quinta-feira, 1 de julho de 2021

Até breve Mestre....

 


O mundo da psicanálise , da psiquiatria e da psicologia , hoje, está de luto!

Há uns tempos, ouvi uma frase dita por Bagão Félix numa entrevista a um canal de televisão :

“ A morte é a única certeza que é incerta no tempo”…

Desculpe Professor mas algures, por aqui, a sua imortalidade estava clara para todos nós que fomos seus alunos, e supervisandos! Já o estou a ouvir. “Que arrogância essa!” Talvez assim o seja, mas ainda há pouco mais de ano e meio o ouvi nas Conversas com História com Raquel Varela no Centro Cultural de Belém , exactamente um mês antes  da pandemia nos reduzir à condição mais vulnerável do ser humano! Afinal de contas não controlamos é “porra” nenhuma!! (perdoe-me o calão, mas também sei que isso não o incomodava, nem um pouco, desde que bem usado e contextualizado ;-) )

A sala, para variar, encheu-se!! E eu lá estava nas primeiras filas, porque para mim tem que ser assim, espreitando, de quando em vez pelo ombro, o fantasma que já vinha sendo anunciado do raio do COVID! Porque, agora, era claramente impossível acontecer este evento! Que sorte a minha que fui até lá…

E o Professor gostava de comunicar com o outro, com os outros!! Via-se , pelo brilho do seu olhar ( que a idade não esmoreceu) quando falava do que lhe perguntavam, quando falava de si enquanto Psiquiatra, Psicanalista, Professor , dos seus anos e de todos os começos e recomeços  , das suas experiências no exercer da sua profissão( das quais eu já tinha ouvido falar,  mas ouvi novamente  como a primeira vez). Até quando, o seu aparelho auditivo o tramou e teve que, perante o público mudar a pilha, o Professor  desculpou- se e fê-lo com espontaneidade, simplicidade, assumindo a sua condição humana, neste tempo, naquele tempo que era seu e nosso. E o riso e o aplauso ecoaram por toda a sala. Provavelmente foi o último evento onde esteve presencialmente. Pelo menos meu foi. Voltei a vê-lo num webinar . Mas não foi a mesma coisa!

Desculpe Professor mas algures, por aqui, em mim, a sua imortalidade era inquestionável. Até hoje!

Muito obrigada pelo que nos deu e pelo que nos deixou. A sua obra irá continuar viva ao longo dos tempos para quem, como nós,  abrace este mundo da saúde mental  tão estudado por si.

E, como vê, afinal não é arrogância pensá-lo no mundo da imortalidade…

 

Até breve Professor Coimbra de Matos!

 

Ana de Ornelas

O Canto da Psicologia


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