sexta-feira, 15 de novembro de 2013





Dia 12 de Novembro


Hoje, apeteceu-me ir à terapia… já há algum tempo que  não sentia esta vontade de me sentar e decidir se quero falar ou calar!

Se por um lado me incomodam os inícios das sessões, como se andasse por ali à deriva à procura de assunto para começar, por outro lado, hoje, não me ralo nada com isso. Não sei se é para continuar mas, só por hoje, é isto que eu consigo dar a mim própria. Vou entrar, sentar-me e deixar que as coisas fluam.

Parece que estou sempre preocupada com o que devo fazer. Agora, tenho que cumprimentar; agora, sentar-me e colocar as mãos assim; agora, perguntar se está boa ( como mandam as etiquetas da educação), agora, sei lá… a tal imagem da “menina linda” que foge dos silêncios e ocupa o espaço com barulhos internos silenciosos.
E como sempre, a psicóloga não diz nada, aguarda que eu o faça.

E a mim pouco me apetece dizer. Mas não assusta. Hoje, apetece-me lá ir. E penso. Relembro uma palmada muito antiga, perdida no tempo, levada sem perceber de que lado veio mas que rebentou, tal dique a transbordar, pelos meus olhos  tristes e assustados pelo gesto! Parece que não tinha seguido as regras que o meu pai nos impunha em qualquer contexto social. Lembro que olhei para o meu irmão e para os meus primos que espelhavam no olhar a pena que sentiram de mim. Sim pena! Detesto a palavra! E revi, nos olhos deles, a minha própria pena!

Lembro-me que voei para o meu quarto para esconder tudo o que estava a sentir: vergonha, medo e sobretudo aquela  sensação  que não se percebe mas sente-se ,de ter feito algo errado, mais uma vez, aos olhos do meu pai! Lembro-me que achei que de facto ele não me amava. E apeteceu-me correr para o colo da minha mãe. Mas sabia que não podia. Ela não ia contrariar o gesto do meu pai mesmo que no seu olhar eu visse rasgos de vontade de o fazer. Será que vi ou desejei muito ver?

- Bom dia, Madalena!


E falei, após um largo silencio, sobre esta palmada que sinto que ainda hoje me dão, sem eu perceber de onde ela vem e que continuo a ver nos meus olhos, pena! E quando a terapeuta me perguntou porque não reagia a essa palmada que ainda sente que lhe dão, eu respondi-lhe, porque parece que continuo com medo de descobrir que, se o fizer , fico sozinha mais uma vez, sem nenhum colo para recorrer. E ela devolveu-me que agora, há este espaço para recorrer sem medo de um olhar reprovador e, de pena…

Eu sei que sim…cada vez mais sinto isso mas ,às vezes, é como se eu não soubesse fazer de outra maneira a não ser, continuar a interpretar este papel de “linda menina” que não pode trazer coisas feias para a terapia. E afinal, parece que posso…

Para a semana, falo-lhe sobre o tufão que houve lá por casa…



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