Marcamos a 21 de junho o início do
Verão. Que mais?
21 de junho é o dia mais longo do
ano, o dia em que o hemisfério norte
fica inclinado cerca de 23,5º na direção do Sol. É o solstício do verão, solstitium,
que significa qualquer coisa como “paragem do sol”, pelo menos na perspetiva
dos habitantes deste hemisfério.
A nossa experiência vivida é de que o Sol circunda a
Terra. Foi com espanto e hesitação que os nossos antepassados receberam este
dado tão contra-intuitivo de que é a Terra que gira à volta do Sol. Pois se o
vemos caminhar no horizonte, o vemos nascer e pôr-se, todos os dias da nossa
vida...
É uma ideia, uma convicção, como muitas outras, que
se instala sem nos apercebermos e que, subtilmente, tendemos a confirmar e
desenvolver. Os observatórios astronómicos proporcionaram-nos novas lentes,
também novas perspetivas, um pouco como na psicoterapia. Não propriamente tão
diametralmente novo ou diferente como deixarmos de ser o centro do Universo,
mas simplesmente uma leitura mais completa, com mais tonalidades e vertentes.
Desta particular relação entre a Terra e o Sol
resulta que é neste preciso dia do ano que a Terra recebe mais raios solares.
As relações entre a luz, o calor e a Natureza, e por consequência, o alimento,
a saúde e a prosperidade, são evidentes. Talvez por isso, desde tempos remotos,
que Incas, Maias, Gregos, Romanos, Celtas, festejavam este dia, em rituais
diversos de celebração da Vida, mais pagãos ou, religiosos, como a de São João
Batista.
Há qualquer coisa de mágico nestes rituais de fogo. Celebra-se,
agradece-se, mas também se deseja, renovação, vitalidade. Todos dançam mas cada
espírito imagina e deseja à sua maneira. Cada pessoa tem os seus sonhos. Por
vezes é importante encontrar um lugar, de calor e aceitação, onde caibam estes
sonhos, também os pesadelos, para, em segurança, poder vê-los, ouvi-los,
senti-los, de um e de outro olhar, apropriá-los e usá-los em benefício próprio
em cada dia do ano.
“Há quem diga que
todas as noites são de sonhos.
Mas há também quem diga nem todas, só as de verão.
Mas no fundo isso não tem muita importância.
O que interessa mesmo não são as noites em si, são os sonhos.
Sonhos que o homem sonha sempre.
Em todos os lugares, em todas as épocas do ano,
dormindo ou acordado.”
Sonhos de Uma noite
de Verão
William Shakespeare
É também um ritual, um encontro, sempre no mesmo
dia, à mesma hora, no mesmo lugar. As duas mesmas pessoas. Mas é tudo menos
repetição. É uma jornada pelos sonhos, pesadelos, desejos e angústias, mas
devagarinho, com cuidado, visando o enriquecimento e a transformação,
conhecendo novos alinhamentos para os planetas e estrelas conhecidos, quiçá
explorando fora do sistema solar.
Drª Ludmila Carapinha - Lisboa
O Canto da Psicologia
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