“Que as mulheres não sejam criadas para serem criadas” - e eu acrescentaria: nem os homens para serem servidos
“Que as mulheres não sejam criadas para serem criadas” - e eu acrescentaria: nem os homens para serem servidos
As nossas
crianças estão de volta à escola. Não raras vezes, com a falta de tempo e com o
medo de contacto entre as crianças, os pais colocam o exercício físico para
segundo plano. Em casa e sem hipótese de
“gastarem energias” pode tornar-se ainda mais difícil gerir ansiedades e
défices de atenção no contexto escolar. A situação não é na melhor, mas face ao
presente, é preciso compreensão e procurar alternativas de atividades que sejam
seguras e ao mesmo tempo estimulantes para os mais pequenos. O exercício ao ar
livre pode ser uma excelente alternativa e promovendo ao mesmo tempo a segurança.
É de reforçar,
que o exercício é fundamental para a melhoria do estímulo cerebral,
funcionamento cognitivo e para melhorar e otimizar a gestão do stress a
ansiedade, decorrente em grande parte do confinamento.
A ciência já
comprovou que o exercício físico regular promove melhoria do rendimento
escolar, porque torna o cérebro mais rápido, ajuda a preservar as suas
capacidades e permite aumentar a plasticidade do mesmo. Assim, em tempos que
nos desafiam a todos, se queremos as nossas crianças mais atentas, mais
concentradas e com maior capacidade de lidar com a responsabilidade e gestão
emocional, devemos permitir que o exercício físico não saia das suas rotinas,
coabitando lado a lado com os estudos.
Bons treinos
Hugo Silva
Aproxima-se o dia 25 de Abril, o dia da Liberdade.
O conceito de
Liberdade dá para discorrer acerca de muito, dá para grandes debates a vários
níveis mas, remetendo para esta área, dá também para pensarmos no que significa
a Liberdade a nível pessoal e interno; o que é a liberdade na vida interna.
No dicionário de
Psicologia (Roland Doro e Françoise Parot, 2001), a definição do conceito de
Psicoterapia engloba a ideia de liberdade: “...os critérios de cura variam
segundo o processo psicoterapêutico e a teoria que o subentende: (...)
liberdade interior e capacidade de ser feliz maiores, conhecimento mais
fino de si, dos seus limites, das suas possibilidades.
O processo psicoterapêutico é então mais do que a criação de uma narrativa, é a construção activa de uma nova forma de experiênciar o Eu com o Outro.
O terapeuta deve voltar-se para fora e estar emocionalmente
disponível, o que significa ter os seus problemas internos suficientemente
tranquilos para que eles intervenham o mínimo possível na sua relação com o
paciente. Ao paciente é pedido que aja consoante ele próprio, que seja ele
próprio, e que continue comprometido com as sessões de forma a que se construa
este “monólogo a dois”.
Neste
sentido, normalmente membros da família, da pessoa incapaz, acabam por assumir
essa responsabilidade, sendo que apoiam o familiar doente ou então, o mesmo é
encaminhado para uma instituição de reabilitação, com equipas formadas para dar
esse apoio continuado. Dado que é um direito fundamental humano, só mesmo em
casos extremamente graves, de doença prolongada é que se decide sobre a
incapacidade legal, de forma a proteger o paciente.
Agora
imagine este cenário estar associado à famosa cantora Britney Spears, dos anos
2000, que iniciou a sua carreira na televisão ainda muito jovem, com apenas 5
anos, com o apoio dos pais e até incentivo. Esta realidade tem estado a causar
a maior perplexidade no mundo, ainda hoje a cantora ganha milhões anuais, só
pela sua marca, pelos sucessos das suas canções e performances. Contudo a
realidade da cantora bilionária, é que está desde 2008, impedida de ter
autonomia legal, ou seja, está a ser tutelada pelo próprio pai.
Recentemente,
têm surgido vários movimentos contra esta medida decretada pelo tribunal nos
Estados Unidos, os movimentos estão a ser desenvolvidos pelos fãs da mesma e
são cada vez maiores, pelo que estão a gerar uma onda de indignação a nível
mundial, no sentido de pressionar a Justiça Americana a dar independência
jurídica à cantora.
