Dia 20 de Novembro
Hoje não escondo o “nervoso miudinho” em que me sinto,
ansiosa pela hora da chegada da minha sessão. Quero retomar o assunto da semana
passada, parece-me que ficou tanto para dizer! Depois de ter saído, e ao longo
destes dias, tenho-me lembrado de alguns episódios, que surgem no meu
pensamento sem que me aperceba, mas que imediatamente me remetem para a mesma
sensação com que ficava, sempre que sentia a reprovação do meu pai.
Recordo-me, por exemplo, de como ficava paralisada perante a
ameaça do que ele poderia dizer ou fazer perante uma má nota e como isso me
deixava bloqueada, trémula, nervosa e, sobretudo, assustada. Ouvi regularmente
os professores dizerem-me “calma, Madalena, teve boa nota, não precisa de estar
tão nervosa!”. Mas essa preocupação era constante. Era como um sobressalto,
como se a qualquer momento pudesse surgir alguma falha, alguma situação em que
eu não controlasse o limite da perfeição, e assim caindo por terra esta minha
vontade de conquistar a atenção do meu pai!
Coloquei-me sempre nesse lugar da filha perfeita, agora que
olho para trás. Mesmo em relação à minha irmã, o quanto contrasto com a sua
espontaneidade, rebeldia, até um certo desaforo, que me irrita e agrada ao
mesmo tempo. Agrada-me, sobretudo, a irreverência com que faz frente “a este
mundo e o outro”, mesmo ao meu pai! Que por incrível que pareça, e por mais que
a repreenda, é também aquela que parece acarinhar mais.
- Bom dia, Madalena!
E levei, assim, em associação livre, como me dizia a
terapeuta, tudo o que tinha em mente e tudo o que foi surgindo entretanto. Sem
medo, mas com algumas hesitações e justificações pelo meio, que invariavelmente
acompanham o meu discurso, às quais a terapeuta me devolvia “aqui, não precisa
de justificar os outros, aqui pode trazer apenas a Madalena e a sua forma de
sentir”. E percebo, que é como se houvesse sempre um “se” na minha vida. Cada
tomada de decisão, cada vontade, cada desejo, cada contrariedade, traz um “se”,
que é, geralmente, o “se” do que os outros vão pensar se me desarrumar.
Mas hoje, ao trazer tudo isto para fora, fiquei
agradavelmente desarrumada, um desarrumo que não é ameaçador, mas que me faz
sentir mais livre, mais fluída. Talvez por isto que vou constatando do quanto
este espaço começa a ser seguro para mim, ao mesmo tempo que me gratifica ter
alguém que olha para o que eu sinto. E reparo, quando saio e me dirijo ao
carro, como até o meu cabelo se desalinhou… E viva, poder desarrumar-me de
quando em vez!
Que sessão deliciosamente agradável de ler! Hoje a Madalena sai aliviada, mais leve, e nos leva, a nós que acompanhamos sua trajetória, a um lugar muito mais distenso e mais extenso...é um barato acompanhar esta terapia, pois ora nos colocamos como Madalena, ora como terapeuta, ora como nós mesmos, num processo que não deixa de ser teraeutico mesmo! Viva a originalidade de O Canto da Psicologia! Parabéns! Um beijo a toda a equipe! E ótima sexta feira!
ResponderEliminar