quinta-feira, 31 de março de 2016

De são e louco todos temos um pouco...





Sobre a Normalidade

A palavra 'normal' deriva do latim e é um nome que designa uma régua, ou para ser mais preciso um esquadro. Por outras palavras, ela designa um instrumento que tem por objectivo certificar-se se existem ou não ir(regular)idades.
Em psicologia a palavra 'normalidade' é bastante problemática; ao ponto de fazer gaguejar alguns técnicos quando questionados sobre o que é afinal ser 'normal'.

'De sãos e loucos todos temos um pouco' é algo que se ouve com frequência; tal como a ideia que muitas pessoas criam de que para os psicólogos não existem pessoas totalmente saudáveis.
Em psicologia a palavra 'normal' confunde-se com a estatística. Nesse sentido, a 'normalidade' não é mais do que uma medida de frequência. Se um dado fenómeno é frequente dizemos que é normal, se é pouco ou nada frequente ou se é demasiado frequente então dizemos que é anormal.
A estatística, a noção de média e a ideia de normalidade são todas abstrações. Toda a gente sabe que na natureza não existem rectas; a única coisa que existe é irregularidade e rugosidade.

Como pensar então a normalidade no meio da rugosidade?

Em primeiro lugar é necessário entender que tudo o que é produto da mente ou do psiquismo desempenha uma ou mais funções. Da mesma forma que as pernas e as mãos desempenham funções, exatamente da mesma forma que o estômago o fígado ou os pulmões desempenham funções, a tristeza a agressividade ou a fantasia também desempenha funções.
Na verdade, todos os termos que consideramos psicopatológicos, como por exemplo a obsessividade, a paranóia ou até a esquizoídia, são funções normais da mente.
Pense o leitor no funcionamento mental como se de um bolo fatiado se tratasse. A cada fatia corresponde um traço da personalidade ou uma função mental. Assim, uma fatia pertence às fobias, outra à histeria, outra à depressão, outra à paranóia e assim por diante.
Para obtermos um funcionamento mental normal ou salubre, as fatias do bolo terão de apresentar uma particularidade: têm de ser flexíveis.
Se estivermos perante a morte de um familiar ou perante uma separação difícil é normal que a fatia da depressividade aumente de tamanho e que passe a ocupar o espaço das restantes fatias. Se a depressividade estiver a desempenhar a sua função adequadamente ela irá permitir reviver o passado, elaborar o que foi dito e sobretudo o que não foi dito, metabolizar a perda e resolver o luto.

Se estivermos numa situação potencialmente perigosa é normal que a fatia da paranóia ganhe predominância ocupando o lugar das outras fatias. Estaremos mais atentos a sinais de perigo, e mesmo que na verdade não exista motivo para preocupação, teremos sempre a possibilidade de nos precavermos com antecedência.
Alguns tipos de fobias/medos são igualmente importantes, porque efectivamente existem animais e situações que nos colocam em posição de perigo.
Mesmo as funções mais primárias da mente, isto é, do espectro psicótico, são importantes no que diz respeito à criatividade e à inteligência.

O que não é normal é a inflexibilidade e a rigidez das fatias deste bolo imaginário. O que não é normal é a desvirtuação destas funções mentais:

É normal ter medo de animais venenosos, não é normal ter medo de tudo ou estar sempre com medo. 
- É normal deprimir, não é normal estar sempre deprimido. É normal fantasiar, não é normal viver na fantasia.
- É normal ficar paranóide em situações de perigo potencial, não é normal  criar um mundo paranóide.
- É normal ficar irrequieto quando está angustiado ou deprimido, não é normal não parar quieto. 
- É normal querer seduzir um amante, não é normal erotizar qualquer relação.
- É normal ser meticuloso e perfeccionista para terminar um trabalho, não é normal não o terminar porque          unca está bom o suficiente. 
- É normal deprimir por acontecimentos tristes, não é normal ficar eufórico por acontecimentos tristes.
- É normal ficar ansioso, não é normal converter essa ansiedade em doença física.
- É normal temer pela própria saúde, não é normal fantasiar constantemente com a doença.
- É normal zangar-se, não é normal estar sempre zangado.