Terá sido em
2008, após uma série de episódios e surtos, que revelaram a possível
instabilidade mental da cantora, que seu pai, Jamie Spears, pediu a tutela
temporária da filha e, desde então, ela não controla decisões relacionadas com
a sua situação financeira ou com a sua carreira. Nos últimos doze anos, o seu
pai e o seu advogado gerem não só os bens de Britney, como controlam a sua vida
pessoal - podem limitar ou proibir as visitas, as entrevistas que dá e podem, supostamente,
comunicar diretamente com os médicos e interferir no tratamento da cantora. A
medida decretada pelo tribunal que devia ser temporária, está efetivamente a
ser considerada final.
O choque
desta medida, está relacionado com o facto de serem decisões que, habitualmente,
são raras e apenas associadas a casos de gravidade extrema, com prova de
incapacidade funcional relacionados, com demências, atrasos cognitivos e
doenças mentais graves do ponto de vista estrutural, que impossibilitam a
mínima funcionalidade para a sobrevivência do individuo.
Uma das
questões interessantes sobre esta matéria é a relativa a sua funcionalidade,
estamos perante uma cantora que obteve enorme sucesso, muito fruto do seu
próprio trabalho como os inúmeros documentários e provas factuais, que assim o
revelaram ao longo dos anos, tal é o escrutínio destas figuras públicas. Então
como se explica que uma cantora de sucesso que organizava e geria os seus próprios
eventos, com as coreografias e com todo o processo que envolvia a sua carreira,
tenha sido considerada incapaz de forma definitiva? Que o tenha sido em 2008,
quando estava em crise psicótica (tentou agredir paparazzi e danificou um carro
dos mesmos), parece que pode ter sido protetor, este apoio nessa altura.
Contudo, desde então que ela estabilizou, já depois da crise, até realizou
alguns concertos com milhares de pessoas, em Las Vegas o que gerou volumosas receitas
de milhões de dólares, o que revela ter adquirido funcionalidade e alguma
normalidade de forma a poder atuar, brilhantemente, em frente do público.
Porém, curiosamente, não pode usufruir, nem pode aproveitar a sua riqueza
financeira, fruto do seu trabalho, pelo que decidiu acabar com estas
performances de forma a poder recuperar a sua independência.
Assim por
motivos legais, as suas incapacidades mantêm-se, o que leva a uma serie de
questões éticas, sobre o papel da avaliação médica e psicológica e do seu
impacto, nos tribunais e o mais importante na vida dos sujeitos.
A àrea da saúde
mental, assim como, todos os seus intervenientes especialistas, têm a missão
ética de assegurar o bem-estar e promover, invariavelmente, a autonomia do
paciente, aliás o grande objetivo terapêutico, de qualquer profissional de
saúde mental é de estimular a independência do individuo, em determinados casos
em que a doença mental está associada a deficit cognitivo, está possibilidade,
está substancialmente reduzida. Contudo, quando existem competências cognitivas
as possibilidades de melhoria dos pacientes são maiores. Terá realmente a
cantora incapacidade funcional, como possivelmente os relatórios médicos e
psicológicos referem?
Além destas questões de ordem jurídica, médica
e psicológica, existe outra questão que talvez, seja a mais importante neste
caso público, que está relacionado com o papel da família. É importante
sublinhar que foi o pai da cantora que pediu a tutela nos tribunais, logo
quando a sua filha entrou em crise naquele ano, a mesma foi avaliada
psicologicamente e os tribunais, assim decidiram com base nesses relatórios.
Os pais são promotores de saúde mental nos
filhos, ou pelo contrário, parece ser este o caso. Segundo a própria cantora
houve sempre uma relação conflituosa entre ambos, o pai é descrito como sendo,
muito controlador da sua carreira e da sua vida em geral.
De facto,
quando a família não estimula a auto estima e a independência dos seus filhos,
estes se desenvolvem com a noção de que não são bons suficientes, de que não
são capazes. Se os pais consideram os filhos incapazes e os tratam, dessa forma,
o mais certo é eles sucumbirem e, assim, agirem de acordo com estas
expectativas. O amor parental, é fundador das bases psíquicas do ser humano,
vai marcar o sentimento de que é amado e apreciado, a forma como tratamos os
nossos filhos e se acreditamos ou não nas suas capacidades, de serem livres e
capazes, vai influenciar essa mesma autoavaliação. Os pais narcísicos, não
suportam que os filhos possam brilhar mais do que eles e possam ter asas para
voar livremente. A criança quando se está a desenvolver exige muito dos pais,
da sua atenção, precisa de se certificar que é amado e respeitado. Se assim for
vai crescer com amor-próprio e confiante das suas capacidades. Todos os
comportamentos, ações, e atribuições de carácter, persistentes e frequentes,
dos pais para os filhos poderão ter consequências na construção de identidade
das crianças e, posteriormente, no futuro adulto. O ser humano vai querer
sempre se adequar às expectativas dos pais quer sejam positivas (conscientes)
quer sejam negativas (inconscientes). Neste aspeto a equipa de médicos e
psicólogos é fundamental, para trabalhar estes modelos com o paciente,
promovendo uma nova relação. A situação familiar deve ser, sem duvida, a pior
provação da Britney, a de ter uma família, que lhe retirou a liberdade e a
possibilidade de ser uma adulta livre e cheia de vida.
