quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Estou com dor de barriga....







Sentimos emoções todos os dias, umas vezes mais através do corpo, outras, através da mente. Temos dores de barriga quando nos sentimos nervosos ou ansiosos, às vezes perante uma tarefa difícil de realizar, um teste, uma avaliação no trabalho. Sentimos dificuldade em respirar quando perante uma notícia grave ou chocante para nós nos parece faltar o ar. Podemos ter dores de cabeça fortes na manhã em que vamos trabalhar – não nos apetece ir, podemos recear estar prestes a ser despedidos ou quem sabe, sermos nós quem vai ter de despedir alguém. Às vezes, quando estamos apaixonados, sentimos borboletas na barriga e perdemos o sono e o apetite. Corpo e mente são, como defende Patrícia Câmara (2019), psicóloga e Vice Presidente da Sociedade Portuguesa de Psicossomática,  indissociáveis e, por isso, pensá-los de forma separada pode ter uma função redutora e limitativa quando se pensa no ser humano enquanto pessoa que se relaciona consigo própria e com o mundo envolvente. Quando, por outro lado, pensamos a pessoa e a sua relação com o exterior integrando estas duas componentes – mente (psykhé) e corpo (soma) – estamos a pensar de forma integrada e psicossomática.

Na primeira etapa da nossa vida, que é a infância, Cohen e Marcelli (2006), ambos pedopsiquiatras, consideram que não há nada de mais psicossomático do que um bebé. O corpo ocupa um lugar de destaque no complexo campo das interações com o mundo externo, em que as várias funções fisiológicas (alimentação, tónus estático e dinâmico, eliminação esfincteriana) servem de base para a comunicação com o externo, o qual por sua vez terá o papel de “mentalizar” esse comportamento, através das capacidades de compreensão e antecipação da mãe.

 Para Winnicott (1960), pediatra e psicanalista, esta mentalização faz-se não só através da satisfação de necessidades fisiológicas, como também através do “agarrar/pegar” fisicamente o bebé, tendo em conta não só a sensibilidade da sua pele (ao toque, à temperatura, à gravidade) como o facto de que, para o bebé, nada mais existe ainda para além dele próprio numa relação pouco diferenciada com a sua mãe. As necessidades do bebé, apesar de manifestas fisiologicamente através do corpo, são também psíquicas, não podendo ser satisfeitas de forma mecanizada, implicando uma genuína empatia por parte da mãe.

Quando existem, por outro lado, falhas na relação de cuidado materno-devido à existência de uma depressão pós parto prolongada, uma situação de luto ou crise na família, por exemplo, o sentimento do bebé enquanto ser coeso e seguro do ponto de vista identitário  pode, nesta fase de construção, ser posto em causa. É a falência do continente materno, ou seja, do aparelho psíquico da mãe que, segundo Coimbra de Matos (2003), psiquiatra e psicanalista, impede o bebé de desenvolver a capacidade de leitura dos próprios afetos e interações, o que condiciona o desenvolvimento emocional e simbólico. É neste condicionamento que se adoece psiquicamente, em que o rasto somático é o único registo de uma experiência frustrante ou de privação afetiva (Coimbra de Matos, 2003). Como se só o corpo pudesse sentir.

Nas crianças e sobretudo nos bebés, o sintoma psicossomático assume um lugar privilegiado no sistema de interação mãe/filho, devendo ser considerado nessa perspetiva. Dominada com frequência pelas perturbações do sono e alimentares, mas também pelas perturbações da pele (eczemas), a expressão somática na primeira infância pode contudo ser muito diversificada, devendo ser analisada quanto à sua localização, extensão, importância, entre outros fatores.  A perturbação do sono no primeiro semestre, por exemplo, poderá estar relacionada com atitudes maternas inconscientes contraditórias, conduzindo à emissão de mensagens opostas por parte da mãe ou a uma dificuldade no ajustamento da distância afectiva entre ela própria e o bebé, podendo oscilar entre aproximações  fusionais e afastamentos bruscos. A ocorrência de uma depressão materna durante a gravidez poderá, também, estar na origem destas perturbações, uma vez que limita as capacidades maternas de escuta das necessidades do bebé, perturbando o seu sono (Mazet et Stoleru, 2003). A alimentação, por estar no centro da relação mãe/criança, quando perturbada - através do vómito ou anorexia do segundo semestre, por exemplo - pode apontar para dificuldades na satisfação da necessidade primária de ligação do bebé à mãe ou para dificuldades da mãe em relação ao investimento no seu bebé (Mazet et Stoleru, 2003).

