quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Que trará este "novo" Setembro?

 


Nunca o regresso do pós férias foi tão profundamente irresoluto quanto este que se apresenta à nossa frente.

Há dois momentos na vida em que, geralmente, usamos em  jeito de balanço: quando regressamos de férias  e, no final ou, no início de um novo ano.

No primeiro momento, regresso de férias,  relembramos os planos que se concretizaram ou, nem por isso, visualizamos os novos desafios que se apresentam  para mais um ano laboral , regozijamo-nos com as conquistas escolares dos nossos filhos ,receosos, criamos expectativas para o ano escolar que se inicia, olhamos, com respeito, o sentir preocupante  inerente a qualquer  um destes aspectos mas, sobretudo, encaramos num registo pragmático de resolução do que ficou pendente , do que virá por aí , sempre de  peito aberto às provocações vivenciais que irão surgir ao longo de mais 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 48 segundos, aproximadamente ,até às próximas férias.

No segundo momento, final ou início de um ano novo, deitamos um olhar reflexivo ao ano que passou com uma certa nostalgia ou ânsia que ele termine  e pedimos um ano novo cheio de saúde, trabalho, dinheiro e muito amor e se não puder ser melhor, que  pelo menos “  seja igual ao que termine que já não é muito mau…” ( a partir de agora, faremos mais um pedido: que não venha com o novo ano um outro vírus por aí…)

E este ano? Agora que regressamos de férias, à rotina sazonal expectável,  que fazer com este presente onde não nos é permitido, sequer, pensar um futuro, fazer planos, delinear estratégias, pendentes que estamos todos de resoluções que não nossas?

Governo prepara endurecimento das medidas de proteção - Diário de Noticias - 27/08/2020

Nos próximos 15 dias tudo vai ficar na mesma, no que toca a regras de segurança sanitária, mas a meio de setembro todo o país passará para um nível mais elevado de proteção.

“O Governo está a preparar um endurecimento das medidas de proteção sanitária para daqui a duas semanas, passando todo o país de "situação de alerta" para "situação de contingência", o mais 'grave' dos três previstos na Lei de Bases de Proteção Civil. Já Lisboa manter-se-á na situação em que atualmente está - situação de contingência -, significando isto também que o grau de risco avaliado será igual em todo o país.

Não vamos, por aqui, voltar a repetir o que temos estado a ouvir ,há meses,  sobre o que é preciso fazer, que há uma nova realidade, que tudo vai ficar bem, que vamos sair disto muito melhores pessoas. O princípio da realidade que se impõe, por agora, é de um total desconhecimento, de uma total incerteza regada de angústia, ansiedade e medo, muito medo, não há como negar. Sabemos muito  mais do vírus mas, ele sabe muito mais de nós...

Que dizer ou fazer ,nestas alturas ,quando o amanhã nos parece incerto, a segurança frágil na continuidade do posto de trabalho impera, teme-se todos os dias pela saúde, continua-se a olhar o outro como o inimigo público número um, não se convive com a família totalmente à vontade, teme-se o regresso à escola dos nossos filhos, receia-se o retorno aos postos de trabalho, espera-se, com muita expectativa , pelas  medidas que por aí vem abraçar o meio de Setembro com a segunda vaga à vista, que dizer ou fazer?

Como diz a minha mãe: “ um dia de cada vez filha”!

Como digo enquanto mãe: “ um dia de cada vez filha”!

Permita-me, a si que me lê desse lado, pegar no título de um livro do escritor Miguel Esteves Cardoso e, com todo o respeito,  rescrevê-lo: A espera é f%d!&a…

Mas é o que nos resta…

 

Drª Ana de Ornelas

Directora Geral do Projecto

O Canto da Psicologia


 

 

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Rotinas chamadas "exercício físico"...

 


Com o fim das férias, voltam a rotinas e por conseguinte os níveis de stress e ansiedade  aumentam. A azáfama em que somos colocados deixam-nos muitas vezes sem tempo para o que realmente importa, nós e o nosso bem-estar físico e mental.

