A desertificação de
sentido pela qual passamos pela perda daqueles que amamos será sempre o nosso
maior desafio vivencial.
Perante a morte de alguém significativo, são naturalmente desencadeadas
respostas orgânicas intensas que, apesar de fracassarem como esforço da
restauração da vinculação, se conjugam no sentido do processamento difícil
desta nova realidade e da sintomatologia associada, para posterior restauração
identitária (Payás, 2010). Os
dois primeiros anos costumam ser os mais difíceis, remetendo, gradualmente, o
sujeito para uma reorganização da sua funcionalidade e reposicionamento
existencial.
A
vivência do luto é multidimensional, afeta
tanto o nosso corpo como as nossas emoções, relações, pensamentos,
comportamentos e o nosso registo de valores e crenças (i.e., resposta
bio-psico-socio-espiritual). As estratégias utilizadas para regular o impacto
da experiência emocional incluem, portanto, mecanismos somáticos, cognitivos,
emocionais e comportamentais. Estes mecanismos reguladores podem categorizar-se
em mecanismos de conexão ou desconexão da dor vivenciada – processo oscilatório
natural entre respostas de intrusão e reações de evitamento no difícil processamento
da informação traumática e posterior restabelecimento transformativo (Payás,
2010).
De forma genérica,
as respostas sintomáticas mais comuns são (Payás, 2010; Worden, 2013):
·
Sintomas
físicos: fadiga, aperto na garganta, pressão no peito, palpitações,
tremores, sensibilidade ao ruído, dores musculares e articulares, cefaleias,
dor mandibular, boca seca, dificuldade em respirar, problemas
gastrointestinais, náuseas, hiperatividade e agitação, entre outros.
·
Sintomas
emocionais/afetivos: saudade, tristeza, desespero, solidão, falta de
esperança, desânimo, frustração, culpa, ansiedade, confusão, raiva, medo,
zanga, irritabilidade, desejo de vingança, alívio (doenças longas e dolorosas).
·
Sintomas
comportamentais: chorar, agitação, alterações do sono e apetite, perda
de interesse, evitar ou visitar lugares que façam recordar o(a) cônjuge,
dificuldade em estar sozinho, isolamento, procurar e chamar pelo(a) cônjuge,
sonhar com o(a) cônjuge, consumo/abuso de substâncias, ocupação excessiva, entre
outros.
· Sintomas
cognitivos: confusão, dificuldades de concentração e na tomada de
decisões, esquecimento, incredulidade, preocupação, pensamentos intrusivos do(a)
cônjuge (a morrer/sofrer), ruminações, sentir a presença do(a) cônjuge, etc.
· Manifestações sociais: isolamento,
dificuldades nas relações interpessoais, etc.
· Manifestações
espirituais: procura de sentido, hostilidade/zanga para com
Deus/igreja/entidade religiosa, perda ou aumento da fé, etc.