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quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Meu querido mês de agosto...

 


Lá fora nem todos os dias nos parecem que estamos em pleno verão. Por vezes quase parece necessário olhar para o calendário, pois na verdade os dias estão cada vez mais “bipolares”. Ainda assim, por enquanto os meses do ano mantém-se iguais, e sendo assim aqui estamos nós no mês, que para muitos, é de pausa.  Geralmente, nas férias de verão o clima quente e seco convida-nos a “acalmar” e abrandar o ritmo das rotinas habituais. Mas um pouco como noutras situações, onde as desculpas estão ao virar da esquina, que não nos sirvam os dias, por vezes, frios e chuvosos do verão como desculpa para não ficarmos mais “molengas” e serenar o ritmo (muitas vezes alucinante). Com isto não se quer dizer ficar molenga para a vida, mas talvez reencontrar-se com tantas coisas que ficam sempre para amanhã (sem ordem de preferência!) – descansar, brincar, dormir, abraçar… Por outro lado, também sabemos que não é apenas o facto de termos mais tempo para descansar ou estar com quem se gosta que o consigamos fazer. É precisamente quando estamos verdadeiramente em contacto com os outros (e connosco) que nos damos conta de imensas coisas que muitas vezes nos passam um pouco ao lado. No querido mês de agosto podemos também vivenciar as saudades expressas no regresso dos emigrantes ao seu país. A nostalgia daquilo que “fica para trás” quando se viaja para outro país, parece ganhar outra cor e brilho quando se pode reencontrar família e amigos. Os bailes de verão, as sardinhadas, o pôr do sol à beira mar, agora tudo isto ainda um pouco em suspenso, seriam o pano de fundo de algo que muito se sentia falta – estar em festa com a vida, melhor dizendo ter um espaço físico e mental para estar com o outro.

 


Simultaneamente, as férias representam também o parar para depois recomeçar – a escola, o trabalho, a psicoterapia – o que simbolicamente nos pode remeter para a capacidade de guardar dentro de nós as pessoas e as relações. Durante um processo psicoterapêutico a relação que se desenvolve na díade terapeuta-paciente, permite ativar e pensar uma série de sentimentos que existem também nas outras relações pessoais e profissionais. Assim, o momento das férias na terapia pode também evocar sentimentos de algum mal-estar, e eventualmente sensações de angústia e abandono. Freud (Inibição, sintoma e ansiedade, 1926) descreve a angústia como um estado de insuficiência psíquica do ego, frente a um perigo que o ameaça, despertando assim a sensação de desamparo biológico e psíquico, sentido habitualmente pelo bebé na ausência da mãe. Naturalmente que as separações, por muito pequenas que sejam podem evocar este tipo de sentimentos, mas podem também simbolizar a possibilidade do reencontro e da permanência do outro (dentro de nós). Este movimento de ir e voltar, e consequentemente do saber que por se estar separado do outro ele não desaparece é essencial para que se possa desenvolver a segurança e autonomia.

O regresso, tal como as férias, pode ter um sabor um pouco agridoce, mas permite criar uma sensação de continuidade e extensão da vida mental.

«“Não te vais esquecer de mim, pois não?” É o que perguntamos todos quando nos despedimos da pessoa amada, pois esse é o certificado de que somos amados e a garantia de que não seremos abandonados.»

(Coimbra de Matos)

Por enquanto, ainda em agosto, o convite feito é ao dolce far niente (Locução italiana que exprime o ideal da ociosidade despreocupada, dicionário Priberam), com a segurança do desejo do reencontro.

 Até já!


Drª Ana Cordeiro - Braga

O Canto da Psicologia



terça-feira, 22 de junho de 2021

Cancro e exercício físico...

 



Investigadores na área do tratamento do cancro, estudou durante vários anos alguns milhares de pacientes com a doença. O que estes investigadores fizeram, foi perceber o impacto que o exercício físico teve antes e após os casos positivos de cancro. As conclusões foram claras: mostraram que os doentes que treinavam regularmente antes e após a doença, tiveram um risco de morte mais baixo do que doentes que não treinavam. Doentes que treinavam mais de três vezes por semana, tinham uma esperança de sobrevida até 40% superior a doentes sedentários. A maior associação entre o exercício e a redução do risco de morte foi comprovado em vários tipos de cancro: mama, ovários, próstata, cólon, pele.

