A morte de um jovem de 23 anos à porta de uma
discoteca no Porto provocada por outro jovem de 21 anos fez-me pensar neste
titulo, escolhido há 2 anos atrás para a 5ª Jornada de estudos do
Instituto Psicanalítico da Criança em Paris.
A agressividade na criança e no jovem pode ser uma
chamada de atenção
ou uma tentativa de afirmar a sua singularidade, a sua vontade, face às regras
e limites impostos pelos adultos (pais, professores, etc). Neste caso
estaríamos no registo do simbólico e falaríamos de acting-out, um ato
inconsciente que se realiza para um Outro, para poder passar uma mensagem que
não se consegue exprimir de outra forma, através da palavra.
As passagens ao ato, pelo contrário, como parece
ser aquela que vitimou Paulo Correia no Porto, escapam ao simbólico, à palavra.
Esta noção designa atos violentos, auto ou hetero agressivos e frequentemente
impulsivos. A tentativa de encontrar uma causalidade para estes fenómenos de
violência é muitas vezes infrutífera pois trata-se de uma irrupção isolada de
qualquer tipo de discurso ou diálogo possível. Falamos da violência gratuita
que tem como satisfação o simples ato de destruir, de sair de cena, sem causa
nem mensagem dirigida a alguém.
A questão que eu gostaria de abordar, orientada
por um texto de Jacques-Alain Miller escrito para a referida jornada de
estudos, é como podemos integrar esta violência num discurso simbólico.
Miller fala de uma posição terapêutica afetuosa e
de contra-violência simbólica, em que se tentaria ajudar a criança/jovem a
encontrar palavras para expressar a sua agressividade, a (re)construir uma
defesa contra eventuais episódios de irrupção da violência, e a reparar um
eventual defeito na sua capacidade simbólica.
Não se trata de impôr um determinado significado
ou de corrigir comportamentos através de uma técnica igual para todos, mas de
ouvir o que a criança/jovem tem a dizer sobre a sua violência e agressividade,
sobre o que a desencadeia, sobre o sofrimento que lhe provoca. Quando esta
violência encontra um lugar para ser abordada, pode revelar-se uma força
frutífera para a criança.
J-A Miller alerta-nos para o perigo de ficarmos
colados a uma visão determinista da criança/jovem que muitas vezes é veiculada
no ambiente familiar, escolar e social desde muito cedo - “agressivo”,
“violento”, “destruidor”. Defende igualmente que nem toda a violência é
errática e que é necessário respeitar e dar lugar a uma revolta que pode ser
saudável, em alguns casos.
Drª Rafaela Lima
O Canto da Psicologia - Braga
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