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quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Que trará este "novo" Setembro?

 


Nunca o regresso do pós férias foi tão profundamente irresoluto quanto este que se apresenta à nossa frente.

Há dois momentos na vida em que, geralmente, usamos em  jeito de balanço: quando regressamos de férias  e, no final ou, no início de um novo ano.

No primeiro momento, regresso de férias,  relembramos os planos que se concretizaram ou, nem por isso, visualizamos os novos desafios que se apresentam  para mais um ano laboral , regozijamo-nos com as conquistas escolares dos nossos filhos ,receosos, criamos expectativas para o ano escolar que se inicia, olhamos, com respeito, o sentir preocupante  inerente a qualquer  um destes aspectos mas, sobretudo, encaramos num registo pragmático de resolução do que ficou pendente , do que virá por aí , sempre de  peito aberto às provocações vivenciais que irão surgir ao longo de mais 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 48 segundos, aproximadamente ,até às próximas férias.

No segundo momento, final ou início de um ano novo, deitamos um olhar reflexivo ao ano que passou com uma certa nostalgia ou ânsia que ele termine  e pedimos um ano novo cheio de saúde, trabalho, dinheiro e muito amor e se não puder ser melhor, que  pelo menos “  seja igual ao que termine que já não é muito mau…” ( a partir de agora, faremos mais um pedido: que não venha com o novo ano um outro vírus por aí…)

E este ano? Agora que regressamos de férias, à rotina sazonal expectável,  que fazer com este presente onde não nos é permitido, sequer, pensar um futuro, fazer planos, delinear estratégias, pendentes que estamos todos de resoluções que não nossas?

Governo prepara endurecimento das medidas de proteção - Diário de Noticias - 27/08/2020

Nos próximos 15 dias tudo vai ficar na mesma, no que toca a regras de segurança sanitária, mas a meio de setembro todo o país passará para um nível mais elevado de proteção.

“O Governo está a preparar um endurecimento das medidas de proteção sanitária para daqui a duas semanas, passando todo o país de "situação de alerta" para "situação de contingência", o mais 'grave' dos três previstos na Lei de Bases de Proteção Civil. Já Lisboa manter-se-á na situação em que atualmente está - situação de contingência -, significando isto também que o grau de risco avaliado será igual em todo o país.

Não vamos, por aqui, voltar a repetir o que temos estado a ouvir ,há meses,  sobre o que é preciso fazer, que há uma nova realidade, que tudo vai ficar bem, que vamos sair disto muito melhores pessoas. O princípio da realidade que se impõe, por agora, é de um total desconhecimento, de uma total incerteza regada de angústia, ansiedade e medo, muito medo, não há como negar. Sabemos muito  mais do vírus mas, ele sabe muito mais de nós...

Que dizer ou fazer ,nestas alturas ,quando o amanhã nos parece incerto, a segurança frágil na continuidade do posto de trabalho impera, teme-se todos os dias pela saúde, continua-se a olhar o outro como o inimigo público número um, não se convive com a família totalmente à vontade, teme-se o regresso à escola dos nossos filhos, receia-se o retorno aos postos de trabalho, espera-se, com muita expectativa , pelas  medidas que por aí vem abraçar o meio de Setembro com a segunda vaga à vista, que dizer ou fazer?

Como diz a minha mãe: “ um dia de cada vez filha”!

Como digo enquanto mãe: “ um dia de cada vez filha”!

Permita-me, a si que me lê desse lado, pegar no título de um livro do escritor Miguel Esteves Cardoso e, com todo o respeito,  rescrevê-lo: A espera é f%d!&a…

Mas é o que nos resta…

 

Drª Ana de Ornelas

Directora Geral do Projecto

O Canto da Psicologia


 

 

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Pelos caminhos de portugal vi um Psicólogo sem igual...

 


Num abrir e fechar de olhos, estamos a caminho do fim de Agosto… ali, ao virar da esquina, começa o Setembro, o regresso ao trabalho, às aulas mas, este ano, com uma nuance que nos reserva os planos de um quase presente sem futuro perante um registo contaminado por um vírus.

No ar, ainda paira o desejo de um verão como o de 2019 feito de festas populares, alegria, convívio, concertos, imagens que proliferaram pelas redes sociais de gente de férias, no Algarve, Caraíbas, Grécia, Itália, Espanha, um rol de países “felizes” ou, de gente feliz, com saudade e nostalgia. Este ano, não!

Este ano, 2020, um ano que prometia muita coisa extraordinariamente boa (segunda as previsões horoscopas)  , reserva-se a um sem fim de nada, enfeitado por máscaras que retiram sorrisos,  olhares e afectos, reduzido a uma imensidão de incertezas  cobertas  de medo mas,conseguindo  sobreviver…

E de repente, perante este desamparo de coisa segura, de confiança destrutível, de medo de voar para outros “tempos e marés” a maior parte de nós, em tempo de férias, queda-se em casa, no País, num registo de confiança (?) e segurança(?). E o que descobrimos?  Um País absolutamente maravilhoso, com cantos e recantos prontos a serem visitados, conquistados, idolatrados , reconquistado a uma ignorância alimentada pelo excesso de estímulo “ na galinha da vizinha”… e, espanto dos espantos:  que coisas maravilhosas  descobrimos de norte a sul de um país à beira mar plantado, impregnado de história reconhecida em cada monumento, paisagem, céu, vegetação e um sem fim de coisas absolutamente únicas, resquícios de um tempo e de um povo. Isso somos nós! E este ano, nas redes sociais, nos influencers da moda e afins, parece que descobriram o invisível tornado visível de um país que, por acaso, é só o nosso...