“Desconfinar” é a palavra do dia.
Há um ano que acompanhamos, mais
ou menos atentamente, mas transversalmente, a evolução das tendências nos
múltiplos diagramas, gráficos, números e índices que nos apresentam, pendurados
das comunicações oficiais sobre as implicações na Vida. Tornámo-nos
especialistas em epidemiologia. Como quebra gelo, não falamos do tempo, falamos
da pandemia, deste céu que nos caiu em cima, e do desconhecido, “para o que
estaremos ainda guardados” diz a expressão popular.
Para nos protegermos, fomos
forçados a confinarmo-nos. Sentimo-lo como uma imposição externa mas também construímos nós próprios barreiras, alicerçadas no medo, na auto-proteção, no
dever filial ou cívico. Defendemo-nos. Com os recursos que temos, pessoais, familiares,
sociais ou materiais, procuramos reagir, cada um ao seu estilo.
Sentimo-nos, contudo, limitados,
constrangidos. Nem sempre temos uma narrativa para este conflito entre querer
viver, protegendo-se do contágio, e querer viver, sem estes limites criados
para nos defender. Por vezes é um discurso mudo que sentimos e que se desenrola
dentro de nós, uma sensação de incompletude ou mesmo de mal-estar. Uma falta de
ânimo ou ansiedade miudinha. Por vezes externalizamos, discutimos com quem está
à nossa volta, com o teclado do computador ou a máquina do café. E voltamos a
defender-nos.
O cenário deste diálogo é o da
pandemia COVID-19. No entanto, esta vivência de constrangimento, de
possibilidades limitadas, é comum a muitos de nós, ainda que a localização e a
intensidade da dor sejam únicas.
O plano de desconfinamento vem-nos
trazer esperança, vem-nos alargar o horizonte de possibilidades. A rua, as
escolas, os parques, as esplanadas, as livrarias, os ginásios, os museus..as
pessoas... Elas estão aí e somos livres para as usar. Bem a propósito, no abril
que simbolicamente associamos à liberdade de um povo, o nosso.
Dizia Frederico de Brito “Julguei
ser um sonho/Mas foi realidade /E às vezes suponho/ Que não foi verdade! / Mas
se alguém disser / “Não há Liberdade!”/ Eu posso morrer /Mas não é verdade!”.
E, no entanto, a liberdade, essa
palavra grande que nos enche a alma de expetativas, nem sempre é sentida. Na
minha perspetiva, a psicoterapia é, também, um caminho de desconfinamento, da
nossa mente, das nossas emoções. É um caminho especial, porque se faz a dois.
Exploram-se as restrições hétero e auto impostas, umas conhecidas de longa
data, outras nem tanto. Descobrem-se os gestos usados uma e outra vez, cujo uso
se fez hábito já sem sentido ou benefício. Acima de tudo, descobrem-se novos
caminhos, novas possibilidades, embaladas pela confiança e pelo sentido de
liberdade para as percorrer. Somos inspirados, paciente e terapeuta.
Fazem parte do nosso imaginário
popular várias letras do António Variações. Recordo esta:
“Quero é viver/Amanhã, espero sempre o amanhã/
E acredito que será, mais um prazer/A Vida, é sempre uma curiosidade, que me
desperta com a idade, interessa-me o que está p’ra vir/E a vida, em mim é
sempre uma certeza/que nasce da minha riqueza, do meu prazer em
descobrir/Encontrar, renovar, vou fugir ao repetir” lindamente interpretada
pelos Humanos
.
Porque o potencial para sermos
mais livres está em todos nós. Por vezes precisamos apenas de companhia no
caminho.
Drª Ludmila Carapinha - Lisboa
Já abordei esta temática em textos anteriores, mas o tema continua atual. Numa altura em que distância social é imperativa, procurar estratégias para pessoas que pretendem continuar activas sem ir ao ginásio ou sair de casa é bastante importante.