Dr. Fábio Mateus
O Canto da Psicologia


segunda-feira, 28 de março de 2016

... e depois do coelho da Páscoa?







O terrível coelho?

A Páscoa já lá vai...



Depois de uma semana em que as redes sociais se encheram de fotos de coelhos, os verdadeiros, os de faz-de-conta e os humanos, chega a altura de nos livrarmos deles.

Durante dois dias a epidemia de gatos fofinhos pelo FB quase que desapareceu...

Mais curiosa é a consciência que todos vão ganhando dos erros que cometem. A maior parte das publicações eram do género:

“Mega ovo e facada na linha” #esperoqueomeunutrinãoestejaaver #estechocolatenaoengorda #segundafinalmentecomeçaaepocadeverao

Segunda-feira começo o festival de fotos hipersaudáveis e de motivação:
“Salada de alface com alcaparras e sabor bem azedo para compensar o fim-de-semana” #entrarnalinha #operacaobikini #misseuvouser

Não é preciso tanto exagero e para quem ainda se lembra Jesus Cristo morreu de facto na cruz mas não temos de ir pelo mesmo caminho para exorcizar os demónios da comida.
O que de mal comeu antes e depois da Páscoa representa 99,999999% dos seus problemas portanto, nem vou fazer contas para estimar o impacto da Páscoa na sua vida.

A questão seguinte: o que posso fazer para limpar o meu corpo?
Nada! Estes três dias não representam a necessidade de nenhuma intervenção específica para reabilitar o organismo. No limite, alguns alimentos funcionais para o fígado: chás como o alecrim, cidreira, cardo-mariano ou dente-de-leão, abacate ou, aumentar a hidratação.

Em suma:

  • Evite mas relativize os devaneios da Páscoa e de outras épocas festivas;
  • Seja coerente com os seus hábitos alimentares, não entre em regimes de compensação;
  • Chás como cidreira podem ajudar, de uma forma natural, o fígado a recuperar sem “ajudas milagrosas”.


quinta-feira, 24 de março de 2016

Entre as cores da natureza...



“Estávamos em Setembro de 1988 e era o meu primeiro dia de aulas! E que contente que eu estava, tudo era novidade para mim e eu olhava para aquilo que via de novo em cada dia como se de magia se tratasse, acho que nunca tinha visto tantas coisas num tão curto espaço de tempo! Lembro-me de que, na véspera, só tinha perguntado do meu avô se lá na escola haveria meninas para brincar comigo, se os rapazes também gostavam de jogar com bolas de trapos, se as meninas iriam gostar que eu lhes fizesse trancinhas como a mamã me tinha ensinado… e o meu avô só me respondeu “Mirza, lá na escola tu poderás ser aquilo que quiseres, lá os teus sonhos vão começar a tornar-se realidade”.

E assim foi, fui para a escola com um caderno e um lápis na mão, porque na mochila já não cabiam, tinha-a cheia de esperança, sonhos e afetos para distribuir! Assim que entrei na escola, pela mão do meu avô, o átrio estava cheio de meninos, uns que pareciam mais crescidos que outros, uns tinham uma carinha de medo, outros choravam, outros, tal como eu, espelhavam uma ansiedade e uma excitação tal, que absorviam num só rasgo de olhar tudo o que os rodeava. E pronto, a campainha tocou e o meu avô soltou-me a mão e só disse “Vai Mirza, está na altura de seres feliz”. Então, subi a alta escadaria da escola e lá no cimo estavam as professoras, que nos diziam para que sala devíamos ir. Quando encontrei a minha sala, lembro-me bem que a primeira coisa que vi foram muitas mesas e cadeiras, algumas já ocupadas e outras com lugares vagos, e pensei que queria ir para alguma onde já estivesse algum menino ou menina para poder fazer já um amigo! De repente, todas as crianças olharam para mim, como se algo de estranho se estivesse a passar…que eu não percebi! Uns meninos falavam baixinho com os amigos que tinham acabado de fazer, outros olhavam para mim com uns olhos muito abertos …até que uma menina disse bem alto: “olhem, ela é preta!”. De repente nem percebi que era para mim, a verdade é que nunca tinha pensado que os meninos tinham cores... Mas sim, nesse dia percebi, realmente na pele, como as crianças podem ser tão cruéis. Nesse instante a professora entrou e, ao aperceber-se do que se passava, levou-me para a frente da sala e disse: “Bom dia meninos, esta é a Mirza e veio a semana passada de Cabo Verde para Portugal. Infelizmente a mãe dela faleceu por doença e ela veio com os avós para Portugal para começar uma vida nova. Por favor, peço-vos que sejam amigos dela e que não a discriminem, porque ela é uma menina igual a vocês”. Na altura, as palavras da professora amaciaram o meu coração, que estava triste e magoado pelos olhares e palavras dos meus futuros novos amigos, e pensei que agora eles iriam olhar para mim e brincar comigo como com qualquer outro colega de escola."