Seja qual for a perturbação de expressão psicossomática, ela parece ser, antes de tudo, o reflexo de conflitos intrapsíquicos dos pais, sendo importante, além de uma atenta observação da relação pais/bebé ou mãe/bebé, escutá-los com atenção e disponibilidade. A história de vida da mãe, em particular, e a forma como percepcionou e vivenciou os laços afectivos com a sua própria mãe e com o seu pai são dados fundamentais na compreensão das expressões somáticas no bebé. A sua resolução depende muitas vezes de um processo psicoterapêutico da mãe, do pai, ou de ambos.






quarta-feira, 23 de outubro de 2019

A doença crónica e a família...





Quando o diagnóstico de uma doença crónica surge, apanha toda a família de surpresa. Independentemente da doença diagnosticada, este é sempre um momento de crise. A crise resultante da convivência com uma doença crónica resulta muitas vezes da dificuldade que a família tem em adaptar-se às mudanças na sua rotina normal e obriga cada elemento da família a fazer ajustes a fim de lidar com a situação.

Naturalmente, nem todos os membros da família são afetados da mesma forma, dependendo das suas características individuais, da sua maturidade e personalidade. A família terá de aprender novas capacidades para prestar os cuidados ao elemento doente e vê-se obrigada a ajustar as suas atitudes, emoções, estilos de vida e rotina. É compreensível que esta situação exija cada vez mais perseverança da parte da família.
Ao contrario do que se possa pensar, não são os profissionais de saúde e muito menos os médicos os primeiros e principais cuidadores dos doentes crónicos. Este lugar cabe fundamentalmente aos familiares. As famílias são o recurso mais valioso para o entendimento e o cuidado da doença crónica.

A família enfrenta três fases de adaptação psicológica à doença crónica: a negação da doença no momento do diagnóstico; a desorganização familiar e consequente necessidade de reajustamento familiar às novas rotinas e a adaptação à doença e aos seus efeitos tendo em conta as características da mesma.

As doenças crónicas têm consequências psicológicas e sociais importantes, exigindo uma adaptação psicológica significativa. Confrontam o doente e a sua família com inúmeras ameaças e desafios, suscitando neste diferentes necessidades adaptativas — a necessidade de preservar um equilíbrio emocional razoável; a necessidade de manter um sentido de competência; a necessidade de conservar relações com a família e amigos; e a preparação para um futuro incerto. As incertezas no diagnóstico, a incapacidade, a dependência, os estigmas sociais e as alterações no estilo de vida são outras características das doenças crónicas que requerem adaptação. De forma a manter níveis adequados de funcionamento emocional, físico e social — expressos pelo bem-estar e qualidade de vida — os doentes e as suas famílias têm de lidar com estas ameaças e desafios impostos pela doença.

A Psicologia contribui para ajudar o doente e a sua família a manter o equilíbrio e compreender o funcionamento dos conflitos enfrentados devido à patologia vivenciada. O papel do psicólogo é oferecer ao paciente instrumentos terapêuticos para ajudá-lo a diminuir o seu sofrimento e ter uma compreensão mais ampla sobre a sua desorganização psíquica e encorajá-lo a criar novas possibilidades de enfrentamento.

Vivenciando os estágios emocionais de pessoas que sofrem de doenças crónicas e dos seus cuidadores, a psicologia pode contribuir muito para apaziguar angústias, conflitos e aflições.
Conviver com uma doença que não tem cura não deve significar render-se, abdicando de sonhos e objetivos. Por mais grave que uma patologia seja, por mais cruel o seu diagnóstico, o paciente e os seus cuidadores precisam sempre de contar com o acompanhamento psicológico a fim de encontrarem um novo equilíbrio.

Nunca devemos subestimar as capacidades da família. Descobrem-se forças onde pareciam não existir e, por vezes, esta experiência vivencial pode ser fonte de crescimento e de uma nova união familiar.






terça-feira, 22 de outubro de 2019

Exercícios na gravidez...







Hoje, a maior parte das crianças são planeadas e a gravidez é muitas vezes vista como uma condição em que a mulher deve estar parada, com receio que algo de mal possa acontecer durante a gestação. Este facto, traduz-se em níveis de inatividade física acima dos 70% em gestantes, logo, problemas como obesidade, diabetes gestacional, ansiedade, depressão, podem aumentar durante a gravidez.

