- “Até para a semana Dra.,
isto se não estivermos todos de quarentena”.
A resposta foi simples, com alguma
prontidão e com um sorriso a acompanhar:
- “Se estivermos de quarentena, encontraremos uma alternativa virtual, não se preocupe.”
É desta forma que muitas sessões de psicoterapia têm terminado esta semana aqui pelo Canto da Psicologia. E
também este, tem sido o tema dominante das consultas, onde são expressados e
elaborados vários pensamentos sobre o novo Coronavírus.
Este é um fenómeno com características e consequências particulares que está a
colocar à prova todas as áreas da nossa sociedade. É inevitável não falar ou
pensar sobre ele!
Por momentos até parece que estamos a participar numa obra cinematográfica de
Hollywood ou numa série da Netflix. Mas não, a realidade do Coronavírus (Covid-19)
está efectivamente presente e não existe outra alternativa a não ser lidar com o
seu aparecimento da forma mais ponderada possível.
- “… Dra. eu já sou muito ansiosa com tudo e agora isto…, não sei o que fazer…”
Uma doença com estas características é por si só um acontecimento real
assustador, devido a todas as incertezas inerentes, mas também pela proximidade
com o adoecer físico e com a morte. A rapidez de propagação e o facto de ser
transversal, coloca-nos emocionalmente numa posição de vulnerabilidade muito
grande.
Todos nós temos um funcionamento psicológico único que se protege dos eventos
sentidos como ameaçadores, de forma especial, vamos reagindo com alguns receios
e angústias de acordo com a nossa história e vivências do passado. É então natural
que as pessoas que sofrem de ansiedade se sintam mais alarmadas e se foquem
muito mais neste tema.
Por outro lado, é nos momentos de crise que, habitualmente, tendemos a reagir
de forma mais ansiosa, agressiva, receosa, irritada, instável, onde os
sentimentos de desorganização, inquietude, tristeza e desespero são
exponenciados.
A verdade é que a epidemia já se instalou e todos, de uma forma ou de outra,
nos estamos a adaptar e a preparar para lidar com este acontecimento.
Será que o fazemos da mesma forma? Será que adoptamos os mesmos mecanismos de
sobrevivência? Qual é a forma certa de o fazer? E, psicologicamente quais são as melhores estratégias a adoptar? Não há uma resposta única e solucionadora, mas a boa notícia é que existem
diversas formas de o fazer. Talvez seja a altura de utilizarmos os artefactos
da era virtual e do conhecimento a nosso total favor!
Isto não significa que devemos estar conectados de minuto a minuto a acompanhar
as notícias sobre o Coronavírus, pelo contrário. É importante mantermo-nos
informados para nos organizarmos e estarmos preparados mas, o acompanhamento
das notícias deve ser feito pontualmente e com pouca frequência.
Sermos criativos e identificarmos novas formas de estar e suportar a rotina,
adaptando-a aos conselhos e diretrizes das entidades governamentais é um
movimento necessário.
Termos consciência que é um fenómeno já instalado e que será inevitável a sua
presença, é fundamental porque ajuda-nos a preparar possíveis cenários que a
qualquer momento podem ocorrer, como por exemplo, o encerramento das escolas, a
proximidade com alguém que foi contagiado ou até com as prateleiras vazias no
supermercado. Assim, não somos surpreendidos e os níveis de ansiedade e
surpresa são ultrapassados de forma mais serena.
Estarmos atentos aos mais próximos e apoiarmos quem tem mais dificuldade em
enfrentar este acontecimento é também uma estratégia essencial, mostrar a nossa
solidariedade e sentido de responsabilidade para com os que se encontram mais
angustiados e por vezes até apáticos sem saber como agir.
Os mais novos devem ser tranquilizadas, mas informados. Os medos de uma forma geral, fazem parte da vida das crianças mas, nesta altura desafiante para o
mundo e no que diz respeito ao Coronavírus é importante que este não seja um
assunto omitido, nem um assunto colocado em forma de pânico. O tema deve ser
falado e abordado, de acordo com a idade, de forma clara, evitando mistérios,
mas com conforto e segurança de modo a não ficarem assustados.
Depois de nos reinventarmos, de usufruirmos das redes sociais e das novas
tecnologias como aliados na distracção e contenção da epidemia, resta-nos
aguardar que a desordem trazida pelo Coronavírus dê tréguas e possamos
reorganizarmo-nos.
O trabalho dos psicoterapeutas e o acompanhamento psicológico assumem um papel
relevante em alturas de crise e por isso, aqui, n’ O Canto da Psicologia,
mantemo-nos disponíveis e ao Alcance de Todos, já adaptados e preparados para
fazer face a esta época viral.
Drª Fanisse Craveirinha - Setúbal
O Canto da Psicologia
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