Hoje, 30 anos mais tarde, sei que aquele comentário da professora, também era racismo!
Seria mesmo preciso apresenta-la isoladamente dos outros meninos, contar a sua história e reforçar que deviam trata-la de igual modo? Será que esse mesmo reforço não é já uma chamada de atenção para a diferença? E será que essa diferença existirá mesmo?

No passado dia 21 de Março, comemorou-se o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em memória à tragédia que ficou conhecida como “Massacre de Shaperville”, em 1960, na cidade de Joanesburgo, na África do Sul.
Na ocasião, vinte mil negros protestavam contra a Lei do Posse — que os obrigava a trazer consigo cartões de identificação, especificando os locais por onde eles poderiam transitar na cidade — quando se depararam com tropas do exército, que abriram fogo sobre a multidão, matando 69 pessoas e ferindo outras 186.
Certamente este massacre irá chocar praticamente todos os que possam ler este artigo. Mas, ainda hoje, os preconceitos de raça manifestam-se de formas variadas em muitas partes do mundo. E os “pequenos massacres” ocorrem todos os dias, nos mais diversos cantos do mundo. Massacres que não discriminam matando, massacres que até se orgulham de não discriminar pela negativa, mas que enaltecem coisas como “um negro chegou a presidente”, “é um negro com bom aspeto”, “um rapaz que até foi para a universidade e morava num bairro social”…será que é assim tão estranho, para que mereça tamanho destaque?

Se “somos todos iguais”, vamos agir em conformidade com essa igualdade! E a verdade, é que nada poderá espelhar melhor essa mesma igualdade, do que sabermos que não, não somos todos iguais, mas ainda bem que somos diferentes!


Drª Cláudia Ribeiro
O Canto da Psicologia




terça-feira, 22 de março de 2016

Depressão/pequeno almoço...






Nos dias que correm permanece um péssimo hábito: não tomar pequeno-almoço. Se nos adultos isso já é claramente um hábito a alterar, nas crianças, este facto a acontecer, dá direito a um cenário surreal e nem sempre descrito.

A importância desta refeição na diária de qualquer pessoa particularmente nas crianças, já foi objecto  de   vários estudos; numa escola como outra qualquer foi estudada a prevalência de vários distúrbios como consequência do consumo de bebidas energéticas e o impacto da ingestão ou não do pequeno-almoço.

Não vos maço com o estudo e mostro-vos a cereja no topo do bolo: ao não tomar pequeno-almoço existe uma maior incidência de depressão num grupo de mais de 3000 crianças entre os 11 e os 17 anos. Ora veja na figura abaixo.





Fonte: Breakfast and Energy Drink Consumption in Secondary School Children: Breakfast Omission, in Isolation or in Combination with Frequent Energy Drink Use, is Associated with Stress, Anxiety, and Depression Cross-Sectionally, but not at 6-Month Follow-Up; Smith AP, 2016



O estudo reveste-se de algumas limitações mas a tendência é óbvia tanto na depressão como na ansiedade ou stress.


Se possível que esse pequeno-almoço seja uma opção razoável como uma papa de aveia em vez dos usuais cereais de pequeno-almoço que possuem mais açúcar que um refrigerante.


Júlio de Castro Soares



quinta-feira, 17 de março de 2016

Que a felicidade vire rotina...






Felicidade - O Futuro de uma Ilusão?


