Quando o diagnóstico de uma doença crónica surge, apanha toda a família de surpresa. Independentemente da doença diagnosticada, este é
sempre um momento de crise. A crise resultante da convivência com uma doença
crónica resulta muitas vezes da dificuldade que a família tem em adaptar-se às
mudanças na sua rotina normal e obriga cada elemento da família a fazer ajustes
a fim de lidar com a situação.
Naturalmente, nem todos os membros da família são afetados
da mesma forma, dependendo das suas características individuais, da sua
maturidade e personalidade. A família terá de aprender novas capacidades para
prestar os cuidados ao elemento doente e vê-se obrigada a ajustar as suas
atitudes, emoções, estilos de vida e rotina. É compreensível que esta situação
exija cada vez mais perseverança da parte da família.
Ao contrario do que se possa pensar, não são os
profissionais de saúde e muito menos os médicos os primeiros e principais
cuidadores dos doentes crónicos. Este lugar cabe fundamentalmente aos
familiares. As famílias são o recurso mais valioso para o entendimento e o
cuidado da doença crónica.
A família enfrenta três fases de adaptação psicológica à doença crónica: a negação da doença no momento do diagnóstico; a desorganização
familiar e consequente necessidade de reajustamento familiar às novas rotinas e
a adaptação à doença e aos seus efeitos tendo em conta as características da
mesma.
As doenças crónicas têm consequências psicológicas e sociais
importantes, exigindo uma adaptação psicológica significativa. Confrontam o
doente e a sua família com inúmeras ameaças e desafios, suscitando neste
diferentes necessidades adaptativas — a necessidade de preservar um equilíbrio
emocional razoável; a necessidade de manter um sentido de competência; a
necessidade de conservar relações com a família e amigos; e a preparação para
um futuro incerto. As incertezas no diagnóstico, a incapacidade, a dependência,
os estigmas sociais e as alterações no estilo de vida são outras características
das doenças crónicas que requerem adaptação. De forma a manter níveis adequados
de funcionamento emocional, físico e social — expressos pelo bem-estar e
qualidade de vida — os doentes e as suas famílias têm de lidar com estas
ameaças e desafios impostos pela doença.
A Psicologia contribui para ajudar o doente e a
sua família a manter o equilíbrio e compreender o funcionamento dos conflitos
enfrentados devido à patologia vivenciada. O papel do psicólogo é oferecer ao
paciente instrumentos terapêuticos para ajudá-lo a diminuir o seu sofrimento e
ter uma compreensão mais ampla sobre a sua desorganização psíquica e
encorajá-lo a criar novas possibilidades de enfrentamento.
Vivenciando
os estágios emocionais de pessoas que sofrem de doenças crónicas e dos seus
cuidadores, a psicologia pode contribuir muito para apaziguar angústias,
conflitos e aflições.
Conviver
com uma doença que não tem cura não deve significar render-se, abdicando de
sonhos e objetivos. Por mais grave que uma patologia seja, por mais cruel o seu
diagnóstico, o paciente e os seus cuidadores precisam sempre de contar com o acompanhamento
psicológico a fim de encontrarem um novo equilíbrio.
Nunca devemos subestimar as capacidades da família.
Descobrem-se forças onde pareciam não existir e, por vezes, esta experiência
vivencial pode ser fonte de crescimento e de uma nova união familiar.
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