quarta-feira, 23 de outubro de 2019

A doença crónica e a família...





Quando o diagnóstico de uma doença crónica surge, apanha toda a família de surpresa. Independentemente da doença diagnosticada, este é sempre um momento de crise. A crise resultante da convivência com uma doença crónica resulta muitas vezes da dificuldade que a família tem em adaptar-se às mudanças na sua rotina normal e obriga cada elemento da família a fazer ajustes a fim de lidar com a situação.

Naturalmente, nem todos os membros da família são afetados da mesma forma, dependendo das suas características individuais, da sua maturidade e personalidade. A família terá de aprender novas capacidades para prestar os cuidados ao elemento doente e vê-se obrigada a ajustar as suas atitudes, emoções, estilos de vida e rotina. É compreensível que esta situação exija cada vez mais perseverança da parte da família.
Ao contrario do que se possa pensar, não são os profissionais de saúde e muito menos os médicos os primeiros e principais cuidadores dos doentes crónicos. Este lugar cabe fundamentalmente aos familiares. As famílias são o recurso mais valioso para o entendimento e o cuidado da doença crónica.

A família enfrenta três fases de adaptação psicológica à doença crónica: a negação da doença no momento do diagnóstico; a desorganização familiar e consequente necessidade de reajustamento familiar às novas rotinas e a adaptação à doença e aos seus efeitos tendo em conta as características da mesma.

As doenças crónicas têm consequências psicológicas e sociais importantes, exigindo uma adaptação psicológica significativa. Confrontam o doente e a sua família com inúmeras ameaças e desafios, suscitando neste diferentes necessidades adaptativas — a necessidade de preservar um equilíbrio emocional razoável; a necessidade de manter um sentido de competência; a necessidade de conservar relações com a família e amigos; e a preparação para um futuro incerto. As incertezas no diagnóstico, a incapacidade, a dependência, os estigmas sociais e as alterações no estilo de vida são outras características das doenças crónicas que requerem adaptação. De forma a manter níveis adequados de funcionamento emocional, físico e social — expressos pelo bem-estar e qualidade de vida — os doentes e as suas famílias têm de lidar com estas ameaças e desafios impostos pela doença.

A Psicologia contribui para ajudar o doente e a sua família a manter o equilíbrio e compreender o funcionamento dos conflitos enfrentados devido à patologia vivenciada. O papel do psicólogo é oferecer ao paciente instrumentos terapêuticos para ajudá-lo a diminuir o seu sofrimento e ter uma compreensão mais ampla sobre a sua desorganização psíquica e encorajá-lo a criar novas possibilidades de enfrentamento.

Vivenciando os estágios emocionais de pessoas que sofrem de doenças crónicas e dos seus cuidadores, a psicologia pode contribuir muito para apaziguar angústias, conflitos e aflições.
Conviver com uma doença que não tem cura não deve significar render-se, abdicando de sonhos e objetivos. Por mais grave que uma patologia seja, por mais cruel o seu diagnóstico, o paciente e os seus cuidadores precisam sempre de contar com o acompanhamento psicológico a fim de encontrarem um novo equilíbrio.

Nunca devemos subestimar as capacidades da família. Descobrem-se forças onde pareciam não existir e, por vezes, esta experiência vivencial pode ser fonte de crescimento e de uma nova união familiar.






Sem comentários:

Enviar um comentário