As últimas evidências científicas vieram corroborar as vantagens de boas práticas no que toca ao exercício físico bem dirigido durante a gravidez. O exercício ajuda a:

- controlar e prevenir o aumento de peso durante e após a gravidez;
- reduzir a hipertensão e os sintomas de preclampsia;
- diminuir o risco em 60% de diabetes gestacional;
- combater sinais de ansiedade e depressão;
- melhorar auto-estima e aumentar hormonas de bem-estar;
- melhorar a irrigação sanguínea entre o feto e a mãe; 
- diminuir os riscos cardiovasculares do feto e problemas futuros associados;


Referir que, numa gravidez sem riscos associados, a gestante pode e deve ser fisicamente ativa antes, durante e após a gravidez.


Bons treinos

Hugo Silva




Instagram: hugo_silva_coach
-Licenciatura Educação Física/Especialização Treino Personalizado
-Pós-Graduação em Marketing do Fitness 
-Pós-Graduando em Strength and Conditioning
-Director Técnico ginásio Lisboa Racket Centre


quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Luto pela perda do cônjuge...









“Mesmo sem falarmos antes, sabíamos a resposta do outro, como se os pensamentos fossem sempre comuns. (…) As nossas partilhas queriam expressar por palavras diferentes os mesmos pensamentos, sentidos em uníssono. Na realidade, talvez não fôssemos já dois, mas uma nova pessoa”.
                                                                                                          Jorge Biscaia

Ainda que o luto se defina como uma reação adaptativa natural e expectável perante a perda de um ser querido, é um dos acontecimentos de vida mais doloroso vivenciado pelo ser humano. Abrangendo todas as idades e contextos culturais, depois da morte de um filho(a), a morte do conjugue é apontada como um dos acontecimentos vitais mais stressantes em termos de intensidade e duração pelo qual uma pessoa pode passar (Holmes & Rahe, 1967; Windholz, Marmar; Horowitz, 1985; Demi, 1989; Dohrenwend et al., 1994; Parkes,1998; Pringerson & Jacobs, 2001; Ungar & Florian, 2004).

Apesar da maioria das pessoas vivenciarem processos que levam a resoluções adaptativas e integradas do luto, estima-se que para 10% a 20% destas pessoas a experiência de perda seja mais complexa na medida em que, apesar do tempo, e de outras variáveis, constata-se uma interferência notória no seu funcionamento geral – uma incapacidade de reorganização das relações familiares, de amizade ou de trabalho e outras atividades importantes (Payás, A., 2012; Lathman & Prigerson, 2004; Barry, Kals & Prigerson, 2001; Rebelo, 2012), elevando o risco de problemas de saúde física e mental e aumentando a probabilidade de morte prematura, principalmente em casais idosos (Genevro, 2004; Stroebe et al. 2001; Stroebe et al., 2007; Stahl et al., 2016; Fagundes et al., 2019).

Através de uma investigação meta-analítica, concluiu-se recentemente que pessoas viúvas, especialmente os homens, têm um risco 11% maior de mortalidade quando comparadas com pessoas casadas (Manzoli, Villari, Pirone, & Boccia, 2007), muito devido à fragilização da saúde do conjugue sobrevivente, sobretudo os que não dispõem de uma rede social de suporte próxima (Prizanteli, 2008). De forma relacionada, a taxa de morbidade é mais significativa em pessoas viúvas (Parkes, 1998), sendo o tipo de luto mais frequente que precede sintomatologia psiquiátrica associada a um luto complicado ou patológico (Bowlby 1973-2004; Parkes, 2006). O risco de depressão em viúvos/as quadruplica no primeiro ano (Zissook & Shuchter, 1991; Fagundes et al., 2019), verificando-se um aumento do abuso de álcool (Maddison & Viola, 1968) e de psicofármacos - sedativos, hipnóticos e tranquilizantes (Parkes, 1964; Windholz, Marmar & Horowitz, 1985). As principais causas de morte em viúvos/as estão relacionadas com eventos cardiovasculares (Hart et al., 2007; Shor el al, 2012; Moon et al., 2013; Fagundes et al., 2019) e suicídio (Kaprio; Koskervuo & Rita, 1987).