Já em 2021, saiu um novo estudo com mais de 600 pacientes com vários tipos de cancro e em que se procurou encontrar alguma associação entre o cancro e a inclusão de sessões de exercício durante os tratamentos. Os resultados demonstraram novamente que a inclusão de rotinas de exercício em doentes com cancro se mostra benéfica em doses moderadas.

Estes resultados continuam a mostrar-nos a importância do exercício físico como um dos pilares fundamentais para a qualidade de vida e longevidade no ser humano.

Bons treinos

Hugo Silva

Instagram: hugo_silva_coach

-Licenciatura Educação Física/Especialização Treino Personalizado
-Pós-Graduação em Marketing do Fitness 
-Pós-Graduando em Strength and Conditioning
-Director Técnico ginásio Lisboa Racket Centre


quinta-feira, 8 de abril de 2021

Desconfinar a mente e as emoções...

 



“Desconfinar” é a palavra do dia.

Há um ano que acompanhamos, mais ou menos atentamente, mas transversalmente, a evolução das tendências nos múltiplos diagramas, gráficos, números e índices que nos apresentam, pendurados das comunicações oficiais sobre as implicações na Vida. Tornámo-nos especialistas em epidemiologia. Como quebra gelo, não falamos do tempo, falamos da pandemia, deste céu que nos caiu em cima, e do desconhecido, “para o que estaremos ainda guardados” diz a expressão popular.

Para nos protegermos, fomos forçados a confinarmo-nos. Sentimo-lo como uma imposição externa mas também construímos nós próprios barreiras, alicerçadas no medo, na auto-proteção, no dever filial ou cívico. Defendemo-nos. Com os recursos que temos, pessoais, familiares, sociais ou materiais, procuramos reagir, cada um ao seu estilo.

Sentimo-nos, contudo, limitados, constrangidos. Nem sempre temos uma narrativa para este conflito entre querer viver, protegendo-se do contágio, e querer viver, sem estes limites criados para nos defender. Por vezes é um discurso mudo que sentimos e que se desenrola dentro de nós, uma sensação de incompletude ou mesmo de mal-estar. Uma falta de ânimo ou ansiedade miudinha. Por vezes externalizamos, discutimos com quem está à nossa volta, com o teclado do computador ou a máquina do café. E voltamos a defender-nos.

O cenário deste diálogo é o da pandemia COVID-19. No entanto, esta vivência de constrangimento, de possibilidades limitadas, é comum a muitos de nós, ainda que a localização e a intensidade da dor sejam únicas. 

O plano de desconfinamento vem-nos trazer esperança, vem-nos alargar o horizonte de possibilidades. A rua, as escolas, os parques, as esplanadas, as livrarias, os ginásios, os museus..as pessoas... Elas estão aí e somos livres para as usar. Bem a propósito, no abril que simbolicamente associamos à liberdade de um povo, o nosso.

Dizia Frederico de Brito “Julguei ser um sonho/Mas foi realidade /E às vezes suponho/ Que não foi verdade! / Mas se alguém disser / “Não há Liberdade!”/ Eu posso morrer /Mas não é verdade!”.

E, no entanto, a liberdade, essa palavra grande que nos enche a alma de expetativas, nem sempre é sentida. Na minha perspetiva, a psicoterapia é, também, um caminho de desconfinamento, da nossa mente, das nossas emoções. É um caminho especial, porque se faz a dois. Exploram-se as restrições hétero e auto impostas, umas conhecidas de longa data, outras nem tanto. Descobrem-se os gestos usados uma e outra vez, cujo uso se fez hábito já sem sentido ou benefício. Acima de tudo, descobrem-se novos caminhos, novas possibilidades, embaladas pela confiança e pelo sentido de liberdade para as percorrer. Somos inspirados, paciente e terapeuta.