Uma das melhores formas para começar a diminuir os níveis de ansiedade, melhorar a gestão do stress e aumentar a auto-estima, será começar a fazer exercício físico. Aqui é importante que a prática de exercício físico seja prazerosa e vá de encontro também ao gosto pessoal, porque há que ter em conta o contexto, especificidades individuais, crenças, etc.

Engane-se se pensar que só o treino em contexto de ginásio será o mais adequado para si, procure algo que o motive de verdade (correr, jogar futebol, andar de bicicleta, etc) e comece gradualmente a implementar o hábito de se mexer mais e melhor. Desta forma, melhorará não só a vitalidade como reduzirá stress e ansiedade.

Bons Treinos

Hugo Silva

Instagram: hugo_silva_coach

-Licenciatura Educação Física/Especialização Treino Personalizado
-Pós-Graduação em Marketing do Fitness 
-Pós-Graduando em Strength and Conditioning
-Director Técnico ginásio Lisboa Racket Centre


quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Pelos caminhos de portugal vi um Psicólogo sem igual...

 


Num abrir e fechar de olhos, estamos a caminho do fim de Agosto… ali, ao virar da esquina, começa o Setembro, o regresso ao trabalho, às aulas mas, este ano, com uma nuance que nos reserva os planos de um quase presente sem futuro perante um registo contaminado por um vírus.

No ar, ainda paira o desejo de um verão como o de 2019 feito de festas populares, alegria, convívio, concertos, imagens que proliferaram pelas redes sociais de gente de férias, no Algarve, Caraíbas, Grécia, Itália, Espanha, um rol de países “felizes” ou, de gente feliz, com saudade e nostalgia. Este ano, não!

Este ano, 2020, um ano que prometia muita coisa extraordinariamente boa (segunda as previsões horoscopas)  , reserva-se a um sem fim de nada, enfeitado por máscaras que retiram sorrisos,  olhares e afectos, reduzido a uma imensidão de incertezas  cobertas  de medo mas,conseguindo  sobreviver…

E de repente, perante este desamparo de coisa segura, de confiança destrutível, de medo de voar para outros “tempos e marés” a maior parte de nós, em tempo de férias, queda-se em casa, no País, num registo de confiança (?) e segurança(?). E o que descobrimos?  Um País absolutamente maravilhoso, com cantos e recantos prontos a serem visitados, conquistados, idolatrados , reconquistado a uma ignorância alimentada pelo excesso de estímulo “ na galinha da vizinha”… e, espanto dos espantos:  que coisas maravilhosas  descobrimos de norte a sul de um país à beira mar plantado, impregnado de história reconhecida em cada monumento, paisagem, céu, vegetação e um sem fim de coisas absolutamente únicas, resquícios de um tempo e de um povo. Isso somos nós! E este ano, nas redes sociais, nos influencers da moda e afins, parece que descobriram o invisível tornado visível de um país que, por acaso, é só o nosso...

Perguntam-se agora por aí, quem nos lê, mas o que tem isto a ver  com o "mundo interno" d' O  Canto da Psicologia? Aparentemente nada mas, afinal, tem tudo…

Repetimos constantemente, no nosso Canto, a importância de um processo terapêutico em tempo de "paz interior"; a quem nos ouve e lê, sensibilizamos diariamente a procura de um espaço como este onde só estamos "eu" e alguém que, através de questões  convide ao pensamento, e ensine a exercitar o  pensar  de maneira a que a estrutura interna se torne firme e sólida; e, sobretudo, sensibilizamos a procura de algo em que, basicamente e aparentemente, naquele momento, não é um bem necessário mas, um necessário bem.

No entanto, e de uma maneira compreensível e aceitável , só quando um vírus vil,  infame ( dor, tristeza, perda, desamparo, abandono,esgotamento, angústia, ansiedade) invade o interno de cada um de nós deixando-nos confinados a um sentir  petrificante isento de rasuras possíveis de serem abertas tornando imperativo  e urgente  a necessidade de procurar ajuda, é que a  procuramos, tal GPS de guia pelas estradas de um país, permitindo-nos encontrar cantos e recantos de nós, petrificados e enregelados pelas vivências de anos, desespero de “séculos” e angústias de tempos perdidos num tempo que é só nosso.

