Por estes dias,
é-nos vedado estar em grupo, conviver como sempre fizemos, agir como
coletivamente sempre nos ensinaram e, por força dessa alteração do real, deixou
de estar disponível a renovação de contactos que sempre nutriu as relações
sociais e o bem-estar intra e inter-individual. Ficar em casa e proteger-nos é,
sem dúvida, vital. No entanto, o isolamento social – pedem-nos para ignorar o
Ser Gregário que há em nós – acarreta outras consequências, além do afastamento
físico, que são invisíveis ao olho e à desatenção. Vivemos, actualmente, um
Luto pela idealização, pelos desejos, pela relação, pelas vontades e pela
fantasia. Este Luto que se veste de preto e está presente nos enterros,
veste-se, também, com um manto da invisibilidade dentro de cada um de nós e
ameaça, a todo o instante, aparecer novamente com a notícia, brutal: “acabámos
de perder mais um desejo!”. Este desejo, o de cada um de nós, nasce da
idealização da vontade e do sonho, mas acaba com um “adeus” e uma marcha
fúnebre; ainda que a consciência nos diga “Calma, vêm mais desejos amanhã”; e é
certo. Elaboramos mais desejos no dia seguinte mas, aquele já não volta. Tal
como as pessoas que se perderam nesta luta colectiva.
Vivemos uma
ameaça permanente e invisível que a qualquer momento pode atacar com maior
vigor.
Temos vindo a adaptar-nos. Quem sabe já
estamos adaptados. Somos indivíduos
subjectivos quando elaboramos um pensamento, o que nos permite duas
formulações: a primeira que somos seres de hábitos e, à partida, resistimos a
novos que nos sejam impostos; a segunda é que, apesar de contrariados, somos
capazes de nos adaptar a situações externas ameaçadoras e desenvolver
mecanismos que nos permitam sobreviver. Além das questões externas, as
problemáticas internas são maleáveis, certamente, pela necessidade que daí
advém. A solidão será atenuada pela sensação de solidão conjunta e a
invisibilidade da tristeza será amparada pela certeza de que todos desejamos
sentir-nos mais felizes. O setting terapêutico enche-se da procura pelas respostas,
pelas interrogações ansiosas que precisam de ser escutadas e o desejo de alguém
que anseia gerir as emoções e dizer: “Desta vez estou preparado”.
Temos dois lados
de uma moeda: por um lado a vontade do antigo e a saudade do que já foi; por
outro a incerteza do futuro ao espelho com o desconforto do presente. Do oculto
terceiro lado, sabemos que sobra o desejo comum de uma perspectiva brilhante e
saudável deste Mundo Novo.
Drª Maria Inês Almeida - Alcochete
Sem comentários:
Enviar um comentário