Fazem parte do nosso imaginário popular várias letras do António Variações. Recordo esta:

 Quero é viver/Amanhã, espero sempre o amanhã/ E acredito que será, mais um prazer/A Vida, é sempre uma curiosidade, que me desperta com a idade, interessa-me o que está p’ra vir/E a vida, em mim é sempre uma certeza/que nasce da minha riqueza, do meu prazer em descobrir/Encontrar, renovar, vou fugir ao repetir” lindamente interpretada pelos Humanos .

Porque o potencial para sermos mais livres está em todos nós. Por vezes precisamos apenas de companhia no caminho.


Drª Ludmila Carapinha - Lisboa

O Canto da Psicologia



quinta-feira, 1 de abril de 2021

A esperança no futuro...

 



O ano começou com esperança, a vacinação para a COVID-19. Esperança num regresso à normalidade, esperança naquele reencontro com família e amigos, naqueles abraços e convivios. Esperança na liberdade de cada um.

Mas este processo é lento e moroso. Continuamos a deparar-nos com uma pandemia mundial que nos levou, mais do que uma vez, ao confinamento, ao teletrabalho, à escola a partir de casa. Mas mais impactante é o afastamento imposto dos nossos, família e amigos. Casais lidam com a gestão dos filhos e do próprio casal. Crianças privadas da brincadeira com os amigos e da rotina da escola. Adolescentes que não podem conviver uns com os outros.

Somos confrontados com preocupações que geram ou aumentam ansiedades e incertezas quanto ao futuro. O que nos trará o futuro?

Ninguém consegue responder com certeza a esta questão, mas há que manter a esperança num futuro melhor. E é mesmo a esperança que nos mantém positivos, que nos impulsiona a continuar, a ultrapassar as dificuldades que nos surgem. É ela que nos move e nos mantém vivos.

De acordo com Snyder, que nos trouxe a Teoria da Esperança, esta é um estado cognitivo positivo assente na expetativa de sucesso perante a determinação em alcançar objetivos e delinear planos para os conseguir.

A esperança é uma emoção positiva que ocorre geralmente quando somos deparados com circunstâncias negativas ou incertas. Como o que vivemos atualmente!

É um fator cognitivo mas tem uma qualidade afetiva única que nos dá motivação para procurar resultados futuros. É um estado que mantemos intencionalmente: decidimos ter esperança, muitas vezes, por medo das consequências reais que podem ocorrer caso não tenhamos esperança. Podemos ter esperança em relação ao que quisermos, em relação ao mundo, ao trabalho, à família e ao amor. Podemos ter esperança numa mudança em nós próprios!

Quem tem esperança, tem também o desejo e a determinação de que os seus objetivos serão alcançados, e tem ainda uma série de estratégias (e a capacidade para as procurar e encontrar) para atingir esses objetivos. A esperança permite-nos olhar os obstáculos com a confiança de quem vai conseguir ultrapassá-los e, por isso, estamos mais dispostos a olhar à volta, a procurar formas, caminhos, ferramentas, para o conseguirmos. Ou seja, a esperança não corresponde apenas à vontade ou desejo de se chegar a determinado lugar, mas também às diferentes formas para lá chegar.

Para além de nos permitir evoluir, a esperança ajuda-nos a sobreviver. O instinto de sobrevivência no ser humano é de uma força quase inesgotável. No entanto, em oposição à esperança existem pessoas que perderam a vontade de viver. Várias pesquisas nesta área mostram que a desesperança está mais associada ao suicídio do que a depressão.

Na área da saúde, estudos demonstram que a esperança tem influência na eliminação ou redução de problemas físicos e psicológicos. As pesquisas de Snyder comprovam que a esperança ajuda a pessoa a reagir positivamente no caso de doenças e lesões. Também toleram melhor a dor. Têm maior capacidade e habilidade adaptativa para resolver problemas.

A esperança é a última a morrer… e se precisar de uma ajuda profissional para voltar a acreditar e a ter esperança no futuro, não hesite em contactar O Canto da Psicologia. Estamos cá para lhe dar Esperança!

 

Dra. Irina Morgado

O Canto da Psicologia


quinta-feira, 25 de março de 2021

O mito da responsabilidade e da autonomia...

