Nunca o regresso do pós férias foi tão profundamente irresoluto
quanto este que se apresenta à nossa frente.
Há dois momentos na vida em que, geralmente, usamos em jeito de balanço: quando regressamos de férias e, no final ou, no início de um novo ano.
No primeiro momento, regresso de férias, relembramos os planos que se
concretizaram ou, nem por isso, visualizamos os novos desafios que se apresentam para mais um ano
laboral , regozijamo-nos com as conquistas escolares dos nossos filhos ,receosos,
criamos expectativas para o ano escolar que se inicia, olhamos, com respeito, o sentir preocupante inerente a qualquer um destes aspectos mas,
sobretudo, encaramos num registo pragmático de resolução do que ficou pendente , do
que virá por aí , sempre de peito aberto
às provocações vivenciais que irão surgir ao longo de mais 365 dias, 5 horas,
48 minutos e 48 segundos, aproximadamente ,até às próximas férias.
No segundo momento, final ou início de um ano novo, deitamos um olhar reflexivo ao ano que passou com uma certa nostalgia ou ânsia que ele termine e pedimos um ano novo cheio de saúde, trabalho, dinheiro e muito amor e se não puder ser melhor, que pelo menos “ seja igual ao que termine que já não é muito
mau…” ( a partir de agora, faremos mais um pedido: que não venha com o novo ano
um outro vírus por aí…)
E este ano? Agora que regressamos de férias, à rotina
sazonal expectável, que fazer com este
presente onde não nos é permitido, sequer, pensar um futuro, fazer planos, delinear estratégias, pendentes que
estamos todos de resoluções que não nossas?
Governo prepara endurecimento das medidas de proteção - Diário de Noticias - 27/08/2020
Nos próximos 15 dias tudo vai ficar na mesma, no que toca a regras de segurança sanitária, mas a meio de setembro todo o país passará para um nível mais elevado de proteção.
“O Governo está a preparar um endurecimento das medidas de proteção sanitária para daqui a duas semanas, passando todo o país de "situação de alerta" para "situação de contingência", o mais 'grave' dos três previstos na Lei de Bases de Proteção Civil. Já Lisboa manter-se-á na situação em que atualmente está - situação de contingência -, significando isto também que o grau de risco avaliado será igual em todo o país.”
Não vamos, por aqui, voltar a repetir o que temos estado a
ouvir ,há meses, sobre o que é preciso
fazer, que há uma nova realidade, que tudo vai ficar bem, que vamos sair disto
muito melhores pessoas. O princípio da realidade que se impõe, por agora, é de
um total desconhecimento, de uma total incerteza regada de angústia, ansiedade
e medo, muito medo, não há como negar. Sabemos muito mais do vírus mas, ele sabe muito mais de nós...
Que dizer ou fazer ,nestas alturas ,quando o amanhã nos parece
incerto, a segurança frágil na continuidade do posto de trabalho impera, teme-se todos os dias pela saúde,
continua-se a olhar o outro como o inimigo público número um, não se convive
com a família totalmente à vontade, teme-se o regresso à escola dos nossos
filhos, receia-se o retorno aos postos de trabalho, espera-se, com muita
expectativa , pelas medidas que por aí
vem abraçar o meio de Setembro com a segunda vaga à vista, que dizer ou fazer?
Como diz a minha mãe: “ um dia de
cada vez filha”!
Como digo enquanto mãe: “ um dia de cada vez filha”!
Permita-me, a si que me lê desse lado, pegar no título de
um livro do escritor Miguel Esteves Cardoso e, com todo o respeito, rescrevê-lo: A espera é f%d!&a…
Mas é o que nos resta…