Um estudo já com
alguns anos, pretendeu testar os efeitos do treino intervalado de alta
intensidade (HIIT) em casa e sem material. O estudo consistia no seguinte:
dividiram mulheres em dois grupos: de um lado um treino normal de 30 minutos de
caminhada, mais treino de musculação, do outro, treino HIIT feito em casa com
10 séries de 1 minuto, subidas num degrau e agachamentos com o peso corporal,
com 1 minuto de intervalo. Tanto o treino tradicional, assim como o HIIT foram
executados 3x por semana, durante três meses.
Este estudo, mostra
que em tempos de distanciamento, as possibilidades vão para além do
convencional. Ao aluno, abre novas perspetivas, podendo treinar com pouco ou
nenhum material. Aos profissional de exercício físico, através das tecnologias, cabe utilizar o treino online como forma de
chegar ao domicílio dos alunos, procurando sempre utilizar as ferramentas
adequadas.
Bons treinos
Hugo Silva
O ano
começou com esperança, a vacinação para a COVID-19. Esperança num regresso à
normalidade, esperança naquele reencontro com família e amigos, naqueles
abraços e convivios. Esperança na liberdade de cada um.
Mas este
processo é lento e moroso. Continuamos a deparar-nos com uma pandemia mundial
que nos levou, mais do que uma vez, ao confinamento, ao teletrabalho, à escola
a partir de casa. Mas mais impactante é o afastamento imposto dos nossos,
família e amigos. Casais lidam com a gestão dos filhos e do próprio casal.
Crianças privadas da brincadeira com os amigos e da rotina da escola.
Adolescentes que não podem conviver uns com os outros.
Somos
confrontados com preocupações que geram ou aumentam ansiedades e incertezas
quanto ao futuro. O que nos trará o futuro?
Ninguém
consegue responder com certeza a esta questão, mas há que manter a esperança
num futuro melhor. E é mesmo a esperança que nos mantém positivos, que nos
impulsiona a continuar, a ultrapassar as dificuldades que nos surgem. É ela que
nos move e nos mantém vivos.
De acordo
com Snyder, que nos trouxe a Teoria da Esperança, esta é um estado cognitivo
positivo assente na expetativa de sucesso perante a determinação em alcançar
objetivos e delinear planos para os conseguir.
A esperança é
uma emoção positiva que ocorre geralmente quando somos deparados com
circunstâncias negativas ou incertas. Como o que vivemos atualmente!
É um fator cognitivo mas tem uma qualidade afetiva única que nos dá motivação para procurar resultados futuros. É um estado que mantemos intencionalmente:
decidimos ter esperança, muitas vezes, por medo das consequências reais que
podem ocorrer caso não tenhamos esperança. Podemos ter esperança em relação ao
que quisermos, em relação ao mundo, ao trabalho, à família e ao amor. Podemos
ter esperança numa mudança em nós próprios!
Quem tem esperança, tem também o desejo e a
determinação de que os seus objetivos serão alcançados, e tem ainda uma série
de estratégias (e a capacidade para as procurar e encontrar) para atingir esses
objetivos. A esperança permite-nos olhar os obstáculos com a confiança de quem
vai conseguir ultrapassá-los e, por isso, estamos mais dispostos a olhar à
volta, a procurar formas, caminhos, ferramentas, para o conseguirmos. Ou seja,
a esperança não corresponde apenas à vontade ou desejo de se chegar a
determinado lugar, mas também às diferentes formas para lá chegar.
Para além de nos permitir
evoluir, a esperança ajuda-nos a sobreviver. O instinto de sobrevivência no ser
humano é de uma força quase inesgotável. No entanto, em oposição à esperança
existem pessoas que perderam a vontade de viver. Várias pesquisas nesta área
mostram que a desesperança está mais associada ao suicídio do que a depressão.
Na área da saúde, estudos demonstram que a
esperança tem influência na eliminação ou redução de problemas físicos e
psicológicos. As pesquisas de Snyder comprovam que a esperança ajuda a pessoa a
reagir positivamente no caso de doenças e lesões. Também toleram melhor a dor.
Têm maior capacidade e habilidade adaptativa para resolver problemas.
A esperança é a última a morrer… e se precisar de uma ajuda
profissional para voltar a acreditar e a ter esperança no futuro, não hesite em
contactar O Canto da Psicologia. Estamos cá para lhe dar Esperança!