“Essa felicidade que supomos
(…)
Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos”
(Vicente de Carvalho)


Vivenciar a felicidade parece ser um desejo comum a todos os seres humanos, que tem vindo a ser transversal a todas as épocas históricas. Com efeito, podemos considerar que, desde os primórdios da humanidade, o tema de maior importância subjacente às diversas atitudes do ser humano é a busca pela felicidade. Esta parece ser a força motriz que mobiliza o indivíduo a trabalhar, criar, estabelecer vínculos afetivos, fundando-se como elemento organizador e mobilizador da própria vida. 

 Para muitos autores, a demanda incessante pela felicidade surge como contra-resposta aos desafios inerentes à condição humana, que, por natureza, está exposta a situações de fragilidade, que acarretam sofrimento, dor, decepção e, perante os quais emerge a necessidade de procurar formas de alívio. Ao longo dos tempos, a importância concedida ao tema e os meios pelos quais esta procura foi encetada nas diferentes culturas não foi, naturalmente, a mesma. O século XX introduziu uma nova forma de encarar o bem-estar individual, com repercussões para os dias de hoje. A sociedade de consumo permitiu ao indivíduo a ilusão de uma suposta felicidade, concretizada pelo acesso aos bens materiais, mas que contém em si mesmo um paradoxo: quanto maior é o seu acesso, mais fugaz se torna o prazer, levando, então, a uma compulsão à repetição. 

Somos mais felizes hoje do que antigamente, com todos os progressos materiais e tecnológicos de que dispomos? De acordo com alguns estudos, não existe uma correlação directa entre o crescendo da prosperidade e a sensação de bem-estar. Tudo indica que, pelo contrário, passa a haver um menor retorno em termos de felicidade, quanto maior o acesso ao consumo. Na verdade, o mundo pós-moderno é identificado, em muitos aspectos, por este consumismo e por uma cultura hedonista, pautada pelo desapego nas relações interpessoais e pelo individualismo. É aqui que se instala um estado de insegurança que influi numa procura e num consumo constante, como forma de sustentar a utopia da felicidade. Trata-se, por isso, de uma felicidade mascarada, que escamoteia estados de insatisfação cada vez mais permanentes, onde o tempo se torna um inimigo. Vive-se numa lógica de “contra-relógio” que, em si mesmo, introduz um paradoxo: os sujeitos, cada vez mais ocupados, com uma agenda cheia de conteúdo, mas subjetivamente vazia de sentidos e propósitos estáveis. 

A Saúde Mental será, então, nos dias de hoje, mais do que procurar “o futuro de uma ilusão”, encontrar e fortalecer os recursos internos do indivíduo, acreditando no seu potencial criativo e fortalecendo-o, para que seja o protagonista activo do seu bem-estar.

O Canto da Psicologia,

Dr.ª Joana Alves Ferreira




terça-feira, 15 de março de 2016

A minha droga chamada queijo....









Se perguntar se sabe o que são drogas e a distinção entre drogas leves e pesadas, vai considerar uma pergunta de grau fácil certo? E se a comida entrar nesta categoria?

Bom, já todos ouvimos dizer o quanto a comida pode ser uma droga e já todos também sabemos o quanto isso é verdade mas,  será que sabíamos que o queijo tem químicos que também se encontram nas drogas e que este alimento é um alimento altamente viciante? Pois, isso acredito que não…

Então vejamos, Investigadores da Universidade do Michigan afirmam que o queijo comporta-se como uma droga pesada e garanto-vos que não tem nada a ver com “o peso na consciência” ou na barriga depois de se ter  devorado um Brie ou despejado um pacote de mozarella na lasanha do fim de semana. O queijo tem mesmo um efeito aditivo!

Segundo estes cientistas a caseína, proteína presente em todos os produtos lácteos, activa recetores opioides ligados às adições. O leite apresenta esta proteína; no processo de fabrico do queijo naturalmente esta proteína vai estar mais concentrada; o problema começa logo aí; A caseína, concentrada na maior parte dos queijos, a um nível que vai afectar receptores (opióides) do nosso cérebro causando euforia, uma reacção semelhante à verificada nas drogas pesadas.

Não é a primeira vez que esta proteína, a caseína, aparece ligada a problemas de saúde. O autismo, uma das patologias estudadas a cuja alimentação se dá cada vez mais atenção, mostra bons resultados quando a  diminuição de produtos alimentares onde esta proteína está concentrada faz parte da dieta diária!


