Crianças e adolescentes de volta
a casa. Mais uma alteração…
Mais uma alteração entre tantas
alterações que trazem novos desafios, tanto para eles como para os pais/cuidadores.
Ao longo das últimas semanas, tem vindo a ser possível perceber que este novo isolamento
do mundo em pouco (ou nada) se assemelha ao anterior, trazendo associadas
muitas emoções dispersas, muitas alterações de comportamento, muita ansiedade e
muitas questões, talvez, com poucas respostas. E qual é a diferença de há um
ano atrás? Porque é que agora está a ser mais difícil? “Não consigo perceber o
porquê de se estar a portar desta forma”. A resposta é simples (e complexa ao
mesmo tempo), e está exatamente nas palavras da pergunta, porque passou um ano,
porque já não é novidade, já não é divertido estar em casa, já não é divertido
não ter nada para fazer, já não é divertido não ser possível ir à rua, já não é
divertido ver os amigos e a família só pelo ecrã. Tudo o que há um ano atrás foram
novidades agora já não o são, agora têm o peso de tudo o que já passamos e que
continuamos a passar, de todas as notícias da comunicação social que parecem
não melhorar, de todas as emoções e ansiedades acumuladas. E é normal!
Vemos o desespero dos pais/cuidadores, sem saber o que fazer com os filhos em casa, alguns que ao
mesmo tempo têm de trabalhar, sem saber como vão conseguir acompanhá-los da
forma que seria a ideal, agora nas aulas online,
que mais uma vez todos fomos obrigados a aceitar. E se para os pais/cuidadores
é difícil vamos tentar, por um momento, colocar-nos no lugar das crianças e dos
adolescentes… as crianças ainda com pouca bagagem que as permita gerir toda a
informação que lhe é “atirada” diariamente, os adolescentes a verem ser-lhes
“roubadas” todas as experiências típicas desta fase das suas vidas. As crianças
sem perceber porque é que numa situação normal quando os pais/cuidadores
estavam em casa era o momento para estarem todos juntos e agora não podem falar
com eles quando estão mesmo ali ao lado (porque a sala é agora o escritório).
Agora, como escrevi há uns meses atrás, voltam-se a fundir os espaços de lazer
com os de trabalho/escola.
E, mais uma vez pergunto, o que
mudou desde há um ano atrás? A bagagem que todo este ano trouxe, as
frustrações, as limitações, as proibições.
Se os pais/cuidadores também
estão cansados? Estão! Exaustos? Sim! Ansiosos? Também… Mas são eles os pilares
destas crianças e adolescentes, são estes que eles esperam que consigam dar o
suporte que precisam. Por isso, temos de ouvir as nossas crianças e
adolescentes, temos de valorizar os sentimentos que nos transmitem.
Nem sempre estes sentimentos vêm
em forma de palavras (o que poderá tornar tudo isto um desafio ainda maior, é
certo), mas sim de comportamentos alterados. É por isso essencial valorizar e
validar o cansaço, a ansiedade, a tristeza, a revolta, a irritação, os medos e,
ao mesmo tempo, incentivar a que exprimam as suas emoções, porque é normal que
as sintam, principalmente neste momento, perante esta situação. Podemos todos
sentir ansiedade e eles também. E é normal!
Drª Rita Rana
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