“Mãe, confia em mim, vai correr tudo bem! Eu estou bem, eu
sei a batalha que tenho pela frente mas, do alto dos meus baixos 18 anos penso,
o que é que eu tenho a perder? Se calhar por isso, pela minha inconsciente
juventude e sede de vida, pela força que vem sabe-se lá de onde, é que enfrento
este cancro, não como o bicho mau de que tanto se fala, mas como o bicho bom
que me vai ensinar a ser mais e melhor.
Mas tu não, mãe! Tu tens tudo a perder! Tens a perder o
fôlego, tens a perder cada pedaço do teu ser, tens a perder o que te faz
acordar de manhã e querer enfrentar mais um dia, tens a perder o fruto de um
amor imenso, tens a perder tudo que tens na vida, a tua única e amada filha!
Podes chorar, não precisas de te esconder de mim. Podes
falar ao pé de mim sobre o que vais sabendo sobre a minha doença. Sobre o pouco
tempo de vida que os médicos dizem que posso ter… e que eu sei que é verdade, mas
em que opto por viver como se não o soubesse. Podes falar com os meus amigos à
vontade, eles, agora, fazem parte da tua família, fazem parte do pelotão que
comigo combate nesta guerra desleal. Se eu penso positivo, se eu estou tão
envolvida com a cura e “entretida” entre sacos de quimioterapia, períodos de
sonolência, períodos de melhoras em que tento sugar todo o tutano do mundo… tu
só tens pela frente o medo de perder o melhor de ti! Como é que vais lidar com
os sentimentos de medo,
amor, culpa, raiva, tristeza, dor, angústia e morte, que te assolam a mente a
cada segundo de respiração? Acreditar para mim é mais fácil, mal tenho tempo
para pensar, o relógio do tempo passa tão depressa e envolve tantos episódios,
dos bons e dos maus, dos que surpreendem e dos que assustam, que nem me
apercebo que pode correr mal. Para ti, por mais que seja o que mais queres, acreditar
é um esforço, uma coisa que quem foi atropelada assim de repente com a notícia
de poder perder o coração que tem fora do seu corpo, tem de se forçar a fazer
todos os dias.
Não
tens de ser a super mulher, a que conduz todo este comboio cheio de carruagens
sozinha, basta seres a super mãe que tens sido até agora, a que não se importa
de falhar, a que se permite a chorar mesmo que seja à minha frente, a que pode
partilhar comigo os receios, as preocupações, todas as “galinhices” de mãe… e a
que pode pedir ajuda para caminhar!
Quando eu estiver boa, quero que tu também estejas! Quero
que estejas preparada para comemorar comigo esta taça da champions league da vida! Quero que consigas saborear, sem mais
medos, sem estares sempre no sobressalto em que agora te sinto.
Lembras-te do dia em que tivemos a notícia…a Drª Sónia
esteve lá, foi ela que me ajudou a ver a luz ao fundo do túnel, a manter o meu
sorriso e a minha confiança e é ela que está presente cada vez que me sinto a
quebrar… Acho que devias também encontrar o teu porto seguro, aquela que te
ajudará a desvendar os segredos, a trabalhar os teus medos e a olhar para o
futuro com olhos de quero mais! Sim, mãe, uma Psicóloga! Vais ver que te vais
sentir melhor! E eu preciso de ti melhor!”
Sofia, 18 anos, doente oncológica
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