Perguntam-se agora por aí, quem nos lê, mas o que tem isto a ver  com o "mundo interno" d' O  Canto da Psicologia? Aparentemente nada mas, afinal, tem tudo…

Repetimos constantemente, no nosso Canto, a importância de um processo terapêutico em tempo de "paz interior"; a quem nos ouve e lê, sensibilizamos diariamente a procura de um espaço como este onde só estamos "eu" e alguém que, através de questões  convide ao pensamento, e ensine a exercitar o  pensar  de maneira a que a estrutura interna se torne firme e sólida; e, sobretudo, sensibilizamos a procura de algo em que, basicamente e aparentemente, naquele momento, não é um bem necessário mas, um necessário bem.

No entanto, e de uma maneira compreensível e aceitável , só quando um vírus vil,  infame ( dor, tristeza, perda, desamparo, abandono,esgotamento, angústia, ansiedade) invade o interno de cada um de nós deixando-nos confinados a um sentir  petrificante isento de rasuras possíveis de serem abertas tornando imperativo  e urgente  a necessidade de procurar ajuda, é que a  procuramos, tal GPS de guia pelas estradas de um país, permitindo-nos encontrar cantos e recantos de nós, petrificados e enregelados pelas vivências de anos, desespero de “séculos” e angústias de tempos perdidos num tempo que é só nosso.

E aí, aí, descobrimos a beleza, a deliciosa essência de espaços internos nossos, rodeados de afectos, pincelados de emoções coloridas, ávidos de serem libertados de crenças, juízos de valores e criticas, e que nos permitem a liberdade de sermos verdadeiramente NÓS. Nesta estrada, podemos ter lombas que nos icem de maneira desamparada, buracos que nos  retiram, temporariamente ,o chão , pedras que empanquem os passos mas, seremos nós, cientes do potencial que nos define e permite continuar o caminho admirando, passo a passo aquilo que o mundo me vai dando e que eu vou permitindo aceitar ou recusar, sem medos e culpas. ISTO É O ENCANTO DA TERAPIA!

Será isto ser feliz? Pois, não sei mas, quando o souber, partilho! 


Drª Ana de Ornelas

Directora Geral do Projecto

O Canto da Psicologia

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Positividade Tóxica...






"Não me devo sentir deprimido porque sou um profissional da linha da frente". “Não tenho o direito a queixar-me”. “Tenho que ser produtivo”. “Devo apenas sentir-me grato por ter um teto e comida”

 

 Existe uma onda de positividade que é imposta como se a única forma de estar fosse ver tudo positivo, mesmo quando existem desafios difíceis na vida. É necessário compreender uma coisa, nem tudo na vida tem de ser fácil, não temos de forçar um sorriso e por uma máscara. Sermos genuínos e sentirmos o que estamos a sentir, não é mau. Porque a tristeza e a ansiedade têm de ser más? Podem ser grandes aliadas ao pensamento, à evolução, ao crescimento. Mas parece que contam estas mentiras de que terás de ser sempre positivo, que não podes ter maus momentos, como se não fosse permitido tudo o resto.

Assim, nos últimos tempos, temos assistido a um autêntico Boom da “positividade” em que somos bombardeados com teorias do facilitismo e da superficialidade parecendo obrigatório estar-se  num estado constante de “alegria” onde nunca pode haver espaço para  emoções negativas, como a tristeza, o medo, a ansiedade e onde só podem existir as boas emoções e, as menos boas, completamente ignoradas e menosprezadas. Tantas vezes lemos e ouvimos; “pense positivo”, “ignore o negativo”, “atraímos o que pensamos” “somos o que pensamos”, “atraímos o bom e o mau” “o Karma é complicado, o que vai vem” entre outras frases, feitas e simplistas. Estas ideias podem ser perigosas para determinados tipos de personalidade, mais obsessivos que, em fases vulneráveis, irreais, encaram todos os pensamentos como verdades, o que provoca sofrimento psicológico.

Naturalmente que ter bons pensamentos e escolher as melhores opções para nós é algo bom mas, passa a ser patológico quando há uma autêntica distorção da realidade, não sendo esta nem completamente boa, nem completamente má, nem tudo está no preto e no branco, existem outras cores, tonalidades, diferenças, misturas. Desenvolver uma melhor capacidade de assumir decisões boas para nós, nem sempre é encarado como o mais positivo, por vezes temos de cuidar da nossa saúde, pelo que exige disciplina e foco. Ou seja, nem sempre tudo flui e é fácil, o que não é necessariamente mau, uma vez que é neste exercício de foco e perseverança que conseguimos o melhor para nós, a médio e longo prazo. Torna-se um problema quando a pessoa sente- se esmagada, para encaixar no expectável, naquilo que considera que os outros querem que seja, assim temos as gerações do instagram e das redes sociais, sempre a revelarem um lado extremamente positivo, como se o ser humano pudesse ser só este falso “positivo”. Assim sendo, esta postura esconde, em si, um perigo invisível, que fica entre linhas, que consiste em ignorar a autenticidade da pessoa ou seja, incentiva ao fingimento constante de que esta tudo bem, o que favorece e agrava o estigma da doença mental. A doença mental não afeta só as pessoas que estão totalmente fora da realidade, gravemente doentes, pode e normalmente irá afetar todos, de forma distinta, ao longo do ciclo de vida, por inúmeros fatores, externos e internos. Ignorar, fingir que está tudo bem, estar sempre muito disponível para os outros, e ignorar as próprias necessidades, só irá conduzir para um quadro de sofrimento psíquico atroz. 

