O mundo da psicanálise , da psiquiatria e da psicologia , hoje, está de luto!
Há uns tempos, ouvi uma frase dita por Bagão Félix numa entrevista a um canal de televisão :
“ A morte é a única certeza que é
incerta no tempo”…
Desculpe Professor mas algures, por aqui, a sua imortalidade
estava clara para todos nós que fomos seus alunos, e supervisandos! Já o estou
a ouvir. “Que arrogância essa!” Talvez assim o seja, mas ainda há pouco mais de
ano e meio o ouvi nas Conversas com História com Raquel Varela no Centro
Cultural de Belém , exactamente um mês antes da pandemia nos reduzir à condição mais
vulnerável do ser humano! Afinal de contas não controlamos é “porra” nenhuma!!
(perdoe-me o calão, mas também sei que isso não o incomodava, nem um pouco,
desde que bem usado e contextualizado ;-) )
A sala, para variar, encheu-se!! E eu lá estava nas primeiras
filas, porque para mim tem que ser assim, espreitando, de quando em vez pelo
ombro, o fantasma que já vinha sendo anunciado do raio do COVID! Porque, agora,
era claramente impossível acontecer este evento! Que sorte a minha que fui até
lá…
E o Professor gostava de comunicar com o outro, com os
outros!! Via-se , pelo brilho do seu olhar ( que a idade não esmoreceu) quando
falava do que lhe perguntavam, quando falava de si enquanto Psiquiatra, Psicanalista,
Professor , dos seus anos e de todos os começos e recomeços , das suas experiências no exercer da sua
profissão( das quais eu já tinha ouvido falar, mas ouvi novamente como a primeira vez). Até quando, o seu
aparelho auditivo o tramou e teve que, perante o público mudar a pilha, o
Professor desculpou- se e fê-lo com espontaneidade,
simplicidade, assumindo a sua condição humana, neste tempo, naquele tempo que
era seu e nosso. E o riso e o aplauso ecoaram por toda a sala. Provavelmente
foi o último evento onde esteve presencialmente. Pelo menos meu foi. Voltei a
vê-lo num webinar . Mas não foi a mesma coisa!
Desculpe Professor mas algures, por aqui, em mim, a sua
imortalidade era inquestionável. Até hoje!
Muito obrigada pelo que nos deu e pelo que nos deixou. A sua
obra irá continuar viva ao longo dos tempos para quem, como nós, abrace este mundo da saúde mental tão estudado por si.
E, como vê, afinal não é arrogância pensá-lo no mundo da imortalidade…
Até breve Professor Coimbra de Matos!
Ana de Ornelas
O Canto da Psicologia
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