quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Começar o desconfinamento dentro de cada um de nós...

 



“Os flagelos, com efeito, são uma coisa comum, mas acredita-se dificilmente neles quando nos caem sobre a cabeça. Houve no mundo tantas pestes como guerras. E, contudo, as pestes, como as guerras, encontram sempre as pessoas igualmente desprevenidas.”

Albert Camus, 1947


A humanidade sente o impacto da pandemia covid 19 desde março de 2020. O já longo período pandémico que atravessamos será tema basilar da narração histórica do ano 2020, 2021 e seguintes. Diariamente ouvimos, lemos e/ou pensamos no impacto social, económico, cultural e político trazido pela pandemia. Por cá, no consultório ou online, a par deste impacto, olhamos a nu para o embate interno que a pandemia gera em cada um de nós. Pois, apesar do seu carácter coletivo e universal, não temos todos os mesmos recursos de resposta. No entanto, parece inegável que a nova realidade veio colocar, democraticamente, a saúde mental da humanidade à prova.

O medo, a tristeza, a ansiedade, a solidão, a angústia, o desamparo, têm sido os panos de fundo das sessões de psicoterapia. De repente, a realidade social há muito instituída dá lugar a uma realidade desconhecida, onde nos vemos privados das relações familiares e sociais como as conhecíamos antes. Mergulhados na incerteza, confrontados com a impossibilidade de controlar integralmente a vida, é esperado e natural que não saibamos como reagir e dentro de nós cresçam sentimentos angustiantes e ansiogénicos.

A vida parece estar em suspenso e os dias, aparentemente todos iguais, já se prolongam há demasiado tempo. Imergidos em incertezas e medos, pensamos se chegará o dia em que iremos recuperar a “normalidade” de antes.

 A humanidade precisa de acolhimento, de legenda e contenção de emoções e sentimentos. Precisa de um espaço interno seguro para sentir e elaborar a catástrofe que nos apanhou desprevenidos.

Talvez o desconfinamento deva começar dentro de cada um de nós, assumindo a inquietação que ele nos possa causar, aceitando o medo e as dúvidas, acreditando que é dentro de nós que encontraremos a quietude nos futuros dias.


Drª Soraia Almeida - Braga

O Canto da Psicologia




1 comentário:

  1. Cada um terá de encontrar o seu próprio caminho a percorrer, mas é aí que começam a surgir as dificuldades até que se encontrem as soluções

    ResponderEliminar