Além da educação que muitas vezes não estimula a inteligência emocional na criança ou seja ,não ensina a identificar e a lidar com as emoções quer negativas, quer positivas de uma forma construtiva, a própria sociedade parece fomentar este narcisismo débil, que cai na armadilha do positivismo.

A tristeza e a ansiedade são emoções importantes, para o nosso desenvolvimento e progressão individual, desde que sejam, assimiladas, compreendidas e aceites em nós próprios e nos outros de forma empática. A frustração, a forma como lidamos com os obstáculos e desafios da vida é que irão determinar o nosso bem-estar, não se trata de se estar sempre a frustrar, mas, também, devemos assumir que existem aspetos negativos na vida e é normal termos emoções negativas, ainda que temporariamente.

 Se nesta Era narcísica, consideramos que a nossa autoestima depende, exclusivamente, de um sucesso extremo e perfeito, em todas as áreas da vida, então iremos aumentar a nossa propensão para a doença mental, uma vez que não é possível encaixar nesse nível irrealista de perfeição, nem tão pouco agradar a “gregos” e a “troianos”.

Ora, a nossa maior saúde mental, advém de aceitar com normalidade, as nossas emoções e perceber o significado dos nossos pensamentos negativos. Existe sempre, sempre, sublinho, uma razão, com sentido e essa compreensão pode ser construída em psicoterapia, o que apazigua a alma e, ate à data, não há medicamento nenhum que substitua isto.

 

 Dra. Mafalda Leite Borges - Alcochete

O Canto da Psicologia




quinta-feira, 23 de julho de 2020

Férias co(m) vid(a) ...





Vivemos o primeiro período típico de férias de Verão dos portugueses em modo de pandemia… Uma experiência que tende a ser sentida como muito estranha, uma vez que não temos recordação, nas nossas vidas, de uma outra época de pandemia que pudesse nos orientar nas nossas escolhas quotidianas.

Fala-se muito de uma «nova realidade», expressão esta que já começa a estar banalizada neste período que vivemos, mas que, ainda assim, pode ser muito enganadora, uma vez que até pode parecer, ilusoriamente, que existe uma clivagem face a uma suposta «antiga realidade», como se não ocorressem semelhanças algumas entre este Verão com pandemia e, por exemplo, o Verão passado, sem pandemia. De facto, há uma continuidade da existência da Humanidade, mas com evidentes diferenças e semelhanças, entre as suas várias épocas. O Verão continua a ser Verão, as praias continuam a ser praias, as pessoas continuam a ser pessoas… por outro lado, a pandemia apela a mudanças drásticas na forma como nos relacionamos uns com os outros, com todas as preocupações inerentes e os naturais e desejáveis cuidados para todos.

Nesta época, será importante reconhecer que vivemos um Verão em que para além do habitual desejo de descanso e tranquilidade ocorre, simultaneamente, uma tendência para se sentir um maior medo e ansiedade decorrente da pandemia e dos seus eventuais efeitos debilitantes e até irrecuperáveis na saúde, economia e nas relações interpessoais, desde logo nas mais significativas, como as familiares, românticas e de amizade.   

Por conseguinte, neste período de férias mais complexo e, por isso, mais difícil de compreender e viver, a falta de sentido na vida pode ser intensificada. De facto, o sentido na vida não reside na mera sobrevivência, porque tal não é, por si só, um autêntico viver humano, mas este tempo tão marcado pelo tema colectivo do Covid-19, pode conduzir muitas pessoas a ficarem num estado, curiosamente, semelhante ao do vírus, ou seja, sem acesso a uma experiência de real vida, a um «para quê» existir, através de sonhos e aspirações integrados em conscientes projectos existenciais.

É, para muitos portugueses, um tempo de férias com várias particularidades invulgares, sem dúvida, mas, é importante notar que os especialistas têm vaticinado que o Covid-19 continuará por cá após o Verão e, eventualmente, durante muito tempo. Deste modo, será necessário encontrar um renovado sentido na vida face a estas persistentes circunstâncias existenciais, evitando essa outra via de «contágio» do vírus pelo modo aquém de uma verdadeira experiência de vida humana.  

