Chegam-nos vários pedidos de ajuda com esta queixa
como pano de fundo, muitas vezes com um grande impacto na saúde física e mental
das pessoas. Os motivos são diversos: trabalhar demasiadas horas; desequilíbrio entre vida profissional e vida pessoal; falta de reconhecimento pelo trabalho desenvolvido; ausência de
comunicação; avaliação sistemática e maioritariamente quantitativa; ambiente
nocivo e por vezes até agressivo, entre outros.
Creio que existe atualmente uma obsessão pelo
desempenho mensurável. Os indicadores de desempenho são hoje em dia
maioritariamente quantitativos e destacam o valor gerado por um trabalhador
muitas vezes com base em métricas que deixam o subjetivo completamente de fora
da equação. O objetivo parece ser o de estandardizar e otimizar as tarefas
tanto quanto possível, como se deixasse de importar a pessoa que as desempenha,
as suas características individuais e a sua experiência pessoal. E isto pode
levar a pessoa a alienar-se, a perder a motivação e a entrar em quadros de
ansiedade que podem chegar ao burnout.
Em 2019 a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou que passou a incluir na lista de doenças o “burnout”, ou síndrome de esgotamento profissional, o que evidentemente representa um passo importante. No entanto, não
posso deixar de notar que até na forma em que este aparece descrito pela OMS há
uma avaliação de desempenho, um julgamento que de certa forma culpa a pessoa
que sofre de burnout: “uma síndrome resultante de
'stress' crónico
no trabalho que
não foi gerido com êxito.”
Como consequência, no consultório ouvimos relatos
de pessoas que sofrem porque trabalham demasiadas horas e ainda assim não dão
conta do recado, não são apreciadas nem reconhecidas no contexto profissional,
não conseguem estar com os filhos em dias de trabalho, passar tempo com os
amigos e família, praticar desporto, fazer uma atividade que lhes dá prazer, ou
simplesmente não fazer nada sem culpabilidade. Assiste-se a uma grande
dificuldade em colocar limites a esta pressão constante para produzir e também
em dizer não ao outro, em prol das suas próprias necessidades e desejos. E esta
tendência começa a notar-se desde cedo, logo na infância.
Existem muitos obstáculos à mudança, alguns são
externos, ligados à realidade e portanto mais difíceis de transformar
(hierarquia inflexível, sobrecarga de tarefas, etc), mas outros são internos e
passíveis de serem trabalhados em contexto terapêutico (dificuldade em delegar
ou em dizer não ao outro, auto-exigência extrema, perfeccionismo
desadaptativo).
O trabalho psicoterapêutico incide sobre a
importância de descobrir onde reside
a motivação e
desejo de cada um, e também de aprender a colocar limites
e construir defesas contra estes imperativos muitas vezes irrazoáveis. Para isso
é fundamental perceber porque é que nos sujeitamos a determinadas situações
para, na medida do possível, transformar a nossa posição subjectiva e dessa
forma dar início a uma mudança nas várias esferas das nossas vidas.
Rafaela Lima
O Canto da Psicologia - Braga
(fotografia de Sydney Sims on Unsplash)
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