Cada
vez mais ouvimos falar de abuso nas relações, principalmente através da
comunicação social que, diariamente, nos fornece informações sobre tragédias
ocorridas com precedentes de abusos relacionais. A palavra relação remete-nos,
sem que o seja consciente e também pelo que nos é transmitido por esses meios,
para relações amorosas. No entanto, envolvem todo um outro leque de pessoas
presentes na nossa vida, e por isso falamos também de relações familiares, de
amizade, profissionais, etc… Em todas estas relações podemos encontrar exemplos de
abusos, das mais diversas formas, e todos afetam negativamente o indivíduo que as experiencia.
São
estes abusos, dos quais todos os dias vemos ou ouvimos falar, que muitas vezes
levam as pessoas a procurarem acompanhamento psicológico; são estes abusos que
levam as pessoas a não conseguirem lidar e gerir internamente com determinadas
situações; são estes abusos que levam a pessoa a duvidar de si própria, a sentir-se insegura, influenciando assim as restantes relações que ainda estão por construir; são estes abusos que levam ao “não consigo confiar em ninguém”,
“não gosto de mim”, “não sou capaz de fazer nada”, “não sirvo para nada”… são
as frases mais ouvidas e de tão ouvidas tornam-se verdades inquestionáveis e limitadoras.
Quando
falamos em abuso nas relações entre casal, falamos de vários tipos de abuso.
Maioritariamente não são as marcas físicas que mais marcam (que nem sempre
existem), e que quem está à volta consegue observar com alguma facilidade, mas
sim as marcas internas que ninguém vê, que ficam e perduram no tempo. E são
essas marcas que levam a pessoa a questionar-se, a ficar envolvida em
sentimentos de culpa, de incompreensão, de dúvida, de angústia… São estes
sentimentos que impedem o estabelecimento de relações futuras, impedem o
investimento emocional no outro e, principalmente, em si próprio.
Quando
falamos em abuso no seio familiar ou das amizades podemos, igualmente, falar em
distintos tipos de abuso. Contudo, este tipo de abusos levanta outras questões,
questões mais profundas do eu. É-nos incutido pela sociedade, ao longo da vida,
que a família faz parte do núcleo de confiança, que na família estão inseridas
as pessoas em quem podemos confiar sem questionar, que são um suporte e fazem
parte de um espaço contentor. Bem como nas amizades, em que esse suporte é
“escolhido” ao longo da vida e que se espera que seja igualmente contentor. E,
quando estes abusos surgem fazem com que se duvide do muito que foi
assimilado ao longo do desenvolvimento pessoal, faz com que se duvide e que se
ponha muito coisa em causa, levando-nos ao questionamento na confiança no outro ou,
por outro lado, à continuidade na construção de outras relações disfuncionais, resultando na procura incessantemente de alguém que venha preencher unicamente o vazio de quem foi, de quem saiu da relação.
Quando
falamos em abuso no local trabalho, falamos de assédio moral, onde o abuso de
poder, entre outros aspectos, põe em causa a competência profissional, o valor enquanto ser humano, colocando as pessoas em situações humilhantes e constrangedoras.
E, inevitavelmente, é um abuso que surge quase de forma diária e constante,
levando, mais uma vez, a que a pessoa duvide de si e das suas capacidades.
A maior parte das vezes este tipo de relações abusivas entra num ciclo repetitivo que,
consequentemente, leva à interiorização da desvalorização de si e , inconscientemente, torna-se parte interna do indivíduo passando a
ser uma realidade difícil de evitar trazendo com ela momentos de um enorme sofrimento incontornável.
E é, em alguns
casos, quando existe a tomada de consciência de que se está a entrar neste
ciclo, ou quando a angústia é sentida (de certa forma) como intolerável, que a
procura de ajuda de profissionais pode surgir. A procura de um espaço contentor,
um espaço no qual todas as referidas dúvidas e angústias se atenuem.
Se assim for e se em algum momento se identificou com o que leu, lembre-se que estamos por aqui enquanto técnicos profissionais da saúde mental que o podem ajudar a passar por estes momentos com o menos sofrimento possível.
Drª
Rita Rana
O
Canto da Psicologia
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