Neste sentido, como provavelmente diria hoje Viktor Frankl (1905-1997) se ainda estivesse vivo – conceituado e influente psicoterapeuta que muito se dedicou à compreensão da dimensão humana do sentido na vida – será especialmente importante que nos serviços de psicologia clínica e de psicoterapia, os profissionais da relação terapêutica estejam particularmente atentos ao fenómeno do vácuo existencial ou, em outras palavras, do vazio interior pela dolorosa e profunda falta de sentido na vida. Frankl esclareceu que o vácuo existencial se manifesta sobretudo pelo tédio. Ora, dadas as muitas limitações às experiências e relações humanas, necessárias para prevenir novos contágios de Covid-19, as férias típicas deste Verão podem estimular, nas vidas dos portugueses, uma extraordinária epidemia de tédio, de maior vazio existencial, até porque não se prevê que tais medidas restritivas cessem em breve. Não se vê ainda claramente “uma luz ao fundo do túnel” do tédio e isso pode intensificar o próprio fenómeno do vazio existencial, dada a associada pouca esperança. Neste momento, face ao Covid-19, parece que a expectativa geral de se poder ter em breve uma vacina eficaz e/ou de adequados tratamentos de cura ainda estará pouco consistente – apesar de algumas recentes boas notícias – porque é necessário «ver para crer» face a tantas informações e contra-informações que as pessoas têm recebido sobre quase tudo o que se relaciona com esse vírus, desde o início da pandemia. Neste enquadramento, esperemos que o vácuo existencial não se dissemine com tanta facilidade como o Covid-19 tem, infelizmente, conseguido; seja como for, podemos confiar que os profissionais de saúde mental continuarão na linha da frente a ajudar as pessoas a (re)encontrar um sentido na vida.  






quinta-feira, 14 de maio de 2020

O Canto da Psicologia e a Psicologia Online...






Apesar de nesta altura este setting terapêutico virtual estar a tomar um lugar destacado, é um facto de que já há muito tem dado provas da sua eficácia perante resultados apurados a partir de estudos e pesquisas realizadas comprovando que, a efectividade da psicoterapia online traz consigo muitos benefícios aos pacientes.

Considerando as possibilidades que neste campo das terapias online se apresentam e o facto de que a demanda pelos serviços online cresce a cada dia nas mais diversas áreas, inclusive na área da saúde mental, importa que, tal como temos vindo a ser resposta na esfera do presencial, O Canto da Psicologia também seja resposta para um maior número de indivíduos que, de outra maneira, não conseguiriam ter acesso à Psicologia e a todas as valências que esta abarca nomeadamente, intervenções terapêuticas na área da Psicologia Infantil,  Adultos, Adolescentes, Séniores, Avaliações, etc., na maior parte das vezes por questões geográficas e outras por  impossibilidades físicas.

Este formato  próximo da consulta face-a-face, não tirando o lugar de destaque do atendimento presencial, tem como principal vantagem ultrapassar impedimentos de deslocação ao consultório, sejam eles geográficos ou físicos, permitindo uma comunicação em directo pela via visual e vocal-auditiva.

A Psicologia online encontra-se, internacionalmente e nacionalmente, devidamente enquadrada em termos legais ISMHO – Sociedade Internacional para a Saúde Mental Online e  pela Ordem de Psicólogos Portugueses (OPP)  bem como pela Entidade Reguladora de Saúde (ERS).

Sempre que recorrer a consultas de Psicologia online e para que o processo terapêutico ocorra de forma eficaz e tranquila só precisa de ter em atenção o seguinte:

  • Ter acesso à internet e preferência de plataforma a usar: Whatsapp; Facetime, Skype, etc)
  • Ter um espaço (se possível) confortável onde possa estar só, sem risco de interrupções e com microfone e auscultadores de maneira a preservar a sua  privacidade;
  • E saber que os  nossos Psicólogos e Psicoterapeutas garantem a confidencialidade da informação chegada até eles mas, não conseguem garantir  a confidencialidade da informação enquanto a mesma transita na Internet.
Enquanto competência e profissionalismo, continuamos a garantir que o que fazemos, fazemos muito bem feito e com afecto.

E é com imensa satisfação que abrimos, por aqui, estas janelas virtuais que permitem posicionar-nos mais perto de quem, de outra maneira, nunca conseguiria ter acesso a este tipo de oferta.


De Norte a sul do País, Ilhas e resto do mundo onde se ouve a Língua Portuguesa , saiba que estaremos por aqui à sua espera…




quinta-feira, 30 de abril de 2020

Era uma vez um casal...




Era uma vez um casal. Os seus membros acordavam a horas diferentes, tomavam o pequeno-almoço à pressa, iam trabalhar, trocavam umas mensagens ao longo do dia, voltavam do trabalho cansados, jantavam, estavam juntos e iam dormir, às vezes ao mesmo tempo mas, normalmente, também aqui, em horas diferentes.

Este casal, para a maior parte de nós, já não existe. Agora, acordamos e estamos juntos: de manhã, de tarde e de noite. Podemos fazer actividades e as nossas rotinas em horários diferentes mas estamos em casa. Sempre na mesma casa!! (e não esquecer, continua a ser importante ficar em casa!!!).

Como podemos viver e sobreviver a esta super exposição que, quase sempre, apenas nos sonhos adolescentes de paixões eternas e avassaladores, de amor e uma cabana, faz sentido e é desejada? A que sinais devemos estar atentos para garantir que o casal continuará vivo e robusto após esta fase?

Parece de especial importância pensar em manter ou criar três tempos fundamentais:

·         Tempo individual;
·         Tempo de partilha;
·         Tempo de intimidade.

Estes tempos são momentos importantes para manter a sanidade e o salutar crescer do Casal. Se perdermos a capacidade de estarmos sozinhos (para ler, meditar, ouvir música, entre outros) também estaremos a perder a capacidade de lidar com algumas situações internas, aumentando assim o peso sobre o casal.
Os outros tempos: partilha e intimidade são de grande utilidade para evitar e resolver conflitos e manter momentos de proximidade diferentes daqueles que, a simples presença 24h por dia, nos promove.

