quinta-feira, 16 de junho de 2016

Os braços que não me protegem....



O Vinculo e a segurança afectiva
Quando preciso de ti, quando estou doente, triste, sei que estás presente, para me fazer rir, para me indicar um melhor caminho, para me proteger e dar esperança, por isso, tenho para ti guardado um lugar especial. Assim és especial e posso contar contigo e tu comigo.
Normalmente, pertencemos a uma família, a um grupo de pessoas mais significativas, qual é a sua função e a sua importância? Em caso de desespero, dor, ansiedade, sofrimento, quem é a figura central (ou as figuras) a que vamos recorrer para nos ajudar a acalmar o nosso descontrolo emocional. Qual é a primeira pessoa para a qual ligamos ou nos dirigimos para obtenção de conforto psicológico? Paralelamente a quem contactamos ou nos aproximamos para contar uma excelente notícia, um acontecimento importante?
Quando tal acontece podemos afirmar que é a figura privilegiada de vinculação. No caso das crianças normalmente é a mãe ou o pai, já no que concerne os adultos, poderão ser outras figuras (marido, mulher, irmão, melhor amigo).
A família tem um objectivo adaptativo e visa a manutenção da sobrevivência, isto é, a propagação da nossa espécie. O ser humano tem uma necessidade básica que consiste em criar pontos de identificação com o outro, sentir que partilha afectos e pensamentos semelhantes e que isso possibilita um entendimento emocional e relacional único.
O sentimento de que somos amados e entendidos promove a nossa auto-estima e o nosso auto-conceito. Inicialmente são os pais que criam uma ligação emocional aos filhos (Bonding) despertando neles amor e aceitação, posteriormente, os bebés banhados neste amor primário vão construindo um modelo sobre o que esperar das figuras mais significativas.
O estudo da vinculação tem tido um enorme impacto científico e contribuiu, essencialmente, para a investigação na área da psicologia do desenvolvimento. Bowlby (1969/1982) foi o precursor da teoria da vinculação e definiu a mesma como um sistema de comportamento em que a criança (com cerca de 1 ano) se vincula ao prestador de cuidados para dele obter apoio e protecção, em caso de necessidade.
Nas últimas décadas, as investigações têm-se multiplicado nesta área, tendo-se constatado que as relações de vinculação preparam a criança para as relações sociais, para o desenvolvimento da linguagem, para criar sentido sobre o próprio e os outros.
O sistema de activação da vinculação dá-se especialmente quando o bebé sente ansiedade, dor ou quando percepciona o cuidador como indisponível, assim o bebé assume um papel activo para chamar a atenção da figura central quando sente necessidade.
Na teoria da vinculação a noção de “base segura” (Vinculação Segura da criança) implica que a relação estabelecida tenha promovido uma representação mental estável e coerente. A criança passa a sentir que, mesmo sem estar em proximidade física com a figura de vinculação (pais), sabe que pode contar com ela, devido à previsibilidade e sensibilidade do seu comportamento.
O tipo de vinculação pode ser seguro ou inseguro na medida em que se relaciona com a qualidade da interacção parental. Este modelo de vinculação influencia a forma como o sujeito se irá relacionar no futuro com outras figuras centrais.

Deste modo, o modelo de si corresponde a uma imagem de si, como sendo mais ou menos merecedor de ser amado enquanto que, o modelo ou representação do outro, está associado, à perceção que os outros estão mais ou menos atentos às suas necessidades.
Se a figura de vinculação é percepcionada como disponível e acessível, então, os comportamentos adaptativos de vinculação só são activados em caso de crise ou doença. Contudo, se a figura de vinculação não for acessível e sensível, a criança passa a experienciar emoções intensas de ansiedade de separação de forma constante e disruptiva e começa a ter frequentemente as chamadas “Birras” extremas.
O medo de separação é permanente perante uma figura de vinculação imprevisível. A criança passa a adoptar uma série de comportamentos de manipulação e de controlo, tendo como objectivo manter a proximidade da figura de vinculação.
Uma criança com vinculação segura, normalmente, encontra-se num estado de segurança relativamente à disponibilidade do prestador de cuidados pelo que confiante explora o ambiente, mesmo quando o cuidador se afasta, temporariamente.
Estas formas de vinculação apenas surgem, na medida em que necessitamos, uns dos outros para sobrevivermos. Por vezes, precisamos de colo e conforto dos mais significativos. É bom saber que podemos contar com a nossa família que ela irá ser um fator de proteção e amor, esse sentimento vai se prolongar na vida adulta e contagiar outras relações futuras.

Dra. Mafalda Leite Borges
O Canto da Psicologia




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