No enviuvamento, a pessoa fica sozinha com o sentimento de ser e fazer parte de uma unidade que objetivamente já não existe (Lira, 2005). Nesse sentido, e como afirma José Eduardo Rebelo (2008), “A perda da pessoa com quem um dia decidimos partilhar toda uma vida constitui um golpe bem rude nos sentimentos, emoções e expectativas que devotávamos ao sentido real da nossa existência: o amor”. É a perda de um projeto de convivência no qual se investiu intensivamente durante uma vida e também, em casos mais ou menos precoces, a perda de um projeto de futuro que se idealizou de forma dual, como “pessoa conjugal”, utilizando o termo de Jorge Biscaia (2010). A “desconjugalização” por morte, descontinuidade abrupta do casal, remete o sujeito para uma angústia extremamente solitária e desorganizadora, tornando o futuro, no momento presente, impensável e “invivível”. Inaugura-se o terrífico tempo da vivência do luto, o tempo da desvinculação desconcertante mas necessária adaptativamente.

A vivência deste tempo comporta não só a perda do outro mas também a perda de uma parte da identidade do próprio que existia através daquela relação. Este desvincular implica a perda e despojamento de posições e papéis, presença e segurança (Gameiro, 1988 referido por Biscaia, 2010). Existe a perda de um amor conjugal mas também a perda de um confidente, de um bom amigo, do parceiro sexual, da fonte total ou parcial da renda da casa (Parkes, 1998), perda dos ideais, da família sonhada, dos bens materiais, do status, da partilha do crescimento do(s) filho(s) (Ducati, 2013).

A perda do cônjuge convoca pois a uma dupla gestão: ora de aspetos emocionais associados à morte, ora da gestão dos ajustes comportamentais, sociais e económicos partilhados pelo casal enquanto unidade (Carr & Utz, 2001; Donnelly & Hinterlong, 2010 ; Ha, 2010 ; Stroebe & Schut, 2010 ; Utz, Carr, Nesse, & Wortman, 2002).
Pouco a pouco, a vivência do luto vai convocando a um reinvestimento nos papéis atuais e ao desafio da aprendizagem de novos papéis de forma não conjugal, de forma individual, à medida que o sujeito se apropria de um novo modelo de mundo, de um novo repertório de soluções para os problemas da “nova” vida (Marinho, Marinonio & Rodrigues, 2007).

De acordo com Rebelo (2012), “As intervenções psicoterapêuticas no luto, levando em consideração a especificidade dos fatores de risco envolvidos, procuram integrar as diversas dimensões: somático-sensoriais, emocionais, cognitivas, comportamentais e físicas. (…) Procura-se não só um controlo sintomático, uma recuperação funcional, mas também um crescimento e desenvolvimento pessoal após uma perda significativa”, num espaço de segurança, confiança, respeito e de não patologização. Acompanha-se a pessoa na adaptação a uma realidade em que nada volta a ser o mesmo, nem sequer o próprio, sendo importante que a pessoa integre, ao seu ritmo, a perda na sua nova identidade para que o luto não se complique e origine situações de maior mal-estar (Payás, A., 2010).






quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Uma falsa inclusão…






Estamos numa época em que, à escala mundial, se fala cada vez mais em inclusão, em todos os sentidos e nos mais diversos contextos. Mas, será que estamos de facto a incluir? Será que compreendemos e aceitamos todos a diferença e que queremos que essa diferença esteja incluída na nossa vida? Quando falo em diferença não tem de ser realmente uma diferença que implique uma deficiência, por exemplo. Quando falo de diferença falo também das mulheres a ocupar cada vez mais cargos de elevada importância e exigência, falo de pessoas de raças distintas a ocupar igualmente esses cargos e que há uns anos atrás (não assim tantos) se pensava ser impossível. Falo igualmente da dificuldade de aceitação da homossexualidade no contexto de trabalho. Falo das minorias… Mas, ao mesmo tempo que isto acontece, há uma constante resistência da sociedade por trás, quantas mulheres para chegar a esses cargos têm de prescindir de criar família para chegar ao cargo desejado? Quantas pessoas de raças distintas têm de se esforçar o dobro (ou triplo) para mostrar o valor que têm e que são realmente merecedoras (e tão merecedoras como os restantes) daquilo pelo qual estão a lutar? Quantas pessoas têm de omitir ou prescindir do seu verdadeiro eu?

Apesar de não implicar apenas a deficiência, esta está obrigatoriamente incluída na inclusão de que falo, seja ela física ou intelectual. A sociedade vai-nos mostrando que é bom incluir, que é bom aceitar e essa inclusão vai de facto acontecendo… mas quando essa inclusão implica o ataque direto ou indireto ao outro, quando a inclusão implica ouvir e aceitar que esse outro também tem o direito à sua opinião e que é de facto válida, por vezes o conceito de inclusão é esquecido e o ataque vai diretamente à diferença.