 



A base de quase tudo, no que concerne à vida mental, está nas relações, no ambiente relacional, pois é neste ambiente que crescemos, enquanto crianças, e que nos desenvolvemos e nos construímos enquanto futuros adultos - na forma como experienciamos e como vivemos as relações. O desenvolvimento da criança está inevitavelmente dependente da qualidade da relação estabelecida com os pais ou com os seus cuidadores. Têm sido vários os autores a referirem isto ao longo dos anos, entre vários, Coimbra de Matos (2001), o “pai da psicanálise em Portugal”, refere que “O Homem é essencialmente um animal narcísico – que se admira e precisa de ser admirado”. Isto mostra-nos que precisamos de uma relação em que sentimos que recebemos afecto, valor, reconhecimento, empatia, compreensão, amor, limites (etc) por parte do outro, e é isto que faz com que a criança, internamente, se vá desenvolvendo como alguém importante para o outro.

 Consequentemente, quando não estamos perante vivências, experiências ou figuras (parentais, neste caso) suficientemente boas, deixamos de estar equilibrados psicologicamente, começamos a ter comportamentos vistos como desadequados e desenvolvemos sintomas. É, muitas vezes, neste ciclo de desenvolvimento relacional que desenvolvemos também a patologia que se manifesta enquanto adultos.

 Ficamos muitas vezes presos nas regras, nos limites, no bom comportamento, nas boas notas e esquecemo-nos que as crianças, muitas vezes, são apenas isso, crianças! Muitas vezes elas não querem tomar banho, não querem lavar os dentes, é aborrecido fazer os trabalhos de casa (quando é muito mais divertido brincar!), temos regras (internas) de que não podemos dar colo, não podemos dar afecto ou ficamos contaminados com a nossa sensação de zanga e frustração e não conseguimos tolerar a “insolência” de não se fazer os trabalhos de casa ou lavar os dentes. Ou até, já dissemos 10 vezes! Valorizamos as crianças bem comportadas, autónomas, responsáveis mas não nos questionamos sobre o que poderá também não estar a ser comunicado nestes pequenos quase adultos?

 Com isto, não dizemos ou pensamos que os pais são o agente criador de “culpa”, convidamos apenas a pensar... os limites e as regras são fundamentais mas será que há limites para o afecto? Para a valorização? Para a compreensão? Para a empatia? Ou será que os limites podem ser limites dados com afecto? Com compreensão?


Drª Inês Lamares - Alcochete e Lisboa

O Canto da Psicologia

 


quinta-feira, 18 de março de 2021

Mudança de Paradigma...

 


 Gritam-nos a plenos pulmões que a solidão é a nossa salvação. Sentimos que o Luto se vestiu de preto muito mais vezes do que era suposto, que se cantaram mais marchas fúnebres do que era desejado e que perdemos mais entes queridos do que nos é permitido.

Por estes dias, é-nos vedado estar em grupo, conviver como sempre fizemos, agir como coletivamente sempre nos ensinaram e, por força dessa alteração do real, deixou de estar disponível a renovação de contactos que sempre nutriu as relações sociais e o bem-estar intra e inter-individual. Ficar em casa e proteger-nos é, sem dúvida, vital. No entanto, o isolamento social – pedem-nos para ignorar o Ser Gregário que há em nós – acarreta outras consequências, além do afastamento físico, que são invisíveis ao olho e à desatenção. Vivemos, actualmente, um Luto pela idealização, pelos desejos, pela relação, pelas vontades e pela fantasia. Este Luto que se veste de preto e está presente nos enterros, veste-se, também, com um manto da invisibilidade dentro de cada um de nós e ameaça, a todo o instante, aparecer novamente com a notícia, brutal: “acabámos de perder mais um desejo!”. Este desejo, o de cada um de nós, nasce da idealização da vontade e do sonho, mas acaba com um “adeus” e uma marcha fúnebre; ainda que a consciência nos diga “Calma, vêm mais desejos amanhã”; e é certo. Elaboramos mais desejos no dia seguinte mas, aquele já não volta. Tal como as pessoas que se perderam nesta luta colectiva.

