quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Porque é que a minha dieta falhou? Vamos falar sobre fome emocional






É comum a sensação de desânimo ao olharmos ao espelho e percebermos que a imagem lá projectada não corresponde à por nós idealizada. As reacções emocionais a uma imagem corporal indesejada são muitas e podem variar, entre elas a sensação de impotência, frustração, tristeza ou mesmo raiva contra nós mesmos. As nossas reações emocionais relacionam-se com as estratégias que logo decidimos pôr em prática e que podem ir no sentido de tentar alterar a nossa imagem, ou no extremo oposto, no sentido de conformismo com algo que aparentemente sentimos como inalterável.

Uma forma de não aceitação e combate à imagem corporal indesejada pode ser o início de uma dieta. Quantos de nós já não iniciámos uma dieta? Ou pelo menos ouvimos algum amigo/a a dizer “eu hoje vou comer salada, estou de dieta”?
Mas a verdade é que os diferentes estudos na área indicam que 1 a 2/3 das pessoas que iniciam uma dieta acabam por ficar com um peso superior ao inicial nos 4 a 5 anos seguintes. Isto deve-se ao facto de maior parte das dietas de perda de peso não respeitarem os factores individuais de cada um de nós, resultando no sentimento de fome, mudanças de humor, falta de energia, frustração, desmotivação, baixa auto estima, em última instância, pior qualidade de vida. 

Na verdade, o acto de comer é muito mais que um processo biológico, envolve variáveis sobretudo psicológicas que muitas vezes nós próprios não temos consciência. Esta é uma das causas de imensas dietas alimentares não serem sustentáveis a longo prazo. 
Face a determinadas situações e mesmo em certos momentos da nossa vida o alimento pode tornar-se um recurso para lidar com sentimentos desagradáveis (stress, angústia, ansiedade,tristeza, vergonha, etc.) e é algo que a dieta não consegue combater. 

Falamos de Fome Emocional quando usamos a comida para nos sentirmos melhor ou quando comemos para satisfazer carências emocionais e não físicas. Quando nos sentimos ansiosos, tristes, aborrecidos, zangados, sozinhos e abrimos um frigorífico para compensar, é neste momento que nos aprisionamos um ciclo pouco saudável de tentar negar o real problema. Ao comer podemos sentir uma sensação de alívio momentâneo, mas o problema continua lá e a seguir vêm os sentimentos de frustração e zanga connosco mesmos pelas calorias desnecessariamente ingeridas.

Eis algumas questões que podemos fazer a nós mesmos e que ajudam a identificar se se trata de fome emocional:

·        -  Eu como mais quando me sinto ansioso?
·        -  Eu como para me sentir melhor?
·         - Eu costumo usar a comida como recompensa, por exemplo depois de um dia difícil?
·        -  Sinto-me impotente ou sinto que não tenho controlo sobre a comida que ingero?
·         - A comida faz-me sentir seguro?

Outro aspecto importante a ter em conta é a forma como a fome se manifesta. Quando se trata de fome com base em variáveis emocionais é mais provável que apareça de forma repentina e urgente, sentimos que não dá para aguentar mais tempo sem comermos. Outra característica é o facto da fome emocional ser mais direcionada para comidas mais calóricas ou com açúcar, como por exemplo pizza, bolo de chocolate. Isto acontece porque, de facto, estes alimentos provocam um disparo de energia e consequentemente a sensação de maior bem-estar. Também a rapidez com que ingerimos a comida é maior quando se trata de fome emocional e podemos até comer um pacote de batatas inteiro em minutos, sem que tenhamos consciência ou prazer. Por estas razões a fome emocional leva a sentimentos de culpa, vergonha e arrependimento.

Esta é uma problemática pouco identificada e pouco combatida pelas imensas dietas que existem e que continuam a surgir. Há um grande investimento em consultas de estética, nutrição, ginásios, etc. que acabam por ter resultados pouco satisfatórios. E não se trata da ineficácia da nutrição ou do exercício físico, mas sim de uma negligência dos factores psicológicos que intervêm no processo. A fome emocional existe, afeta pessoas de todas as idades, género e peso, e carece de uma intervenção multidisciplinar.

A Psicologia pode ter um papel determinante na perda de peso saudável. A intervenção psicológica passa por identificar quais as emoções que estamos a tentar reprimir/anestesiar e compreender como exprimi-las de forma saudável; conseguir identificar e compreender sentimentos tais como o aborrecimento, angústia, sensação de vazio, falta de sentido, insatisfação com a vida; identificar e compreender os hábitos da infância relacionados com a comida; identificar e compreender factores sociais e efeitos de grupo; compreender manifestações de ansiedade. A seguir é fundamental a criação de estratégias alternativas mais saudáveis e consistentes e sobretudo outras formas de ser e estar que nos preencham emocionalmente.


Porque por vezes as respostas que procuramos não estão no frigorífico.




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