Importância do pai no desenvolvimento da
criança
Ao longo do tempo, e de uma forma discreta, o papel da figura
paterna tem vindo a passar por importantes transformações, acompanhando o desenvolvimento cultural e social. Cada
vez mais se torna evidente a sua grande importância na estruturação
psíquica e no
desenvolvimento social emocional e cognitivo da criança.
A condição
de pai evoluiu, e continua em processo de evolução, deixando cada vez mais este de ser visto apenas como
suporte financeiro da família
e mentor das grandes decisões.
Num passado não tão longínquo assim, a função
do pai focava-se essencialmente nas questões educativas e
de disciplina, tendo por base um modelo
frequentemente rígido e
repressivo. A interacção
entre pai-filho/filha, na maioria das famílias revelava-se parca em termos afetivos, particularmente
nos primeiros anos de vida. Ao longo dos últimos anos o pai foi-se tornando mais participativo e emocionalmente
presente na vida da criança.
O número cada vez maior de
mulheres no mercado de trabalho, que conquistam desta forma a sua independência, teve uma grande influência nesta importante
transformação do núcleo e organização das famílias que trás, por sua vez, significativas
mudanças nas relações entre homens e mulheres,
assim como nos papeis parentais.
O pai e a função
paterna:
O papel do pai (ou seu representante) e da função paterna no desenvolvimento
da criança, quer a nível cognitivo, facilitando a
capacidade de aprender, quer a nível
emocional e relacional, torna-se, assim, cada vez mais evidente. As representações que um adulto possui da
relação com o seu pai,
desde os tempos mais precoces, ou seja, desde bebé, refletem-se na forma como este se vê, se sente e se vai relacionar com os outros.
Nos primeiros meses o pai desempenha um importante papel de
suporte e reforço da díade mãe-bebé.
É fundamental a sua presença no apoio e segurança emocional que proporciona e
que será, inevitavelmente,
sentido e reconhecido pelo bebé.
Actualmente estão ainda a
surgir evidências de que a
interacção precoce do pai
com a criança, inclusive
desde o momento do nascimento, parece promover o interesse e o envolvimento de
ambos nas seguintes etapas da sua vida. Posteriormente a presença do pai vai permitindo trazer
e ensaiar a questão de um
terceiro na relação entre
a criança e a mãe, alguém que vai interferir, que vai mostrar que se pode estar a três tranquilamente, permitindo ir
elaborando e transformando o medo da perda, da rejeição e da exclusão.
Ao mesmo tempo que o pai abre esta possibilidade, base de um desenvolvimento
social e relacional adequado, a valorização que faz da criança
será fundamental para a
imagem que esta terá de si
própria no futuro. Um pai
que investe, valoriza, está presente
e se mostra disponível
afectivamente está a
proporcionar a construção
de uma boa auto-estima e de uma personalidade mais flexível e segura. Por outro lado o pai também representa a regra, a
firmeza. É necessário que seja sentido como
forte, um bom exemplo de autoridade, mas também tolerante, flexível
e compreensivo. Desta forma a criança
interiorizará com mais
facilidade a diferença
entre o que deve ou não
fazer, assim como o modo de agir consigo perante o erro, a infracção e a falha. Pais muito
autoritários, inflexíveis e agressivos poderão estar na base de crianças que desenvolvam
comportamentos desviantes (como forma de protesto ou desafio à autoridade) ou, pelo contrário, crianças muito auto-críticas, que se castigam e
desvalorizam constantemente, o que terá
efeitos devastadores para a sua auto-estima.
A identificação
da criança com o universo
do seu pai dá-se por meio
da experiência da interação,
quando ele aparece como interdito na relação
entre mãe-filho/filha
e a sua presença marca,
simbolicamente, a dinâmica
de rompimento necessária
na infância. A presença do pai poderá facilitar, ou dificultar se não for adequada, à criança a passagem do mundo da família para o da sociedade. A ausência ou
desinvestimento paterno tem potencial para gerar conflitos no desenvolvimento
psicológico e cognitivo da
criança, bem como
influenciar o desenvolvimento de distúrbios de comportamento.
O vazio promovido pela ausência do pai, ou pelo seu desinvestimento na criança, é formado pela fantasia que esta faz (perante a sua falta) de
não ser verdadeiramente
amada ou ter suficiente valor para ser desejada, porque se o fosse o seu pai
mostrar-se-ia presente e interessado. Esta fantasia infantil, para além de promover a auto-desvalorização, promove ainda sentimentos
de culpa na criança por
esta acreditar que se o pai não
aparece, não existe ou não a procura é porque ela é má, não
merecedora de “coisas” boas. Como se o pai refletisse
uma parte do valor da criança,
fosse o “medidor” desse valor. Um valor que ela
tanto procura para se poder ver e sentir a si própria.
“Eu
quero ser como o meu pai…” frase tantas vezes dita pelos meninos
significa, eu quero sentir-me amado, valorizado, gostado pelo meu pai para
poder também vir a gostar
de mim. Quero poder identificar-me com ele e ver que tipo de homem poderei vir
a ser. Não será estranho que as meninas
queiram ser as princesas do seu pai, base de uma dinâmica um pouco diferente mas que na sua base tem um
significado idêntico, eu
quero ser desejada, amada, valorizada pelo meu pai para poder gostar de mim própria e ter desta forma uma
ideia como vou ou não
permitir que os outros homens me tratem no futuro.
As implicações
da representação da figura
paterna são inúmeras, complexas e importantíssimas na vida emocional da
criança, menino ou menina.
A par do indispensável
papel da mãe, o pai é um pilar fundamental no
desenvolvimento de qualquer criança.
O crescimento ao lado de pais afetivos, firmes mas que mostram apoio
incondicional, conforto, proteção
e tolerância permite
desenvolver estruturas psíquicas
mais fortes, flexíveis e
seguras para enfrentar os vários
obstáculos da vida, o que
dá conta de uma robusta
vida emocional e saúde
mental.
Drª Dina Cardoso
O Canto da Psicologia
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