Esta frase anda a tornar-se familiar por estes tempos, não acha?
Possivelmente por tudo o que andamos a viver ultimamente, mas por aqui, em
alturas de rentrée, este eco torna-se sempre mais evidente. É nesta época do
ano que muitos processos psicoterapêuticos têm início, mas também muitos outros ficam pelo talvez.
Quem já fez ou faz psicoterapia tem por hábito recomendá-la a amigos ou
familiares e nem sempre consegue entender os motivos pelos quais existe alguma
resistência a dar o primeiro passo.
“Não vou falar com um estranho sobre mim”
“Eu consigo resolver sozinho”
“Também não é assim tão grave”
“Um conhecido meu foi e não adiantou nada”
Assim se vão expressando alguns receios, naturais e bastante pertinentes, mas a
verdade é que não são mais do que o reflexo de resistências internas que todos
temos. O funcionamento psicológico é muito eficiente e por isso tenta, algumas
vezes com resultado inverso, consumir pouca energia emocional e garantir o
menor esforço possível. Por outro lado, porque queremos ser amados e tememos a
rejeição do outro, fomo-nos habituando a calar o que pensamos e sentimos, para
sermos facilmente aceites e depois, amados. Ouvir o que temos a dizer sobre nós
não é tarefa fácil…
Vou à psicoterapia para ouvir o que eu tenho a dizer!
Quando ouvi esta frase, fiquei indagada e ao mesmo tempo a pensar no quanto é
difícil ouvir o que temos a dizer sobre nós. Mas não estamos na Era em que os
podcasts assumiram o lugar de protagonista nos conteúdos digitais e que hoje
nos assaltam minuto a minuto?
Bom, é certo que os nossos conteúdos internos nem sempre são apelativos, mas se
lhe dermos a atenção devida talvez se encontrem agradáveis surpresas.
Quando ouvimos um podcast, estamos mesmo a ouvi-lo? Tenho algumas dúvidas… Na
maioria das vezes, o podcast é conciliado com outras tantas tarefas em
simultâneo, depois paramos, aceleramos e saltamos algumas partes do mesmo. É um
conteúdo que faz parte da nossa coleção de materiais digitais, que cada vez
mais vão tendo como função ajudar a suportar silêncios e se têm tornado fortes
aliados no preenchimento de vazios. Ouvir os nossos silêncios não é tarefa
fácil…
No sofá da terapia criam-se podcasts?
Voltando ao sofá da terapia, percebemos que aqui, os podcasts se desenham
noutra forma e se moldam noutra ordem. Na ordem do falar, do ouvir e do sentir.
Requerem atenção exclusiva! Persistência, paciência e coragem!
Se nos sentimos ansiosos, cansados, deprimidos ou irritados, a psicoterapia é
sempre uma escolha acertada, por mais difícil que seja declará-la. A
investigação científica comprova a sua eficácia e os nossos pacientes também. Perante
a dor e o sofrimento, a possibilidade de compreensão das emoções, permite
quebrar o ciclo de repetição e a mudança ocorre naturalmente, aliviando os
sintomas. O pedido de ajuda psicoterapêutica vem, na maioria das vezes,
associado a angústia e esta é uma temática na qual os psicólogos se encontram
atentos desde o início, dando uma resposta adequada e integrando a queixa. Eles
são especialistas na arte de perceber e aceitar o outro, são empáticos e
disponíveis. Quem já fez psicoterapia reconhece estes fatores e é por isso que
a sugere com tanta veemência. Mas também sabe que o compromisso com a
psicoterapia deve ser real para ter um resultado transformador e que não é
suficiente marcar a consulta e ter um psicólogo a acompanhá-lo todas as semanas
(como nos ginásios…, não basta fazer a inscrição para obter resultados).
Talvez no sofá da terapia seja possível criar um podcast mais atrativo e
interessante, onde a temática principal e de fundo é a nossa história, relatada
em vários episódios, uns mais emocionantes do que outros. Criar um podcast
sobre nós alimenta a capacidade de estarmos connosco próprios, independentemente
de estarmos sós ou acompanhados. Permite olhar o que somos, ouvir o que temos a
dizer e sentir o que sentimos.
Afinal, se não nos ouvimos, o que andamos a ouvir?
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