E aí, aí, descobrimos a beleza, a deliciosa essência de espaços internos nossos, rodeados de afectos, pincelados de emoções coloridas, ávidos de serem libertados de crenças, juízos de valores e criticas, e que nos permitem a liberdade de sermos verdadeiramente NÓS. Nesta estrada, podemos ter lombas que nos icem de maneira desamparada, buracos que nos  retiram, temporariamente ,o chão , pedras que empanquem os passos mas, seremos nós, cientes do potencial que nos define e permite continuar o caminho admirando, passo a passo aquilo que o mundo me vai dando e que eu vou permitindo aceitar ou recusar, sem medos e culpas. ISTO É O ENCANTO DA TERAPIA!

Será isto ser feliz? Pois, não sei mas, quando o souber, partilho! 


Drª Ana de Ornelas

Directora Geral do Projecto

O Canto da Psicologia

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Quando a perda invade o espaço terapêutico...



“Não tenho medo da morte. Só não quero estar presente quando ela acontecer.”

                                                                                                         Woody Allen

Drª. O meu pai partiu hoje ao início da tarde…que tristeza tão profunda…” 

Se por um lado, no desempenho da nossa profissão, vamos, com orgulho profissional, assistindo ao crescimento dos nossos pacientes, há momentos em que a empatia se instala de tal forma e, num poder descontrolado, apodera-se e embebeda-nos em momentos de sofrimento imenso onde a dor contamina e é sentida de forma intensa quase como se fosse  nossa; valha-nos a experiência, a supervisão e as nossas ferramentas de trabalho que nos permitem um distanciamento suficientemente seguro de maneira a sermos capazes de ajudar, conter e suportar o sofrimento desmedido pela perda sentida por  quem está à nossa frente, derrubada por uma tristeza imensurável. É inimaginável  este cenário; também somos humanos e trazemos connosco, às costas, a nossa própria história e também as nossas perdas mas, foi para isto e muito mais que nos fomos preparando enquanto profissionais de saúde mental  e por isso, capazes de fazer o nosso trabalho mesmo nestas circunstâncias tão, mas tão difíceis …

Ao longo dos meus anos de prática, já acompanhei dois processos lancinantes de espera da morte; um, enquadrado no percurso normal da vida,  e outro, absolutamente antinatural onde se trabalhou durante um ano e meio,   a espera inevitável da morte de um filho, na primeira infância.

Alguém me disse, um dia, de que as dores são incomparáveis e são, efectivamente; e estas, as dores da perda pela morte prematura ou tardia, são incontornáveis e tem o seu tempo para serem vividas. O Professor Coimbra de Matos, numa supervisão, dizia: “ O luto de um filho nunca se faz; vai-se aprendendo a viver de saudade” ; Rose Kennedy escreveu um dia:” Diz-se que o tempo cura todas as feridas. Eu não concordo. As feridas ficam. Com o tempo, a fim de proteger a sua sanidade, a mente cobre as feridas e a dor diminui, mas nunca desaparece”.

Também eu passei, há uns anos, pela morte do meu pai. Esperada e pela doença degenerativa da qual sofria a certa altura, até “desejada”, a despedida era feita a cada visita, tal a vontade que o seu sofrimento terminasse mas, perante a derradeira impossibilidade de o trazer novamente à vida com um simples sopro de amor, sucumbi à dor lacinante de me tornar órfã de pai; valeu-me a terapia onde houve dias em que o som era só o do meu choro, do meu lamento, da minha tristeza profunda e incapacidade de lidar com o meu novo estatuto, o de “órfã de pai”.

Apesar de ter tido tempo para me ir preparando ( será que alguém consegue estar verdadeiramente preparado para tal?) assistiram-me as cinco fases de luto: negação, revolta, negociação , depressão e aceitação; retirei-me temporariamente da presença dos meus pacientes e mais tarde, quando regressei , cuidei para que, enquanto eu não tivesse este meu luto resolvido, não recebesse ninguém em consulta que estivesse igualmente a passar por um processo de luto: eu não estaria ainda  preparada para o ou, a acompanhar. A vida, entretanto, quando achou que assim o devia e que eu aguentaria,  foi-me pondo à prova pelos casos que fui abraçando e dei por mim, serena,  a trabalhar lutos com a saudade por companhia e com a empatia  em absoluta sintonia.

