Terá o Natal os dias contados?
Pela primeira vez neste espaço damos “voz” e
tempo a um testemunho que, infelizmente, poderia ter muitas assinaturas de
autor. Não fosse esta uma perspectiva tão realista que tantas vezes nos invade
o espaço terapêutico, e representaria apenas uma história de zanga e frustração
individual contra um Natal que já nem no Natal existe. Ficou confuso? Mas para
a cabeça de muitos dos nossos adolescentes está claro como água.
As paredes de colégios e escolas que parecem
de brincar enchem-se de desenhos e postais feitos à mão, com árvores, pais
natal e renas, mais ou menos fantasiados mas criados ao sabor de uma magia que
a infância tão bem conhece emanam felicidade e cor. Já nos lares e centros de
dia contam-se os dias para as visitas especiais ou até regressos a casa e à família
que se junta e reúne em convívio caloroso. Em cada casa nasce uma árvore,
pendura-se um pai natal na janela, acendem-se luzes e há aquela agitação e
confusão, de quem ainda tem tanto para fazer na escassez de um tempo que não pára.
E naquele quarto? Aquele ali…com a porta quase sempre fechada, com decoração
contemporânea entre o estilo desleixo e mundo secreto, com toques de caos e
pormenores de vanguarda. Como será o Natal visto dali?
O Natal tem os dias contados
Não me lembro do dia em que me apercebi que o
Pai Natal não existia mas, por não ter a mínima consciência de que estava apenas a crescer, não foi
assim tão penoso. Afinal, o Natal e as prendas existiam na mesma sem o Pai
Natal, certo? Estava tudo bem.
À medida que os anos iam passando, cada vez menos eram as prendas com o meu nome debaixo do árvore e, embora agora, com 17 anos, eu perceba que há coisas que o dinheiro não compre, na altura, custava-me perceber o que se passava. Agora sei que nada demais: estava a crescer e o Natal, como eu o conhecia, tinha os dias contados.
Sou consciente agora de que a ideia que me incutiram desde pequena do Natal era uma ideia utópica, muito cor-de-rosa. Descobri que o Natal afinal não é só prendas e bolos - mas antes fosse! Pior, afinal são falsos sorrisos e mensagens predefinidas. Não quero crer que o Natal seja apenas o ato de escrever letras num postal que automaticamente se organizam em “Boas Festas” sem que saibamos o que isso significa sequer ou que o sintamos realmente. Mas parece que hoje em dia, a par do capitalismo desregrado nessa altura, o Natal é pouco mais que isto.
Cada vez mais me vou apercebendo que o Natal, por muito que os reclames digam que é para a família, é para os adultos e para as crianças. Porque é fácil escolher que prenda lhes dar; porque é fácil agradá-las; porque não o questionam, ao Natal; porque é fácil arrancar-lhes um sorriso ou elas a eles com as suas reações hilariantes, por vezes, às prendas que recebem. E é tão bonito vê-las felizes, não é?
Quanto a mim, já ninguém me pergunta o que quero para o Natal desde os 14 anos.
“Toma lá 20 euros para comprares uma prendinha para ti.” como se já não me conhecessem ou como se já não valesse a pena o esforço porque eu não vou gritar ou correr pela sala porque recebi o brinquedo que tanto pedi à minha família o ano inteiro. Mas o dinheiro não compra tudo infelizmente. Nesta altura, esperam do dinheiro a cola que junta as pecinhas do Natal que perdi há alguns anos.
Já ninguém fica acordado até à meia-noite lá em casa. O pequenino abre as suas prendas mais cedo porque não se aguenta até tão tarde, os adultos não têm muito que abrir - chocolates e pouco mais; nem eles sabem o que se oferecer entre eles porque andam tão ocupados o ano inteiro, que cada vez se conhecem menos. Já eu, recebo os meus postais juntamente com algum dinheiro em envelopes e vou dormir. Não pensem que não fico agradecida pelo que me dão porque fico. Mas a verdade é que existem outros 364 dias no ano em que eu também existo. E nessas centenas de dias, reparo que na rua as pessoas ignoram-se como se já não valesse a pena sorrir uns para os outros e que os meus primos e tios do estrangeiro não me ligam a desejar o que quer que seja.