Esta fase da nossa vida social, comunitária, de família,casal e individual levanta muitas questões novas sobre a forma como experienciamos estes momentos. Em casal esperamos um aumento de vivências nem sempre positivas. Entre outras, podemos encontrar e estar atentos às seguintes:

·        Momentos de incompreensão face à ansiedade que esta pandemia nos trás;
·        Discussões, despoletadas por situações aparentemente insignificantes;
·        Períodos de zanga e “birra”, pós discussão mais prolongados;
·        Períodos de tristeza e choro não reconhecido ou apaziguado pelo outro;
·        Cansaço das pequenas coisas que o Outro (sempre) fez de forma regular;
·        Períodos de maior silêncio;
·        Explosões de, chamar-lhe-emos, mau humor mais regulares e violentas (aumento de           ofensas);  
·        Diminuição na nossa capacidade de reconhecer os nossos próprios erros;
·        Um regresso a situações dolorosas, aparentemente ultrapassadas, do passado.

Estas situações podem acontecer em todos os casais e muitas delas já fazem parte do quotidiano de alguns. No entanto, não indicam, necessariamente, que o casal esteja à beira da ruptura ou que o fim está próximo. Indica que o casal deve estar atento a tentar, através dos tempos acima referidos: individual, de partilha e de intimidada, falar sobre as situações que os estão a perturbar. Muitas vezes existe a tentação de não aumentar o problema ou de não voltar ao problema. E os acontecimentos traumáticos vão surgindo e vão-se acumulando sem que sejam falados e trabalhados. É um erro.

Usando os tempos de partilha, os casais podem ter um tempo, definido pelo casal, para falarem, por exemplo, das rotinas do dia, de quem faz o quê, do que será o jantar ou o almoço, reduzindo assim pontos de conflito. Este tempo de partilha, pode existir, num pequeno-almoço conjunto ou noutro período definido pelo casal.

O tempo de intimidade pode servir para estreitar laços, para conversar sobre tristezas ou só para estarmos em silêncio, mas juntos. Sem um ecrã, sem objectos a perturbar o estar próximo. Estar, sem outro motivo que não estar ali para e com o outro, muitas vezes, é só o que podemos fazer …e já é tanto!!

Sabemos que é difícil a criação destes momentos e a manutenção dos mesmos. Por isso, o Canto da Psicologia, tem à Vossa disposição técnicos especializados que podem ajudar os casais nesta fase difícil que todos atravessamos, e os casais, em especial, atravessam. Continuamos aqui para vocês. E, façam o que fizerem, continuem a falar uns com os outros…

Dr. João Martins
Psicólogo Clínico - Terapeuta de Casal e Família
O Canto da Psicologia





quinta-feira, 23 de abril de 2020

A família num mundo “Normal” Mais do que “ficar tudo bem” é preciso ficar tudo melhor.







A família encontrava-se pouco, por vezes, passavam-se dias, noites, meses, anos, tudo numa roda-viva, sem parar e faltava sempre tempo, tempo para amar, tempo para estar só por estar, sem fazer nada, tempo para simplesmente desfrutar de momentos em família. A nova crise Covid-19 trouxe múltiplos problemas e desafios a todas as famílias, estava tudo habituado a não ter tempo suficiente. Uma vez que no “mundo normal” havia dificuldades em manter momentos de partilha com os outros, horários de trabalho infindáveis, imensas responsabilidades, atividades extra curriculares, entre outras muitas distrações que pareciam não nos deixar tempo, para pensar, apenas para estar quieto e refletir. O que é a vida normal? Estávamos completamente imersos em atividades, numa correria, em que não havia espaço para ficar com os nossos pensamentos e aproveitarmos a nossa companhia. Estar só, faz tão bem, pois de facto não estamos sós, estamos acompanhadas pelos nossos sonhos, projetos, ideias, criatividades, imaginações, pensamentos, sentimentos, lembranças, memórias, que resultaram das nossas relações intimas. O movimento estar sozinho e estar acompanhado, é fundamental para o equilíbrio da saúde psíquica. Ter tempo para o “ócio” descansar apenas, ter saudades, estar consigo a pensar nos outros, não é um ato de preguiça é absolutamente necessário, para adquirir uma boa forma de pensar sobre si próprio, sobre os outros e sobre tudo. Se estivermos sempre numa agitação permanente, acabamos por não viver plenamente pois, é necessário, parar para recordar, para sonhar, para criar significado às nossas experiências. É desgastante viver, a correr e isto para poder encaixar em ideais de perfeição incutidos quer pela família, quer pela sociedade de narcisismo doente. A questão não é o tempo, o problema é se tiver esse tempo, como agora, o que vou fazer com ele, como o vou aproveitar? Vão haver famílias que irão encarar como uma oportunidade para estreitarem mais os laços afetivos, mas outras que estiveram sempre a fugir do estar com, que já não sabem o que é desenvolver interações em conjunto.