Vivemos uma ameaça permanente e invisível que a qualquer momento pode atacar com maior vigor.

 Temos vindo a adaptar-nos. Quem sabe já estamos adaptados.  Somos indivíduos subjectivos quando elaboramos um pensamento, o que nos permite duas formulações: a primeira que somos seres de hábitos e, à partida, resistimos a novos que nos sejam impostos; a segunda é que, apesar de contrariados, somos capazes de nos adaptar a situações externas ameaçadoras e desenvolver mecanismos que nos permitam sobreviver. Além das questões externas, as problemáticas internas são maleáveis, certamente, pela necessidade que daí advém. A solidão será atenuada pela sensação de solidão conjunta e a invisibilidade da tristeza será amparada pela certeza de que todos desejamos sentir-nos mais felizes. O setting terapêutico enche-se da procura pelas respostas, pelas interrogações ansiosas que precisam de ser escutadas e o desejo de alguém que anseia gerir as emoções e dizer: “Desta vez estou preparado”.

Temos dois lados de uma moeda: por um lado a vontade do antigo e a saudade do que já foi; por outro a incerteza do futuro ao espelho com o desconforto do presente. Do oculto terceiro lado, sabemos que sobra o desejo comum de uma perspectiva brilhante e saudável deste Mundo Novo.



Drª Maria Inês Almeida - Alcochete

O Canto da Psicologia



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Começar o desconfinamento dentro de cada um de nós...

 



“Os flagelos, com efeito, são uma coisa comum, mas acredita-se dificilmente neles quando nos caem sobre a cabeça. Houve no mundo tantas pestes como guerras. E, contudo, as pestes, como as guerras, encontram sempre as pessoas igualmente desprevenidas.”

Albert Camus, 1947


A humanidade sente o impacto da pandemia covid 19 desde março de 2020. O já longo período pandémico que atravessamos será tema basilar da narração histórica do ano 2020, 2021 e seguintes. Diariamente ouvimos, lemos e/ou pensamos no impacto social, económico, cultural e político trazido pela pandemia. Por cá, no consultório ou online, a par deste impacto, olhamos a nu para o embate interno que a pandemia gera em cada um de nós. Pois, apesar do seu carácter coletivo e universal, não temos todos os mesmos recursos de resposta. No entanto, parece inegável que a nova realidade veio colocar, democraticamente, a saúde mental da humanidade à prova.

O medo, a tristeza, a ansiedade, a solidão, a angústia, o desamparo, têm sido os panos de fundo das sessões de psicoterapia. De repente, a realidade social há muito instituída dá lugar a uma realidade desconhecida, onde nos vemos privados das relações familiares e sociais como as conhecíamos antes. Mergulhados na incerteza, confrontados com a impossibilidade de controlar integralmente a vida, é esperado e natural que não saibamos como reagir e dentro de nós cresçam sentimentos angustiantes e ansiogénicos.

A vida parece estar em suspenso e os dias, aparentemente todos iguais, já se prolongam há demasiado tempo. Imergidos em incertezas e medos, pensamos se chegará o dia em que iremos recuperar a “normalidade” de antes.

 A humanidade precisa de acolhimento, de legenda e contenção de emoções e sentimentos. Precisa de um espaço interno seguro para sentir e elaborar a catástrofe que nos apanhou desprevenidos.

Talvez o desconfinamento deva começar dentro de cada um de nós, assumindo a inquietação que ele nos possa causar, aceitando o medo e as dúvidas, acreditando que é dentro de nós que encontraremos a quietude nos futuros dias.


Drª Soraia Almeida - Braga

O Canto da Psicologia




quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

As crianças e os adolescentes também estão ansiosos… e é normal!