Tendo em conta os acontecimentos mais recentes podemos falar de dois exemplos bastante claros destas situações, um deles no nosso país, outros deles com influência a nível mundial... Num deles falamos de uma mulher, de raça negra com uma perturbação na fluência da fala, que ao mesmo tempo que muitas pessoas apoiam, também criticam, também tentam diminuir a importância que tem devido às suas diferenças, não existindo compreensão da parte do outro, não existindo empatia da parte do outro, há uma diminuição do papel do outro. No segundo caso falamos de uma jovem, que conseguiu de uma forma ou de outra chamar a atenção de todos (ou quase todos), falamos de uma jovem que se insere no espetro do autismo, que apesar de toda a dificuldade que pode envolver a patologia no que concerne às capacidades sociais, conseguiu fazer chegar os seus ideais a grande parte do mundo. A maioria apoiou, para a maioria fez-lhe sentido as palavras transmitidas. Mas, quando num momento surgem comportamentos que o outro não compreende, passa a existir um ataque direto, deixa de existir a compreensão de que alguns comportamentos são próprios de determinadas patologias e que com a inclusão efetiva esses comportamentos deveriam ser observados de forma mais compreensiva, não partindo diretamente ao ataque e à crítica.

Com isto ficam algumas questões… Como se sentem estas pessoas? Por um lado já conseguem ter o suporte para ter voz, para chegar mais longe, mas por outro, eventualmente, quando essa voz é “demasiado” poderosa surgem as críticas, surge a falta de empatia e a falta de compreensão pela diferença e o que antes era positivo e inclusivo, deixa de o ser, deixa de ser necessário e deixa de fazer sentido em determinadas situações…

Nestes casos específicos falamos de pessoas que de facto conseguiram ter voz, mas existe sempre quem não o consiga, existe sempre quem não consiga ser de todo incluído. E, por trás de tudo isso vêm as dúvidas dessas pessoas, sobre o porquê de não terem os mesmos direitos dos outros, sobre o porquê de não terem as mesmas oportunidades que os outros, sobre o porquê de terem de se esforçar mais do que os outros para atingirem o que pretendem mesmo quando têm as mesmas ou mais capacidades para tal… à volta destas pessoas estão igualmente as famílias, que ouvem desde cedo e que passam desde cedo pela crítica, pela exclusão, pela falsa inclusão, pelos olhares incompreensivos do outro… tudo isto ao longo da vida destas pessoas, façam elas parte de que minoria for, afeta o estado emocional, afeta a autoestima, afeta a possibilidade de um desenvolvimento estável e com oportunidades…

Poderia dar exemplos de muitas outras situações que tornam a nossa inclusão, por vezes, numa falsa inclusão… Mas estes são o suficiente para podermos refletir sobre o verdadeiro significado de incluir, sobre o que poderá passar internamente a pessoa que faz parte da minoria e que tenta ser incluída com todas as barreiras que lhe vão sendo colocadas no caminho…




Drª Rita Rana
O Canto da Psicologia



terça-feira, 8 de outubro de 2019

Parkinson e exercício físico...







Todos nós conhecemos alguém que direta ou indiretamente sofre da doença de Parkinson. Esta doença provoca rigidez, tremores, instabilidade, quedas, falta de precisão, diminuição da motricidade fina, etc. Por norma o processo da doença ao longo do tempo, torna o doente dependente de terceiros, perdendo qualidade de vida e aumentando os quadros de depressão.

Recentemente, investigadores descobriram que, associando medicação com treinos de equilíbrio e força nos pacientes, estes reportavam melhorias significativas em tarefas diárias, assim como melhoria nos sintomas de depressão e auto-estima. No decorrer do estudo, experimentaram retirar os treinos associados à medicação e sem grande espanto, os doentes que deixaram de treinar voltaram a piorar nos ganhos de equilíbrio, tremores e motricidade.

O exercício físico comprova uma vez mais que, sendo bem administrado, pode ser um excelente coadjuvante na saúde do ser humano. Um ser humano ativo é um ser mais saudável e autónomo.

Bons treinos




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quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Porque é que a minha dieta falhou? Vamos falar sobre fome emocional






É comum a sensação de desânimo ao olharmos ao espelho e percebermos que a imagem lá projectada não corresponde à por nós idealizada. As reacções emocionais a uma imagem corporal indesejada são muitas e podem variar, entre elas a sensação de impotência, frustração, tristeza ou mesmo raiva contra nós mesmos. As nossas reações emocionais relacionam-se com as estratégias que logo decidimos pôr em prática e que podem ir no sentido de tentar alterar a nossa imagem, ou no extremo oposto, no sentido de conformismo com algo que aparentemente sentimos como inalterável.

