quinta-feira, 30 de junho de 2016

O abc da inteligência...










Sobre a Inteligência: A Propósito das Dificuldades de Aprendizagem'

Na realidade a definição de inteligência é muito mais complexa do aquilo que se poderia imaginar. Trata-se de um debate historicamente longo e que tem suscitando intensas discussões e divisões entre cientistas. A nossa posição contudo continua a ser a de maior simplicidade e que parece ser mais abrangente e prática, nomeadamente: a inteligência é a capacidade de adaptação ao meio.
Se tivermos como premissa básica esta ideia de inteligência enquanto adaptação então a noção de uma inteligência puramente genética torna-se problemática. É se fosse que seria necessário que os genes contivessem informação cristalizada e limitada. A inteligência, por outro lado, parece ser fluída e dinâmica. A nossa convicção (convenientemente suportada pela ciência), é que a inteligência é o produto da organização do funcionamento mental que se dá pela interacção entre as estruturas inatas e o meio externo.
A criança aprende, apreende, desenvolve os saberes rudimentares e comportamentos inteligentes como Emílio Salgueiro (1996) descreve: 'diferenciando claramente entre o que é presença e ausência, entre o bem-estar e o mal-estar, entre o belo e o feio, entre o bom e o mau, entre o que causa mal-estar e o que traz alivio, entre o dentro e o fora, entre o que está em cima e o que está em baixo, entre o que está de um lado e o que está do outro, entre o interior e o exterior, entre o que entra e o que sai, entre o próprio e o outro, entre o alivio que vem do próprio e o alivio que vem do outro, entre o antes e o depois, entre pessoas e objectos inanimados, entre o amor e o ódio, entre construir e destruir, entre a verdade e a mentira entre a gratidão e a inveja, entre pessoas completas com pensar próprio e pessoas-parciais ou pessoas função, submetidas à vontade do outro, entre sentir e agir, entre liberdade e opressão, entre o homem e a mulher, entre filhos e pais'. Estes são os alicerces da lógica, do raciocínio, da abstracção, da simbolização, da memória, da atenção... enfim da inteligência.
É também muito comum associarmos a inteligência àquilo que chamamos capacidades cognitivas. Com efeito, estas capacidades (como são a memória, a atenção ou a percepção) parecem ser fundamentais para a capacidade de interacção e adaptação ao mundo.
A capacidade de adaptação ao meio escolar exige a existência e robustez do desenvolvimento afectivo e cognitivo. De outra a forma a criança não conseguiria, por exemplo, prestar atenção/concentrar-se ou reter informação para processamento (memória). Parte daqui esta ideia de que o défice cognitivo, e portanto baixo Quociente de Inteligência (medida psicométrica), está ligado a dificuldades de aprendizagem.
Mas o que causa exactamente estas dificuldades? Sabemos que existem um conjunto de traços da personalidade que se encontram ligados a diferentes aspectos da cognição. A titulo de exemplo, observamos como a ansiedade e a atenção/concentração encontram-se extremamente correlacionados. De forma semelhante a depressão parece influenciar um conjunto abrangente de capacidades cognitivas (por exemplo a velocidade de processamento). Ambos, ansiedade e depressão, também parecem estar relacionados com dificuldades ao nível da memória a curto e longo-prazo.
Daqui retiramos a importante conclusão de que o funcionamento da personalidade e as capacidades cognitivas estão intimamente ligadas, numa espécie de funcionamento mental composto onde os limites entre afecto e cognição se encontram esbatidos.
Apesar das dificuldades inerentes à definição e avaliação da inteligência temos hoje acesso a um universo de conhecimento muito lato que nos permite intervir e, acima de tudo, pensar a inteligência, o défice cognitivo e as dificuldades de aprendizagem.
É de importância maior entendermos a inteligência como parte de um funcionamento mental regido pelas relações que se estabelecem entre o mundo interno e o mundo externo, entre o afecto e cognição. As dificuldades de aprendizagem inscrevem-se num universo muito maior que a simples avaliação de capacidades cognitivas, tendo por isso de ser pensado em termos mais globais, nomeadamente, nos termos da organização do pensamento e da própria personalidade.


O Canto da Psicologia 
Dr. Fábio Mateus



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