Se pudesse desejar algo para todos, para este novo ano 2021, que ainda está incipiente, seria que com esta Pandemia, pudesse surgir uma nova forma de estar em comunidade, de encarar e perspetivar a vida. Não se trata de uma visão inocente, embora em cada desejo exista, sempre, algo de ingénuo, mas seria bom que retirássemos, desta experiência, desafiante, uma aprendizagem, acima de tudo, sobre empatia.
A empatia é a condição necessária
para amar o outro, desde cedo os pais procuram “adivinhar” o que se
passa com os seus bebés, através das suas expressões faciais e das suas
posturas, procuram dar-lhe conforto e amor, numa dança sincrónica que se vai
estabelecendo.
Depois, já em adultos, nem sempre
procuramos compreender o lado dos outros, começamos a querer, apenas, forçar um
caminho, uma certeza, uma verdade, um só percurso, o meu. Assim, poucas vezes,
cooperamos ou procuramos negociar com respeito e preocupação. Mesmo que o ego
fique sobressaltado, inflamado e, temporariamente, queira levar a sua avante,
em tom de birra. É necessário perceber que todo o comportamento humano tem
na sua base, uma enorme necessidade de reconhecimento e de amor. Quando
julgamos mais e criticamos ferozmente, acontece porque há um medo, enorme, de
não sermos amados e celebrados. Assim sendo, em vez de criticarmos pois somos,
também seres críticos, embora a crítica devesse ser equilibrada, construtiva e
não uma arma de arremesso, devemos amar mais, compreender, perdoar, para
podermos avançar e crescer.
Deste modo, se existe aprendizagem que
podemos retirar com está crise, é a de que precisamos, imensamente, da
cooperação e interajuda de todos para ultrapassarmos os mais diversos
obstáculos. Que não existem pessoas mais importantes, nem menos importantes,
que todo o contributo é válido e as comparações completamente desnecessárias,
em todos os contextos. Durante muito tempo, sobressaio a individualidade, a
competição, o poder exclusivo, em detrimento do bem comum, neste momento o bem
individual está dependente, do exterior e dos comportamentos comunitários e
empáticos, para que possamos estar em segurança e, assim, continuarmos a
avançar com as nossas vidas.
Se decidirmos negar e não cumprir com as
recomendações, vamos aumentar os casos de Covid 19, pelo que a saúde fica
devastada, com excesso de casos e não vai ser possível cuidar dos outros
doentes que necessitam, entra-se num ciclo vicioso sem fim, com a economia a
afundar. Todos temos direito às nossas opiniões ou divergir, porém sempre que
decidirmos ignorar as recomendações apenas, vamos dificultar a vida de todos os
cidadãos, independentemente de estarmos de acordo ou em desacordo. A questão é
que o meu comportamento vai, efetivamente, prejudicar o outro, ou os outros,
diretamente, aqui entra a empatia, a capacidade de nos colocarmos no lugar do
outro e procurarmos resolver, não com base nos nossas convicções pessoais mas,
sim, tendo em conta o que é protetor para toda a comunidade, quer a nível da
saúde, quer a nível económico.
Ainda assim, tenho fé, que perante esta
fase negra da crise sanitária e económica, vamos poder, a seu tempo, sarar as
feridas e evoluir. A empatia e a regulação emocional vão ser cada vez mais interiorizadas
desde uma tenra idade. A transformação está aí a acontecer e 2021, irá ser um
ano, de caminho para essa evolução. Caminho este lento, com passos pequenos,
mas sólidos.
Vamos a isto 2021, que toda a
experiência se torne numa boa aprendizagem sobre Empatia.
Dra. Mafalda Leite Borges - Alcochete
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