O conceituado psicoterapeuta Irvin D. Yalom –
autor de diversos livros técnicos na área da psicoterapia, assim como de
romances para o grande público, como é o caso do livro “Quando Nietzsche chorou”
– defende que o isolamento existencial se refere a um abismo inultrapassável
entre um “Eu” e um qualquer “Outro”, realçando, assim, que nenhuma relação pode
eliminar o isolamento.
Todavia, como Yalom tem sustentado ao longo da
sua carreira como psicoterapeuta, uma boa relação com os outros diminuirá a dor desse isolamento.
Alicerçado nesse contributo de
Yalom, poder-se-á reflectir, então, sobre o que será uma boa relação humana,
parecendo claro que uma dinâmica interactiva dessa qualidade expressará um
fenómeno de criação, na medida em que no mínimo dois participantes se unem para
criar mais um elemento: um “Nós” suficientemente cuidador das necessidades de
todos os participantes, em que cada indivíduo poderá viver sentimentos de
pertença, de segurança e de confiança básicos, os quais configuram uma
experiência de ser realmente bem cuidado e, nessa medida, amado. Neste sentido,
a ligação com os outros, mediante sonhos conjuntos e acções partilhadas para os
concretizar, é o que permitirá o desenvolvimento consistente do bem-estar psicológico.
Provavelmente, o mais importante é
que esses projectos partilhados sejam percebidos como co-construídos, ou seja,
que cada pessoa sinta que tem um papel relevante e bem definido na relação, baseando-se
na atenção amorosa que proporciona atitudes adequadas face às necessidades de
todos os envolvidos, mas sabendo também que existirão inevitáveis falhas,
divergências, frustrações e obstáculos a ultrapassar.
Por outro lado, se tais
projectos relacionais não incluírem suficientemente as necessidades de cada
indivíduo, os prejuízos serão, certamente, maiores do que os ganhos, porque
mediante interesses próprios desligados dos outros, as pessoas ficam,
obviamente, a sentirem-se sós e em desarmonia com a natureza de vida relacional
interdependente. Nesta medida, parece ser inviável a ideia de bem-estar
absolutamente solitário, sem um qualquer projecto de relação com alguém, nem
que sejam somente boas relações interiores, as quais derivam de experiências
relacionais passadas e concretamente vividas. De facto, uma boa capacidade de
estar fisicamente sozinho, revela que a pessoa se sentirá bem acompanhada nas
dinâmicas relacionais interiorizadas.
Remetendo para o título deste
texto, no âmbito das boas relações – em que vale a pena estar acompanhado –
situa-se a relação psicoterapêutica, mediante a qual um factor decisivo no
processo de desenvolvimento do paciente será a certeza de que é amado nessa
particular relação. Mas que amor será esse? A natureza desse amor será,
claramente, distinta de outras vivências quotidianas, nomeadamente de
relações conjugais, de namoro, familiares ou de amizade, na medida em que a
particular postura amorosa do psicoterapeuta deverá ter como foco a função
profissional de cuidado face ao desenvolvimento da pessoa que lhe pediu ajuda,
designadamente pelo aumento da sua capacidade de amar a si própria e aos
outros. Em relação ao papel específico do paciente, um factor importante para
promover uma relação justa e equilibrada com o psicoterapeuta, será
naturalmente o pagamento atempado dos seus honorários – algo indispensável para
que não ocorram sentimentos de dívida – assim como um empenho mínimo face à
dinâmica acordada da relação terapêutica, mediante os conteúdos revelados da
sua vida nas sessões, para além de uma assiduidade e pontualidade suficientes
às mesmas.
Existindo uma colaboração mútua
suficiente entre psicoterapeuta e paciente, estão preenchidas, assim, as
condições necessárias para que o paciente possa ser nutrido de um cuidado psicoterapêutico, reparador das falhas dolorosas de amor sentidas ao longo do
seu percurso de vida e promotor da reflexão face ao que fará sentido ainda
viver, enquanto escolhas existenciais do presente para o futuro.