Lá
fora nem todos os dias nos parecem que estamos em pleno verão. Por vezes quase
parece necessário olhar para o calendário, pois na verdade os dias estão cada
vez mais “bipolares”. Ainda assim, por enquanto os meses do ano mantém-se
iguais, e sendo assim aqui estamos nós no mês, que para muitos, é de pausa. Geralmente, nas férias de verão o clima quente
e seco convida-nos a “acalmar” e abrandar o ritmo das rotinas habituais. Mas um
pouco como noutras situações, onde as desculpas estão ao virar da esquina, que
não nos sirvam os dias, por vezes, frios e chuvosos do verão como desculpa para
não ficarmos mais “molengas” e serenar o ritmo (muitas vezes alucinante). Com
isto não se quer dizer ficar molenga para a vida, mas talvez reencontrar-se com
tantas coisas que ficam sempre para amanhã (sem ordem de preferência!) –
descansar, brincar, dormir, abraçar… Por outro lado, também sabemos que não é
apenas o facto de termos mais tempo para descansar ou estar com quem se gosta
que o consigamos fazer. É precisamente quando estamos verdadeiramente em
contacto com os outros (e connosco) que nos damos conta de imensas coisas que
muitas vezes nos passam um pouco ao lado. No querido mês de agosto podemos
também vivenciar as saudades expressas no regresso dos emigrantes ao seu país. A
nostalgia daquilo que “fica para trás” quando se viaja para outro país, parece
ganhar outra cor e brilho quando se pode reencontrar família e amigos. Os
bailes de verão, as sardinhadas, o pôr do sol à beira mar, agora tudo isto
ainda um pouco em suspenso, seriam o pano de fundo de algo que muito se sentia
falta – estar em festa com a vida, melhor dizendo ter um espaço físico e mental
para estar com o outro.
Simultaneamente,
as férias representam também o parar para depois recomeçar – a escola, o
trabalho, a psicoterapia – o que simbolicamente nos pode remeter para a
capacidade de guardar dentro de nós as pessoas e as relações. Durante um
processo psicoterapêutico a relação que se desenvolve na díade
terapeuta-paciente, permite ativar e pensar uma série de sentimentos que
existem também nas outras relações pessoais e profissionais. Assim, o momento
das férias na terapia pode também evocar sentimentos de algum mal-estar, e
eventualmente sensações de angústia e abandono. Freud (Inibição, sintoma e
ansiedade, 1926) descreve a angústia como um estado de insuficiência
psíquica do ego, frente a um perigo que o ameaça, despertando assim a sensação
de desamparo biológico e psíquico, sentido habitualmente pelo bebé na ausência
da mãe. Naturalmente que as separações, por muito pequenas que sejam podem
evocar este tipo de sentimentos, mas podem também simbolizar a possibilidade do
reencontro e da permanência do outro (dentro de nós). Este
movimento de ir e voltar, e consequentemente do saber que por se estar separado
do outro ele não desaparece é essencial para que se possa desenvolver a
segurança e autonomia.
O
regresso, tal como as férias, pode ter um sabor um pouco agridoce, mas permite
criar uma sensação de continuidade e extensão da vida mental.
«“Não
te vais esquecer de mim, pois não?” É o que perguntamos todos quando nos
despedimos da pessoa amada, pois esse é o certificado de que somos amados e a
garantia de que não seremos abandonados.»
(Coimbra
de Matos)
Por
enquanto, ainda em agosto, o convite feito é ao dolce far niente (Locução
italiana que exprime o ideal da ociosidade despreocupada, dicionário Priberam),
com a segurança do desejo do reencontro.