 



Crianças e adolescentes de volta a casa. Mais uma alteração…

Mais uma alteração entre tantas alterações que trazem novos desafios, tanto para eles como para os pais/cuidadores. Ao longo das últimas semanas, tem vindo a ser possível perceber que este novo isolamento do mundo em pouco (ou nada) se assemelha ao anterior, trazendo associadas muitas emoções dispersas, muitas alterações de comportamento, muita ansiedade e muitas questões, talvez, com poucas respostas. E qual é a diferença de há um ano atrás? Porque é que agora está a ser mais difícil? “Não consigo perceber o porquê de se estar a portar desta forma”. A resposta é simples (e complexa ao mesmo tempo), e está exatamente nas palavras da pergunta, porque passou um ano, porque já não é novidade, já não é divertido estar em casa, já não é divertido não ter nada para fazer, já não é divertido não ser possível ir à rua, já não é divertido ver os amigos e a família só pelo ecrã. Tudo o que há um ano atrás foram novidades agora já não o são, agora têm o peso de tudo o que já passamos e que continuamos a passar, de todas as notícias da comunicação social que parecem não melhorar, de todas as emoções e ansiedades acumuladas. E é normal!

Vemos o desespero dos pais/cuidadores, sem saber o que fazer com os filhos em casa, alguns que ao mesmo tempo têm de trabalhar, sem saber como vão conseguir acompanhá-los da forma que seria a ideal, agora nas aulas online, que mais uma vez todos fomos obrigados a aceitar. E se para os pais/cuidadores é difícil vamos tentar, por um momento, colocar-nos no lugar das crianças e dos adolescentes… as crianças ainda com pouca bagagem que as permita gerir toda a informação que lhe é “atirada” diariamente, os adolescentes a verem ser-lhes “roubadas” todas as experiências típicas desta fase das suas vidas. As crianças sem perceber porque é que numa situação normal quando os pais/cuidadores estavam em casa era o momento para estarem todos juntos e agora não podem falar com eles quando estão mesmo ali ao lado (porque a sala é agora o escritório). Agora, como escrevi há uns meses atrás, voltam-se a fundir os espaços de lazer com os de trabalho/escola.

E, mais uma vez pergunto, o que mudou desde há um ano atrás? A bagagem que todo este ano trouxe, as frustrações, as limitações, as proibições.

Se os pais/cuidadores também estão cansados? Estão! Exaustos? Sim! Ansiosos? Também… Mas são eles os pilares destas crianças e adolescentes, são estes que eles esperam que consigam dar o suporte que precisam. Por isso, temos de ouvir as nossas crianças e adolescentes, temos de valorizar os sentimentos que nos transmitem.

Nem sempre estes sentimentos vêm em forma de palavras (o que poderá tornar tudo isto um desafio ainda maior, é certo), mas sim de comportamentos alterados. É por isso essencial valorizar e validar o cansaço, a ansiedade, a tristeza, a revolta, a irritação, os medos e, ao mesmo tempo, incentivar a que exprimam as suas emoções, porque é normal que as sintam, principalmente neste momento, perante esta situação. Podemos todos sentir ansiedade e eles também. E é normal!

 

Drª Rita Rana - Lisboa

O Canto da Psicologia


quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Winnicott e o Brincar: Confinamento – Com o fim na mente

 


Esta semana comemora-se o 50º aniversário da morte de Donald Winnicott, que faleceu a 25 de Janeiro de 1971. No mesmo ano foi publicada uma das suas mais importantes obras: “O Brincar e a Realidade”. Numa época em que a circunstância da nossa realidade “não está para brincadeiras” não será mais importante do que nunca a nossa capacidade para brincar? Mas comecemos por saber quem é Winnicott.

            Donald Woods Winnicott nasceu a 7 de Abril de 1896 em Plymouth, Devon, Inglaterra e foi um pediatra e psicanalista de crianças e adultos. As suas contribuições para a compreensão do desenvolvimento da criança são conhecidas internacionalmente desde os anos 60, quando foi publicado o seu livro “A criança e o seu mundo”. Colocou um grande ênfase no contexto em que o bebé cresce: o impacto do ambiente na vida interna e nos estados emocionais do bebé, a importância da relação precoce mãe-bebé. Revolucionou o modo de se olhar para o bebé e para o desenvolvimento humano e o seu contributo para a psicanálise é enorme, mas gostaria aqui hoje de me debruçar essencialmente sobre um dos temas que desenvolveu, o Brincar.