Uma forma de não aceitação e combate à imagem corporal indesejada pode ser o início de uma dieta. Quantos de nós já não iniciámos uma dieta? Ou pelo menos ouvimos algum amigo/a a dizer “eu hoje vou comer salada, estou de dieta”?
Mas a verdade é que os diferentes estudos na área indicam que 1 a 2/3 das pessoas que iniciam uma dieta acabam por ficar com um peso superior ao inicial nos 4 a 5 anos seguintes. Isto deve-se ao facto de maior parte das dietas de perda de peso não respeitarem os factores individuais de cada um de nós, resultando no sentimento de fome, mudanças de humor, falta de energia, frustração, desmotivação, baixa auto estima, em última instância, pior qualidade de vida. 

Na verdade, o acto de comer é muito mais que um processo biológico, envolve variáveis sobretudo psicológicas que muitas vezes nós próprios não temos consciência. Esta é uma das causas de imensas dietas alimentares não serem sustentáveis a longo prazo. 
Face a determinadas situações e mesmo em certos momentos da nossa vida o alimento pode tornar-se um recurso para lidar com sentimentos desagradáveis (stress, angústia, ansiedade,tristeza, vergonha, etc.) e é algo que a dieta não consegue combater. 

Falamos de Fome Emocional quando usamos a comida para nos sentirmos melhor ou quando comemos para satisfazer carências emocionais e não físicas. Quando nos sentimos ansiosos, tristes, aborrecidos, zangados, sozinhos e abrimos um frigorífico para compensar, é neste momento que nos aprisionamos um ciclo pouco saudável de tentar negar o real problema. Ao comer podemos sentir uma sensação de alívio momentâneo, mas o problema continua lá e a seguir vêm os sentimentos de frustração e zanga connosco mesmos pelas calorias desnecessariamente ingeridas.

Eis algumas questões que podemos fazer a nós mesmos e que ajudam a identificar se se trata de fome emocional:

·        -  Eu como mais quando me sinto ansioso?
·        -  Eu como para me sentir melhor?
·         - Eu costumo usar a comida como recompensa, por exemplo depois de um dia difícil?
·        -  Sinto-me impotente ou sinto que não tenho controlo sobre a comida que ingero?
·         - A comida faz-me sentir seguro?

Outro aspecto importante a ter em conta é a forma como a fome se manifesta. Quando se trata de fome com base em variáveis emocionais é mais provável que apareça de forma repentina e urgente, sentimos que não dá para aguentar mais tempo sem comermos. Outra característica é o facto da fome emocional ser mais direcionada para comidas mais calóricas ou com açúcar, como por exemplo pizza, bolo de chocolate. Isto acontece porque, de facto, estes alimentos provocam um disparo de energia e consequentemente a sensação de maior bem-estar. Também a rapidez com que ingerimos a comida é maior quando se trata de fome emocional e podemos até comer um pacote de batatas inteiro em minutos, sem que tenhamos consciência ou prazer. Por estas razões a fome emocional leva a sentimentos de culpa, vergonha e arrependimento.

Esta é uma problemática pouco identificada e pouco combatida pelas imensas dietas que existem e que continuam a surgir. Há um grande investimento em consultas de estética, nutrição, ginásios, etc. que acabam por ter resultados pouco satisfatórios. E não se trata da ineficácia da nutrição ou do exercício físico, mas sim de uma negligência dos factores psicológicos que intervêm no processo. A fome emocional existe, afeta pessoas de todas as idades, género e peso, e carece de uma intervenção multidisciplinar.

A Psicologia pode ter um papel determinante na perda de peso saudável. A intervenção psicológica passa por identificar quais as emoções que estamos a tentar reprimir/anestesiar e compreender como exprimi-las de forma saudável; conseguir identificar e compreender sentimentos tais como o aborrecimento, angústia, sensação de vazio, falta de sentido, insatisfação com a vida; identificar e compreender os hábitos da infância relacionados com a comida; identificar e compreender factores sociais e efeitos de grupo; compreender manifestações de ansiedade. A seguir é fundamental a criação de estratégias alternativas mais saudáveis e consistentes e sobretudo outras formas de ser e estar que nos preencham emocionalmente.


Porque por vezes as respostas que procuramos não estão no frigorífico.