Estamos numa época em que, à
escala mundial, se fala cada vez mais em inclusão, em todos os sentidos e nos
mais diversos contextos. Mas, será que estamos de facto a incluir? Será que compreendemos
e aceitamos todos a diferença e que queremos que essa diferença esteja incluída
na nossa vida? Quando falo em diferença não tem de ser realmente uma diferença
que implique uma deficiência, por exemplo. Quando falo de diferença falo também
das mulheres a ocupar cada vez mais cargos de elevada importância e exigência,
falo de pessoas de raças distintas a ocupar igualmente esses cargos e que há
uns anos atrás (não assim tantos) se pensava ser impossível. Falo igualmente da
dificuldade de aceitação da homossexualidade no contexto de trabalho. Falo das
minorias… Mas, ao mesmo tempo que isto acontece, há uma constante resistência
da sociedade por trás, quantas mulheres para chegar a esses cargos têm de
prescindir de criar família para chegar ao cargo desejado? Quantas pessoas de
raças distintas têm de se esforçar o dobro (ou triplo) para mostrar o valor que
têm e que são realmente merecedoras (e tão merecedoras como os restantes) daquilo
pelo qual estão a lutar? Quantas pessoas têm de omitir ou prescindir do seu verdadeiro eu?
Apesar de não implicar apenas a
deficiência, esta está obrigatoriamente incluída na inclusão de que falo, seja
ela física ou intelectual. A sociedade vai-nos mostrando que é bom incluir, que
é bom aceitar e essa inclusão vai de facto acontecendo… mas quando essa
inclusão implica o ataque direto ou indireto ao outro, quando a inclusão
implica ouvir e aceitar que esse outro também tem o direito à sua opinião e que
é de facto válida, por vezes o conceito de inclusão é esquecido e o ataque vai
diretamente à diferença.
Tendo em conta os acontecimentos
mais recentes podemos falar de dois exemplos bastante claros destas situações,
um deles no nosso país, outros deles com influência a nível mundial... Num
deles falamos de uma mulher, de raça negra com uma perturbação na fluência da
fala, que ao mesmo tempo que muitas pessoas apoiam, também criticam, também
tentam diminuir a importância que tem devido às suas diferenças, não existindo
compreensão da parte do outro, não existindo empatia da parte do outro, há uma
diminuição do papel do outro. No segundo caso falamos de uma jovem, que
conseguiu de uma forma ou de outra chamar a atenção de todos (ou quase todos),
falamos de uma jovem que se insere no espetro do autismo, que apesar de toda a
dificuldade que pode envolver a patologia no que concerne às capacidades
sociais, conseguiu fazer chegar os seus ideais a grande parte do mundo. A
maioria apoiou, para a maioria fez-lhe sentido as palavras transmitidas. Mas,
quando num momento surgem comportamentos que o outro não compreende, passa a
existir um ataque direto, deixa de existir a compreensão de que alguns
comportamentos são próprios de determinadas patologias e que com a inclusão
efetiva esses comportamentos deveriam ser observados de forma mais
compreensiva, não partindo diretamente ao ataque e à crítica.
Com isto ficam algumas questões… Como
se sentem estas pessoas? Por um lado já conseguem ter o suporte para ter voz,
para chegar mais longe, mas por outro, eventualmente, quando essa voz é “demasiado”
poderosa surgem as críticas, surge a falta de empatia e a falta de compreensão
pela diferença e o que antes era positivo e inclusivo, deixa de o ser, deixa de
ser necessário e deixa de fazer sentido em determinadas situações…
Nestes casos específicos falamos
de pessoas que de facto conseguiram ter voz, mas existe sempre quem não o
consiga, existe sempre quem não consiga ser de todo incluído. E, por trás de
tudo isso vêm as dúvidas dessas pessoas, sobre o porquê de não terem os mesmos
direitos dos outros, sobre o porquê de não terem as mesmas oportunidades que os
outros, sobre o porquê de terem de se esforçar mais do que os outros para
atingirem o que pretendem mesmo quando têm as mesmas ou mais capacidades para
tal… à volta destas pessoas estão igualmente as famílias, que ouvem desde cedo
e que passam desde cedo pela crítica, pela exclusão, pela falsa inclusão, pelos
olhares incompreensivos do outro… tudo isto ao longo da vida destas pessoas,
façam elas parte de que minoria for, afeta o estado emocional, afeta a
autoestima, afeta a possibilidade de um desenvolvimento estável e com
oportunidades…
Poderia dar exemplos de muitas
outras situações que tornam a nossa inclusão, por vezes, numa falsa inclusão… Mas
estes são o suficiente para podermos refletir sobre o verdadeiro significado de
incluir, sobre o que poderá passar internamente a pessoa que faz parte da
minoria e que tenta ser incluída com todas as barreiras que lhe vão sendo
colocadas no caminho…
Drª Rita Rana
O Canto da Psicologia
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