 E ontem, recebi esta mensagem! Já esperávamos! Trabalhámos ao longo destes últimos dois meses esta realidade possível mas tão impossível ao mesmo tempo de ser pensada! Com momentos difíceis e terrivelmente dolorosos, a inevitabilidade deste fecho de vida foi-nos colocando a ambas e em cada uma de maneira diferente, face a face com a morte;

Entre estes factos da vida, a morte é o mais evidente, o mais intuitivamente palpável. Desde cedo, bem mais cedo do que muitas vezes se julga, compreendemos que a morte há-de chegar e que não há escapatória (…)

(…) Há medida que envelhecemos, aprendemos a não pensar na morte ; distraímo-nos; transformamo-la em algo positivo; negamo-la com mitos que nos sustentam; esforçamo-nos por alcançar a imortalidade através de obras imperecíveis (…)

(… Contudo, existe outra via – uma tradição antiga, que se aplica à psicoterapia- , que nos ensina que a perfeita consciência da morte amadurece o nosso pensamento e enriquece a nossa vida”

A Psicologia do Amor

Irvin D. Yalom

Respondi à mensagem da mesma forma que me ouvi, quando a li e que achei importante fazê-lo : “ Só me resta relembrar-lhe o que ao longo deste tempo temos tantas vezes dito em sessão: só morre quem é esquecido e o seu pai tem um lugar perene no seu coração”

Agarro-me à frase inicial de Woddy Allen e transformo-a segundo a minha existência:

“Não tenho medo de trabalhar a inevitabilidade da morte. Só não quero estar presente quando ela acontecer.”


Drª Ana de Ornelas

Directora Geral do Projecto 

O Canto da Psicologia




terça-feira, 11 de agosto de 2020

O sono, as férias e o peso...

 


Tempo de férias, mais tempo para o lazer, para o ócio e por consequência mais tempo para recuperar horas de sono. A falta de horas de sono, além de graves consequências ao nível da saúde, pode prejudicar a manutenção de um peso saudável. Estudos recentes, testaram 2 grupos de pessoas durante várias semanas. Um grupo seguiu um plano alimentar e sono adequados (média 7 horas) e outro grupo com dieta mas com restrição de horas de sono (média 5 horas).

Os resultados foram claros, houve uma diminuição do peso corporal semelhante em ambos os grupos, mas no grupo com restrição de horas de sono a perda de peso deveu-se em grande medida (mais de 60%) à diminuição da massa magra, ou seja, a massa gorda quase não se alterou. Houve também um aumento de apetite e fome no grupo com restrição de horas de sono, uma diminuição forte do metabolismo basal e perda de gordura em repouso.

Concluindo que, além de uma dieta e treino regular, o nosso organismo precisa durante todo o ano de horas adequadas de sono, sendo fundamental criar o hábito de dormir a horas regulares durante o período de trabalho ou no caso dos mais novos, durante o período escolar.

 

Bons treinos

Hugo Silva

Instagram: hugo_silva_coach

-Licenciatura Educação Física/Especialização Treino Personalizado
-Pós-Graduação em Marketing do Fitness 
-Pós-Graduando em Strength and Conditioning
-Director Técnico ginásio Lisboa Racket Centre



quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Positividade Tóxica...






"Não me devo sentir deprimido porque sou um profissional da linha da frente". “Não tenho o direito a queixar-me”. “Tenho que ser produtivo”. “Devo apenas sentir-me grato por ter um teto e comida”

 

 Existe uma onda de positividade que é imposta como se a única forma de estar fosse ver tudo positivo, mesmo quando existem desafios difíceis na vida. É necessário compreender uma coisa, nem tudo na vida tem de ser fácil, não temos de forçar um sorriso e por uma máscara. Sermos genuínos e sentirmos o que estamos a sentir, não é mau. Porque a tristeza e a ansiedade têm de ser más? Podem ser grandes aliadas ao pensamento, à evolução, ao crescimento. Mas parece que contam estas mentiras de que terás de ser sempre positivo, que não podes ter maus momentos, como se não fosse permitido tudo o resto.

