Nos últimos dias tornou-se
inevitável abordar este tema, pelos mais diversos motivos e não pelos melhores
motivos… o tema envolve a série Squid Game e, por consequência, o tema envolve
igualmente várias outras séries, filmes e jogos que são vistos e jogados por
crianças e adolescentes antes da idade indicada para tal, devido à violência a
que são expostos.
Comecemos então pela série em
questão, que está a ter um enorme foco por toda a comunicação social, em
diversos países do mundo. Trata-se de uma série que foi lançada há pouco tempo
e que atingiu rapidamente um número de visualizações muito elevado,
infelizmente visualizações estas realizadas, na grande maioria, por crianças e
adolescentes com idade muito menor à recomendada. Referimo-nos a algo com um
conteúdo extremamente agressivo, violento, tanto física como psicologicamente,
claramente com uma mensagem implícita por trás, que para adultos essa mensagem
poderá ser interessante e até importante, mas que para adolescentes não será
compreendido dessa forma e muito menos o será por crianças.
As “provas” de que estamos
perante um perigo a nível comportamental, para quem vê esta série, são as
notícias que têm surgido, que em nada surpreendem, sobre crianças a replicar
nos recreios das escolas o que viram na série. O que nos remete para
brincadeiras extremamente violentas e, consequentemente, perigosas a vários
níveis.
Tudo isto pode levar-nos a alguns
pontos para discussão. Podemos começar pela idade indicada como referência para
se ver uma série/filme ou jogar determinados jogos. Esta referência não é
colocada aleatoriamente, esta referência é colocada com base em critérios
específicos e, por isso mesmo, não deve ser ignorada. Este é o principal problema
observado atualmente, o ignorar desta referência, o ignorar da parte da maioria
dos pais… Se pode ser difícil o dizer “não” quando o argumento é “mas todos os
meus colegas viram”? Pode! Mas também pode ter consequências ceder a este
argumento? Pode!
Esta nova série é apenas mais um
exemplo, do quanto os jovens atualmente estão a ser expostos a algo totalmente
desadequado às suas idades. A problemática aqui foca-se na agressividade
excessiva que está presente nos conteúdos apresentados e que, inevitavelmente, se
refletem no comportamento.
Neste texto o objetivo é alertar
para o que estamos nós, enquanto sociedade, a permitir que os nossos jovens
tenham acesso, sem que ainda tenham as devidas capacidades desenvolvidas para
assimilar a informação que consomem. Existem diversas fases do desenvolvimento,
pelas quais todos passamos e cada uma delas vem com a aquisição de capacidades
e conhecimentos. E quais são as consequências de dar informações aos jovens
antes dessas capacidades estarem totalmente sedimentadas? Assimilar de forma
errada, percecionar o que veem de forma errada e adquirirem comportamentos com
base no que assimilaram, que muitas das vezes se reflete em comportamentos
agressivos, por ainda estar a ser construída a capacidade de lidar com o emocional.
Quais poderão ser os impactos a nível social e emocional? Incapacidade de lidar
com a frustração sem aceder à violência e incapacidade de estabelecer ligações
emocionais contentoras e coesas, são apenas exemplos.
Importa assim respeitar o caminho
das etapas de desenvolvimento das crianças e adolescentes, não lhes oferendo
ferramentas que ainda não conseguem utilizar da melhor forma e para as quais
ainda não têm competências emocionais de gerir e aplicar.
Drª Rita Rana
O Canto da Psicologia – Lisboa