Esta semana comemora-se o 50º aniversário da morte de Donald Winnicott, que faleceu a 25 de Janeiro de 1971. No mesmo ano foi publicada uma das suas mais importantes obras: “O Brincar e a Realidade”. Numa época em que a circunstância da nossa realidade “não está para brincadeiras” não será mais importante do que nunca a nossa capacidade para brincar? Mas comecemos por saber quem é Winnicott.
Donald Woods Winnicott nasceu a 7 de Abril de 1896 em Plymouth, Devon, Inglaterra e foi um pediatra e psicanalista de crianças e adultos. As suas contribuições para a compreensão do desenvolvimento da criança são conhecidas internacionalmente desde os anos 60, quando foi publicado o seu livro “A criança e o seu mundo”. Colocou um grande ênfase no contexto em que o bebé cresce: o impacto do ambiente na vida interna e nos estados emocionais do bebé, a importância da relação precoce mãe-bebé. Revolucionou o modo de se olhar para o bebé e para o desenvolvimento humano e o seu contributo para a psicanálise é enorme, mas gostaria aqui hoje de me debruçar essencialmente sobre um dos temas que desenvolveu, o Brincar.
A capacidade para brincar existe desde sempre. O bebé brinca quando faz bábábábá continuamente, brinca-se ao está aqui - já
não está, desde muito cedo. Para a criança, o brincar é fulcral pois é assim que
experimenta o mundo, porque para as crianças, agir, pensar e fantasiar, não
sendo a mesma coisa, são inseparáveis. Winnicott mostrou como o brincar, na
verdade, surge da capacidade de experimentar a ilusão: o “faz de conta” ou até
“às escondidas”, onde a capacidade criativa de jogar com aquilo que não é, ou
não está, se torna possível. Do mesmo modo podemos pensar se a brincadeira
exige, ou não, reciprocidade. Sim, exige, no sentido em que é o prazer de
brincar com o outro que vai dar lugar ao prazer de brincar sozinho. Sim, porque
eu só consigo brincar sozinho porque sei que existe um outro com quem poderei
brincar. É como se precisássemos de aprender a brincar com outro para
podermos brincar depois sozinhos. E esta “aprendizagem” através do brincar dá lugar ao
sentir, ao sonhar e reflectir, tão importantes para a vida.
Penso
nestas ideias e nestes conceitos e como eles parecem assentar que nem uma luva
naquilo que estamos a viver com esta pandemia! Penso como se torna de facto
importante “brincarmos” hoje em dia e nesta circunstância. Como é a nossa
capacidade criativa, a nossa capacidade de sonhar, a nossa capacidade para
estar só, que nos permite viver estes tempos com (mais ou menos)
tranquilidade.
E foi
assim que me surgiu este título Confinamento – com o fim na mente, um jogo de
palavras, uma forma de poder brincar com aquilo que se está a passar. Esperemos
que este confinamento chegue ao fim depressa (creio estar na mente de cada um
de nós!), para podermos voltar a conviver, a partilhar frente a frente.
Confinar não significa forçosamente isolar, isolarmo-nos, ainda que nos
possamos sentir sozinhos, sem a tal possibilidade de partilhar do modo que
sabemos e gostamos, porque existindo a possibilidade de sonhar, criar, brincar,
torna-se possível saber que não vai ser sempre assim.
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