava de hora em hora e não conseguia ter um sono
tranquilo e descansado. O pedido é a resolução dos problemas de sono a ajuda na
preparação para a apresentação do trabalho final de curso. À medida que vamos
caminhando começamos a perceber que existe uma relação bastante duradoura que
tinha terminado, na sequência de uma traição, um sentimento enorme de
inferioridade em relação aos outros, uma inveja e uma zanga em relação ao irmão
mais novo (que sempre tinha sido o centro das atenções em casa). Bem, no fundo
uma agressividade que não podia ser vivida nas relações e um sentimento de
desamparo e de estar sozinho no mundo…
Com isto pretendo ilustrar que o sono, por exemplo, era
apenas uma manifestação de uma mal-estar maior ou mais profundo, era um sintoma.
Sendo os sintomas a manifestação mais visível, consciente
mas também dolorosa de algo que se está a passar dentro de nós, a “libertação”
ou “desaparecimento” do mesmo não significa, necessariamente, resolução do
problema. Significa, por vezes, que estamos mais capacitados e disponíveis para
poder continuar o caminho até à compreensão de todo o processo que levantou ou
desencadeou o ou os sintomas.
Um processo psicoterapêutico “bem sucedido” ou “com
resultados” requer tempo para perceber, disponibilidade para olhar e cuidar e
também aceitar, as coisas boas e más que fomos vivenciando.
Drª. Inês Lamares
O Canto da Psicologia