Neste sentido, agora, com este grande desafio para as famílias, de terem de estar todos juntos, todos os dias e a todas as horas, a necessidade de intimidade saudável passa a ser ainda mais fundamental. Pelo que é necessário criar momentos de descontração sozinhos, a ver um programa ou simplesmente, estar um tempo no quarto descansado, é muito importante que o casal respeite isto e que as crianças comecem a aprender, quais os limites do outro, como empatizar e respeitar os ritmos da mãe e do pai. São dinâmicas relacionais, que nesta altura podem dificultar o bem-estar na família, pelo que a criação de regras saudáveis e rotinas, torna-se fulcral.

O período de adaptação ao covid-19 implica um luto sobre como se conhecia a vida antes desta Pandemia. Emergiu em todos uma estranheza no dia-a-dia, o ter de estar em casa, o não poder passear de forma segura, pois existe um perigo invisível, mas que causa tantos danos. As rotinas diárias, a forma de estar na vida, a convivência social, foram completamente postas de parte e alteraram-se drasticamente. As dificuldades económicas e sociais têm vido a piorar, é emergente pois, a adaptação a uma nova forma de estar na vida. Mas que forma é esta? Por onde começamos? O que podemos fazer para nos reequilibramos a esta nova realidade?


Embora ainda estejamos todos em fase de adaptação, é natural que, aos poucos, comecemos a dar os primeiros passos na mudança que toda a crise obriga, mudar não é necessariamente mau, a mudança é das certezas maiores que temos na vida, uma vez que nada fica igual. Para os que estavam no “céu” antes desta crise ou assim consideravam. Esta situação acaba por obrigar a impor criatividade e capacidade de reajustamento, uma vez que ninguém escolheu este momento. Sim, existem acontecimentos externos incontroláveis por todos, nomeadamente catástrofes naturais, tsunami, terramotos, ataques terroristas, Pandemias infeciosas, não temos controlo sobre tudo, muito menos em relação a estes fenómenos. A noção de ausência de controlo, perante situações externas e adversas é encarada de forma distinta, consoante o tipo de personalidade, experiencias de vida e a capacidade de adaptação. Assim sendo, importa sublinhar que mais do que “ficar tudo bem”, é preciso ficar tudo melhor, é urgente, mais generosidade, mais equidade, mais amor, mais empatia e menos julgamento e critica. Pois dado que estamos a atravessar este período atípico, já agora que sirva para crescermos, evoluirmos e modificarmos o que não estava tão bem, na nossa sociedade, pode ser este o momento, esperemos que sim.

Assim, podemos entender que a par com a crise e o mal-estar que dela advém, também surgem, grandes oportunidades de crescimento, desenvolvimento, resiliência e sabedoria, tão essenciais à evolução da humanidade.


Mafalda Leite Borges - Alcochete
Canto da Psicologia




quinta-feira, 26 de março de 2020

Resiliência em tempos de coronavírus...






Nestes tempos difíceis que todos passamos apraz-me falar sobre o que de bom podemos observar, o que de bom descobrimos de nós e dos outros, o que de positivo se pode retirar desta e de qualquer situação negativa. Vivemos todos a angústia desta invasão por uma espécie de inimigo invisível que interrompeu o decurso normal das nossas vidas e nos encheu de incertezas. Mas apesar disso, o ser humano tem uma capacidade incrível para responder aos desafios e às adversidades, de reagir e encontrar forças, em si e nos outros, de procurar meios, de recorrer à criatividade…

Vemos pessoas a unirem-se para entregar bens essenciais aos mais idosos; vemos artistas a reunirem-se para proporcionar momentos prazerosos e sensibilizarem para a necessidade de ficar em casa; vemos como o movimento “Vamos todos ficar bem” é uma forma de dar alento ao próprio e a todos os outros; vemos como os profissionais de saúde lutam todos os dias para garantir o bem estar de todos, como as pessoas que trabalham nos supermercados, lares e tudo mais, trabalham para garantir o bem estar de quem cuidam, para manter a normalidade e a subsistência de todos; vemos como já há pessoas a produzir mais meios de proteção ou de resposta médica como é o caso do Projecto Open Air; vemos grupos de apoio nas redes sociais sustentados por profissionais de saúde... Entre outros… Felizmente os exemplos são muitos e variados.

Sabemos que as dificuldades são e serão muitas, mas sabemos também que somos capazes de as enfrentar e superar. A isto se chama Resiliência, um conceito que a Psicologia importou da Física, que define a capacidade de alguns materiais voltarem ao seu estado ou forma natural depois de sofrer um choque ou pressão deformadora.
Esta ideia de enfrentar a adversidade regressando depois ao estado anterior, natural, (não exatamente ao mesmo, porque evoluímos…, mas antes nos mesmos moldes, sem marca disruptiva na identidade do sujeito) implica acentuada flexibilidade dos mecanismos psicológicos num esforço adaptativo considerável.

As “regras do jogo” mudam de forma repentina e substancial e a pessoa vê-se obrigada a um rearranjo do funcionamento mental onde a construção de uma narrativa, de uma nova narrativa, auxilia de forma incontestável. Esta (re)construção é muitas vezes mais fértil a posteriori mas ainda assim desejavelmente iniciada desde logo. É importante que vão acontecendo em paralelo, respostas concretas à situação que se vive, como o isolamento neste caso, e respostas do foro psicológico, dizendo respeito à elaboração mental da nova situação vivida. Estes processos mentais são suportados por um atribuir de sentido(s), que permite à pessoa integrar os novos dados e como que apropriar-se de alguma forma dessa nova realidade, podendo começar a fazer parte da sua identidade sem deixar (demasiada) mossa.  O impacto deverá ser passível de integração, não se quer nem invasivo, naturalmente, nem ausente, porque bem se sabe, negar a realidade não traria nenhum benefício.