Contam-se os dias para o Natal; abrem-se as janelinhas e comem-se os chocolates dos calendários de advento. Luzinhas e enfeites em todo o lado. De repente, somos todos amigos do próximo: lá damos o troco para a instituição de caridade e o arroz para o banco alimentar porque sim, porque é Natal e é automático. Pena que não se pense assim o ano inteiro.
À medida que os anos iam passando, cada vez menos eram as prendas com o meu nome debaixo do árvore e, embora agora, com 17 anos, eu perceba que há coisas que o dinheiro não compre, na altura, custava-me perceber o que se passava. Agora sei que nada demais: estava a crescer e o Natal, como eu o conhecia, tinha os dias contados.
Sou consciente agora de que a ideia que me incutiram desde pequena do Natal era uma ideia utópica, muito cor-de-rosa. Descobri que o Natal afinal não é só prendas e bolos - mas antes fosse! Pior, afinal são falsos sorrisos e mensagens predefinidas. Não quero crer que o Natal seja apenas o ato de escrever letras num postal que automaticamente se organizam em “Boas Festas” sem que saibamos o que isso significa sequer ou que o sintamos realmente. Mas parece que hoje em dia, a par do capitalismo desregrado nessa altura, o Natal é pouco mais que isto.
Cada vez mais me vou apercebendo que o Natal, por muito que os reclames digam que é para a família, é para os adultos e para as crianças. Porque é fácil escolher que prenda lhes dar; porque é fácil agradá-las; porque não o questionam, ao Natal; porque é fácil arrancar-lhes um sorriso ou elas a eles com as suas reações hilariantes, por vezes, às prendas que recebem. E é tão bonito vê-las felizes, não é?
Quanto a mim, já ninguém me pergunta o que quero para o Natal desde os 14 anos.
“Toma lá 20 euros para comprares uma prendinha para ti.” como se já não me conhecessem ou como se já não valesse a pena o esforço porque eu não vou gritar ou correr pela sala porque recebi o brinquedo que tanto pedi à minha família o ano inteiro. Mas o dinheiro não compra tudo infelizmente. Nesta altura, esperam do dinheiro a cola que junta as pecinhas do Natal que perdi há alguns anos.
Já ninguém fica acordado até à meia-noite lá em casa. O pequenino abre as suas prendas mais cedo porque não se aguenta até tão tarde, os adultos não têm muito que abrir - chocolates e pouco mais; nem eles sabem o que se oferecer entre eles porque andam tão ocupados o ano inteiro, que cada vez se conhecem menos. Já eu, recebo os meus postais juntamente com algum dinheiro em envelopes e vou dormir. Não pensem que não fico agradecida pelo que me dão porque fico. Mas a verdade é que existem outros 364 dias no ano em que eu também existo. E nessas centenas de dias, reparo que na rua as pessoas ignoram-se como se já não valesse a pena sorrir uns para os outros e que os meus primos e tios do estrangeiro não me ligam a desejar o que quer que seja.
Contam-se os dias para o Natal; abrem-se as janelinhas e comem-se os chocolates dos calendários de advento. Luzinhas e enfeites em todo o lado. De repente, somos todos amigos do próximo: lá damos o troco para a instituição de caridade e o arroz para o banco alimentar porque sim, porque é Natal e é automático. Pena que não se pense assim o ano inteiro.
Os adultos passam um ano inteiro ocupados com
os seus problemas e só no Natal se lembram de nós, os do meio. Pena que só
se lembrem dos nossos
nomes e pouco mais.
O Natal já não é o que era.
E, para ser sincera, eu nem gosto assim tanto de bacalhau...
Drª Joana Cloetens ( em parceria com uma das várias assinaturas possiveis de autor)
O Canto da Psicologia