Literalmente este queijo está mesmo a cheirar mal...


Júlio de Castro Soares



quinta-feira, 10 de março de 2016

Quando for grande quero ser como o meu pai...









Importância do pai no desenvolvimento da criança



Ao longo do tempo, e de uma forma discreta, o papel da figura paterna tem vindo a passar por importantes transformações, acompanhando o desenvolvimento cultural e social. Cada vez mais se torna evidente a sua grande importância na estruturação psíquica e no desenvolvimento social emocional e cognitivo da criança.

A condição de pai evoluiu, e continua em processo de evolução, deixando cada vez mais este de ser visto apenas como suporte financeiro da família e mentor das grandes decisões. Num passado não tão longínquo assim, a função do pai focava-se essencialmente nas questões educativas e 
de disciplina, tendo por base um modelo frequentemente rígido e repressivo. A interacção entre pai-filho/filha, na maioria das famílias revelava-se parca em termos afetivos, particularmente nos primeiros anos de vida. Ao longo dos últimos anos o pai foi-se tornando mais participativo e emocionalmente presente na vida da criança. O número cada vez maior de mulheres no mercado de trabalho, que conquistam desta forma a sua independência, teve uma grande influência nesta importante transformação do núcleo e organização das famílias que trás, por sua vez, significativas mudanças nas relações entre homens e mulheres, assim como nos papeis parentais.

O pai e a função paterna:

O papel do pai (ou seu representante) e da função paterna no desenvolvimento da criança, quer a nível cognitivo, facilitando a capacidade de aprender, quer a nível emocional e relacional, torna-se, assim, cada vez mais evidente. As representações que um adulto possui da relação com o seu pai, desde os tempos mais precoces, ou seja, desde bebé, refletem-se na forma como este se vê, se sente e se vai relacionar com os outros.

Nos primeiros meses o pai desempenha um importante papel de suporte e reforço da díade mãe-bebé. É fundamental a sua presença no apoio e segurança emocional que proporciona e que será, inevitavelmente, sentido e reconhecido pelo bebé. Actualmente estão ainda a surgir evidências de que a interacção precoce do pai com a criança, inclusive desde o momento do nascimento, parece promover o interesse e o envolvimento de ambos nas seguintes etapas da sua vida. Posteriormente a presença do pai vai permitindo trazer e ensaiar a questão de um terceiro na relação entre a criança e a mãe, alguém que vai interferir, que vai mostrar que se pode estar a três tranquilamente, permitindo ir elaborando e transformando o medo da perda, da rejeição e da exclusão. Ao mesmo tempo que o pai abre esta possibilidade, base de um desenvolvimento social e relacional adequado, a valorização que faz da criança será fundamental para a imagem que esta terá de si própria no futuro. Um pai que investe, valoriza, está presente e se mostra disponível afectivamente está a proporcionar a construção de uma boa auto-estima e de uma personalidade mais flexível e segura. Por outro lado o pai também representa a regra, a firmeza. É necessário que seja sentido como forte, um bom exemplo de autoridade, mas também tolerante, flexível e compreensivo. Desta forma a criança interiorizará com mais facilidade a diferença entre o que deve ou não fazer, assim como o modo de agir consigo perante o erro, a infracção e a falha. Pais muito autoritários, inflexíveis e agressivos poderão estar na base de crianças que desenvolvam comportamentos desviantes (como forma de protesto ou desafio à autoridade) ou, pelo contrário, crianças muito auto-críticas, que se castigam e desvalorizam constantemente, o que terá efeitos devastadores para a sua auto-estima.

A identificação da criança com o universo do seu pai dá-se por meio da experiência da interação, quando ele aparece como interdito na relação entre mãe-filho/filha e a sua presença marca, simbolicamente, a dinâmica de rompimento necessária na infância. A presença do pai poderá facilitar, ou dificultar se não for adequada, à criança a passagem do mundo da família para o da sociedade. A ausência ou desinvestimento paterno tem potencial para gerar conflitos no desenvolvimento psicológico e cognitivo da criança, bem como influenciar o desenvolvimento de distúrbios de comportamento.

