quinta-feira, 17 de março de 2016

Que a felicidade vire rotina...






Felicidade - O Futuro de uma Ilusão?


“Essa felicidade que supomos
(…)
Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos”
(Vicente de Carvalho)


Vivenciar a felicidade parece ser um desejo comum a todos os seres humanos, que tem vindo a ser transversal a todas as épocas históricas. Com efeito, podemos considerar que, desde os primórdios da humanidade, o tema de maior importância subjacente às diversas atitudes do ser humano é a busca pela felicidade. Esta parece ser a força motriz que mobiliza o indivíduo a trabalhar, criar, estabelecer vínculos afetivos, fundando-se como elemento organizador e mobilizador da própria vida. 

 Para muitos autores, a demanda incessante pela felicidade surge como contra-resposta aos desafios inerentes à condição humana, que, por natureza, está exposta a situações de fragilidade, que acarretam sofrimento, dor, decepção e, perante os quais emerge a necessidade de procurar formas de alívio. Ao longo dos tempos, a importância concedida ao tema e os meios pelos quais esta procura foi encetada nas diferentes culturas não foi, naturalmente, a mesma. O século XX introduziu uma nova forma de encarar o bem-estar individual, com repercussões para os dias de hoje. A sociedade de consumo permitiu ao indivíduo a ilusão de uma suposta felicidade, concretizada pelo acesso aos bens materiais, mas que contém em si mesmo um paradoxo: quanto maior é o seu acesso, mais fugaz se torna o prazer, levando, então, a uma compulsão à repetição. 

Somos mais felizes hoje do que antigamente, com todos os progressos materiais e tecnológicos de que dispomos? De acordo com alguns estudos, não existe uma correlação directa entre o crescendo da prosperidade e a sensação de bem-estar. Tudo indica que, pelo contrário, passa a haver um menor retorno em termos de felicidade, quanto maior o acesso ao consumo. Na verdade, o mundo pós-moderno é identificado, em muitos aspectos, por este consumismo e por uma cultura hedonista, pautada pelo desapego nas relações interpessoais e pelo individualismo. É aqui que se instala um estado de insegurança que influi numa procura e num consumo constante, como forma de sustentar a utopia da felicidade. Trata-se, por isso, de uma felicidade mascarada, que escamoteia estados de insatisfação cada vez mais permanentes, onde o tempo se torna um inimigo. Vive-se numa lógica de “contra-relógio” que, em si mesmo, introduz um paradoxo: os sujeitos, cada vez mais ocupados, com uma agenda cheia de conteúdo, mas subjetivamente vazia de sentidos e propósitos estáveis. 

A Saúde Mental será, então, nos dias de hoje, mais do que procurar “o futuro de uma ilusão”, encontrar e fortalecer os recursos internos do indivíduo, acreditando no seu potencial criativo e fortalecendo-o, para que seja o protagonista activo do seu bem-estar.

O Canto da Psicologia,

Dr.ª Joana Alves Ferreira




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