(* Gosto Muito de Ti)
15.05.2015
Querido Diário:
A minha mãe leu-te... não acredito, como foi capaz! Ela não
tinha esse direito. Sinto como se ela me tivesse batido tanto que nem consigo
pensar, que raiva! Disse que anda à procura de provas. Mas provas do quê? Ai,
que ódio! Ela leva-me ao limite, gritamos tanto uma com a outra que acho que
não tenho mais voz. Porque é que ela faz isto? Porque me quer controlar? Porque
não me deixa ter a minha vida? Ainda por cima descobriu do Rodrigo... agora
ainda vai andar mais em cima. Só me apetece chorar e chorar e chorar e que ela
oiça para perceber o que me faz sentir. Será que ela mexeu no meu telemóvel?
Ela não tem a passe... Ela não entende que eu já não preciso dela! Dói tanto...
Maria
Sexta-feira, 15 de Maio de 2015
Querido Diário:
Estou exausta. Se pudesse ia um mês para as Caraíbas e
não fazia nada. A Maria leva-me ao limite. Discutimos, outra vez e até me insultou... sinto-me a perder o controlo
com ela! Eu sei que não devia mexer nas coisas dela mas estou tão preocupada,
ela anda sempre triste ou mal-disposta e nunca quer comer! Fiquei aliviada
porque não vi nada sobre drogas, confesso que tinha medo. Mas não gostei da
ideia de haver um rapaz, ela ainda é tão pequenina! E a escola? Como fica?
Sinto-me impotente... dói tanto!
Mãe da Maria
16.05.2015
Querido Diário:
Hoje é a festa da Patrícia! Eles têm que me deixar ir. Se
não deixarem vou fugir, já decidi. Vai lá estar o Rodrigo e eu não posso não
ir. A Teresa mandou-me uma mensagem a dizer que o viu no shopping e que ele
estava sozinho. Ontem na aula de Francês ele adormeceu... fica tão giro! Depois
a Teresa mandou-me outra mensagem a dizer que ele estava com aquelas calças
verdes e eu fiquei “Ai!”. A mãe esteve cá de manhã, eu fingi que dormia. Não me
apetece sequer olhar para ela... mas tive pena, tenho saudades dela, às vezes.
Maria
Sábado, 16 de Maio de 2015
Querido Diário:
Ponho-a de castigo? Não sei mesmo o que fazer... ainda
por cima o Zé não está cá. Sinto-me confusa. Falei com ele por telefone e ele
acha que não devo deixá-la ir à festa mas foi o que eu lhe disse “Pois, e tás
cá tu para a aturar depois!”. Eu sei, fui parva mas eu gostava que as coisas
com a Maria fossem diferentes, como dantes quando ela vinha sempre ao pé de mim
e me requisitava para quase tudo... “Mamã, mamã ajudas-me?”, que saudades.
Mãe da Maria
17.05.2015
Querido Diário:
Estou farta disto, não sei se aguento mais. A minha mãe não
me deixou ir à festa, disse que a forma como a tratei não foi justa e é justo
para mim? Ela não se consegue pôr nunca no meu lugar, será que ela não percebe
que era tão importante para mim? Também não tive coragem de fugir, bem que
tentei mas faltou qualquer coisa. O quê? Não sei bem, acho que não sou capaz de
os desiludir... Ouvi a mãe a chorar, senti-me estranha mas não fui lá. Porquê
que ela chora? Se calhar sente falta do meu pai, eu também! Se ele tivesse cá
nós éramos uma família e não esta família à distância. Gosto mais quando somos
três!
Maria
Domingo, 17 de Maio 2015
Querido Diário:
Não dormi. A Maria disse-me coisas horríveis ontem e eu
sei que ela estava zangada e leio livros e dizem que faz parte mas não dormi.
Foi muito difícil para mim não a deixar ir, eu sabia que era importante para
ela e estive quase a desistir mas não fui capaz de voltar atrás... não tive
coragem, sei lá! Mandei mensagem ao Zé mas ele não me respondeu... aquilo em
Angola também não está a ser fácil. O Zé faz-me falta, a Maria e ele têm uma cumplicidade
que eu não consigo. Ainda pensei, durante a noite em ir para a cama dela e
aninhar-me a ela mas achei que ia ser imediatamente expulsa. Que vontade dos
seus abraços. Maria, onde foi que nos perdemos uma da outra? Olho para a
fotografia na secretária, nós os três, gosto mais quando somos os três!
Mãe da Maria”
Lúcia Paço
Psicóloga e Terapeuta
Familiar