O vazio promovido pela ausência do pai, ou pelo seu desinvestimento na criança, é formado pela fantasia que esta faz (perante a sua falta) de não ser verdadeiramente amada ou ter suficiente valor para ser desejada, porque se o fosse o seu pai mostrar-se-ia presente e interessado. Esta fantasia infantil, para além de promover a auto-desvalorização, promove ainda sentimentos de culpa na criança por esta acreditar que se o pai não aparece, não existe ou não a procura é porque ela é má, não merecedora de “coisas” boas. Como se o pai refletisse uma parte do valor da criança, fosse o “medidor” desse valor. Um valor que ela tanto procura para se poder ver e sentir a si própria.

“Eu quero ser como o meu pai…”  frase tantas vezes dita pelos meninos significa, eu quero sentir-me amado, valorizado, gostado pelo meu pai para poder também vir a gostar de mim. Quero poder identificar-me com ele e ver que tipo de homem poderei vir a ser. Não será estranho que as meninas queiram ser as princesas do seu pai, base de uma dinâmica um pouco diferente mas que na sua base tem um significado idêntico, eu quero ser desejada, amada, valorizada pelo meu pai para poder gostar de mim própria e ter desta forma uma ideia como vou ou não permitir que os outros homens me tratem no futuro.


As implicações da representação da figura paterna são inúmeras, complexas e importantíssimas na vida emocional da criança, menino ou menina. A par do indispensável papel da mãe, o pai  é um pilar fundamental no desenvolvimento de qualquer criança. O crescimento ao lado de pais afetivos, firmes mas que mostram apoio incondicional, conforto, proteção e tolerância permite desenvolver estruturas psíquicas mais fortes, flexíveis e seguras para enfrentar os vários obstáculos da vida, o que dá conta de uma robusta vida emocional e saúde mental.

Drª Dina Cardoso
O Canto da Psicologia



terça-feira, 8 de março de 2016

Um ladrão chamado "stress"....








Ladrões

Numa  época em que o título deste artigo remete para “quem nós sabemos” (e não é a personagem do Harry Potter) temos, também nós,  pequenos “gatunos” no nosso corpo.
Esta era em que tudo gira à volta da crise e à falta de dinheiro atribuído aos “quem nós sabemos” , acaba por originar, enquanto consequência na nossa vida, um foco de grande stress.

O stress não é só “frescura” do século XXI mas sim uma realidade bem mais grave do que que pensamos  e bem mais frequente do que estimamos!

O stress está na origem de vários processo fisiológicos que podem ter consequências nefastas:

-  Desregulação do apetite
-  Insónias
-  Debilidade do sistema imunitário
-  Alterações de humor
-  Aumento do peso
-  Limitação de capacidades cognitivas

Parece um argumento de Hitchcock mas é bem real.

Há várias formas de combater este "ladrão" e uma das principais passa naturalmente pela psicologia através de um processo terapêutico às vezes mais longo do que é expectável.

No entanto, mais uma vez, acentuo a importância da Nutrição e a sua abordagem na orientação para a obtenção e cuidado numa alimentação saudável, com baixa carga glicémica, evitando açucares e farinhas refinadas e de  uma boa dose de frutas e vegetais de modo a conseguir um aporte de magnésio, vitaminas do Complexo B e E, assim como,  um bom suporte de gorduras omega-3 - amêndoas, nozes, peixes gordos ou côco -  que conduzem a um bom equilíbrio mental e servem de suporte  às agressões do dia-a-dia.

Pare! Encare as tarefas de hoje como exequíveis e serão todas bem sucedidas, beba um chá de camomila para relaxar, um bom punhado de amêndoas e mãos ao trabalho! 

Eu vou fazer o mesmo...

Júlio de Castro Soares






quinta-feira, 3 de março de 2016

Uma questão de recomeços......







O Momento presente!

Estamos em Março no tempo dos recomeços, dos inícios, da ressurreição. A primavera já está à espreita e nós ansiamos por ela. Todos precisamos de recomeços. Todos os fins nos levam para novos caminhos, numa continuidade que caracteriza a força da vida, nesta força nascem as flores, a relva, os passarinhos voltam a voar e a cantar, assim como, o sol brilha anunciando o tão esperado fim do Inverno.

