quinta-feira, 12 de março de 2020

A era virtual como contenção à epidemia viral - Coronavírus e os desafios psicológicos...







- “Até para a semana Dra., isto se não estivermos todos de quarentena”. 
A resposta foi simples, com alguma prontidão e com um sorriso a acompanhar: 
- “Se estivermos de quarentena,  encontraremos uma alternativa virtual, não se preocupe.”



É desta forma que muitas sessões de psicoterapia têm terminado esta semana aqui pelo Canto da Psicologia. E também este, tem sido o tema dominante das consultas, onde são expressados e elaborados vários pensamentos sobre o novo Coronavírus.

Este é um fenómeno com características e consequências particulares que está a colocar à prova todas as áreas da nossa sociedade. É inevitável não falar ou pensar sobre ele!
Por momentos até parece que estamos a participar numa obra cinematográfica de Hollywood ou numa série da Netflix. Mas não, a realidade do Coronavírus (Covid-19) está efectivamente presente e não existe outra alternativa a não ser lidar com o seu aparecimento da forma mais ponderada possível. 

- “… Dra. eu já sou muito ansiosa com tudo e agora isto…, não sei o que fazer…”

Uma doença com estas características é por si só um acontecimento real assustador, devido a todas as incertezas inerentes, mas também pela proximidade com o adoecer físico e com a morte. A rapidez de propagação e o facto de ser transversal, coloca-nos emocionalmente numa posição de vulnerabilidade muito grande. 

Todos nós temos um funcionamento psicológico único que se protege dos eventos sentidos como ameaçadores, de forma especial, vamos reagindo com alguns receios e angústias de acordo com a nossa história e vivências do passado. É então natural que as pessoas que sofrem de ansiedade se sintam mais alarmadas e se foquem muito mais neste tema. 
Por outro lado, é nos momentos de crise que, habitualmente, tendemos a reagir de forma mais ansiosa, agressiva, receosa, irritada, instável, onde os sentimentos de desorganização, inquietude, tristeza e desespero são exponenciados.

A verdade é que a epidemia já se instalou e todos, de uma forma ou de outra, nos estamos a adaptar e a preparar para lidar com este acontecimento.

Será que o fazemos da mesma forma? Será que adoptamos os mesmos mecanismos de sobrevivência? Qual é a forma certa de o fazer? E, psicologicamente quais são as melhores estratégias a adoptar? Não há uma resposta única e solucionadora, mas a boa notícia é que existem diversas formas de o fazer. Talvez seja a altura de utilizarmos os artefactos da era virtual e do conhecimento a nosso total favor!

Isto não significa que devemos estar conectados de minuto a minuto a acompanhar as notícias sobre o Coronavírus, pelo contrário. É importante mantermo-nos informados para nos organizarmos e estarmos preparados mas, o acompanhamento das notícias deve ser feito pontualmente e com pouca frequência. 

Sermos criativos e identificarmos novas formas de estar e suportar a rotina, adaptando-a aos conselhos e diretrizes das entidades governamentais é um movimento necessário. 

Termos consciência que é um fenómeno já instalado e que será inevitável a sua presença, é fundamental porque ajuda-nos a preparar possíveis cenários que a qualquer momento podem ocorrer, como por exemplo, o encerramento das escolas, a proximidade com alguém que foi contagiado ou até com as prateleiras vazias no supermercado. Assim, não somos surpreendidos e os níveis de ansiedade e surpresa são ultrapassados de forma mais serena.

Estarmos atentos aos mais próximos e apoiarmos quem tem mais dificuldade em enfrentar este acontecimento é também uma estratégia essencial, mostrar a nossa solidariedade e sentido de responsabilidade para com os que se encontram mais angustiados e por vezes até apáticos sem saber como agir.

Os mais novos devem ser tranquilizadas, mas informados. Os medos de uma forma geral, fazem parte da vida das crianças mas, nesta altura desafiante para o mundo e no que diz respeito ao Coronavírus é importante que este não seja um assunto omitido, nem um assunto colocado em forma de pânico. O tema deve ser falado e abordado, de acordo com a idade, de forma clara, evitando mistérios, mas com conforto e segurança de modo a não ficarem assustados.

Depois de nos reinventarmos, de usufruirmos das redes sociais e das novas tecnologias como aliados na distracção e contenção da epidemia, resta-nos aguardar que a desordem trazida pelo Coronavírus dê tréguas e possamos reorganizarmo-nos.

O trabalho dos psicoterapeutas e o acompanhamento psicológico assumem um papel relevante em alturas de crise e por isso, aqui, n’ O Canto da Psicologia, mantemo-nos disponíveis e ao Alcance de Todos, já adaptados e preparados para fazer face a esta época viral.


Drª Fanisse Craveirinha - Setúbal
O Canto da Psicologia






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