É
comum a sensação de desânimo ao olharmos ao espelho e percebermos que a imagem
lá projectada não corresponde à por nós idealizada. As reacções emocionais a uma imagem corporal indesejada são muitas e podem variar, entre elas a sensação
de impotência, frustração, tristeza ou mesmo raiva contra nós mesmos. As nossas
reações emocionais relacionam-se com as estratégias que logo decidimos pôr em
prática e que podem ir no sentido de tentar alterar a nossa imagem, ou no
extremo oposto, no sentido de conformismo com algo que aparentemente sentimos
como inalterável.
Uma
forma de não aceitação e combate à imagem corporal indesejada pode ser o início
de uma dieta. Quantos de nós já não iniciámos uma dieta? Ou pelo menos ouvimos
algum amigo/a a dizer “eu hoje vou comer salada, estou de dieta”?
Mas
a verdade é que os diferentes estudos na área indicam que 1 a 2/3 das pessoas
que iniciam uma dieta acabam por ficar com um peso
superior ao inicial nos 4 a 5 anos seguintes. Isto deve-se ao facto de maior
parte das dietas de perda de peso não respeitarem os factores individuais de
cada um de nós, resultando no sentimento de fome, mudanças de humor, falta
de energia, frustração, desmotivação, baixa auto estima, em última instância,
pior qualidade de vida.
Na
verdade, o acto de comer é muito mais que um processo
biológico, envolve variáveis sobretudo psicológicas que muitas vezes nós
próprios não temos consciência. Esta é uma das causas de imensas dietas
alimentares não serem sustentáveis a longo prazo.
Face a determinadas
situações e mesmo em certos momentos da nossa vida o alimento pode tornar-se um
recurso para lidar com sentimentos desagradáveis (stress, angústia, ansiedade,tristeza, vergonha, etc.) e é algo que a dieta não consegue combater.
Falamos
de Fome Emocional quando usamos a comida para nos sentirmos melhor ou quando
comemos para satisfazer carências emocionais e não físicas. Quando nos sentimos
ansiosos, tristes, aborrecidos, zangados, sozinhos e abrimos um frigorífico
para compensar, é neste momento que nos aprisionamos um ciclo pouco saudável de
tentar negar o real problema. Ao comer podemos sentir uma sensação de alívio
momentâneo, mas o problema continua lá e a seguir vêm os sentimentos de
frustração e zanga connosco mesmos pelas calorias desnecessariamente ingeridas.
Eis
algumas questões que podemos fazer a nós mesmos e que ajudam a identificar se
se trata de fome emocional:
· - Eu
como mais quando me sinto ansioso?
· - Eu
como para me sentir melhor?
· - Eu
costumo usar a comida como recompensa, por exemplo depois de um dia difícil?
· - Sinto-me
impotente ou sinto que não tenho controlo sobre a comida que ingero?
· - A
comida faz-me sentir seguro?
Outro
aspecto importante a ter em conta é a forma como a fome se manifesta. Quando se
trata de fome com base em variáveis emocionais é mais provável que apareça de
forma repentina e urgente, sentimos que não dá para aguentar mais tempo sem comermos.
Outra característica é o facto da fome emocional ser mais direcionada para
comidas mais calóricas ou com açúcar, como por exemplo pizza, bolo de
chocolate. Isto acontece porque, de facto, estes alimentos provocam um disparo
de energia e consequentemente a sensação de maior bem-estar. Também a rapidez
com que ingerimos a comida é maior quando se trata de fome emocional e podemos até
comer um pacote de batatas inteiro em minutos, sem que tenhamos consciência ou
prazer. Por estas razões a fome emocional leva a sentimentos de culpa, vergonha
e arrependimento.
Esta
é uma problemática pouco identificada e pouco combatida pelas imensas dietas
que existem e que continuam a surgir. Há um grande investimento em consultas de
estética, nutrição, ginásios, etc. que acabam por ter resultados pouco
satisfatórios. E não se trata da ineficácia da nutrição ou do exercício físico,
mas sim de uma negligência dos factores psicológicos que intervêm no processo.
A fome emocional existe, afeta pessoas de todas as idades, género e peso, e
carece de uma intervenção multidisciplinar.
A Psicologia pode ter um papel determinante na perda de peso saudável. A
intervenção psicológica passa por identificar quais as emoções que estamos a
tentar reprimir/anestesiar e compreender como exprimi-las de forma saudável;
conseguir identificar e compreender sentimentos tais como o aborrecimento,
angústia, sensação de vazio, falta de sentido, insatisfação com a vida; identificar
e compreender os hábitos da infância relacionados com a comida; identificar e
compreender factores sociais e efeitos de grupo; compreender manifestações de ansiedade.
A seguir é fundamental a criação de estratégias alternativas mais saudáveis e
consistentes e sobretudo outras formas de ser e estar que nos preencham emocionalmente.
Porque por
vezes as respostas que procuramos não estão no frigorífico.
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