Ou seja, trata-se de encarar a realidade e viver os sentimentos mais difíceis, como ansiedade e angústia, reagindo e elaborando no sentido de os acomodar da forma menos perturbadora possível e com potencial de suportar uma continuidade salutar do ser e existir. Boris Cyrulnik, no seu livro “Uma infelicidade maravilhosa”, descreve-nos de uma forma exímia o que falo sobre a resiliência, diz-nos:

Tal como a felicidade, a infelicidade nunca é pura. Mas, assim que construímos a sua história, conferimos um sentido aos nossos sofrimentos e compreendemos, muito tempo depois, como pudemos transformar um infortúnio em algo de maravilhoso, pois qualquer homem agredido é obrigado a metamorfosear-se.


Drª Filipa Rosário - Alcochete e Lisboa






quinta-feira, 12 de março de 2020

A era virtual como contenção à epidemia viral - Coronavírus e os desafios psicológicos...







- “Até para a semana Dra., isto se não estivermos todos de quarentena”. 
A resposta foi simples, com alguma prontidão e com um sorriso a acompanhar: 
- “Se estivermos de quarentena,  encontraremos uma alternativa virtual, não se preocupe.”



É desta forma que muitas sessões de psicoterapia têm terminado esta semana aqui pelo Canto da Psicologia. E também este, tem sido o tema dominante das consultas, onde são expressados e elaborados vários pensamentos sobre o novo Coronavírus.

Este é um fenómeno com características e consequências particulares que está a colocar à prova todas as áreas da nossa sociedade. É inevitável não falar ou pensar sobre ele!
Por momentos até parece que estamos a participar numa obra cinematográfica de Hollywood ou numa série da Netflix. Mas não, a realidade do Coronavírus (Covid-19) está efectivamente presente e não existe outra alternativa a não ser lidar com o seu aparecimento da forma mais ponderada possível. 

- “… Dra. eu já sou muito ansiosa com tudo e agora isto…, não sei o que fazer…”

Uma doença com estas características é por si só um acontecimento real assustador, devido a todas as incertezas inerentes, mas também pela proximidade com o adoecer físico e com a morte. A rapidez de propagação e o facto de ser transversal, coloca-nos emocionalmente numa posição de vulnerabilidade muito grande. 

Todos nós temos um funcionamento psicológico único que se protege dos eventos sentidos como ameaçadores, de forma especial, vamos reagindo com alguns receios e angústias de acordo com a nossa história e vivências do passado. É então natural que as pessoas que sofrem de ansiedade se sintam mais alarmadas e se foquem muito mais neste tema. 
Por outro lado, é nos momentos de crise que, habitualmente, tendemos a reagir de forma mais ansiosa, agressiva, receosa, irritada, instável, onde os sentimentos de desorganização, inquietude, tristeza e desespero são exponenciados.

A verdade é que a epidemia já se instalou e todos, de uma forma ou de outra, nos estamos a adaptar e a preparar para lidar com este acontecimento.

Será que o fazemos da mesma forma? Será que adoptamos os mesmos mecanismos de sobrevivência? Qual é a forma certa de o fazer? E, psicologicamente quais são as melhores estratégias a adoptar? Não há uma resposta única e solucionadora, mas a boa notícia é que existem diversas formas de o fazer. Talvez seja a altura de utilizarmos os artefactos da era virtual e do conhecimento a nosso total favor!

Isto não significa que devemos estar conectados de minuto a minuto a acompanhar as notícias sobre o Coronavírus, pelo contrário. É importante mantermo-nos informados para nos organizarmos e estarmos preparados mas, o acompanhamento das notícias deve ser feito pontualmente e com pouca frequência. 

Sermos criativos e identificarmos novas formas de estar e suportar a rotina, adaptando-a aos conselhos e diretrizes das entidades governamentais é um movimento necessário. 

Termos consciência que é um fenómeno já instalado e que será inevitável a sua presença, é fundamental porque ajuda-nos a preparar possíveis cenários que a qualquer momento podem ocorrer, como por exemplo, o encerramento das escolas, a proximidade com alguém que foi contagiado ou até com as prateleiras vazias no supermercado. Assim, não somos surpreendidos e os níveis de ansiedade e surpresa são ultrapassados de forma mais serena.

Estarmos atentos aos mais próximos e apoiarmos quem tem mais dificuldade em enfrentar este acontecimento é também uma estratégia essencial, mostrar a nossa solidariedade e sentido de responsabilidade para com os que se encontram mais angustiados e por vezes até apáticos sem saber como agir.

Os mais novos devem ser tranquilizadas, mas informados. Os medos de uma forma geral, fazem parte da vida das crianças mas, nesta altura desafiante para o mundo e no que diz respeito ao Coronavírus é importante que este não seja um assunto omitido, nem um assunto colocado em forma de pânico. O tema deve ser falado e abordado, de acordo com a idade, de forma clara, evitando mistérios, mas com conforto e segurança de modo a não ficarem assustados.

Depois de nos reinventarmos, de usufruirmos das redes sociais e das novas tecnologias como aliados na distracção e contenção da epidemia, resta-nos aguardar que a desordem trazida pelo Coronavírus dê tréguas e possamos reorganizarmo-nos.