            Muito se tem falado sobre o brincar, a importância do brincar para o desenvolvimento infantil mas creio nunca ser demais pensarmos sobre o que é isto de brincar, na criança mas também no adulto. Na verdade, e para ser mais precisa, Winnicott não falava do brincar mas do “brincando” (playing, em Inglês), que em português não soa tão bem mas reflecte a ideia de continuidade. Citando o próprio, “o brincar (playing) é uma experiência, sempre uma experiência criativa, e é uma experiência no continuum espaço-tempo, uma forma básica de vida” (Winnicott, 1971d, p. 50).

            A capacidade para brincar existe desde sempre. O bebé brinca quando faz bábábábá continuamente, brinca-se ao está aqui - já não está, desde muito cedo. Para a criança, o brincar é fulcral pois é assim que experimenta o mundo, porque para as crianças, agir, pensar e fantasiar, não sendo a mesma coisa, são inseparáveis. Winnicott mostrou como o brincar, na verdade, surge da capacidade de experimentar a ilusão: o “faz de conta” ou até “às escondidas”, onde a capacidade criativa de jogar com aquilo que não é, ou não está, se torna possível. Do mesmo modo podemos pensar se a brincadeira exige, ou não, reciprocidade. Sim, exige, no sentido em que é o prazer de brincar com o outro que vai dar lugar ao prazer de brincar sozinho. Sim, porque eu só consigo brincar sozinho porque sei que existe um outro com quem poderei brincar. É como se precisássemos de aprender a brincar com outro para podermos brincar depois sozinhos. E esta “aprendizagem” através do brincar dá lugar ao sentir, ao sonhar e reflectir, tão importantes para a vida.

            Penso nestas ideias e nestes conceitos e como eles parecem assentar que nem uma luva naquilo que estamos a viver com esta pandemia! Penso como se torna de facto importante “brincarmos” hoje em dia e nesta circunstância. Como é a nossa capacidade criativa, a nossa capacidade de sonhar, a nossa capacidade para estar só, que nos permite viver estes tempos com (mais ou menos) tranquilidade.

            E foi assim que me surgiu este título Confinamento – com o fim na mente, um jogo de palavras, uma forma de poder brincar com aquilo que se está a passar. Esperemos que este confinamento chegue ao fim depressa (creio estar na mente de cada um de nós!), para podermos voltar a conviver, a partilhar frente a frente. Confinar não significa forçosamente isolar, isolarmo-nos, ainda que nos possamos sentir sozinhos, sem a tal possibilidade de partilhar do modo que sabemos e gostamos, porque existindo a possibilidade de sonhar, criar, brincar, torna-se possível saber que não vai ser sempre assim.





quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Mantenham-se activos e seguros...

 



Novo confinamento, mas a pandemia alastra a cada dia que passa e precisamos mais do que nunca de nos cuidarmos. Os dados que vão sendo revelados pela OMS, mostram que a epidemia se agrava em doentes que sofrem de obesidade, assim como aumenta a taxa de mortalidade, cerca de 3,4x mais do que em doentes normoponderais. Acrescentar ainda, que os países com maiores taxas de obesidade apresentam maiores números em termos de mortalidade. Neste contexto, é fundamental que mesmo em casa, se mantenham hábitos diários de exercício físico. Procurar fazer 30 minutos diários de exercício, pode ser fundamental para ajudar o sistema imunitário a manter-se forte e resistente.

 Mantenham-se activos e seguros.

Bons treinos

Hugo Silva

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quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

E agora 2021! Chegou o tempo da reconstrução, da empatia?

 


Se pudesse desejar algo para todos, para este novo ano 2021, que ainda está incipiente, seria que com esta Pandemia, pudesse surgir uma nova forma de estar em comunidade, de encarar e perspetivar a vida. Não se trata de uma visão inocente, embora em cada desejo exista, sempre, algo de ingénuo, mas seria bom que retirássemos, desta experiência, desafiante, uma aprendizagem, acima de tudo, sobre empatia. 

A empatia é a condição necessária para  amar o outro, desde cedo os pais procuram “adivinhar” o que se passa com os seus bebés, através das suas expressões faciais e das suas posturas, procuram dar-lhe conforto e amor, numa dança sincrónica que se vai estabelecendo.