Assim, nos últimos tempos, temos assistido a um autêntico Boom da “positividade” em que somos bombardeados com teorias do facilitismo e da superficialidade parecendo obrigatório estar-se  num estado constante de “alegria” onde nunca pode haver espaço para  emoções negativas, como a tristeza, o medo, a ansiedade e onde só podem existir as boas emoções e, as menos boas, completamente ignoradas e menosprezadas. Tantas vezes lemos e ouvimos; “pense positivo”, “ignore o negativo”, “atraímos o que pensamos” “somos o que pensamos”, “atraímos o bom e o mau” “o Karma é complicado, o que vai vem” entre outras frases, feitas e simplistas. Estas ideias podem ser perigosas para determinados tipos de personalidade, mais obsessivos que, em fases vulneráveis, irreais, encaram todos os pensamentos como verdades, o que provoca sofrimento psicológico.

Naturalmente que ter bons pensamentos e escolher as melhores opções para nós é algo bom mas, passa a ser patológico quando há uma autêntica distorção da realidade, não sendo esta nem completamente boa, nem completamente má, nem tudo está no preto e no branco, existem outras cores, tonalidades, diferenças, misturas. Desenvolver uma melhor capacidade de assumir decisões boas para nós, nem sempre é encarado como o mais positivo, por vezes temos de cuidar da nossa saúde, pelo que exige disciplina e foco. Ou seja, nem sempre tudo flui e é fácil, o que não é necessariamente mau, uma vez que é neste exercício de foco e perseverança que conseguimos o melhor para nós, a médio e longo prazo. Torna-se um problema quando a pessoa sente- se esmagada, para encaixar no expectável, naquilo que considera que os outros querem que seja, assim temos as gerações do instagram e das redes sociais, sempre a revelarem um lado extremamente positivo, como se o ser humano pudesse ser só este falso “positivo”. Assim sendo, esta postura esconde, em si, um perigo invisível, que fica entre linhas, que consiste em ignorar a autenticidade da pessoa ou seja, incentiva ao fingimento constante de que esta tudo bem, o que favorece e agrava o estigma da doença mental. A doença mental não afeta só as pessoas que estão totalmente fora da realidade, gravemente doentes, pode e normalmente irá afetar todos, de forma distinta, ao longo do ciclo de vida, por inúmeros fatores, externos e internos. Ignorar, fingir que está tudo bem, estar sempre muito disponível para os outros, e ignorar as próprias necessidades, só irá conduzir para um quadro de sofrimento psíquico atroz. 

Além da educação que muitas vezes não estimula a inteligência emocional na criança ou seja ,não ensina a identificar e a lidar com as emoções quer negativas, quer positivas de uma forma construtiva, a própria sociedade parece fomentar este narcisismo débil, que cai na armadilha do positivismo.

A tristeza e a ansiedade são emoções importantes, para o nosso desenvolvimento e progressão individual, desde que sejam, assimiladas, compreendidas e aceites em nós próprios e nos outros de forma empática. A frustração, a forma como lidamos com os obstáculos e desafios da vida é que irão determinar o nosso bem-estar, não se trata de se estar sempre a frustrar, mas, também, devemos assumir que existem aspetos negativos na vida e é normal termos emoções negativas, ainda que temporariamente.

 Se nesta Era narcísica, consideramos que a nossa autoestima depende, exclusivamente, de um sucesso extremo e perfeito, em todas as áreas da vida, então iremos aumentar a nossa propensão para a doença mental, uma vez que não é possível encaixar nesse nível irrealista de perfeição, nem tão pouco agradar a “gregos” e a “troianos”.

Ora, a nossa maior saúde mental, advém de aceitar com normalidade, as nossas emoções e perceber o significado dos nossos pensamentos negativos. Existe sempre, sempre, sublinho, uma razão, com sentido e essa compreensão pode ser construída em psicoterapia, o que apazigua a alma e, ate à data, não há medicamento nenhum que substitua isto.

 

 Dra. Mafalda Leite Borges - Alcochete

O Canto da Psicologia