Seja um “like” amarelo fluorescente!
A propósito de uma entrevista
televisiva no dia da criança, estas comentavam e opinavam sobre os adultos.
Entre os mais hilários comentários ouviram-se os seguintes:
·
“Eu gostava que a minha mãe não andasse tão irritadiça…porque
eu ando a ficar um bocado farto disso!”
·
“Acho que os adultos às vezes não conseguem
estar alegres. Não conseguem brincar. Vêm do trabalho já chateados e depois continuam chateados!”
·
“ Os adultos ás vezes são esquisitos. (…) Se
eles não tivessem tão sozinhos acho que eram mais felizes. Podiam ter amigos e
tentar fazer coisas juntos.”
·
“ Gostava que o meu pai pudesse ficar nas férias
comigo e aos fins-de-semana e que se tivesse que ir a algum lado, eu podia ir
com ele!”
Se tivéssemos no olhar o traço
grosso de uma caneta fluorescente, sublinharíamos a amarelo vivo os seguintes
pontos: trabalho/chateado; irritadiça/farto disso; sozinho/mais felizes. Pontos
estes que claramente nos saltariam tanto à vista como seriam sentidos no
coração, como a picada de abelha “interna” em pleno verão. Dir-se-ia um inchaço
consequente de culpa, de questionamento crítico e de defesa argumentativa (por
se ter sublinhado apenas o mau e/ou menos bom).
Porém, tal como estas opiniões o
inchaço manter-se-ia ali sentido no coração e pensado e repensado em eco, como
uma melodia emocional de batida irritante e viciante. É um facto que como pais,
adultos e crescidos (como eles dizem) queremos chegar a tudo e a todo o lado,
muitas vezes sem sequer pensar em usar o escadote ou pedir ajuda. Mais,
queremos dar o melhor da melhor maneira, ignorando o sinal de bateria gasta e
sem ouvir os outros. E como queremos tanto!! E é exatamente neste último ponto
de ouvir os outros que nos estendemos ao comprido sem haver casca de banana. Estes
outros….que são também adultos que outrora foram um dos números mais marcados
no telemóvel ou com mais abraços numa noite por metro cúbico, e agora quanto
muito representam o maior número de “likes” no facebook. Os outros…que são
menos crescidos e se acham enormes, que têm na porta do quarto um sinal –
Pruíbida a entrada a adultos/espessialmente pais! (sim os erros foram
intencionais) – e mergulham no drama do acne e da net lenta ao final do dia. E
os tais outros…ainda menos crescidos que parecem trabalhar a luz solar, lunar e
(muitas vezes) energia extraplanetária, que retêm em si todo o barulho de um
festival de verão e poder devastador de um furacão, mas porém…são genuinamente
uma espécie de outros que só querem ser como nós.
E com a mesma rapidez com que
sustemos a respiração ao ler o que já havíamos constatado, sentimo-nos
envergonhados e culpados por ser tantas vezes esta a verdade. E depois
sentimo-nos novamente envergonhados por não sabermos como admitir que há muito
sofremos de uma surdez seletiva inconsciente, para com aqueles que mais nos
rodeiam. Um embaraço ao perceber que mais rapidamente levantamos o som da
televisão do que nos dispomos a ligar aquele amigo (que nunca liga é certo, mas
só faz o mesmo que nós, não?), ou que fazemos um like na foto do jantar à
beira-mar da colega em vez de mimar com um abraço de mãe aquela borbulha
gigante dramática com corpo e cabeça semi-adultos. E afundamo-nos um pouco mais
no aperto… quando percebemos que aquela pequena grande “espécie de outros”
contém em si para não nos ferir, a opinião amarela fluorescente (com estrelas e
coraçõezinhos é certo!) de que somos sozinhos, menos felizes, irritadiços, mas,
e ainda assim,…sempre desejados e admirados.
Pelo embaraço que sentiu e pelas
vezes que já sofreu de surdez selectiva inconsciente…Ouça o olhar, o abraço e
demonstre o seu “like” a todos os seus “outros”.
Nota: Os erros de pontuação e
escrita deste texto vêm directos do coração e não de um acordo ortográfico.
Drª. Joana Cloetens
O Canto da Psicologia
Sem comentários:
Enviar um comentário