Como podemos atravessar o luto sem um adeus, sem
um abraço?
Parece-me que o luto chamado patológico será uma das maiores dificuldades que o campo da saúde mental irá enfrentar nestes tempos de pandemia.
Teremos lutos para fazer pela perda de alguém
próximo, mas também pela perda destes meses (anos?) sem os nossos por perto, de
momentos de partilha durante um passeio, um café, um jantar, em festas,
aniversários, casamentos e funerais.
Os rituais fúnebres são essenciais para dizer adeus e começam bem antes do funeral propriamente dito, são os últimos olhares, as últimas palavras, os últimos momentos que acompanham e confirmam a despedida. Eu perdi alguém muito próximo este Verão, vítima de outra doença igualmente cruel, e felizmente pude estar presente no funeral, despedir-me e partilhar memórias com alguns familiares. Um dos desafios do meu luto passa por aceitar que essa pessoa faleceu sozinha no hospital e sobretudo que não a pude abraçar desde Março porque tinha medo de lhe transmitir Covid-19. Haverão um sem fim de histórias semelhantes, outras com contornos ainda mais tristes de famílias e amigos que não puderam homenagear e despedir-se dos seus mortos.
No outro dia uma amiga comentava que notou um aumento de manifestações de luto entre as suas amizades numa das redes sociais, precisamos de reinventar formas de simbolizar estas perdas, de pôr palavras nesta dor, de novos rituais de luto.
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