O trabalho dos psicoterapeutas e o acompanhamento psicológico assumem um papel relevante em alturas de crise e por isso, aqui, n’ O Canto da Psicologia, mantemo-nos disponíveis e ao Alcance de Todos, já adaptados e preparados para fazer face a esta época viral.


Drª Fanisse Craveirinha - Setúbal
O Canto da Psicologia






quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Homem o suficiente ou o medo de não o ser...




O Luís conta-me que não se sente muito atraído por homens com características mais femininas – e aqui ele refere-se à forma de vestir, maneirismos, preferências. Contudo, acrescenta, também não se sente atraído por homens “Bear” ou “Urso” os quais para ele estão associados a  uma masculinidade demasiado “gráfica” e que ambos pensamos, talvez sirva para mascarar qualquer aspecto ligado ao feminino que pudesse aparecer. O Luís concorda com esta ideia e acrescenta que é muito difícil para os homens com uma orientação homossexual – em específico – exporem aspectos que tradicionalmente possam estar mais associados à feminilidade como a vulnerabilidade, necessidade de protecção, alegria, sem o perigo de se tornarem demasiado femininos. Conta-me que com a população masculina de orientação heterossexual é diferente, dando-me o exemplo de um amigo em comum, heterossexual e dizendo: “ por exemplo, o Manuel, usa o que quer e nunca deixa de ser masculino. Se fosse eu, ia parecer uma bicha”.

Neste caso, o Luís refere-se sobretudo à forma de vestir do Manuel e à expressão da sua sensibilidade através dos gostos e opiniões que manifesta, no geral. De certa forma, o Manuel é mais capaz de se expor, do que o Luís. Contudo, o que o Luís não sabe é que o Manuel desabafou comigo sobre sentir tantas vezes ser difícil definir, enquanto homem, os limites entre o feminino e o masculino, sentindo muitas vezes não corresponder ao estereótipo do masculino. Foi o Manuel que me disse que o preconceito de não se ser homem o suficiente, põe em causa a masculinidade.

O resumo dos diálogos que tive com ambos os  amigos, em alturas separadas, pretende apenas funcionar como ponto de partida para a reflexão em torno de algumas questões ligadas à construção das masculinidades e do feminino que nelas se inscreve. Não se trata portanto, de material clínico, apesar de levantar questões comuns às de muitos jovens adultos que vou ouvindo, em contexto de gabinete.

Segundo Benjamin (1988), psicanalista americana, nas sociedades ocidentais, as imagens culturais subjacentes à masculinidade geralmente continuam a significar ser-se racional, protector, agressivo e dominador, enquanto as imagens subjacentes à feminilidade costumam significar ser-se emocional, receptiva, afectiva, cuidadora e submissa. Estas imagens parecem obedecer a uma ordem social ligada à força binária, assente numa reprodução da complementaridade de géneros masculino e feminino enquanto constructos distintos e opostos.

Penso na afirmação de Stoller (1985), psiquiatra americano,  The first order of business in being a man is don`t be a woman” e automaticamente também na angústia do Luís e do Manuel quando me falam da dificuldade em exporem aspectos que tradicionalmente possam estar mais ligados ao feminino sem o perigo de se tornarem mulheres.

Independentemente da orientação sexual, é relativamente comum para os meninos, rapazes, adultos serem chamados, com mais ou menos frequência, de “maricas”, “bicha”, “paneleiro”. Sob este ponto de vista, o feminino é encarado como um sintoma negativo (Corbett, 1996), contido em cada uma destas injúrias narcísicas.

Ducat (2004) cria o termo “femiphobia” para assinalar o repúdio do homem pelo seu self feminino. O preconceito interno e externo do masculino em relação ao feminino instala-se, comprometendo o saudável desenvolvimento do sujeito através de uma organização fálica defensiva, negando aspectos ligados à capacidade procreativa e possibilidades de afecto e criação de um homem (Fast, 1984).

Tal como Luís,  o Manuel afirma sentir-se ambivalente em relação à definição dos limites entre o feminino e o masculino. A dificuldade do Manuel poderá talvez ser validada por Corbett (2009) que afirma que todos os géneros têm falta de coerência e são atormentados pela ansiedade. Grayson Perry (2016), um artista plástico inglês, escreve, meio a brincar meio a sério,  que existe um Departamento da Masculinidade que se encarrega de enviar os seus funcionários na recolha de informações acerca do que é ser masculino numa variedade de fontes -  pais, professores, televisão, livros, filmes. Os funcionários instalam-se dentro da cabeça de cada homem e enviam instruções através de uma voz interna inconsciente que serve como intercomunicador. Estes funcionários têm como tarefa patrulhar os limites do género e assegurar que todos os membros da cultura masculina respeitam e agem em conformidade (Buchbinder, 2013).  Os que não o fazem podem sentir-se como o Manuel – a não corresponder ao estereótipo do masculino.

As questões ligadas à identidade de género e, neste caso mais concreto, à masculinidade, são transversais a todas as Pessoas, quer sejam homens, mulheres, transexuais, intersexuais, homossexuais, heterossexuais ou assexuais. Podem ser pensados e debatidos em muitos lugares,  mas com certeza de forma aprofundada durante um processo psicoterapêutico, se tal se justificar.