O presente, por vezes, foge das nossas mãos ora estamos concentrados no futuro, ora num passado que não volta mais. Nesta roda-viva esquecemos do momento presente, do aqui e do agora, tudo se faz e se desenha neste momento e basta, um momento, para que tudo mude. As relações, constroem-se no agora, não vivem do passado nem de um futuro possível, tudo acontece nos encontros, nos quotidianos, no aqui.

Este mês é, igualmente, um mês de esperança renovada, é o tempo de valorizarmos as relações com os mais significativos, de passarmos mais tempo de qualidade com os outros que amamos, para desfrutarmos da companhia de quem gostamos. Estes encontros são intersubjectivos na medida em que sentimos os outros, procuramos interpretar as suas intenções e partilhamos os nossos estados emocionais. Esta partilha amorosa dá-nos alento, alegria, sentimento de pertença e de que somos compreendidos genuinamente. Tudo na vida necessita de ser nutrido, as nossas relações, as nossas potencialidades, os nossos projectos, os sonhos que co-construimos com os outros. As reuniões familiares permitem criar o aconchego para que cada um se sinta seguro para almejar mais e dar mais de si.

Neste sentido, igualmente, na psicoterapia é criado um ambiente de segurança em que o paciente pode explorar as suas potencialidades uma vez que se sente banhado numa genuína aceitação e respeito. Neste contexto e no presente, vai desbloquear padrões viciosos, vai tornando o seu pensamento mais flexível e aceitar mais o seu sofrimento, na medida em que ele constitui uma forma de crescimento e de sabedoria.
Mas no que diz respeito ao presente, as crianças, são verdadeiros especialistas, elas ensinam muito aos adultos o que é viver cada dia com magia. Hoje vi uma criança que ria, ria, sem preocupações o seu sorriso preenchia tudo de luz! Elas lembram que devemos  focar a nossa energia naquilo que é realmente importante, o viver o momento presente! Ensinam-nos a apreciar o que é genuíno na vida: os sentimentos, as relações, a alegria!

Alguns adultos perdem completamente estas características e usam máscaras, até nas relações íntimas, sempre à espera de as utilizarem como escudos para evitarem, a todo custo, expressarem o que realmente sentem.
Assim perde-se o que vale a pena, a espontaneidade, o viver cada momento com sabedoria e fluidez! Vamos Re-aprender com os bebés e com as crianças, afinal de contas não somos só nós que as "ensinamos"…


Drª. Mafalda Leite Borges
O Canto da Psicologia


terça-feira, 1 de março de 2016

São pérolas senhor, são pérolas...







Ostras e pérolas

A criatividade ou a imaginação é-nos dito como algo que nasce connosco ou que nos é presenteado à nascença e digno de predestinados.Os restantes terão de se resignar à falta dela... Não é bem assim.

Quando se pega numa caneta, ou melhor num teclado e nos é pedido um texto, palavras não é apenas o que precisamos mas também de bom-senso, alegria, emoção e conhecimento. Se juntarmos a isto imaginação fora da caixa, perfeito.

Se isto parece uma divagação quase narcisista, pense em ostras.

Piorou?
A ostra vai de encontro a este assunto.

Se infelizmente não encontramos pérolas dentro delas não é azar é mesmo miopia.

A ostra encerra nela própria propriedades quase mágicas!

Vou de mal a pior não é?

Vejamos, a ostra é talvez o alimento mais rico em zinco. Com níveis deficitários de zinco:

- Podemos prejudicar a assimilação de vitamina A - a parte do míope vem daí

-  Afectamos o sistema imunitário - já viu criativos excêntricos com falta de energia?

-  Diminuímos a tolerância ao açúcar no sangue – este se não vai para o cérebro pára de funcionar mesmo.

-  Prejudicamos a nossa memória – por isso vou buscar ao baú das memórias estes assuntos...

A pérola maior de todas, a ostra é um afrodisíaco natural, adivinhe lá porquê?


São pérolas senhor, são pérolas.


Júlio de Castro Soares
https://m.facebook.com/nutricionistajuliodecastrosoares/