Depois, já em adultos, nem sempre procuramos compreender o lado dos outros, começamos a querer, apenas, forçar um caminho, uma certeza, uma verdade, um só percurso, o meu. Assim, poucas vezes, cooperamos ou procuramos negociar com respeito e preocupação. Mesmo que o ego fique sobressaltado, inflamado e, temporariamente, queira levar a sua avante, em tom de birra. É necessário perceber que todo o comportamento humano tem na sua base, uma enorme necessidade de reconhecimento e de amor. Quando julgamos mais e criticamos ferozmente, acontece porque há um medo, enorme, de não sermos amados e celebrados. Assim sendo, em vez de criticarmos pois somos, também seres críticos, embora a crítica devesse ser equilibrada, construtiva e não uma arma de arremesso, devemos amar mais, compreender, perdoar, para podermos avançar e crescer. 

Deste modo, se existe aprendizagem que podemos retirar com está crise, é a de que precisamos, imensamente, da cooperação e interajuda de todos para ultrapassarmos os mais diversos obstáculos. Que não existem pessoas mais importantes, nem menos importantes, que todo o contributo é válido e as comparações completamente desnecessárias, em todos os contextos. Durante muito tempo, sobressaio a individualidade, a competição, o poder exclusivo, em detrimento do bem comum, neste momento o bem individual está dependente, do exterior e dos comportamentos comunitários e empáticos, para que possamos estar em segurança e, assim, continuarmos a avançar com as nossas vidas.

Se decidirmos negar e não cumprir com as recomendações, vamos aumentar os casos de Covid 19, pelo que a saúde fica devastada, com excesso de casos e não vai ser possível cuidar dos outros doentes que necessitam, entra-se num ciclo vicioso sem fim, com a economia a afundar. Todos temos direito às nossas opiniões ou divergir, porém sempre que decidirmos ignorar as recomendações apenas, vamos dificultar a vida de todos os cidadãos, independentemente de estarmos de acordo ou em desacordo. A questão é que o meu comportamento vai, efetivamente, prejudicar o outro, ou os outros, diretamente, aqui entra a empatia, a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro e procurarmos resolver, não com base nos nossas convicções pessoais mas, sim, tendo em conta o que é protetor para toda a comunidade, quer a nível da saúde, quer a nível económico.

Ainda assim, tenho fé, que perante esta fase negra da crise sanitária e económica, vamos poder, a seu tempo, sarar as feridas e evoluir. A empatia e a regulação emocional vão ser cada vez mais interiorizadas desde uma tenra idade. A transformação está aí a acontecer e 2021, irá ser um ano, de caminho para essa evolução. Caminho este lento, com passos pequenos, mas sólidos.

Vamos a isto 2021, que toda a experiência se torne numa boa aprendizagem sobre Empatia.

 

Dra. Mafalda Leite Borges - Alcochete

Canto da Psicologia



terça-feira, 24 de novembro de 2020

Exercício físico com/sem máscara?

 



Em tempos tão conturbados, a nossa preocupação deve passar por manter o corpo e a mente sã e equilibrados, sendo o exercício físico uma ferramenta fundamental para a manutenção da saúde. Neste sentido, foi feito um estudo para perceber o desempenho físico com o uso de máscara para proteção individual e sem máscara. Foram avaliados valores de saturação arterial e o índice de oxigénio tecidual nos membros inferiores (membros que exigem maior irrigação sanguínea) numa prova de esforço progressivo em bicicleta. O uso das máscaras não afetou o desempenho a nível cardiovascular, a avaliação da perceção do esforço, assim como a frequência cardíaca média dos participantes. De referir que o teste foi feito com pessoas saudáveis e com um teste progressivo de intensidade até à exaustão.

Estes dados, apesarem de serem limitados, permitem perceber que para esforços feitos em espaços fechados e de intensidade moderada, a máscara não prejudica o rendimento nem a segurança da pessoa. Caso exista receio em treinar em espaços fechados, o uso da máscara pode ser um fator de confiança. Prioridade por exercícios de força e/ou de componente cardiovascular de intensidade moderada.

 

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