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sábado, 11 de abril de 2020

Até poderia ser uma Páscoa como tantas outras...






Até poderia ser uma Páscoa como tantas outras: cidades mergulhadas em incenso e coloridas pelas flores; altares cobertos de arranjos florais; a cor roxa a predominar sobre todas as outras do arco-íris; Procissões a tomarem forma e "as gentes", "as gentes da nossa terra", a reviverem uma das datas mais queridas entre todos, deixando as tradições seculares entrarem e tomarem posse do lugar principal da casa de cada um.

Uma comemoração de cor, alegria, com muitos sabores e cheiros familiares que nos lembrariam momentos de um passado, num tempo presente recheado de folares e amêndoas, culminando no borrego, rei do almoço de um domingo de Páscoa, em família!

Esta é, efectivamente, uma Páscoa diferente e especial: recatada, silenciosamente habitada e percorrendo um qualquer caminho de uma Procissão em solidão.

Mas, "as gentes da nossa terra " não estão em solidão, estão antes em comunhão com o que foi pedido a cada um, num tempo como este ! E tal como o nome Páscoa, de origem hebraica, vem da palavra Pessach que significa "passagem", também "as gentes da nossa terra" sabem que a seu tempo, também este tempo, vai ser visto no futuro como um "tempo de passagem"... assim esperemos...


Até lá, em meu nome e em nome de toda a Equipa d' O Canto da Psicologia , o nosso desejo de que, a sua, seja uma Santa e Feliz Páscoa!






sexta-feira, 3 de abril de 2020

Eu não tenho saudades de um abraço! Eu tenho saudades da liberdade de poder dar um abraço...







Eu não tenho saudades de um abraço! Eu tenho saudades da liberdade de poder dar um abraço.

Hoje fui visitar a minha mãe com 82 anos! Sim, fui visitá-la! 

Ouvirei com certeza vozes contestando e  reclamando da minha insensatez e completa loucura, criticando a minha aventura… a quarentena a que me obrigam começa a justificar este entorpecer de racionalidade e levada pela emoção e pelo afecto tenho saudades do abraço da minha mãe ou, saudades da liberdade de poder dar um abraço à minha mãe….

Entre os dois metros de distância a que nos obrigámos e nos olhámos,  havia uma rede, uma rede suficientemente forte e poderosa que não permitiu o nosso abraço, nem o nosso tocar de dedos, nem o contágio do vírus (ele anda por aqui, nunca fiando!). Por instantes,  julguei-me em pleno holocausto, separada por uma rede tentando tocar o intocável;  estas  imagens que vamos lentamente esquecendo e reduzindo-as ao esfumar de memórias, não vividas, mas sabidas, e perpetuadas ao longo do tempo, herança de uma grande guerra mas não desta guerra, por enquanto!

Por instantes, só, só por uns instantes, esta imagem toldou-me o olhar, mas não o sentir! E o seu sorriso, aquele sorriso, aquele olhar ( do qual me lembro tão bem, espelhando uma infância bem longínqua, onde esse mesmo olhar me transmitia segurança, confiança e que tudo ia correr bem, mesmo que os 40 graus de febre, devido à malária, me prendessem a um sem fim de alucinações) resgatou-me, mais uma vez , de um medo paralisante deste principio da realidade que me impede, mesmo  à distância, a mais de dois metros de distância de lhe  dar um abraço e um beijo, perdido no ar, numa imensidão de espaço onde se respira sol, primavera e vida… Eu precisava desse olhar para reforçar a capacidade de esperar...

Não saí do nosso Concelho!! Tão pouco fui a pé! Entre campo, prado, flores e uma rede, suficientemente forte,  demos o nosso abraço, matamos as saudades uma da outra, num  jeito alienado, mas cheio de afecto…

- Já sabes que não temos almoço de Páscoa!!!
- Sei mami!

- Quando pudermos, comemoramos tudo junto: o meu aniversário, o da tua irmã e o almoço de Páscoa.
- Sim mami!

- Deixa-te estar sossegada, não precisas de vir até aqui, falamos pelo telefone e quando quiseres fazemos facetime ou whatsapp!
- Sim mami!

- Agora vai-te embora que está sol e não trouxeste chapéu, e além disso, não devias vir…
- Mesmo que seja só para te ver e matar saudades?

- Não precisas disso. Basta saberes que estou viva e gosto de ti… o resto, o mundo encarrega-se!!


E vim-me embora, cumprindo rigorosamente o que ela me ordenou porque sei que o fez cheia de afecto, carinho e medo!

Para a semana, entramos na semana Santa. Não há Páscoa em família num tempo como o de hoje; assim como não há aniversários, nem casamentos, nem funerais… há só um inabalável sentimento de vida suspensa  e um  futuro refém de um vírus. Mas há o olhar da minha mãe que me diz, "vai tudo correr bem"  e o olhar dela nunca se enganou.

A si, que me lê desse lado, fique em casa, abrace os seus à distância e sonhe que o está a fazer separado por uma rede feita em pedaços de fantasia… logo, logo, vai tornar este sonho realidade…


Drª.Ana de Ornelas - Lisboa